sábado, 6 de julho de 2002

Viena d’Áustria


A cidade de Viena, capital da Áustria, está localizada junto às margens do rio Danúbio, e tem um lastro histórico e artístico impressionante, desde logo pelas referências a algumas das suas principais figuras, como Mozart ou Freud.
Atualmente encontramos ainda uma cidade monumental, com os seus palácios imperiais, graciosos e opulentes, uma herança dos Habsburgo, refletindo ainda a elegância dos séculos XVIII e XIX, quando a capital austríaca era o principal centro da hegemonia do império austro-húngaro.

Visitei esta cidade em duas ocasiões, mas sem nunca me ter encantado, apesar de reconhecer que se trata de um lugar extraordinariamente bonito, pelas suas ruas muito bem organizadas, pelos seus edifícios, sempre grandiosos e, sobretudo, pelos monumentos que se dispõem ao longo de toda a cidade, alguns deles verdadeiras obras-primas da arquitetura… mas o resultado é como se tivéssemos num imenso museu, apreciando a imponência dos edifícios, mas sem que esse conjunto mexa connosco, não há qualquer chama, não nos apaixona minimamente.

Não quero dizer com isto que a cidade de Viena não mereça ser visitada, claro que merece, mas não estejam à espera de uma experiência sensorial marcante, preparem-se apenas para um desfile de monumentos e edifícios clássicos que se vão sucedendo à medida que fazemos os nossos percursos pelas ruas e praças da capital austríaca, e que podem seguir aproximadamente os três longos trajetos marcados neste mapa, organizados para uma visita de dois dias:



Trajeto 1


No primeiro trajeto aqui assinalado faremos uma caminhada pela periferia do centro histórico, chegando até às margens do Danúbio, um rio que, supostamente, seria um elemento principal da cidade de Viena, mas que passa algo afastado do centro, e acaba por não ter grande protagonismo para quem visita a cidade.


Naschmarkt

Escolhemos o início do primeiro percurso em função da proximidade do hotel onde ficámos, e começámos assim pelo Naschmarkt, um dos mercados mais conhecidos de Viena, onde se encontram quiosques de venda de carne, pão e todo o tipo de alimentos, e também de flores, que dão ao mercado uma imagem colorida.

Mas este mercado não serve só para fazer compras, é também muito utilizado à hora das refeições, visto que ali existem vários restaurantes internacionais, supostamente a preços acessíveis, o que é algo discutível, numa cidade tão cara como esta… mas recomendo que se tente escolher uma das muitas opções de restaurantes que ali se encontram.

Desde o século XVI que este lugar se tornou no mercado de rua mais conhecido de Viena, e só nos finais do século XVIII passou a ocupar um armazém, que foi sendo transformado até ao edifício que atualmente ali se encontra.



Karlskirche

A apenas 10 min a pé chegaremos à igreja Karlskirche, que corresponde à Igreja de São Carlos Borromeu, e que é uma das mais importantes igrejas de Viena.

Durante a peste a cidade de Viena, o Imperador Carlos VI prometeu ao povo que, quando a cidade ficasse livre da epidemia, iria construir um templo dedicado a São Carlos Borromeu, padroeiro da luta contra a peste. E foi assim que esta belíssima igreja foi construída.

A construção da igreja foi um processo moroso que só terminou ao fim de 25 anos de obras… empreiteiros, do que é que se estaria à espera! Mas no final terá valido a pena, pois o resultado final é um monumento lindíssimo.

As fachadas são bastante singulares, não se assemelhando com a maioria das igrejas que encontramos pela Europa fora. Neste caso salienta-se a cúpula, essa um pouco mais comum nas cidades do Norte, mas também as duas colunas exteriores, inspiradas na Coluna de Trajano de Roma, com uma decoração em espiral que representa algumas cenas da vida de São Carlos Borromeu.

Mas há um outro pormenor, o lago que fica em frente da fachada principal, e que é marcante na paisagem que nos é oferecida do exterior, combinando a beleza do edifício, com o seu reflexo no espelho de água.



Monumento aos Heróis do Exército Vermelho

Logo atrás desta igreja surge a Schwarzenbergplatz, uma praça onde se ergue a estátua de um soldado. Será um soldado do Exército Vermelho e está apoiado no alto de uma coluna com 12 metros, empunhando uma bandeira e um escudo dourado.

