segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Prestes a Partir – Blogue de Viagens


Chamo-me Carlos Prestes, sou engenheiro civil e professor na faculdade, mas sou também um apaixonado por viagens, por fotografia e pela escrita sobre as experiências vividas nos locais que vou visitando. Assim, este espaço surge de forma quase natural, permitindo o registo das crónicas de viagens que tenho feito, com descrições e relatos das aventuras e emoções vivenciadas, sempre ilustradas com as fotos mais representativas.    

Este Blogue surgiu pela sugestão, quase persistente, de vários amigos, que foram também companheiros de algumas das viagens que aqui vou relatar, e constitui, sobretudo, um veículo para fazer perdurar as memórias e emoções vividas ao longo de mais de três décadas, por quase 40 países e 300 locais, que aqui vou tentar recordar.

Antes de mais e para quem pretenda uma visão mais instantânea de alguns lugares, sem entrar no detalhe que o formato da crónica impõe, recomendo também a ligação ao Blogue que criei recentemente com esse conceito mais light. Neste caso, e como o nome assim o indica, a cada foto corresponderá apenas uma breve história ou descrição: 

(site em construção)

Mas no caso do "Prestes a Partir" encontraremos crónicas mais detalhadas de cada viagem, sendo o acesso a cada uma dessas crónicas feito através dos links ativos que surgem ao longo do índice representado, que será atualizado na medida em que os respetivos textos sejam concluídos e que novas viagens sejam feitas:


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ÁSIA

   Turquia
         Istambul

   Maldivas


Complementando ainda a narrativa exibida na forma de crónicas detalhadas, mostro-vos um breve registo feito em vídeo, com algumas das viagens relatadas, apresentando as principais fotos que foram utilizadas.

Estas crónicas não são um espaço de escrita apenas pessoal, porque as viagens aqui descritas foram muitas vezes uma partilha de experiência e emoções com aqueles que me acompanharam. Desde logo a minha companheira de todas as aventuras de uma vida e cúmplice desta paixão de viajar, a minha mulher Ana Lúcia, a quem vou dedicar cada um dos textos e imagens que aqui venha a registar. Às minhas quatro filhas, nem sempre companheiras de viagem, mas sempre as principais fontes de inspiração, dedico também cada uma das memórias que aqui vou relatar.

Vou também escrever para quem me queira ler, quem queira conhecer os meus relatos, não apenas pela curiosidade mas também pela informação que vou tentar transmitir, tornando este Blogue numa espécie de guia de viagens. Não terei a preocupação de ser consensual nas escolhas que aqui vou relatar, pelo contrário, tentarei ser sempre fiel às viagens que fiz, tal como as fiz, sem quaisquer filtros, ainda que, em várias situações, um determinado destino ou uma determinada escolha não se tenham revelado como os mais favoráveis. O registo de viagem que aqui vou refletir será necessariamente o meu, com a minha busca daquilo que mais gosto, da forma e no ritmo que entendi ser o mais adequado a cada situação e em cada local. Não existem fórmulas para que uma viagem cumpra o seu objetivo de nos encher a alma e nos fazer sentir vivos, por isso, cada um de vós, leitores, terá de seguir o seu próprio caminho e escolher o seu próprio ritmo, tal como eu e os meus parceiros de viagem, seguimos e escolhemos os nossos.

Antes de iniciar a escrita senti necessidade de organizar a forma de apresentação dos relatos de cada viagem, sabendo que algumas estão ainda bastante presentes e outras estão já muito distantes. Mas, para que esse efeito de memória, mais viva ou mais vaga, não se torne evidente na escrita, decidi recordar cada uma das viagens de forma totalmente aleatória. E será desta forma que serão publicados, pela ordem em que os vou escrevendo e não pela sua ordem cronológica.

Carlos Prestes
Abril de 2015

José Carlos Prestes
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Engenheiro Civil e Professor no Instituto Superior de Engenharia de Lisboa

sábado, 9 de setembro de 2023

Dubrovnik


Dubrovnik sempre foi uma das cidades costeiras mais importantes do Mediterrâneo. Depois da Idade Média foi a cidade-estado de Ragusa e a sua fama e influência rivalizava com a de Veneza, na época áurea dos séculos XVI e XVII, devido à riqueza que vinha do próspero comércio marítimo.

