quinta-feira, 21 de março de 2013

Côte d'Azur

Começámos a nossa visita pela Côte d'Azur ainda em Marselha, a capital desta região francesa, que inclui também a Provence e uma parte dos Alpes. Mas apesar de ser a capital desta região, Marselha nada tem a ver com com o glamour que caracteriza esta zona requintada do Sul de França, e faz dela um dos principais destinos turísticos franceses... Marselha será mesmo o oposto a qualquer tipo de requinte. 

De qualquer forma não deixámos de visitar a cidade antes de avançarmos para as zonas mais apetecíveis e mais luxuosas desta costa azul.


Marselha:

Trata-se de uma das maiores cidades francesas, mas sem o charme das suas concorrentes, como Paris, por exemplo. Pelos vestígios que ainda se conseguem observar de um passado não muito longínquo, a cidade parece ter tido o esplendor das cidades coloniais do início do século XX, porque Marselha era a cidade portuária de onde partiam as ligações para as colónias do Norte de África, como Argélia e Tunísia, no auge do período colonial. E, nessa altura, Marselha seria certamente um polo importantíssimo, tanto do ponto de vista comercial como também cultural, porque as colónias marcavam o panorama francês em todos os aspetos do país.

Mas, de todo esse hipotético charme, que se encontraria no Porto Velho, com políticos, artistas e intelectuais, franceses ou magrebinos, como Albert Camus, nos muitos cafés em torno do porto, já pouco resta… apenas à distância as paisagens continuam a reproduzir uma elegância que se imagina ter sido uma marca desta cidade.

Atualmente a cidade é feia, a menos do porto e do centro histórico, é quase uma cidade do Norte de África, tal como a maioria dos seus habitantes. Chega a ser até um pouco assustadora, mas também pode ser preconceito da minha parte, mas, a verdade é que estava preparado para uma cidade europeia e não estava com o chip do Norte de África. Por isso fez-me um bocado impressão ver as ruas semelhantes às de Casablanca ou de Tunes, quando, ainda na véspera, tínhamos passado o dia a percorrer aldeias e cidades, cada uma mais elegante do que a anterior.

Ainda assim, não deixámos de fazer um percurso de reconhecimento, logo pela manhã, em que percorremos as ruas que nos levaram aos locais mais interessantes da cidade, desde logo o porto velho, e apreciámos a vista sobre a baía, em torno da qual toda a cidade se desenvolve.

Deixámos o carro no centro, num parque perto da rua de La Canebière, e palmilhámos as ruas que nos levariam à Cathédrale de la Major, localizada bem próxima do mar e com uma vista privilegiada. A Catedral de Marselha, ou Cathédrale de la Major, é um monumento nacional francês e uma igreja católica, construída num estilo bizantino-romano no final do século XIX.

Passámos depois junto ao Fort Saint-Jean, uma fortificação construída em 1660 por Luis XIV, junto à qual se avista a baía desde a entrada do Porto Velho. O porto, ou Vieux-Port, encerra anos de história desde a sua construção, quando era o porto principal de toda a França, até à história mais recente, primeiro como principal entreposto na ligação às colónias e, depois, com a segunda guerra mundial, como um alvo estratégico para as tropas de Hitler, que o bombardearam e destruíram. 

Atualmente o porto é o principal polo comercial e turístico da cidade. Além da atividade pesqueira, o turismo tem um impacto significativo no dia-a-dia do Vieux-Port, de onde saem barcos para visitas turísticas e para onde convergem os turistas em busca dos muitos restaurantes e esplanadas que se espalham ao longo dos contornos da baía.

Depois de algum tempo em torno da baía, numa manhã em que se vendia peixe e flores, num mercado quase improvisado, em torno dos muitos barcos aportados, permanecemos numa esplanada apenas para um café e para observar o ritmo daquela zona da cidade. Bem diferente das restantes ruas, que se pareciam mais com Argel do que com França, ali, no porto, os turistas e a população de origem francesa, são a imagem dominante… e voltámo-nos a sentir em França.

Ao fundo, lá no alto, a paisagem é dominada pela presença da catedral de Notre-Dame de la Garde, uma igreja de estilo bizantino localizada no ponto mais alto da cidade, que é o local da peregrinação anual no dia da Assunção.

Ao fim de algum tempo de observação de toda aquela dinâmica, voltámos às ruas do centro, como quem regressa a Marrocos.

