sábado, 6 de agosto de 2022

Islas Cíes e Vigo

Sempre que passava perto de Vigo, e cheguei a passar por lá várias vezes, lembrava-me que a cerca de 15km para Oeste existiam umas ilhas muitos especiais. Falo-vos das Islas Cíes e chamo-as de especiais porque, apesar de se encontrarem no mar bravio da costa Galega, aparentavam ser, pelo menos pelas fotos, umas ilhas de outros mares, mais quentes e mais a Sul… não diria que pareciam ilhas do Caribe, como se chega a dizer, mas algumas fotos que encontramos na net mostram praias bastante apelativas, algumas delas completamente irresistíveis.


Islas Cíes


Assim, mais tarde ou mais cedo, haveria de programar uma visita ao arquipélago das Cíes e foi o que aconteceu em agosto de 2022. Com as expetativas em alta, comprámos previamente os bilhetes de barco para o dia e horas pretendidas para a ida e o regresso, e solicitámos também a necessária autorização de acesso.

Estas autorizações foram criadas pela Xunta de Galicia para limitar a capacidade diária de visitantes nos meses de época alta, assim, para visitarmos as Ilhas Cíes no período de Verão, será necessário solicitar uma autorização de acesso. Algumas companhias dos barcos que fazem o trajeto tratam logo dessas autorizações, mas há outra alternativa, que será fazermos o pedido diretamente à Xunta de Galicia. O procedimento para uma visita de um dia é feito online e é gratuito, mas deve ser tratado com antecedência, porque há o risco de poder esgotar grande parte dos dias durante a época alta.

O arquipélago das Cíes é composto por três ilhas: a Isla de Monteagudo, ou Isla do Norte, a maior, mais alta e mais íngreme de todas; a Isla do Faro, ou Isla do Medio, a mais habitável e a mais pequena das três; e a Isla de San Martino, ou Isla do Sul.

Mas quando visitamos as Cíes estamos apenas a visitar as ilhas do Faro e de Monteagudo, sendo a terceira ilha, a de San Martiño, apenas acessível através de embarcações privadas. Por isso, para a visita que fizemos basta-nos utilizar este mapa simplificado, mostrando as duas ilhas principais.
No mapa representam-se as ilhas do Faro e de Monteagudo que são unidas pela Praia de Rodas e por um passadiço em pedra que funciona como quebra-mar, face à passagem das águas que vão enchendo o pequeno lago que separa as duas ilhas, o Lago dos Nenos.


Mas não são estas imagens do Lago dos Nenos que nos vão deliciar, muito pelo contrário, esta zona do lago nada tem a ver com aquilo que procuramos na ilha, que são as praias de areia branca e com as águas transparentes com tons azul-turquesa.

E são essas as imagens com que somos recebidos quando o barco atraca no ancorador, isso se tivermos sorte e se estiver um dia limpo, mas, em pleno mar-alto, isso nem sempre acontece. Percebem-se nas minha palavras algumas reservas, isto porque, no dia em que saímos de Vigo com um sol radioso, chegámos à ilha e fomos recebidos por uma neblina cerrada (como é habitual acontecer quando vamos de Peniche às Berlengas), ficando a esperança de que vá abrindo ao longo do dia… mas, por sorte, neste caso até acabou por abrir.

Assim, não foi logo à chegada do barco, mas apenas duas ou três horas depois, pudemos apreciar a paisagem da Praia de Rodas, uma das imagens de marca do arquipélago.

A Praia de Rodas é a maior de todas as praias do arquipélago, com uma extensão de 1.300 metros de comprimento e 60 metros de largura. A língua de areia branca, graças ao quartzo dos seus grãos, une as ilhas de Monteagudo e do Faro, num contorno em forma de meia-lua, e formando um conjunto de dunas naturais. Apesar de se encontrar numa ilha esta é mesmo a praia mais visitada em toda a Galiza.