Quem viesse do mar tinha de respeitar os dois quilómetros de sólidas muralhas seiscentistas que rodeavam uma cidade evoluída, limpa e de beleza ímpar. Apesar de ser uma cidade cobiçada, as suas muralhas nunca foram transpostas pelos inimigos, até as investidas otomanas foram goradas, só muito mais tarde, nas invasões francesas a cidade veio a ser tomada temporariamente, mas sem guerra, tratou-se de uma conquista pacífica.

É no interior destas muralhas seculares que se encontra a cidade velha de Dubrovnik, que visitámos no final desta viagem à Croácia. Mas ainda antes, e porque estávamos com carro e estava um dia limpo, subimos à estrada nacional e parámos num dos raros pontos de estacionamento, que serve também como miradouro, de onde pudemos observar a cidade velha, num enquadramento bastante bonito, mostrando uma cidade com traços medievais evidentes, rodeada pelas imponentes muralhas de tom dourado e envolvida pelos tons azuis vivos do mar Adriático… um cenário fantástico.

Seguindo depois até ao centro, em primeiro lugar há que encontrar um local de estacionamento. Existem alguns parques, que assinalei no mapa, mas são bastante caros, qualquer coisa em torno do 3 €/hora, mas o melhor é nem pensar no assunto, no fim do dia pagamos com cartão e nem nos apercebemos que acabámos de gastar mais de 30 €.

Já no interior, vamos encontrar ruelas que se formam por entre edifícios de pedra calcária desfilando estilos arquitetónicos do medieval ao gótico, do renascentista ao barroco. A visita a este lugar será feita deambulando pelas ruas e praças assinaladas no mapa seguinte, onde encontrámos monumentos que são testemunhos do inegável peso da história e da cultura desta monumental Cidade Velha, e que ali se vai misturando com o ambiente descontraído dos muitos turistas que vão preenchendo as ruas e ocupando as inúmeras esplanadas.
Num primeiro percurso, assinalado a verde, ainda antes de entrarmos na cidade muralhada, percorremos a zona que envolve a muralha do lado ocidental.

Parámos junto à Fonte Judaica, onde nos podemos refrescar num dia quente, como foi este, e pudemos também usufruir das paisagens do miradouro que ali se forma, onde se abre uma bonita baía entrecortada por rochedos, onde podemos ver, do lado esquerdo, as muralhas da cidade, com destaque para a Fortaleza de Bokar e, ao centro, as bonitas imagens do Porto Oeste.

Já do lado direito, no alto do rochedo que atinge quase 40 metros acima do nível do mar, ergue-se o Forte de São Lourenço, ou Lovrijenac, uma fortaleza que foi construída no início do século XI pelos habitantes de Ragusa, para proteger a cidade da ameaça veneziana.

Todos os anos, durante o Festival de verão de Dubrovnik, este forte abre as suas portas aos espectadores que queiram assistir a uma performance ao vivo da peça Hamlet, de Shakespeare.
Descemos depois até ao Porto Oeste, já ao nível do mar, um local tão tipicamente mediterrânico, onde podemos fazer uma pausa na esplanada que ali se encontra junto às águas apetecíveis da baía. Desta vez optámos por não mergulhar, mas vimos várias pessoas que não resistiram e saltaram do pontão.
De seguida subimos até ao alto do penhasco onde se ergue a fortaleza, e à medida que fomos subindo, mais amplas se tornaram as paisagens que nos eram oferecidas, ainda com destaque para o Porto Oeste e as muralhas da cidade velha com a Fortaleza de Bokar.

Ainda do mesmo penhasco, mas para o lado oposto, somos presenteados pelas imagens da baía da Praia de Šulić. Encontramos uma bela enseada com águas de azul vivo e uma praia, que não é bem praia, pois só tem calhau e um pontão em betão, mas que os banhistas aproveitam para mergulhos e para passeios de canoas, e também para banhos de sol, como se fosse a melhor praia do mundo… não é uma praia excelente, mas é bem bonita.

É um bom local para quem quiser dar um mergulho refrescante, fazendo uma pausa na visita à cidade, ou podemos até apanhar ali uma canoa que permitirá um belo passeio, sobretudo se o prolongarmos até à hora do pôr-do-sol. Mas também podemos optar por um programa menos radical, se resolvermos ficar apenas na esplanada de um dos restaurantes que ali se encontra, nem que seja só para tomar um copo de vinho enquanto apreciamos a bonita paisagem.


