domingo, 28 de janeiro de 2018

Marrakech


Marraquexe é chamada de Cidade Vermelha - Al Hamra - e não é difícil perceber porquê, a maioria dos seus edifícios são mesmo de cor avermelhada, originalmente porque era essa a cor da argila com que se construiu todo o edificado da cidade mas, mais recentemente, terá sido uma opção na escolha dos materiais de reparação e pintura para que não fossem alteradas as tonalidades primitivas.

E foi assim que encontrámos as ruas de Marraquexe por onde nos deixámos perder durante dois finais de tarde e ainda um dia completo....e lá estavam os tons avermelhados quase sempre a dominar.

A cidade foi fundada por Ali Ben Youssef no ano de 1126 (do nosso calendário), após a construção de uma primeira muralha com 9 km, juntamente com um novo palácio e alguns edifícios administrativos. Desde então e durante vários séculos, Marraquexe foi a principal cidade marroquina e a grande metrópole do Norte de África.

As cidades velhas e centros históricos, que nas cidades Marroquinas, e não só, são chamadas de medinas ou almedinas, encontram-se normalmente cercadas por muralhas que, em tempos, serviam de proteção às populações....e em Marraquexe encontramos mesmo a maior de todas as medinas do país e uma das maiores de todo o mundo, declarada em 1985 como património mundial da UNESCO. 

E é na medina que encontramos a verdadeira cidade de Marraquexe, primitiva e genuína, cercada por muralhas com vários pórticos de acesso em arco, e com as ruas cheias gente, cheias de bicicletas e motorizadas, com lojas e vendedores de rua em todo o lado, e com os seus mercados tradicionais, os souks, onde artesãos locais vendem e fabricam todo o tipo de produtos....e alguns deles levam-nos de novo àquela profusão de contrastes a que este país nos habituou....as cores, sempre as cores, como principal estímulo dos nossos sentidos.


Sendo a medina o local mais importante e atrativo da cidade, recomendo a escolha de um riad bem no seu interior, para que se consiga aproveitar tudo o que a cidade tem para oferecer e toda a sua mística, a qualquer hora do dia ou da noite. Um riad é um pequeno palacete ou uma casa grande, com um conjunto de quartos que se dispõem em torno de um pátio interior, normalmente ajardinado ou com uma fonte, no modelo tipicamente árabe-andaluz, e que foi convertido num pequeno hotel. Os riads ficam localizados no centro das medinas e, do exterior, não aparentam ser mais do que casas comuns, iguais a tantas outras, mas o interior revela sempre uma dimensão especial e, por vezes, algum luxo, e são normalmente espaços bastante acolhedores, sem descaracterizar o ambiente marroquino, que ali está sempre bem presente. 

E foi assim que fizemos, escolhemos um riad (Riad Dar El Masa), bem no centro da medina e próximo da Praça Jemaa el-Fna, o coração da cidade.
Apesar de nos conseguirmos mover perfeitamente por toda a medina, não quisemos deixar de contratar um guia durante uma manhã e início de tarde, para nos acompanhar aos locais de maior interesse histórico e cultural. Recomendo este tour feito com o acompanhamento de um dos guias oficiais da cidade que, normalmente, são conhecedores profundos da história daquele local, muitas vezes com formação universitária nessa área. Mas será conveniente solicitar o guia no hotel e não aceitar os guias que se oferecem nas ruas para nos acompanhar....não será tanto um problema de segurança, mas sim da qualidade de informação que vai ser transmitida. 

Fizemos um longo percurso, sempre a pé, que aqui vou dividir em dois itinerários e representar em dois mapas.

Saindo do Riad Dar El Masa percorremos algumas das ruas que nos conduziram até ao Bairro Judeu, sempre preenchidas por todo o tipo de lojas e muitas delas cobertas com esteiras de sombreamento, que as protegem do calor abrasador que se faz sentir durante os meses de verão.

Bairro Judeu - Mellah:

O Mellah é o bairro judeu da cidade que ocupa uma vasta área da medina e que teve uma grande importância para o desenvolvimento da cidade. A coexistência das comunidades judaicas e muçulmanas, com mesquitas e sinagogas a poucos quarteirões de distância, é algo que nos pode parecer estranho, e que, ao mesmo tempo, também nos alegra. Talvez porque estejamos condicionados pelos permanentes conflitos entre árabes e judeus no Médio Oriente, mas, felizmente existem muitas cidades onde essa coexistência é pacífica e Marraquexe é uma delas.