Depois, já de carro, passámos ainda pela catedral de Notre-Dame de la Garde, no alto da colina, e seguimos depois para Este, entrando na verdadeira Côte d’Azur... seguindo mais ou menos os trajetos aqui assinalados:
 


Cassis e a costa dos Calanques:

Seguimos na direção de Cassis, pelas estradas ao longo de cerca de 30 km pelas montanhas que definem o contorno da costa, desenhando enseadas, de acesso difícil, designadas por Calanques. 

Estes Calanques da costa Sudeste de Marselha foram declarados Parque Nacional em 2012 e são um conjunto de baías, ou enseadas, dentro de vales rochosos escarpados, formados por estratos de calcário cársico, de cor clara, o que faz com que as águas dos braços do Mediterrâneo que ali se formam, sejam de um azul-turquesa vivo, sempre que o sol brilha.

Contávamos passar por três desses Calanques ao longo do percurso para Cassis mas, depois de passarmos pelo Calanque de Sormiou, o céu começou a ficar cheio de nuvens e começou mesmo a chover, e acabámos por não desviar para o Calanque de Morgiou, aparentemente um dos mais bonitos. Já muito perto de Cassis fizemos um pequeno desvio para ir ver o Calanque d’En Vau, mas as nuvens não deixaram que os azuis vivos das águas se mostrassem.

De qualquer forma, as paisagens dos Calanques em dias soalheiros são das mais paradisíaca que se podem encontrar em toda a Côte d’Azur. Por isso, recomendo vivamente um percurso de barco ao longo destas magníficas enseadas e ficarão certamente maravilhados (basta pesquisar na net algumas imagens desta zona para perceber a beleza que nos pode vir a deslumbrar).

Apesar do céu estar fechado não deixámos de fazer também uma viagem pela costa. Os barcos saem de Cassis e existem vários tipos de mini-cruzeiros, em função da duração, podemos visitar mais ou menos Calanques. Existem circuitos desde os 45 min a três Calanques, por €16, até aos mais longos, de 1h50m, a nove Calanques, por €27 (a preços de 2013)

A empresa sugerida chama-se “La visite des Calanques” e tem um site explicativo com todas as informações necessárias: http://www.lavisitedescalanques.com/fr/grand-public/

Uma boa opção será um circuito intermédio por 19€ durante 65 min, saindo do Port de Cassis depois de almoço, e visitando cinco Calanques, Port-Miou, Port Pin, En Vau, L'Oule e Devenson. Como já esperávamos o dia não abriu e o sol não nos visitou enquanto andámos à volta destas enseadas… e acabámos por ficar apenas às portas do paraíso.
Voltando a Cassis, uma pequena cidade piscatória que é, atualmente, totalmente dominada pelo turismo, com uma praia e uma marina, onde se misturam os barcos de pesca com as embarcações de recreio, e onde não faltam também os vários barcos para visitas turísticas. 

A marina ocupa toda a baía e a primeira linha de edifícios está completamente preenchida por restaurantes, esplanadas e lojas, integradas na arquitetura original, com um aspeto pitoresco e elegante. Os espaços públicos, tal como os restaurantes e lojas, têm um charme natural, pela decoração, pelas cores e, sobretudo, pelas pessoas que os frequentam. Sente-se já o glamour da Côte d’Azur…
Aproveitámos a oportunidade para almoçar num dos muitos restaurantes com esplanada junto ao mar. No final da refeição ofereceram-nos um cálice do requintado licor de Cassis, (uma espécie de vinho doce frutado). O licor não é especificamente desta região, apesar da semelhança do nome, que resulta do facto de cassis corresponder a uma groselha negra, com a qual se faz o licor. De qualquer forma, talvez devido ao nome, este licor foi adotado como bebida oficial da cidade e é muito corrente observar turistas a bebericar um cálice de cassis, nas esplanadas por onde passamos.

Além da parte pitoresca e turística da vila, que se desenvolve em torno da marina, existe também o castelo que ocupa o alto da ravina que contorna a baía do seu lado Este. Trata-se do Château de Cassis, que constitui um testemunho de séculos de história, e que foi recentemente transformado num hotel de luxo pelos proprietários privados.


Saint-Tropez:

Faltavam ainda 120 km até Saint-Tropez, uma das joias mais preciosas da Côte d’Azur, através de uma estrada que não imaginava encontrar, com curvas e contracurvas que pareciam não acabar. Chegámos ao final da tarde e a cidade estava meio parada, talvez porque o tempo continuava encoberto e mesmo com alguns chuviscos ocasionais que davam uma imagem outonal à cidade, com as suas ruas molhadas.