À saída desta zona podemos ainda apreciar a imagem do casario que se estende pela encosta onde a cidade de Dubrovnik cresce, com destaque para o Grand Hotel Imperial, um extraordinário hotel da cadeia Hilton, que ocupa um edifício imponente do ano de 1890.
Nesta altura dirigimo-nos para a Cidade Velha e podemos observar de perto a grandiosidade da muralha do lado ocidental, com a Torre Minceta, que atinge o ponto mais alto de toda a cidade.
Pouco depois iríamos atravessar as muralhas e entrar na cidade pela da Porta de Pile, um dos seus quatro portões. Quando as muralhas desempenhavam a sua função de proteção da cidade, o que aconteceu entre os séculos XV e XVII, todas as noites as suas portas eram fechadas para que ninguém pudesse entrar ou sair e, para tal, as chaves eram entregues ao Reitor, o governante daquela época.

Atualmente, a cidade conta com as mesmas quatro portas, uma em cada ponto cardeal, que se encontram sempre abertas e prontas a receberem os turistas que enchem diariamente a cidade. A Porta de Pile foi construída em 1537, no lado Oeste das muralhas, e constitui o principal acesso à cidade. A porta estava ligada a uma ponte levadiça que reforçava a proteção deste acesso, atualmente essa ponte já não existe, tendo sido substituída por uma ponte de alvenaria de pedra, que garante a entrada de peões na cidade.

Ao passarmos pela Porta de Pile entrámos na cidade velha pela sua rua principal, a Rua Stradun, numa zona onde se concentram alguns monumentos de referência. Um deles é um Mosteiro Franciscano, construído no século XIV, que contém no seu interior um pátio gótico, uma biblioteca com alguns documentos históricos importantes e a terceira farmácia mais antiga do mundo. Mas, para nós, toda essa informação não serviu de grande coisa, pois não conseguimos visitar o seu interior e ficámo-nos apenas pela imagem da sua fachada.

Ao seu lado encontramos uma pequena igreja que parece quase o prolongamento do mosteiro, a Igreja da Santa Salvação.
No centro da praça que ali se encontra, e em frente ao conjunto formado pelo Mosteiro Franciscano e a Igreja da Santa Salvação, está a Fonte de Onofrio, uma grande fonte que, na atualidade, é utilizada como o principal ponto de encontro de Dubrovnik e é também muito usada para o refill das garrafas de água por parte dos turistas, uma vez que a água da fonte é potável e fresca.

Aproveito para abrir aqui um parêntese relativamente à água que encontrámos em todas as cidades croatas (e, já agora, também nos restantes países dos Balcãs por onde andámos). Ora, ao contrário do que acontece em Portugal, onde eu não consigo beber água da torneira em lado nenhum, incluindo em Lisboa, aqui a água era muito aceitável e até eu a conseguia beber. Não era água do Luso, mas era suficientemente boa para que enchêssemos as nossas garrafas em qualquer torneira ou chafariz.

Voltando à Fonte de Onofrio, desde a sua construção no século XV e até aos nossos dias, que esta fonte serviu para abastecer a cidade de água potável. Nessa altura, a República de Ragusa desfrutava de uma economia em expansão e era um dos principais portos comerciais do Mediterrâneo, no entanto, a cidade não tinha um sistema de água potável. Foi por isso que, em 1438, o arquiteto napolitano Onofrio della Cava, foi contratado para cumprir a importante tarefa de levar água até às ruas de Dubrovnik. Onofrio desenhou um aqueduto que ligava o rio de Dubrovacka ao interior da cidade amuralhada e criou uma grande fonte poligonal de 16 faces onde a água era disponibilizada à população. Para além da funcionalidade do sistema hidráulico, Onofrio quis ainda acrescentar um toque artístico, decorando cada uma das bocas de saída de água com diferentes máscaras, em que a água sai da boca de cada uma delas.

Este arquiteto deixou mais tarde um outro monumento em Dubrovnik, uma pequena fonte ao lado da Torre do Relógio. Desde essa altura, com o aparecimento de uma fonte menor feita pelo mesmo artista, esta fonte principal mudou de designação e passou a ser conhecida pelo nome que se mantém até à atualidade, de Grande Fonte de Onofrio.

Depois de nos termos demorado algum tempo nesta zona da fonte, seguimos estão pela principal rua deste centro histórico, a Rua Stradun, ou Placa, no seu nome original em croata, que se trata de uma avenida pedonal fantástica, tanto pela arquitetura dos seus edifícios, como pelo seu movimento constante.