Durante séculos a comunidade judaica ocupava um bairro praticamente auto-sustentável, com escolas, serviços, mercados, sinagogas....e existiam quase todas as profissões essenciais para que uma cidade funcionasse, com os banqueiros judeus, mas também professores, agricultores, artesãos e comerciantes, que contribuíam de forma decisiva para a economia local. 

O número de judeus em Marraquexe diminuiu bastante desde a fundação do estado de Israel, após a segunda guerra mundial, que provocou a deslocação de muitas comunidades de judeus de todo o mundo, que tentaram uma nova vida no jovem estado judaico. Por isso uma parte do Mellah é hoje ocupada pela população muçulmana, que coabita com a comunidade judaica, misturando culturas e hábitos nos mesmos espaços, com uma aparência idêntica à dos outros bairros da cidade, sempre com o mesmo género de ruas e o mesmo tipo de comércio. 


Neste bairro destacam-se algumas referências judaicas, como a Sinagoga Salat Alzama ou o cemitério judeu, com os seus túmulos caiados de branco....mas que não conseguimos visitar.

E ainda dentro deste mesmo bairro judeu encontra-se também um dos maiores e mais importantes palácios árabes da cidade, o Palácio Bahia. 

Palácio Bahia:

Foi construído no final do século XIX pelo Grão-Vizir Si Musa, que lá viveu com as suas quatro mulheres, 24 concubinas e vários filhos. O nome Bahia tem o significado de ”brilho”, mas não era mais do que o nome de uma das suas mulheres, a sua favorita, e não porque fosse aquela de que ele mais gostava ou sequer a mais velha, a favorita é sempre aquela que lhe dá o primeiro filho homem. Essa diferença de estatuto entre as mulheres é bem visível nos aposentos de cada uma delas, onde a favorita teria tido condições claramente excecionais.

O Grão-Vizir tinha muita estima pelo palácio e fez com que o mesmo fosse sendo ampliado com novas alas e novos jardins até ocupar uma área de mais de oito mil metros quadrados, e enriqueceu-o com imensos detalhes artísticos de estilo islâmico e influência andaluza, com a inclusão de pormenores preciosíssimos trabalhados em gesso ou em madeira de cedro, e de várias portas ornamentadas. 

No interior encontram-se diversos pátios e jardins em estilo andaluz, decorados com variadíssimos painéis em azulejo, que são uma autêntica preciosidade. 


Nas proximidades do palácio Bahia localiza-se um outro monumento de grande importância histórica, o Palácio el Badi, cujo interior não conseguimos visitar por falta de tempo.

Palácio el Badi:

Foi um elemento arquitetónico que embelezou a cidade nos seus tempos mais áureos, mas atualmente encontra-se parcialmente em ruínas. Foi construído pelo sultão Ahmed al-Mansur, após a sua subida ao trono, a fim de comemorar a Batalha de Alcácer-Quibir, constando-se que terão sido os portugueses a financiar esta obra, como resgate pago para libertar alguns prisioneiros daquela batalha.

O palácio tem uma construção bonita, mas entrou em decadência há vários séculos. No entanto, é ainda hoje uma atração turística e onde se realizam alguns eventos importantes, como é o caso do Festival do Riso, com grande impacto internacional. 

Ainda na mesma zona torna-se visível o complexo que inclui a Mesquita Moulay El Yazid e os Túmulos Saadianos.


Tombeaux Saadiens:

Trata-se de um imenso mausoléu construído no século XVI, para juntar no mesmo local, os restos mortais de todos os governantes saadianos e suas famílias, bem como alguns artistas mais importantes daquelas épocas....numa espécie de panteão de uma dinastia. Os túmulos encontram-se junto à Mesquita Moulay El Yazid ou Mesquita Almóada, e só foram descobertos em 1917, com a ajuda de imagens aéreas.

Os túmulos encontram-se num edifício com três salas, dispostas em torno de um grande jardim que é praticamente impercetível a partir do exterior, existindo apenas um beco apertado que liga esta área de jardim à Rue de La Kasbah. 
         
Ao todo são cerca de 60 membros da dinastia saadiana, sepultados nas três salas, todas elas com vários motivos e pormenores arquitetónicos preciosíssimos, utilizando sobretudo o mármore de Carrara, mas também os azulejos, a madeira de cedro, o estuque trabalhado, e mesmo alguns pormenores feitos em ouro.