Trata-se de um monumento aos Heróis do Exército Vermelho e recorda os 17 mil soldados soviéticos que morreram no Batalha de Viena, na luta pela libertação da cidade da invasão Nazi durante a Segunda Guerra Mundial.

Na sequência desta batalha a cidade foi libertada e, numa fase de transição, a capital austríaca foi mesmo dividida em quatro zonas de ocupação, americana, soviética, francesa e inglesa.

Este monumento foi assim erguido de forma natural, como agradecimento à participação soviética. Mas o memorial não iria ter uma boa reputação por muito tempo, devido à posição duríssima do bloco de Leste que aconteceu alguns anos depois, e se manteve por várias décadas.

O monumento é ainda composto por uma colunata em pedra e por uma fonte, que algumas vezes está a funcionar com projeção de jactos de águas, produzindo uma bonita imagem de todo o conjunto.



Palácio Belvedere

A pouco mais de 300 metros iremos encontrar uma das entradas para acesso aos jardins e ao Palácio Belvedere, um dos monumentos mais interessante da cidade.

Registo que foi dos poucos monumentos cujo interior visitei das duas vezes em que fui a Viena e, atualmente, recomendo claramente que se faça essa visita… e já explico porquê.

Mas vamos começar pelo mais interessante, que são os exteriores, quer as fachadas do palácio quer os magníficos jardins, a fazer lembrar a grandiosidade e a elegância do palácio de Versalhes.

Este complexo foi construído como residência de Verão do Príncipe Eugenio de Saboya e é formado por um conjunto de dois palácios ligados por um enorme jardim francês. No ponto mais alto fica o Palácio de Belveder, o mais grandioso e também o mais bonito e, no extremo oposto do jardim, fica o palácio do Baixo Belvedere, menos interessante e quase insignificante, quando comparado com o seu vizinho.

O mais interessante neste complexo será passearmos pelos jardins e observarmos toda a envolvente, que é sempre lindíssima. Num dos lados do palácio principal encontramos um jardim mais modesto, mas com um enorme espelho de água, que faz um belo efeito.

Do lado oposto estende-se o tal jardim francês, oferecendo algumas imagens riquíssimas, quer pelo enquadramento da fachada do palácio quer pelo próprio jardim e as suas fontes.

O interior do Belvedere não é particularmente exuberante, mas eu também nunca apreciei muito a decoração dos interiores de palácios e outros monumentos, é sempre uma tremenda seca. Mas, neste caso, o palácio abriga no seu interior um museu de arte, e é isso que eu venho recomendar e apenas porque ali se exibem coleções de pinturas, entre as quais se encontra a maior coleção de todo o mundo de obras de Gustav Klimt, incluindo o seu famoso quadro "O Beijo".



Stadtpark

Seguimos depois até ao Stadtpark, o Parque da Cidade, um grande jardim municipal, que é dividido pelo canal do Wiental Kanal (um canal do rio Viena) e onde se encontram várias estátuas de famosos artistas, escritores e compositores vienenses. De entre as várias estátuas que ali se encontram espalhadas destaca-se o monumento a Johann Strauss, uma das figuras mais notáveis da cidade.
Mas a joia da coroa deste parque é a sala de espetáculos Kursalon, que foi construída entre 1865 e 1867 em estilo renascentista, sob decisão do imperador Franz Josef I.

No ano de 1868 foi realizado o primeiro concerto nesta sala por Johann Strauss, o mestre das valsas vianesas.

Atualmente, realizam-se no teatro Kursalon concertos onde são tocadas obras de Strauss ou Mozart, pela Orquestra Alt-Wien, e que são vistas por mais de 200.000 espetadores em cada ano. A possibilidade de assistir a um desses espetáculos permitirá sentir uma atmosfera semelhante à da época de ouro das valsas vienenses.


Hundertwasserhaus

Caminhando ainda no Stadtpark ao longo do Wiental Kanal chegaremos depois ao Hundertwasserhaus, um complexo residencial do início dos anos 80, que se destaca pela sua imagem bastante original.
A obra é uma criação do arquiteto Friedensreich Hundertwasser, um artista nascido em Viena em 1928, que se destacou no mundo da pintura, da escultura e da arquitetura, pelas suas obras especiais e diferenciadas, coloridas e originais.