Ao chegarmos à ilha fizemos aquilo que a maioria dos turistas decide fazer, abrir o chapéu de sol e esticar as toalhas na areia. Depois corremos para aquele mar de águas cristalinas, a fazer lembrar o mar das Caraíbas, e mergulhámos… mas desenganem-se, que assim que pomos os pés na água percebemos como é gelada, como aliás já se poderia imaginar, e lá se vai a ilusão de estarmos no Caribe, apesar da semelhança de algumas paisagens.
Com a água assim tão fria, pouco mais podemos fazer neste dia de praia do ficar ao sol, e talvez tenhamos coragem para um mergulho rapidíssimo de vez em quando, e lá voltamos para o sol. 

Ou então fazemo-nos ao caminho pelo areal e vamos até à outra extremidade da praia, a Ponta das Vellas, onde encontramos também uma outra praia mais pequena, a Praia dos Bolos. Esta zona é bastante frequentada porque se encontra na proximidade do principal local de alojamento da ilha, o Parque de Campismo.
Para além de podermos aproveitar a praia, se tivermos vontade de fazer uma caminhada um pouco maior, a ilha tem outras zonas que poderão ser exploradas, com diversos percursos pedonais que nos conduzem até às outras praias, ou nos levam até aos picos e faróis mais distantes, que ficam nos extremos das duas ilhas.

Mas, naquele dia, não estávamos propriamente em modo de caminheiros, até porque, no dia anterior, tínhamos feito quase 30km num dos Caminhos de Santiago. De qualquer maneira, não deixámos de fazer uns pequenos percursos, mas não chegámos, nem ao Faro do Peito, que fica no lado Norte, nem ao Faro de Cíes, que se ergue no alto do Monte Faro, na extremidade Sul da ilha.

Assim, limitámos os nossos percursos a três trajetos distintos: ao longo de toda a Praia de Rodas, até à Ponta das Vellas; em torno do Lago dos Nenos, até ao passadiço que liga as duas ilhas; e fomos também até à chamada área das Figueres, onde encontramos a segunda maior praia de todo o arquipélago, a Praia de Figueres.

Esta praia situa-se no lado Norte, na chamada ilha de Monteagudo, e tem uma extensão de areal, também de areia branca, com cerca de 350 metros de comprimento e 50 de largura. Costuma ser utilizada para a prática do nudismo e, sendo os turistas alemães os pioneiros no chamado naturalismo, a praia costuma ser conhecida como a Playa de los Alemanes.
É uma das melhores e mais bonitas praias das Ilhas Cíes, com uma zona de um extenso areal de areia fina e, no extremo oposto, a areia é substituída por seixo grosseiro, também branco, mas menos agradável para os banhistas. Mas é justamente nesta zona que conseguimos captar algumas das mais bonitas paisagens das Islas Cíes.


Voltámos de novo para a Praia de Rodas, depois de uma breve passagem pelo restaurante-bar que existe junto ao porto, com uma oferta de refeições bastante razoável, quer em qualidade quer em preços.

Já de novo na praia, deixámo-nos ficar em total descanso, relembro os 30km da peregrinação do dia anterior, aproveitando as paisagens, sempre o branco incandescente das areias e o azul vivo do mar… mas sem nunca conseguirmos esquecer a temperatura da água que se fazia sentir a cada mergulho.
Aproximavam-se, entretanto, as 18h, horário do barco que tínhamos reservado para o regresso a Vigo. Faltava apenas percorrer o último passadiço até ao porto e aguardar pela chegada do nosso transporte.


Foi um belo dia, sobretudo por ser um dia diferente do comum, por termos estado numa ilha do Norte da península, com a aparência das praias do Sul, fazendo lembrar algumas das praias quentes das Baleares ou mesmo das Caraíbas… mas, claro, a temperatura das águas não conseguia fazer disfarçar a sua real localização e latitude.

No final o balanço foi algo indefinido, pela sensação de que ficou a faltar aquela áurea paradisíaca que esperávamos. Se, por um lado, se trata de um arquipélago e de umas praias, bastante bonitas e até com ares das praias caribenhas, por outro lado, para nós, portugueses, que temos tanta oferta de praias, já é difícil ficarmos deslumbrados… basta pensarmos na costa da Arrábida, na costa alentejana ou no Algarve, para entendermos que não serão estas praias das Ilhas Cíes que nos vão conseguir maravilhar.