         

Cá fora, entrámos de novo nas ruas de comércio e nos souks, como o Souk El Khemis, e chegámos a uma das muralhas construídas à volta da medina, onde se encontram algumas das suas portas, que são, também elas, imagens icónicas desta cidade. 
         
A Porta Bad Agnaou é uma das portas mais ilustres de todas as que se encontram ao longo dos 19 km de muralhas que envolvem esta cidade. 

Porta Bab Agnaou:

É uma das vinte portas de acesso à medina de Marraquexe, foi construída no século XII, durante o reinado do califa almóada Almançor. Bab Agnaou significa “Porta dos Negros”, referindo-se ao povo Gnawa, os berberes de pele mais escura. Os motivos decorativos deste pórtico foram construídos em tijolo e pedra, formando arcos de ferradura, flores e uma concha, assim como algumas inscrições do Alcorão. 

Palácio Real:

Depois da Porta Bad Agnaou surgem os muros de um dos palácios que a família real vai mantendo na maioria das cidades marroquinas, apenas para acolher o rei nas deslocações ocasionais a cada cidade. O palácio não está aberto ao público e nem é sequer visível a partir do exterior, a menos das altas muralhas e de alguns portões, embora se saiba da existência de uma autêntica cidade para lá dos muros, com vários edifícios, pátios e jardins, e mesmo uma mesquita. Até as fotografias do exterior são difíceis de conseguir, porque não estão autorizadas fotos aos guardas que se encontram de plantão nos portões principais.
A 500 m do Palácio Real surge a Koutoubia, a maior das mesquitas da cidade, e um dos seus ícones principais, já bem perto da praça mais importante, a Jemaa el-Fna.

Mesquita da Koutoubia:

É a maior mesquita e um dos monumentos mais emblemáticos da cidade de Marraquexe. Foi construída em alvenaria de pedra durante o século XII e tem uma beleza arquitetónica e uma grandiosidade que fascinam quem a contempla, oferendo algumas das mais belas imagens da cidade, quer de dia quer à noite ou ao entardecer.

A torre do Minarete tem uma altura 77 m e é definida como referência para todos os edifícios da cidade, que jamais poderão ultrapassar essa mesma altura. No interior existe uma rampa em caracol que vence os vários pisos até ao seu topo, e que permitia que o muezzin subisse a cavalo até à varanda da torre para fazer o chamamento para cada reza. Atualmente a torre está equipada com altifalantes no topo e o chamamento é feito pelo microfone a partir do piso térreo, mas nunca é uma gravação, é sempre feito em cada uma das horas de oração.
Apesar da proximidade não entrámos logo pela praça Jemaa el-Fna, guardámos para mais tarde, continuámos pelos souks mais a Norte, seguindo aproximadamente o trajeto representado no próximo mapa: 

Itinerário 2:


Os Souks:

Seguimos pelos becos labirínticos dos souks e fomos encontrando, na rua e em certas lojas, alguns daqueles pormenores que nos surpreendem e que nos ajudam a construir uma imagem mais inspirada da cidade.

Entrámos depois nas zonas dedicadas ao fabrico de cada tipo de material, com os respetivos artesãos, que ali trabalham e comercializam o que produzem. Não é propriamente uma área de acesso turístico comum, percebe-se que a maior parte dos produtos serão para trocas e vendas entre comerciantes e populações locais e só conseguimos entrar nesses espaços mais restritos porque o Muhammed, o nosso guia em Marraquexe, fez questão de nos mostrar este tipo de comércio, que ele dizia ser, o mais genuíno da cidade.

Assim fomos descobrindo cada zona com o seu tipo de produto, desde a cerâmica, o couro, o ferro e o cobre, os tapetes, as tintas para tingir lã e tecidos, as madeiras, o calçado....quase tudo o que se imagine, sempre proporcionando imagens de uma beleza autêntica, que fomos apreciando com grande interesse e fotografando com voracidade.
         


         


         

Fontes públicas:

Nesta zona da medina encontramos algumas antigas fontes públicas, construídas sobretudo durante o século XVI, como forma de garantir o fornecimento de água, tanto para o uso doméstico, como para o ritual de lavagem que os muçulmanos cumprem antes de cada oração. Estas fontes continuam, ainda hoje, a ser usadas pela população, sobretudo para lavarem as mãos e os pés antes de entrarem nas mesquitas.