Durante a Guerra da Independência da Croácia, na década de 1990, a Stradun foi parcialmente destruída por bombardeamentos das forças sérvias e, hoje em dia, ainda se podem ver algumas marcas dessa destruição e da posterior reconstrução.

No final da Stradun chegamos à Praça Luža, onde se encontram mais alguns pontos de interesse a não perder. A Igreja de São Brás, à direita da praça, para quem vem da Rua Stradun, é um belo templo católico de estilo barroco veneziano, construído sobre uma antiga igreja românica.

No centro da praça está localizada uma estátua, que é chamada de Coluna de Rolando, e que foi erguida em homenagem a Libertas, uma figura da época medieval que terá ajudado Dubrovnik a manter-se como um estado-livre na Idade Média.
Do lado oposto da praça encontraremos um belíssimo edifício senhorial que incorpora o gótico e o renascentista. Trata-se de Palácio Sponza, construído em 1521, e que é uma fiel testemunha da história de Dubrovnik, tendo servido a República de Ragusa como casa da moeda, armaria, escola e alfândega.
Atualmente, no interior do palácio existe uma exposição de entrada livre que funciona como um memorial às vítimas da Guerra da Independência da Croácia, que ocorreu na primeira metade dos anos de 1990, quando as forças sérvias bombardearam a cidade velha... com imagens impressionantes do centro histórico.

Ao lado do palácio Sponza fica um edifício lindíssimo que integra a Fonte Pequena de Onofrio e a bonita Torre do Relógio, que é um dos monumentos mais interessantes da cidade.

A Torre do Relógio, ou Zvonik, é um monumento simbólico, quer da Praça de Luža quer da própria cidade. Esta torre sineira marca as horas em algarismos romanos e possui também um relógio solar e, a cada hora, os sinos da torre ressoam por toda a cidade, graças a Maro e Baro, os dois homenzinhos verdes encarregados de os fazer tocar com os seus martelos.
São estas belas imagens que levaram a que o centro histórico de Dubrovnik tivesse sido escolhido como o cenário perfeito para a criação de King’s Landing, a capital dos Sete Reinos na série Guerra dos Tronos.
Continuando depois na rua que segue pela direita, a Rua Pred Dvorom, chegaremos até ao Palácio do Reitor, o governante da República de Ragusa durante vários séculos. O palácio foi erguido em estilo gótico, mas apresenta também uma combinação harmoniosa entre elementos renascentistas e barrocos.

Este palácio serviu como residência oficial do Reitor da República entre os séculos XIV e XIX, e foi também a sede do Conselho Menor, do Conselho Maior e da Administração Estadual. Atualmente funciona como uma secção do Museu de História da cidade.
De seguida, e deixando para depois as restantes atrações deste local, atravessámos a muralha do lado Sul através do Portão da Ponta, e chegámos à zona do Porto Velho e da atual Marina.

O Porto Velho de Dubrovnik, o Stara Luka, em croata, sempre foi um dos lugares mais emblemáticos da cidade ao longo da sua história. Durante os séculos XV e XVI, quando a República de Ragusa gozava de uma posição-chave no comércio mediterrânico, centenas de navios mercantes atracavam neste porto.

Hoje em dia, o Porto Velho e os terraços que o envolvem, estão cheios de turistas, quer de dia quer durante a noite, com restaurantes à beira-mar, e com as belas paisagens dos barcos de pesca ancorados no cais e com alguns bonitos edifícios que espreitam sobre os telhados da cidade.

Seguindo pelo passadiço que nos conduz até à extremidade Leste das muralhas, contornámos a Fortaleza de São João e chegámos até ao pontão que constitui o ponto da cidade mais a Leste, e que é conhecido como Porporela.
Nesta ponta do lado oriental da cidade velha, a Porporela, além de observarmos a Fortaleza de São João, podemos também apreciar a paisagem sobre a encosta onde se encontra uma das partes modernas da cidade, formada por edifícios pequenos que usufruem de belas vistas sobre a baía de Dubrovnik.
Regressámos de volta ao porto e voltámos a passar pela porta que nos conduziu até junto da Catedral da Assunção da Virgem Maria, uma igreja católica de estilo barroco construída no início do século VIII, que está ligada ao rei Ricardo Coração de Leão e é guardiã do tesouro da cidade.