Numa cidade tão clássica, o Hundertwasserhaus é uma lufada de ar fresco de modernidade, com a imagem de um quadro colorido e ondulado, transformado num edifício residencial, o que faz dele uma das atrações imperdíveis de Viena.

Ao lado do edifício principal, há também um simpático shopping feito no mesmo estilo, o Hundertwasser Village.


KunstHaus Wien

Seguindo mais alguns minutos a pé e encontraremos uma outra obra de arquitetura disruptiva, o Museu KunstHaus que corresponde ao Museu Hundertwasser, onde são expostas as obras do artista. Ali encontram-se obras de arte do pintor Freidrich Hundertwasser, desde pinturas a alguns trabalhos gráficos e desenhos de arquitetura.

Quem não quiser entrar no museu, como eu não quis, pode ficar apenas do lado fora e apreciar a fachada do edifício que é bastante interessante, embora menos impressionante do que o seu vizinho, o edifício Hundertwasserhaus.


Os rios da cidade de Viena

Historicamente, Viena é a cidade clássica e monumental do Danúbio-Azul, pelo menos é essa a áurea que envolve a sua história, por força das valsas e óperas ali compostas e tocadas durante vários séculos. Mas quando visitamos a cidade, sentimo-nos desiludidos com o rio que ali vamos encontrar… quase nem encontramos o Danúbio, e quando o conseguimos ver, pouco tem a ver com o Danúbio-Azul que imaginámos.

Na verdade, nas proximidades do centro da cidade só vamos encontrar o chamado rio Viena, ou Wienfluss, que é apenas um canal do curso de água principal, o tal Danúbio, que passa mais afastado do centro.

Mas na zona do Wienfluss não vamos descobrir aquela imagem do romantismo associado à ideia sonhada do Danúbio-Azul, das valsas e das salas de espetáculos vienenses. Pelo contrário, e em vez desta imagem romântica, encontramos uma dinâmica urbana, quando os mais jovens ali se juntam, sobretudo ao entardecer, para aproveitar o fim do dia, tomar uma bebida e apreciar os eventos da arte urbana que ali se vão manifestando.

De todas as pontes que vamos encontrando no Wienfluss, destaca-se uma delas onde se ergue um monumento de inspiração cristã, a chamada Marienstatue, uma estátua com a representação da Nossa Senhora com o Menino ao colo.
Para conseguirmos encontrar o curso principal do rio Danúbio será preciso que nos afastemos, pelo menos, mais uns dois quilómetros do centro. E ao final dessa caminhada vamos encontrar um rio que é ainda mais distante daquela imagem sonhada dos séculos passados. O rio é bastante largo e funciona agora como um meio de transporte de mercadorias e pessoas, através dos muitos barcos que o percorrem todos os dias, como as embarcações de cruzeiro que descem o rio entre as várias cidades que ele atravessa, seguindo a caminho de Bratislava e, mais à frente, de Budapeste.

Atualmente foram crescendo alguns bairros modernos na margem esquerda do rio, tornando-o irremediavelmente afastado do eterno Danúbio-Azul criado por Strauss na sua mais bela valsa.


Prater

No acesso a esta zona do Danúbio podemos escolher um caminho que passe junto do Prater, um popular espaço de lazer onde se encontra o parque de diversões mais antigo do mundo, e também o estádio mais importante da cidade.

Na zona do parque destacam-se algumas atrações que se mantêm desde a sua inauguração em 1897, como um dos carrosséis e a roda-gigante, com 60 metros de altura, e que é um dos símbolos da cidade de Viena.

Terminando o primeiro percurso por zonas periféricas da cidade, entramos agora no centro histórico, pelas ruas mais apertadas e onde encontraremos alguns dos monumentos mais representativos da capital austríaca.


Carillon Ankeruhr

Ainda perto do rio Viena, o Wienfluss, entramos no centro histórico e encontramos o relógio mais bonito da cidade e uma peça da Art Nouveau, o relógio Ankeruhr.

Em 1911, a companhia de seguros Der Anker desenvolveu um plano para construir um grande relógio público na sua nova sede. Para isso contratou o pintor e escultor da Art Nouveau Franz Matsch, que definiu o design artístico, sendo os mecanismos do relógio concebidos pelo relojoeiro da corte.