É essa a sensação com que terminamos este dia, são praias excelentes para os galegos ou para os portugueses do Norte, mas, para nós, que vivemos no Sul de Portugal, as Cíes não têm assim tanto para acrescentar... apesar de, indiscutivelmente, serem muito bonitas.


Vigo


Esta cidade galega não será certamente uma das grandes atrações turísticas espanholas, nem sequer da própria região da Galiza. Vigo é sobretudo uma cidade portuária, que vive em torno de um porto que é um de maiores e mais importantes de toda a Espanha, e das suas Rias, as chamadas Rias Baixas, onde se produzem diferentes espécies de mariscos de alta qualidade, e que constituem, por si só, um bom pretexto para visitarmos a cidade.

Depois de passarmos todo o dia nas Islas Cíes, reservámos o serão e o dia seguinte para visitarmos a cidade de Vigo e as próprias Rias, e também, claro, para apreciarmos a gastronomia marisqueira desta terra.

Em Vigo encontramos algumas atrações que tentámos explorar o melhor possível, e que estão localizadas ao longo da cidade, ou na sua envolvente, conforme se representa neste mapa:
 
Estes trajetos e destinos, dentro da cidade e na sua envolvente, estão agrupados pelo tipo de interesses que oferecem: O Porto, que integra toda a envolvente ao porto de recreio, incluindo a Capitania e o Shopping que se encontra junto ao mar; A Cidade, que inclui as ruas mais clássicas de Vigo e o seu Casco Velho; A Gastronomia, que está sobretudo focada na principal rua onde podemos provar os pratos típicos locais; As Rias Baixas, marcando as duas vilas que visitámos num passeio de barco que fizemos pela Ria.

 

O Porto:


Como já referi, a cidade de Vigo está muito ligada à existência do seu porto, embora existam vários portos junto à cidade, e alguns deles estejam demasiado afastados e sejam pouco interessantes, na perspetiva dos visitantes, por se tratarem de portos comerciais ou de apoio industrial, e sem utilização turística.

Desta forma, sobressaem apenas alguns portos, como é o caso daquele onde ficam ancorados os navios de cruzeiro, que ali param para largar turistas que vêm sobretudo para visitar Santiago de Compostela, mas mesmo esse, não é particularmente utilizado pelo visitante mais comum da cidade. Assim, podemos considerar que o porto mais popular é a Estação Marítima da Ria, aquele que está localizado logo abaixo da Cidade Velha, e que inclui a marina de embarcações de recreio e os ancoradouros onde chegam e saem diariamente diversos barcos que estabelecem ligações com alguns destinos próximos, como os portos localizados nas Rias, ou mesmo as Ilhas Cíes.

E é igualmente nesta zona de porto, junto ao centro histórico da cidade, que encontramos os ancoradouros dos muitos rebocadores que conduzem os navios maiores ao longo da Ria, e também o cais das embarcações de pesca, onde existem diversos armazéns das empresas que comercializam peixes e mariscos.

É igualmente nesta zona que se encontra uma referência histórica da cidade, o antigo edifício da Capitania Marítima do Porto de Vigo, que ainda hoje é utilizado com essas mesmas funções.

De qualquer forma, apesar da importância de toda esta zona para o funcionamento económico da cidade, continua a não ser particularmente apelativa para os turistas que a visitam.

Bem perto da Capitania fica uma das joias mais recentes desta parte da cidade, o Centro Comercial A Laxe. Trata-se de um shopping moderno e de grande dimensão, que nasceu nesta zona do porto, onde funciona o Casino da cidade, e onde se encontram as marcas mais conceituadas da moda galega, que partilham o espaço com perfumarias, lojas de eletrónica e uma zona de restauração… o que me parece um contrassenso, quaisquer restaurantes de centro comercial a poucos metros de uma zona de restauração riquíssima no centro histórico, que constitui uma das principais atrações da cidade.