A Catedral de Dubrovnik foi construída sobre os restos de uma antiga igreja românica que foi destruída durante o terremoto de 1667. Segundo a lenda, Ricardo Coração de Leão pagou pela construção da nova catedral para agradecer aos habitantes de Dubrovnik que lhe salvaram a vida durante um naufrágio na ilha vizinha de Lokrum.

O mais impressionante do edifício da catedral será a sua cúpula, mas, no seu interior encontram-se também algumas preciosidades de registo. Numa das suas capelas encontra-se o chamado tesouro da Catedral, com os restos mortais de São Brás, o padroeiro de Dubrovnik, uma das poucas relíquias que sobreviveram ao terremoto de 1667. Permanecem ali guardados em três baús banhados a ouro e decorados com pedras preciosas, um crânio, uma perna e um braço do Santo que, no dia de São Brás, são expostas à população numa procissão que passa por toda a cidade… que coisa bizarra.

Na minha opinião serão bem mais interessantes as pinturas de alguns mestres, sobretudo venezianos, que se encontram no interior do edifício… e, especialmente, a pintura mais importante que é a da Assunção de Maria do pintor Ticiano, que está no altar principal.
Por detrás da catedral encontramos a Praça Gundulic, onde acontece todas as manhãs o Mercado de Gundulićeva, o mais movimentado e variado mercado de Dubrovnik. À tarde as frutas e legumes são trocados por bancas de artesanato e a animação não se perde durante todo o dia.
Talvez esta animação se fique a dever ao constante fluxo de turistas que por ali passam para chegar à escadaria que fica do lado ocidental da Praça Gundulic, e que dá acesso à Igreja de Santo Inácio. A chamada escadaria da Igreja de Santo Inácio, mas que é conhecida por Escadas Jesuítas, foi desenhada em 1738 pelo italiano Pietro Passalacqua, que se inspirou na Piazza di Spagna de Roma.

Mas saiba-se que esta escadaria passava quase desapercebida aos visitantes que por ali andavam, até que os produtores da série Game of Thrones a escolheram para gravar a famosa sequência da Caminhada da Vergonha ou Walk of Shame… e hoje este local converteu-se num verdadeiro centro de peregrinação para os fãs da série, que fazem constantes pausas para fotos ao longo da sua subida.
Chegando ao alto desta colina, subindo cada um dos degraus da Escadas Jesuítas, atingimos um patamar onde se encontra a Igreja de Santo Inácio, um majestoso templo jesuíta, onde se destacam, no seu interior, alguns frescos que narram a vida do jesuíta Santo Inácio.

Ao voltarmos a descer a escadaria vamos encontrar de novo vários turistas em poses para mais umas fotos no mundo da Guerra dos Tronos.

Cá em baixo vamos continuar a percorrer as ruas apertadas da cidade velha, como é o caso da Rua Puča, e vamos observando muito mais do que aquilo que aqui vai sendo descrito, pois para além das ruas e das atrações principais, não deixámos também de percorrer todos os recantos e ruelas que nos vão aparecendo pelo caminho, e que revelam sempre o mesmo encanto de um mundo medieval quase autêntico.

         
Ao chegarmos de novo à zona da Fonte Onofrio continuámos uma vez mais pela Rua Stradun até à Praça Luža, mas, desta vez, virámos à esquerda e passámos junto ao Mosteiro Dominicano e, logo depois, saímos da cidade velha através da Porta Ploče.

Antes de sairmos pela Porta Ploče, passámos por uma plataforma de onde pudemos apreciar de novo as bonitas paisagens sobre baía do porto velho, mas desta vez de um ângulo distinto.


Depois de uma paragem para almoçarmos num pequeno restaurante desta parte oriental da cidade, sem perdermos de vista as bonitas imagens que ali nos são oferecidas, subimos por detrás da muralha do lado Norte até chegarmos à Porta de Buza. Nesta zona a muralha é bastante vistosa, mostrando todo o paredão com as várias torres que ali se erguem, terminando com a maior de todas elas, a torre Minceta.

Nesta zona exterior ao centro histórico do lado Norte existem alguns parques de estacionamento, e será, portanto, uma das alternativas possíveis para se deixar o carro.

Entrando depois pelo Portão de Buza, vamos encontrar uma teia de ruas que escalam a colina íngreme deste lado da cidade velha. Enquanto descemos vamo-nos cruzando com várias transversais mais planas, e que estão, muitas vezes, ocupadas pelas esplanadas dos restaurantes que ali existem.
         