Percebe-se que é um local carregado de charme pelo aspeto luxuoso de alguns restaurantes, as lojas de marca, das mais caras, e pelos automóveis e barcos. Mas de resto é tudo igual, cruzamo-nos nas ruas com pessoas como nós, apesar de terem saído dum iate de muitos pés, ou de se dirigirem para um Bentley ou um Maserati, aparentemente não notamos grandes diferenças e sentimo-nos bem.
Antigamente, a vila de Saint-Tropez era apenas uma terra de pescadores, e a sua arquitetura, com casas pitorescas pintadas de cores pastel, revelam isso mesmo. Entretanto, com o período do glamour francês, nos anos 60, o turismo passou a ser dominante nesta zona do país. Mas não foi um turismo qualquer, atualmente Saint-Tropez é um dos pontos turísticos de maior luxo em toda a França, frequentado por celebridades, como estrelas de cinema, artistas rock ou jogadores de futebol. Mas também por milionários de todo o tipo, incluindo os oligarcas russos ou os sheiks árabes… aliás, são exatamente os mesmos que passam o inverno em Courchevel, vêm depois para cá no verão… tal como nós, pelo menos foi o que fizemos nestes últimos dias, primeiro Courchevel e agora Saint-Tropez... que ironia.
Registo apenas que a transformação da cidade se deu quando a atriz francesa Brigitte Bardot se mudou para Saint-Tropez, e passou a atrair muitos fãs e admiradores e, posteriormente, atraiu também outras celebridades. Ora, numa outra crónica deste blogue sobre a minha viagem ao Brasil em 2004, referi que o aparecimento de Búzios como polo turístico afamado, foi também na sequência da divulgação feita pela mesma atriz, Brigitte Bardot… o que não deixa de ser curioso o papel que uma só pessoa teve no aparecimento de dois centros turísticos a vários milhares de quilómetros de distância. 

Saint-Tropez não é propriamente um local que nos permita fazer um período de férias alargado, porque nem a praia é de primeiro nível, nem os preços são convidativos. Assim, recomendo apenas uma visita de uma parte de um dia, o suficiente para conhecer a cidade, mas não tanto para usufruir daquilo que ela pode oferecer. 

Quem quiser procurar por umas férias de praia, com a noção que nós temos do que é uma praia, com areia e mar para mergulhos e banhos de sol, aqui em França não existe. As praias no continente francês não são particularmente apetecíveis (menos as da Córsega, que são fantásticas), encontramos mesmo muitas praias privadas a que não teremos acesso. Por isso, quem quiser fazer aqui umas férias como devem ser feitas nesta zona, terá de alugar um barco ou passar os dias em mini-cruzeiros, e assim conhecer as redondezas e aproveitar para uns banhos de mar... que é o que fazem os milionários quando aqui estão de férias, embora esses usem os seus próprios barcos. 

Além disso, o próprio alojamento é sempre a preços proibitivos, o que não constitui um problema para a maioria daqueles que enchem a marina com os seus iates e ocupam os hotéis de charme que ali encontramos. E até mesmo os restaurantes, é preciso ter algum cuidado porque, apesar do aspeto descontraído, podemos entrar em algum espaço com preços que parecem estar noutra moeda e não em euros, porque aparecem sempre com um dígito a mais. 

Mas, apesar das poucas horas de que dispúnhamos, apenas o fim de tarde e início da noite, e do budget que estávamos dispostos a gastar, resolvemos percorrer os locais mais marcantes da cidade como se fizéssemos parte daquela dinâmica e daquele luxo todo. Ficámos sobretudo na zona junto ao mar e à marina, e fomos espreitando lojas e restaurantes, até escolhermos um deles onde nos deixámos ficar durante o serão... armados em milionários.

Percorremos depois as ruas ainda molhadas, continuando a apreciar os sinais do luxo que a cidade nos oferece, que vão surgindo, às vezes de forma inesperada, como em certos casos, quando em pequenas ruelas se encontram lojas das marcas mais conceituadas do mundo, ou quando numa qualquer rua encontramos as melhores marcas de automóveis... já para não falar dos barcos, cujas marcas nem reconheço. 

Foi interessante ver a cidade a começar a ganhar vida no início da noite, como se acordasse de uma sesta vespertina, e começasse a bombar cada vez mais.