Atualmente o Ankeruhr é uma atração turística para quem visita o centro da cidade de Viena, por onde recomendo que se faça uma breve passagem.


Stephansdom

Situada em pleno coração do centro da cidade, a Stephansdom ou Catedral de Santo Estevão, é a sede principal da arquidiocese de Viena.

Foi construída sobre as ruínas de uma igreja românica dedicada a Santo Estevão, construída no século XII, embora do antigo templo apenas se conservem a Porta dos Gigantes e as Torres dos Pagãos.

A catedral é composta por um corpo principal e por uma torre com 137 metros de altura, em forma de agulha, construída em estilo gótico, que pode ser vista de vários pontos da cidade, anunciando a localização da catedral. Quem quiser contemplar as paisagens do alto desta torre pode fazer a visita e preparar-se para uma subida árdua por uma escada caracol, mas no fim será recompensado com uma bela vista do centro da cidade.
O telhado da catedral é revestido por mais de 250.000 azulejos que tiveram de ser restaurados depois de terem sido seriamente danificados durante a Segunda Guerra Mundial.

A praça Stephansplatz, onde se ergue a catedral, é um dos pontos de visita mais importantes da cidade de Viena, onde os turistas permanecem apreciando este magnífico monumento, antes ou depois de visitarem o seu interior, também ele bastante rico e imponente.


Café Korb

Nesta zona do centro da cidade encontramos um café com quase 120 anos de tradição, o Café Korb. A sua história começa ainda na monarquia e até o Imperador Franz Josef compareceu pessoalmente à cerimónia de abertura em março de 1904.

Esta cafetaria fica bem no coração do centro histórico, mesmo na detrás da Katholische Kirche St. Peter, uma das igrejas católicas da cidade, e também na proximidade da Catedral.

Apesar de se tratar de um café cheio de história, não deixou de se modernizar, quer na decoração quer também na própria cozinha e nos menus que são oferecidos. Mas, ainda assim, tem garantido, na sua essência, a preservação cuidadosa dos detalhes interiores que refletem o charme de décadas de história, ao estilo das cafetarias Art Lounge, com uma atmosfera de café literário ou clube cultural, neste caso utilizando as paredes para expor algumas pinturas de artistas conceituados, como Oswald Oberhuber ou Adrian Buschmann.


Peterskirche

A Igreja de S. Pedro fica meio-escondida entre os edifícios clássicos do centro de Viena. Trata-se de uma igreja católica do século XVIII, que mantém ainda a sua atmosfera histórica e religiosa, pois, ao contrário das restantes igrejas da cidade, esta não estará a abarrotar de turistas. Por isso merece que se entre e se aprecie, sobretudo, as elegantes decorações que adornam o teto.


Pestsäule

Num dos mais famosos passeios pedonais vienenses, que tem o nome de Graben, encontramos mais um monumento representativo da história da cidade. Neste caso trata-se da chamada Coluna da Peste, ou Pestsäule.

No ano de 1679 a cidade foi devastada pela Grande Peste de Viena, diferente da peste negra, que dizimou a Europa três séculos antes, mas que ainda ceifou quase 80 mil vidas.

Treze anos depois, seria erguida na rua Graben, a Pestsäule, ou Coluna da Peste, ou ainda, Coluna da Santíssima Trindade, que constitui um memorial dedicado às vítimas da epidemia e uma interessante escultura, feita para afastar novas pragas da cidade.
Esta coluna inspirou-se na tradição das colunas marianas, ou da Santíssima Trindade, que apresentam no seu topo a imagem da Virgem Maria. Uma primeira versão, ainda em madeira, foi erguida durante o período em que a peste assolava a cidade, mas o imperador da época, Leopold I, comprometeu-se a construir uma estátua mais robusta, e que seria erguida para agradecer o eventual fim da epidemia… mas Leopold não iria ficar por perto para dar moral aos seus súditos sofredores, pois fugiu para bem longe da cidade e só retornou quando a peste já tinha acabado.

Mais tarde, ao longo de vários anos, diversos escultores estiveram envolvidos no desenvolvimento e construção deste monumento que encontramos bem no centro da principal rua pedonal de Viena, a rua Graben, nas proximidades da catedral de Stephansdom.