Chegando de novo à Rua Stradun e caminhando até à zona da Fonte Onofrio, podemos subir até ao alto das muralhas e percorrer todo o contorno muralhado, num perímetro de cerca de 2 km.

Registo aqui, com desagrado, que o preço para subir a estas muralhas é estupidamente elevado, sobretudo se for para uma família, pois temos de pagar 35 € por cada pessoa. Ainda que esse ingresso permita visitar outros monumentos, nem encontrámos nada que tivéssemos interesse em visitar, só se fosse o Mosteiro Franciscano, que tem lá umas coisas com algum interesse. Mas é assim, quem quiser percorrer as muralhas e disfrutar das paisagens que são oferecidas lá de cima, terá de pagar esta pequena barbaridade.

As Muralhas de Dubrovnik são um dos principais símbolos da cidade, com uma extensão de quase dois quilómetros que a rodeiam e lhe deram proteção desde a sua construção no século XIII, face aos ataques dos venezianos, bizantinos e austro-húngaros. Esses muros são um verdadeiro símbolo da resistência e do desejo de liberdade que constantemente marcou a história de Dubrovnik, e nenhum exército tinha conseguido penetrar nestas muralhas até à chegada de Napoleão.

Mas, mais recentemente, em 1991, durante a Guerra da Independência da Croácia, as tropas sérvias e montenegrinas assediaram a cidade e bombardearam fortemente o centro histórico, embora as muralhas tenham conseguido resistir.

Também é interessante ver as diferenças entre os telhados antigos, os que sobreviveram aos bombardeios de 1991, e os telhados mais novos, que tiveram de ser reconstruídos depois da guerra.
Dubrovnik é a única cidade do mundo que conserva umas muralhas desta magnitude e em perfeito estado, por isso, em 1970, a UNESCO declarou esta fortaleza e todo o centro histórico como Património Mundial. Apesar disso, os sérvios não hesitaram em bombardear esta cidade velha, cometendo mais um crime contra a humanidade, dos vários que foram cometidos durante esta guerra ainda tão recente.

Ao percorrermos as muralhas vamos poder apreciar a sua magnitude e ver de perto as suas quatro grandes fortalezas: Revelin (junto à Porta de Ploče), São João (a mais antiga, junto à Porta Velha), Bokar (à frente ao Forte de São Lourenço) e a Minčeta (o ponto mais alto das muralhas).

Ao subir as escadas seguimos primeiro até à Torre Minceta, que atinge o ponto mais alto de toda a muralha e é constituída por uma base maciça coroada com uma torre gótica, de onde iremos ter a melhor vista sobre a cidade velha.
Descendo depois a muralha do lado ocidental desde a Torre Minceta vamos poder contemplar a paisagem sobre a Fortaleza de São Lourenço e podemos também apreciar uma outra perspetiva da principal rua da cidade, a Rua Stradun.

Chegados ao ponto de paragem seguinte, na Fortaleza de Bokar, voltamos a ter acesso às belas paisagens sobre esta parte da cidade e sobre o Porto Oeste.

A partir daqui entramos no troço Sul da muralha e chegamos à Fortaleza de St. Margaret, com algumas paragens para apreciar as bonitas paisagens deste lado junto ao mar.

Já do lado oriental, junto à Fortaleza de São João, voltamos à zona do Porto Velho, com mais umas belas vistas sobre a baía.
O último percurso foi feito já na muralha do lado Norte, ainda com vista sobre o mar e sobre a cidade.


Terminámos assim a visita às muralhas, mas ainda continuaríamos mais algumas horas nesta cidade, percorrendo as mesmas ruas, agora já sem destino certo, repetindo apenas os mesmos locais e absorvendo a magia que ali se respira.

Primeiro, ainda ao entardecer, enquanto a beleza dos traços medievais se vai mantendo bem visível, e depois, já durante a noite, quando as luzes dão uma nova imagem da cidade, que talvez seja ainda mais bonita e requintada .


Afastamo-nos da cidade de Drubovnik já de noite, como quem deixa para trás uma época ancestral, mais uma viagem no tempo que nos é proporcionada aqui na Croácia, fechando assim um longo trajeto por este país maravilhoso… e olhando para trás, despedimo-nos ainda deste imenso castelo, que é palco de um reino mágico de príncipes e princesas perdidos no tempo, que esta cidade oferece a quem a visita.


Carlos Prestes

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