Saindo depois ao longo da marina na direção dos Jardins das Avenidas passamos por uma escultura de rua, chamada de O Salto. Esta peça faz parte de um conjunto de esculturas do artista Francisco Leiro, feitas em bronze e criadas numa homenagem ao esforço dos nadadores nas águas da Ria, que surgem aqui dando o efeito de se encontrarem parcialmente submersas.

Uma dessas esculturas é O Salto, e é a primeira que encontramos logo à saída da Estação Marítima da Ria, na Rua das Avenidas, e mostra um nadador a entrar na água após ter mergulhado. Mais à frente, na Praza da Estrela, encontraremos também outra estátua deste conjunto, O Nadador.

Mas antes haveríamos ainda de percorrer toda esta zona marginal, entrando pelos Jardins das Avenidas, uma zona verde cheia de referências, como é o caso da escultura feita em homenagem a Jules Verne, o Monumento à Mulher ou o monumento que representa Elduayen, um engenheiro e deputado por Vigo durante mais de quarenta anos, e uma figura importante para a história da cidade.
Continuando pelos Jardins das Avenidas e virando depois um pouco mais para dentro, chegamos perto do bonito edifício da Comandância da Marinha. Logo por detrás deste edifício fica a Plaza da Estrela, onde encontramos a escultura O Nadador, que faz parte do conjunto atrás mencionado, onde o nadador desenha o movimento de uma braçada perfeita em estilo crawl.

Para fechar este percurso em torno do Porto de Vigo, percorremos ainda a Alameda da Praça de Compostela, uma zona verde em pleno centro da cidade, com diversos edifícios de habitação, mas também com alguns hotéis e restaurantes.



A Cidade:

Neste percurso pela cidade seguimos pelas ruas mais elegantes, com alguns dos edifícios clássicos mais bonitos, até chegarmos ao Centro Histórico, com casas pequenas, ruas apertadas, algumas delas apinhadas de turistas, principalmente à noite, e onde podemos encontrar o principal monumento da cidade, a Colegiada de Santa Maria de Vigo.
Mas o percurso começou mais acima, na Rua de García Barbón, junto a uma outra igreja católica, a Igreja de Santiago de Vigo. Trata-se de uma bonita igreja dedicada ao Apóstolo Santigo e que constitui uma referência do Caminho Português, que aqui passa, conduzindo os peregrinos até Compostela.
Seguindo depois pelas ruas mais importantes desta cidade, a Rua Policarpo Sanz ou a Rua Marqués de Valladares, vamos encontrando alguns dos edifícios mais interessantes, como é o caso do Auditorio Afundacion.

Logo de seguida estamos a entrar na Praza Porta do Sol, uma praça ampla com mais um conjunto de bonitos edifícios clássicos, sempre em tons escuros devido à pedra utilizada na sua construção. 

É nesta praça que se ergue a escultura chamada de O Sereio, que é atualmente um dos símbolos da Vigo mais moderna. O Sereio, ou o Sireno, em espanhol, que representa um personagem imaginário, um híbrido de peixe e de homem, foi criado pelo escultor galego Francisco Leiro, e surge no topo de um elevado pedestal, permitindo que os olhos deste ser utópico tenham uma visão na direção da Ria. A escultura foi instalada em 1991 e representa uma visão moderna daquele que foi o papel desta cidade durante anos, como cidade portuária, em permanente vigia sobre o mar.

É a esta praça, a Porta do Sol, que ligam as primeiras ruelas do Centro Histórico, com acesso direto à Plaza Princesa e à Plaza de la Constitución. Esta última foi já declarada como Património Histórico pela Xunta de Galicia e é uma das praças mais emblemáticas da cidade, funcionando como uma espécie de Plaza Mayor e tendo como referência a imagem das torres da Catedral, que fica ali bem perto.

A praça desenvolve-se num espaço retangular e é cercada por antigas construções de pedra com arcadas e varandas em ferro forjado, onde se encontram alguns edifícios interessantes, como o antigo Ayuntamento.