Palácio Hofburg e Museu Sissi

Durante mais de 600 anos o Palácio Hofburg foi o local de residência dos Habsburgo. Trata-se de um enorme complexo arquitetónico, com uma fachada muito bonita, que inclui os antigos aposentos imperiais e mais algumas atrações, como uma capela e uma igreja, a Biblioteca Nacional Austríaca, a Escola de Inverno de Equitação, a Prataria da Corte e até o escritório do Presidente da Áustria.
Mas uma das principais atrações deste conjunto será o Museu Sissi, o nome por que era conhecida a Imperatriz Elizabeth da Áustria, que foi a esposa do Imperador Francisco José I.

Na exposição deste museu é possível observar diversos objetos que fizeram parte da vida de Sissi, como alguns vestidos, retratos e muitos outros pertences. Ao longo das seis salas do museu talvez consigamos entender uma pequena parte da vida atormentada, e muitas vezes incompreendida, da imperatriz, com relatos sobre a sua rebeldia contra a vida na corte, a sua obsessão com a beleza e a magreza, e o estado de profunda melancolia que a afligia.

Esta personagem tornou-se uma figura mítica durante toda a sua vida, como que uma primeira versão da princesa do povo, e essa áurea veio a perpetuar-se pelas gerações futuras, quando a sua vida foi retratada num filme rodado em Hollywood por Ernst Marischka, no ano de 1955, dando a conhecer a todo o mundo a história desta jovem imperatriz… mais recentemente, foi ainda rodada pela Netflix uma série sobre a sua vida.

Numa tentativa de fugir dos outros, mas também de si própria, a imperatriz não deixou de viajar pelo mundo… tendo estado algum tempo em Portugal, na ilha da Madeira, onde se encontram registos da sua presença, e até uma estátua com a sua figura.

No ano de 1898 a Imperatriz da Áustria foi assassinada, em Genebra. Num barco a vapor que flutuava no Lago Léman, Sissi foi apunhalada por um anarquista italiano, num caso que mexeu com as paixões e emoções populares…"Ah não, não foi nada! Ele apenas me esmurrou no peito, aparentemente ele estava atrás de meu relógio", foram as últimas palavras da Imperatriz Sissi, poucos momentos antes de morrer.
Sob o edifício do palácio encontra-se um arco que podemos percorrer até ao pátio interior, o chamado Innerer Burghof, que merece ser visitado, para conhecermos o edifício de uma outra perspetiva.


Wiener Minoritenkirche

Esta igreja, formalmente chamada de Italienische Nationalkirche Maria Schnee, foi construída no século XII em estilo gótico francês, e é a principal igreja franciscana da cidade de Viena.

A sua imagem exterior é bonita, mas bem diferenciada da maioria dos monumentos da cidade, com os seus traços simples e modestos, como é comum nos edifícios com inspiração nos princípios adotados pelas ordens franciscanas.


Burgtheater

Depois da Comédie Française, o Burgtheater em Viena é o segundo teatro mais antigo da Europa. Esta sala de espetáculos é referida como sendo o teatro da burguesia, em oposição ao Volkstheater, que em tempos foi o teatro do povo.

Podemos apreciar a fachada do edifício, que é bastante bonita, mas quanto ao seu interior será necessário fazer uma visita guiada, ou comprar um ingresso para assistir a um espetáculo. Para além da sala de espetáculos, que será sempre uma referência, destacam-se no interior deste teatro as escadarias principais onde se encontram pinturas no teto de Gustav Klimt.


Rathaus

Em frente ao Burgtheater, na praça Rathausplatz, fica o maior edifício não religioso da cidade, o Rathaus, que funciona como Câmara Municipal de Viena.

Trata-se de um extraordinário edifício construído entre 1872 e 1883, com a sua torre central enorme, no topo da qual se ergue uma estátua com 3 m de um cavaleiro envergando uma armadura e uma lança, que é chamado de Rathausmann (o homem da câmara).
No piso de baixo deste palácio encontra-se o tradicional restaurante ‘Wiener Rathauskeller’, uma referência da cidade, com os seus belos salões e a praça que fica em frente, a Rathausplatz, corresponde a uma grande área onde de encontram algumas estátuas de pessoas notáveis da história vienense. Esta praça é também usada para alguns dos eventos mais frequentados da cidade, como o Christkindlmarkt (Mercado de Natal), ou o Musikfilm Festival.