Madrassa e Mesquita Ben Youssef:

Neste local existem várias referências a Ben Youssef, o fundador da antiga Marraquexe e uma figura importante desta cidade. A Madrassa, ou escola de estudos islâmicos, que se encontra ao lado da Mesquita Ben Youssef, é considerada como um dos mais importantes exemplos de arte e arquitetura da cidade de Marraquexe. 

No entanto, apesar da visita a esta Madrassa estar ainda prevista nos circuitos turísticos, a verdade é que o edifício entrou em obras de reabilitação e encontra-se fechado a visitas há mais de um ano, e continuará ainda por mais algum tempo. 

Também não visitámos a mesquita que, normalmente, não são visitáveis, por isso ficámo-nos pelas vistas do exterior.
Na mesma praça da Mesquita, a Praça Ben Youssef, encontram-se ainda duas das importantes atrações da cidade, a Qubba Almorávida e o Museu de Marraquexe.
Qubba Almorávida:

É o único testemunho da arquitetura religiosa dos Almorávidas em Marraquexe. É também uma fonte, mas neste caso é uma das primeiras fontes da cidade, que servia para a cerimónia de lavagem dos crentes antes entrarem na mesquita ao lado, para as orações, mas também para fornecer água potável à população. Esta fonte foi mandada construir no século XII por Ben Youssef, quatro séculos antes da maioria das restantes fontes que se encontram na medina de Marraquexe. Também não conseguimos visitar este monumento, por estar igualmente em obras de recuperação, mas pelo menos encontrava-se bem visível a partir do exterior. 

Museu de Marraquexe:

O Museu da cidade, também chamado de museu Ben Youssef, encontra-se instalado no Palácio Dar Menebhique que se transformou num museu desde 1997. Este museu tem uma grande coleção de peças arqueológicas, etnográficas, documentos históricos e até de arte contemporânea, sobretudo de artistas marroquinos. 

Uma vez mais acabámos por não visitar o interior do edifício. Mas neste caso a opção foi bem consciente, e como o tempo escasseava escolhemos não fazer esta visita e aproveitar as ruas e as praças da cidade, que nos atraem muito mais do que qualquer museu. 
Acrescento ainda que, ao contrário da maioria dos locais visitáveis desta cidade, onde se paga uma entrada de 20Dh, ou 2€, neste museu o preço é mais elevado, e paga-se 50Dh. Mas de acordo com o Muhammed, esta visita seria muito menos interessante do que a do Palácio Bahia, que visitámos ao início da manhã. 

Voltámos às ruas dos souks e, desta vez, percorremos uma vasta área com comércio de tapetes berberes, onde fazem a venda ao público, e fazem também leilões da mercadoria que é trazida do Sul, para ser negociada e comprada pelos vendedores da cidade. 

Chegámos, entretanto, a uma das praças mais interessantes da medina, a Rahba Lakdima, também chamada como Place des Épices. 

Place des Épices:

É um lugar acolhedor e autêntico, um mercado berbere muito menos focado nos turistas e mais no comércio para a população local. 
Nesta praça existe um espaço que recomendo vivamente, o Café Des Épices, um edifício com esplanadas nos vários pisos, o que nos permite fazer uma pausa para uma bebida ou um almoço rápido, por sinal, muito recomendável, permitindo que fiquemos sentados a observar a multidão que se move numa azáfama contagiante.

A poucos minutos da Place des Épices fica o coração e a alma da cidade de Marraquexe, a extraordinária Praça Jemaa el-Fna.

Praça Jemaa el-Fna:

Em 1985, a UNESCO atribuiu, pela primeira vez, um título de Património Mundial Imaterial, e escolheu exatamente esta magnífica praça e, desta forma, foi possível eleger muito mais do que aquele espaço que a praça ocupa....distinguiram sobretudo a mística que a envolve e que faz dela um lugar emocionante e inesquecível.

E é impossível chegar a esta praça, sobretudo a partir do final da tarde, e não sentir essa profunda emoção e uma tremenda exaltação.