Continuámos depois pela teia de artérias que constituem este centro histórico, passando pela Rua Real, a Rua Teófilo Llorente e pelo Mercado do Berbés, que estava fechado, só abre de manhã, até chegarmos à Plaza do Berbés, junto ao porto de pesca. 

No regresso voltámos de novo pela Rua Real e seguindo depois na Rua Alta.
         

Todas estas ruas convergem sempre para o principal polo da Cidade Velha, a sua Catedral, também conhecida por Colegiada de Santa Maria de Vigo. Passámos por lá várias vezes até que resolvemos fazer uma pausa e visitar o seu interior, tentando perceber um pouco mais sobre esta igreja.

A Concatedral de Vigo, é este o nome correto, conhecida popularmente como a La Colegiata, é um dos melhores exemplos da arquitetura religiosa da cidade, expoente da arte neoclássica na Galiza. Foi construída em 1811 sobre uma outra igreja e apresenta três naves e uma fachada de ornamentação muito simples.
Esta igreja alberga a imagem do Cristo da Vitória, que é, sem dúvida, o símbolo religioso mais importante da cidade de Vigo, e tem o seu momento soberano quando, no primeiro domingo do mês de agosto, o Cristo sai em procissão, convocando dezenas de milhares de fiéis que enchem as ruas, o que constitui também a primeira celebração das Festas anuais da cidade… e o dia da nossa visita foi o 7 de agosto, exatamente o primeiro domingo do mês e o dia da grande procissão. 

Embora não tivéssemos participado e até tentámos evitar os locais que iriam ser bloqueados com a passagem do cortejo, toda a cidade estava preparada para o evento, e encontrámos muitas pessoas transportando velas que seriam depois acesas na hora da procissão. Na visita que fizemos ao interior da Catedral encontrámos o andor com o Cristo da Vitória já devidamente preparado.
Depois deste momento de aproximação ao poder da religião sobre a cidade, sobretudo num dia tão especial como este, deixámos a Plaza da Igrexa, onde fica a Catedral, e descemos até ao Mercado da Pedra, onde começa a chamada Rua das Ostras, o local preferencial para quem queira experimentar as riquezas gastronómicas da cidade.

 

A Gastronomia:


Rua das Ostras é como é conhecida esta pequena ruela com restaurantes de um lado e do outro, mas não é esse o seu nome real, na verdade, o seu nome correto é Rua Pescadería. Mas seja qual for o nome com que queiramos apelidar este espaço, o mais importante será chegarmos lá, escolhermos uma mesa e pedirmos alguns dos melhores petiscos que ali são servidos com total mestria.

E foi o que fizemos, andámos por lá de dia, mas também de noite, e provámos aquilo que de melhor ali é servido.

E começámos justamente pelas ostras. O nome popularmente dado a esta rua não é por acaso, é que existe sempre por lá um ostreiro de serviço, neste caso era uma ostreira, a quem chamamos à mesa, seja qual for o restaurante onde estivermos. A senhora chegou perto de nós, apresentou-nos as alternativas, tipos de ostras disponíveis e preços, e nós fizemos o pedido. Foram-nos trazidas ao natural, apenas com limão, e acompanhámos com o vinho branco que tínhamos encomendado no restaurante. Uma excelente combinação entre fornecedores e vendedores de ostras e os restaurantes desta rua.
Mas os próprios restaurantes oferecem também algumas pequenas maravilhas, quase sempre com recurso aos mariscos e bivalves produzidos ou apanhados nas Rias. Podem ser escolhidas algumas preciosidades, sobretudo pela extrema qualidade dos ingredientes, como é o caso das paellas, ou dos mistos de mariscos, com vários tamanhos e combinações possíveis, sempre de fazer babar qualquer um.

Assim, não quisemos deixar de cometer mais uma vez o imperdoável pecado da gula, cedendo à tentação que os Deuses fizeram o favor de nos proporcionar, nestes dias de dedicação gastronómica em que estivemos na cidade de Vigo.