Volksgarten e Theseustempel

Logo depois da Rathausplatz entramos no Volksgarten, o Jardim do Povo, um bonito espaço ajardinado e decorado com várias estátuas, que se encontra rodeado por alguns dos grandes monumentos vianenses.

Ao centro, existe o Theseustempel, uma construção ao estilo dos templos gregos. O seu nome significa Templo de Teseu e a sua origem remonta ao início do século XIX, concebido pelo arquiteto da corte para vir a abrigar uma única obra de arte contemporânea: a escultura de mármore branco de Antonio Canova, Teseu Derrotando o Centauro. Durante setenta anos esta obra permaneceu ali no Templo de Teseu, mas em 1890, depois da inauguração do Kunsthistorisches Museum, a obra foi transferida para este museu, onde ainda hoje pode ser encontrada na grande escadaria.

Mas o Theseustempel mantém-se ainda ao centro do Volksgarten, conferindo um ar monumental a este jardim.


Trajeto 3


Fiz aqui uma pausa, dividindo os trajetos 2 e 3, mas, se quisermos, podemos continuar a nossa caminhada entrando diretamente no Trajeto 3 que começa logo ali ao lado, bem perto Volksgarten, junto à praça do parlamento.


Edifício do Parlamento austríaco

O Parlamento de Viena foi construído no século XIX num estilo clássico e é um dos edifícios mais notáveis da Ringstrasse.

Aproveito agora para falar um pouco da Ringstrasse, que é uma avenida circular que rodeia todo o centro de Viena, ao longo da qual se encontram grande parte das obras arquitetónicas mais significativas da cidade. O centro de Viena esteve protegido por uma muralha desde o século XII e, mais tarde, a partir de 1850, foi crescendo enquanto se formavam vários bairros no exterior dos muros. Em 1857, a muralha começou a ser derrubada para dar mais espaço à cidade e, no seu lugar, foi construída uma grande avenida, a Ringstrasse… e o Parlamento de Viena foi construído como parte do projeto de renovação desta avenida.

O edifício segue aquele estilo que lembra a antiga Grécia, com as habituais colunas e um grande pórtico central. Durante a Segunda Guerra Mundial, o edifício do Parlamento foi bombardeado, o que destruiu cerca de metade das suas paredes e coberturas. As obras de reconstrução prolongaram-se até 1956, dando ao edifício um aspeto semelhante ao original.

Se estivermos interessados podemos ver o interior do Parlamento, participando em visitas guiadas, mas a mim, pessoalmente, não é algo que me atraia, preferindo ficar do lado de fora e apreciar apenas a bonita fachada e a fonte que fica em frente.


Volkstheater

Continuando o nosso caminho por este conjunto de ruas e avenidas majestosas, rodeadas por todo lado por edifícios imponentes, podemos escolher o que queremos ver, num autêntico cardápio de monumentos. E no meio de tudo isso, podemo-nos focar num dos edifícios mais modestos que ali se encontram, o Volkstheater… ou o teatro do povo, tal como o Volkswagen, que foi concebido como o carro do povo.

O Volkstheater foi inaugurado em 1889 como um complemento ao Burgtheater. Atualmente, com 830 lugares, é um dos maiores teatros de língua alemã em todo o mundo, e com as remodelações sofridas transformou-se no teatro mais moderno da Áustria.


Maria-Theresien-Platz

A próxima paragem é feita na imensa praça Maria-Theresien, que é também conhecida como a praça dos museus, e é um dos sítios mais monumentais da cidade, como se isso fosse possível, onde encontramos, frente a frente, dois dos mais importantes museus vianenses, que já tive a oportunidade de visitar, o Naturhistorisches Museum, que é o museu de História Natural, e o Kunsthistorisches Museum, o museu de História da Arte.

O Museu de História Natural foi inaugurado em 1889 e é um típico museu dedicado a estas temáticas, com exposições sobre a diversidade da natureza e a história do planeta, desde os tempos dos dinossauros.

Trata-se de um museu grandioso, com mais de 20 milhões de objetos, mas, ainda assim, fica muito aquém dos seus homónimos de Londres e de Nova Iorque.