Foi assim que nos sentimos logo na primeira tarde, mal tínhamos chegado a Marraquexe e corremos para este local, um autêntico coração palpitante, onde todas as artérias desaguam. E não quisemos esperar mais, subimos a uma das esplanadas e contemplámos toda a praça que se estendia à nossa volta. E por lá ficámos, por lá nos demorámos....deixámos que o sol se pusesse e que a noite caísse, e deixámos que aquele lugar mágico nos comovesse. 
As imagens que captámos são apenas uma pequena amostra daquilo que fomos sentindo. Eram já as cores, luminosas e brilhantes, que se revelavam na profusão de luzes que a noite trazia. Eram os tons quentes do sol que se escondia por detrás da torre da Koutoubia. Era uma praça imensa que ganhava vida, brilho, ritmo, magia e movimento, à medida que o sol se aí escondendo.



Mas neste dia em que viemos da Place des Épices, depois de um tour durante toda a manhã pela medina de Marraquexe, atingimos a Jemaa el-Fna ao principio da tarde, quando a praça se encontrava ainda relativamente calma. Mas com o aproximar do anoitecer a vibração vai-se instalando e a praça vai adquirindo uma outra dimensão.
De qualquer forma, mesmo durante o dia a praça regista já alguma folia, que vai depois crescendo com o aproximar do pôr-do-sol, sempre com os restaurantes ambulantes que fumegam por todo lado, as bancas de sumo de laranja e as bancas de frutos secos, os turistas - sempre muitos turistas - os músicos, os lojistas, os aguadeiros, os cozinheiros de caracóis, dançarinos e encantadores de serpentes, curandeiros e dentistas, acrobatas e contadores de histórias. Um mundo sem fim numa cadência eletrizante que vai ainda acelerando com o passar das horas até à chegada da noite, quando atinge um ritmo infernal.



A meio da tarde saímos da praça, apanhámos um táxi e fizemos cerca de 3 km fora da medina até à Villa Majorelle. 

Jardin de Majorelle:

Uma pequena villa com um imenso jardim, propriedade original do pintor francês Jacques Majorelle, que residiu em Marraquexe durante várias décadas. Mas esta villa e este jardim, tornaram-se sobretudo célebres quando, em 1980, foram comprados por Yves Saint Laurent e pelo seu companheiro, Pierre Bergé. Desde essa altura o estilista fez daquele local um dos seus atelieres preferidos e também o seu refugio, sempre que pretendia esconder-se da ribalta parisiense.

Recentemente abriu um museu junto à villa, dedicado ao estilista, mas contendo sobretudo as suas coleções de arte privadas. Tem alguns pormenores de interesse, mas poderá não ser uma visita imperdível, sobretudo porque as entradas são caras, custam 100 Dh, ou 10€. 
          

Já a visita ao jardim, além de mais barata, 70 Dh, parece-me também mais interessante, sabendo-se que Yves Saint Laurent terá passado, naquele jardim e naquela casa, uma grande parte da sua vida, criando algumas das suas peças que o consagraram....mas também experimentando uma fase de decadência, causada pela utilização sistemática de álcool e drogas, que o levaram a um declínio precoce.

O jardim e a villa, posteriormente rebatizada pelo estilista e pelo seu companheiro, como Villa Oásis, apresentam ainda os pormenores de decoração de acordo com as escolhas feitas por Yves Saint Laurent, como a cor viva dos edifícios, ou a imensa coleção de catus que foram sendo plantados no jardim. Atualmente o atelier de pintura foi transformado num museu berbere e encontra-se também aberto ao público

As cinzas de Yves Saint Laurent, falecido em junho de 2008, foram espalhadas pelo jardim e foi depois criado um memorial composto por uma coluna romana trazida de Tânger, sobre uma base com uma placa com o seu nome. Em setembro de 2017, com a morte de Pierre Bergé, também as suas cinzas foram levadas para o Jardin de Majorelle e o seu nome acrescentado à placa do memorial.
         

Voltando de novo à medina, íamos ainda poder desfrutar de mais uma noite nesta cidade encantadora e tínhamos algumas experiências que estavam em falta e, claro, não poderíamos ir embora sem uma última visita à Praça Jemaa el-Fna. E começámos por ir diretamente procurar por uma dessas experiências, um Hammam.