Esta oferta gastronómica, a preços que podem ser considerados razoáveis, não esquecendo que nos estão a servir marisco do melhor, constitui, por si só, um atrativo suficientemente interessante para se visitar a cidade de Vigo.


As Rias Baixas:


Se tivéssemos tido mais tempo teríamos ficado mais um dia, apenas para explorar devidamente estes braços de mar que aqui são conhecidos por Rias Baixas, por estarem localizadas na parte mais abaixo do território da Galiza. Em frente a Vigo existe apenas uma das quatro Rias que se formam nesta zona do Sul da Galiza, entre Baiona e Finisterra.

A riqueza e a vida que as Rias proporcionam é imensa, quer na produção de mariscos e bivalves, quer na criação de aldeias piscatórias e até de locais de veraneio, para tudo o que tenha a ver com o mar, da praia à pesca, dos desportos náuticos à gastronomia. Tudo isto pode ser devidamente explorado por quem tenha tempo e curiosidade para descobrir os múltiplos locais que se desenvolvem nas margens de cada uma das quatro Rias galegas.

A localização das quatro Rias Baixas é a que se representa no mapa seguinte, e a sua extensão ao longo da costa galega faz com que seja necessária uma viagem mais demorada, caso se queira explorar cada uma delas. Mas, neste dia e na proximidade da cidade de Vigo, explorámos apenas uma parte da própria Ria de Vigo.
Conforme se representa, as chamadas Rias Baixas incluem as rias de Vigo, de Pontevedra, de Arousa e de Muros-Noya. No seu litoral recortado, surgem zonas de costa escarpada e bravia, que se intercalam com amplos areais aos quais se pode aceder por terra, aproveitando os portos e as praias que ali se formam.

A Ria que tivemos oportunidade de visitar, a Ria de Vigo, está protegida do oceano pelas ilhas Cíes, e abre-se entre o Cabo Home, a Norte e o Cabo Silleiro, ao Sul. Esta é uma Ria de vários tesouros, sobretudo na enseada de San Simón, onde existem alguns galeões afundados, carregados com o ouro das Américas, mas não só, é também nesta baía que se encontram algumas das melhores praias da Galiza.

E há ainda um outro tesouro que as Rias também escondem, e que é aqui chamado de ouro negro, e corresponde à produção massiva de mexilhões, talvez os melhores que se produzem em toda a península. E foi à procura desses mexilhões que atravessámos a Ria de carro até à vila de Cangas, conhecida pelas suas praias e também pelo seu porto.

Foi do porto de Cangas que apanhámos um barco que nos iria levar num passeio ao longo das águas calmas da Ria de Vigo. 

Ao fim de algum tempo em que apreciámos uma parte da costa Norte desta Ria, começámos a encontrar diversas estruturas que constituem os viveiros de mexilhão que ali são criados.
Mais tarde aproximámo-nos do porto da vila de Moaña, o principal polo de produção de mexilhões em viveiro, atravessando as centenas de estruturas de viveiro que ali se encontram. O barco ficou depois acorado e nós tivemos o privilégio de almoçar uma autêntica barrigada de mexilhão, do melhor que alguma vez tinha comido, concluindo assim esta experiência de proximidade com a riqueza que vem das Rias… faltou-nos mais algum tempo para podermos experimentar outras coisas que as Rias também oferecem, como as praias ou as aldeias, e até o lastro histórico que ali tem sido deixado ao longo dos anos.

 

Voltámos depois a Vigo para terminarmos a visita que tínhamos começado no dia anterior. Foi uma experiência bastante interessante, embora já soubéssemos que Vigo não iria ser a cidade mais fantástica para ser visitada, mas ainda assim oferece algo que outras cidades espanholas não conseguem oferecer, sobretudo em tudo o que tem a ver com o mar e com as Rias e, claro, também com a própria gastronomia ligada aos peixes e mariscos que são o ex-libris desta zona da Galiza.


Agosto de 2022
Carlos Prestes