Apesar de toda essa grandiosidade, acredito que existem muitas outras coisas para ver em Viena antes de ir a este museu, pelo que recomendo apenas uma visita pelo exterior, observando o edifício, que tem um aspeto idêntico ao seu vizinho da frente, o Museu de História da Arte.
Mas o caso do Museu de História da Arte é bem diferente, esse merece claramente ser visitado, tanto pelas obras que ali se expõem quanto pelas histórias que se vão conhecendo ao longo da visita… mas fiquem sabendo que será preciso bastante tempo para uma visita em condições. Apesar disso, muitos são os turistas que o visitam todos os anos, o que faz dele o museu mais visitado de Viena.

São ali expostas as principais obras de arte reunidas pela família Habsburgo ao longo dos séculos, obras essas que estavam guardadas nos palácios Belvedere e Hofburg, entre outros. Com a reconstrução da Ringstrasse, no final do século XIX, foram criados estes dois edifícios monumentais idênticos, e um deles haveria de ser o Museu de História da Arte da cidade, passando a reunir as principais obras que se encontravam dispersas por outros espaços.

Ao contrário de outros museus que se estabeleceram em Palácios ou noutros lugares históricos, o edifício do Museu de História da Arte foi já projetado para ser um museu e as suas salas foram construídas e decoradas em função do conteúdo que iria ser exposto.

As exposições abrangem diversas temáticas, algumas relativas aos períodos da antiguidade oriental, grega, romana e egípcia, com a presença de múmias, objetos para o culto dos mortos, esculturas ou outros elementos decorativos. Mas há também um espaço imenso dedicado à pintura, com obras do século XV até o XIX, com pintura holandesa, flamenca e alemã e, noutra ala, com obras de pintores italianos, franceses e espanhóis.

O museu possui pinturas de grandes mestres como Velázquez, Canaletto, Tiziano, Rubens, Rafael e Rembrandt, e é um dos grandes museus de arte de todo o mundo, que deverá ser visitado se tivermos, pelo menos, umas três horas disponíveis. Se o tempo de visita for curto, fiquem-se apenas pelas fachadas do edifício, ou melhor, pelo conjunto dos dois edifícios gémeos.

Ao sairmos da Maria-Theresien-Platz, voltámos de novo até ao imenso Palácio de Hofburg, que contemplamos, desta vez, do lado da Heldenplatz, onde o palácio mostra a sua principal fachada.


Österreichische Nationalbibliothek

A Biblioteca Nacional Austríaca, que encontramos pouco depois, foi mandada construir no século XVIII, pelo imperador Carlos VI, para ser usada como biblioteca da corte.

Atualmente, é uma das bibliotecas históricas mais bonitas e mais importantes de todo o mundo, com uma coleção de mais de oito milhões de livros e outros objetos que estão expostos na própria biblioteca, no museu do Papiro e no museu do Globo Terrestre.

Embora se trate de uma preciosidade, é bem frequente visitarmos a cidade sem entrarmos neste espaço, tal como aconteceu comigo das duas vezes que ali fui. Nesse caso, resta-nos chegar à Josefsplatz e apreciar o exterior do edifício da biblioteca, que nem é particularmente espetacular, se pensarmos na concorrência que se encontra por toda a cidade… mas podemos apreciar aquelas fachadas enquanto nos lembramos da riqueza cultural que ali se encontra por detrás daquelas paredes.


Galeria Albertina

O Museu Albertina tem uma das coleções gráficas mais extensas do mundo, formada por mais de 65.000 desenhos e cerca de um milhão de gravuras. O museu está instalado num palácio que pertenceu a Maria Cristina e ao seu marido, o Duque Alberto Von Sachsen-Teschen, daí o nome da galeria.

Trata-se de um museu moderno com exposições de algumas das principais obras-primas da arte moderna, desde o impressionismo até à atualidade, incluindo pinturas de alguns artistas importantes, com Monet, Renoir, Cezanne, Matisse, Miró, Picasso, entre muitos outros. E isso já seria mais do que suficiente para reservarmos algum tempo para visitar este museu. Mas depois podemos pensar que Viena talvez não seja a cidade ideal para se apreciar este tipo de obras, que devem ser vistas onde foram pintadas, ou seja, a maior parte delas em Paris

Mas além destas salas com o melhor que a pintura mundial tem para mostrar, existem também outros espaços inteiramente dedicados ao período em que reinaram os Habsburgo, uma parte que é muito mais austríaca e mesmo vienense, mas que, para mim, pelo menos, será muito menos interessante.