Hammam Marroquino:

É um espaço onde encontramos um tipo de Spa, que permite o relaxamento e a limpeza e tratamento da pele, de uma forma muito tradicional. O tratamento é feito por mulheres que nos levam para uma espécie de banho turco, com vapor, depois molham-nos atirando-nos com água bastante quente, a seguir lavam-nos com sabão preto, para ajudar à limpeza dos poros e finalmente aplicam um esfoliante de argila. O tratamento termina com uma longa massagem de relaxamento, com óleos aromáticos.

Existem muitos hammams na cidade que oferecem este serviço a preços bem distintos. Mas não nos devemos deixar enganar....os mais caros, que são Spas de alto luxo, pouco têm a ver com os hammams tradicionais e, além disso, são mesmo bem mais caros do que encontraríamos em Portugal para um serviço equivalente. Nos muito baratos, podem levar-nos para os banhos públicos locais onde seríamos integrados em grupos que ali se dirigem para fazerem a sua higiene. Entre uma coisa e outra existem vários locais interessantes, com preços na ordem dos 500 a 800Dh (50 a 80€) para um casal, com uma hora de massagem. E foi num desses que experimentámos o circuito completo até ao total relaxamento.

Deixo-vos aqui a referência deste hammam que achámos bem agradável. Chama-se Mains de Fées (Mãos de Fadas), fica próximo da Praça Jemaa el-Fna e é de um casal francês muito divertido. Podem espreitar o site: http://www.auxmainsdefees.com/.

As Compras de Rua:

À saída do hammam precisávamos ainda de fazer aquelas últimas compras de ocasião e mergulhámos, desta vez sem quaisquer defesas, nas lojas onde se encontravam os produtos procurados, assumindo agora que teríamos mesmo de regatear o preço de cada peça, mas, sinceramente, não é coisa que goste de fazer, e deixei que fossem as mulheres a regatear com os lojistas. E foi uma algraviada que só visto, cada um a falar a sua língua, quase aos gritos, mas no final acabam por se entender e, infelizmente, acabamos sempre por comprar aquilo que não precisávamos, ainda por cima ficamos convencidos que fizemos um ótimo negócio!

Resolvemos, entretanto, ir jantar, para acabarmos depois esta última noite em Marraquexe na praça Jemaa el-Fna.

Restaurantes:

Na cidade de Marraquexe encontrámos restaurantes de excelente qualidade, com um tipo de cozinha de inspiração árabe e berbere, mas com influência de outras cozinhas do mundo, e com resultados muito interessantes.

Para experimentarmos os restaurantes e bancas de rua e provar algum prato tradicional, ou para beber um sumo de laranja, ou mesmo para arriscarmos um prato de caracóis, podíamos fazê-lo à hora de almoço, ou a qualquer hora do dia, mas quisemos reservar os jantares para ir a restaurantes que nos pudessem oferecer um tipo de experiência gastronómica um pouco mais sofisticada. 

Só tivemos oportunidade de jantar três noites na cidade e, por isso, só conhecemos três restaurantes. Eram todos bastante bons e todos situados bem no centro da medina - o Naranj, o Pepe Nero e o Nomad. Em todos eles experimentámos pratos de conceção gourmet, mas sem se afastarem dos menus e dos paladares marroquinos....tivemos algumas belas surpresas.

A noite estava a acabar e percorremos, uma vez mais, algumas das ruas apertadas dos souks e regressámos depois, uma última vez, à Praça Jemaa el-Fna, onde iríamos acabar o dia e fechar esta experiência fantástica pelo Sul de Marrocos.
E chegados de novo à praça maior desta cidade, é inevitável deixarmo-nos perder, uma vez mais, sem qualquer objetivo que não seja deambular por entre as centenas de pessoas que por lá estão. E foi o que fizemos durante esta noite, sempre observando os detalhes que nos continuaram a inspirar.

Mas a melhor forma de contemplarmos esta praça, sobretudo à noite ou ao final da tarde, será a partir dos terraços mais altos de alguns Cafés, onde nos podemos sentar e apreciar, de forma privilegiada, todo aquele frenesim que se vai revelando. 

Escolhemos o terraço do Café Glacier mas poderíamos ter escolhido um dos outros, como o Café de France ou o Café Argana. Em todos eles será sempre necessário tomar algo, pelo menos um chá ou um sumo.

Mas qualquer que seja o Café escolhido, podemos ter a certeza que a sensação de se estar naquele local, será sempre inesquecível, que as paisagens serão maravilhosas e que os momentos passados no alto daquele terraço, serão sempre profundamente emocionantes.