Em resumo, quem permanecer um longo período em Viena, pelo menos quatro a cinco dias, pode aproveitar para visitar este museu, mas em caso de uma visita mais curta, como é mais comum, talvez seja melhor aproveitar algo mais tipicamente vianense… limitando-se, nesse caso, a apreciar apenas as fachadas do edifício que alberga este museu.


Ópera de Viena

A menos de uma centena de metros da Galeria Albertina encontra-se o Teatro da Ópera de Viena, o Straatsoper, que foi o primeiro edifício do projeto da Ringstrasse a ser finalizado e, durante a sua existência, tem servido de base à Ópera Estatal de Viena, a sua companhia residente, que é uma das companhias de ópera mais conceituadas a nível mundial,

Esta sala foi inaugurada em 1869 com a apresentação de uma obra de Mozart, o que seria um bom início para uma história de sucesso… mas, na verdade, nem sempre foi assim. O edifício tem um design renascentista que foi uma deceção para os vienenses, que esperavam algo mais interessante. Ainda durante a construção, como resultado desta má reação do público, o arquiteto autor do projeto suicidou-se, desolado com a ideia de que a sua obra não tivesse triunfado. O segundo arquiteto que foi depois contratado para acabar a obra, também não aguentou a pressão e acabou por morrer de um enfarto.

Ainda nesta toada de desgraças, em 1945, durante a Segunda Guerra, uma bomba atingiu o edifício, o que fez com que este tivesse estado encerrado durante dez anos, voltando a abrir as suas portas em 1955, mas, dessa vez, dotado das tecnologias mais avançadas à época.

A visita à Ópera de Viena pode ser feita através de visitas guiadas ou adquirindo ingressos para um espetáculo, o que será certamente mais interessante. Neste caso até existe um programa para que a ópera seja acessível a todos, com bilhetes de pé a preços muito baixos, a menos de 5€, enquanto os bilhetes normais atingem mais de 150€. Estes ingressos especiais, além de não terem assentos, também só estão disponíveis duas horas antes do espetáculo, sendo necessário esperar numa fila, normalmente demorada, e sem a garantia de se conseguir bilhete.

Mas em qualquer das opções de acesso a este teatro, devemos sempre apreciar os pontos mais interessantes do edifício, como o hall de entrada, a escadaria principal e, claro, o grande auditório com espaço para 2.800 pessoas.

Terminamos assim a visita ao centro da cidade, faltando agora apenas o Schönbrunn Palace, mas que fica já numa zona periférica e não tão fácil para se chegar caminhando, pelo que recomendo que se utilize a linha U4 do metropolitano.



Schönbrunn Palace

Este palácio, uma espécie de Versalhes austríaco, foi construído no século XVII como residência de Verão da família imperial, e ostenta todo o luxo e requinte que têm sempre estas residências reais.

O interior do palácio até mereceria ser visitado, embora, no final da visita completa à cidade, talvez já não haja paciência para mais salas e salões em estilo rococó, e tudo o mais que se encontra dentro do palácio. Por isso, talvez a melhor alternativa seja visitar apenas os jardins, que são bastante bonitos.
Ao longo dos imensos jardins vamos encontrar vários lagos e fontes, dos dois lados do palácio, ambos com fachadas bastante bonitas. A fonte principal fica já na extremidade do jardim e chama-se Neptunbrunnen, ou Fonte de Neptuno, de onde podemos apreciar a paisagem os jardins e do palácio ao fundo.
Um passeio pelos jardins e pelas fontes e lagos, sempre com as belíssimas imagens das fachadas do palácio, será algo imperdível e uma excelente forma para terminar esta visita à cidade de Viena.

Terminamos assim a visita à capital austríaca, uma das cidades mais monumentais de toda a Europa, o berço ainda visível do Império Austro-húngaro, que foi de enorme importância na história europeia durante vários séculos.

Mas termino como comecei constatando que toda esta beleza, todo o luxo e opulência que ali encontramos, pode-nos deixar deslumbrados… e deixa mesmo, mas dificilmente nos irá apaixonar.

Carlos Prestes
Julho de 2002