Não comprámos nenhuma mala Louis Vuitton, mas não deixámos de fazer algumas compras… tal como não fomos aos restaurantes mais luxuosos comer lagosta e beber champagne, mas escolhemos um restaurante italiano em plena marina, para umas massas e uns flutes de lambrusco, que nos encheram de satisfação… tal como dizia Almada Negreiros na sua Cena do Ódio, “É que a Natureza é compensadora: quem não tem dinheiro p'ra ir ao Coliseu, deve ter cá fora razões p'ra se rir”… e foi mesmo assim, encontrámos as nossas razões e fartámo-nos de rir.
Faltava apenas o trajeto final (100 km mas em autoestrada) até ao hotel onde iríamos permanecer nas próximas três noites, em Antibes, no centro de gravidade dos locais que queríamos conhecer nos dias seguintes.


Grasse:

A escolha do hotel em Antibes para as próximas três noites tem a vantagem de ser central em relação às cidades que pretendíamos visitar. 

(Em tempos remotos, quando ainda havia dinossauros na terra e eu andava a fazer um dos inter-rails, fiz uma escolha semelhante e fiquei no parque de campismo junto à estação de comboio de Biot, que fica perto do mar na mesma zona de Antibes e que pode ser uma alternativa a quem, nestas zonas de praia, preferir acampar para baixar o orçamento. Mas quem não tiver quaisquer problemas de orçamento, o que não faltam são hotéis glamourosos, como o Carlton em Cannes ou o Hotel Paris em Monte Carlo… isto para não dizerem que só deixo aqui dicas pindéricas)

Começámos o dia por uma cidade de montanha com uma característica muito especial. A cidade de Grasse que é considerada a capital mundial do perfume, por ter sido o local onde a indústria de perfumes mais se desenvolveu desde que ali se instalou no século XVIII. Grasse produz mais de dois terços dos aromas naturais de França (para perfumes e aromas alimentares).

No livro “O perfume”, de Patrick Süskind (e também no filme, claro), o protagonista percorreu todo o país para chegar a Grasse e poder aperfeiçoar as técnicas de perfumaria, que ele usada depois de uma forma cruelmente macabra... não digo mais para não fazer spoiler.

Fizemos a habitual visita à cidade velha, bastante bem arranjada, com casas coloridas de amarelos e laranjas pastel.                                                                                                                              


Mas a cidade é claramente dominada pela sua ligação às perfumarias e fábricas de perfume e, por isso, não podíamos deixar de visitar o Museu do Perfume e a perfumaria Fragonard. É interessante perceber como é que, desde há séculos, a indústria da perfumaria tem funcionado. Desde a recolha das flores, aos processos para retirar os aromas, até à composição final de cada perfume, numa fase que lembra a enologia no processo de criação dos vinhos.

No final da manhã, depois de acabar a visita a Grasse, descemos 25 km para sul e chegámos às zonas de costa, onde iriamos percorrer as principais cidades da Côte d’Azur.


Antibes:

Começámos pela cidade velha de Antibes, e pela marina e praia, que são das menos nobres desta zona da Côte d'Azur, face à concorrência, que é poderosíssima.

A cidade desenvolve-se na proximidade do cabo de Antibes e tem uma silhueta marcada pela torre do Forte Caree, bem no centro da cidade velha, junto ao muito concorrido Mercado Provençal, e onde existe também um Museu Picasso.

Já junto há marina, mas ainda numa parte velha da cidade, existem praças e ruas com aspeto rústico, com esplanadas e restaurantes, tipicamente franceses e muito apelativos.



Percorremos ainda o pontão que fecha a baía do porto de Antibes, formando uma marina de recreio enorme, e parámos junto ao monumento ou escultura designado por Bastion St-Jaume, que é um dos símbolos daquela marina.

Apesar desta zona ser sobretudo de sol e de praia, a vista que se consegue alcançar nesta época de início de primavera, é algo diferenciada daquilo que estamos à espera num ambiente de veraneio.

Deste ângulo vê-se a cidade velha em primeiro plano, com a silhueta do cabo Antibes marcada pelas torres da Cathédrale Notre Dame de l'Immaculée Conception, num enquadramento deslumbrante, com a vista das montanhas dos Alpes Marítimos, lá ao fundo, totalmente pintadas de branco devido aos nevões ainda recentes. 


Nice:

Depois da visita à zona de Antibes seguimos em direção a Nice, uma das principais e também das mais bonitas cidades da Côte d’Azur.

A cidade desenvolve-se ao longo da costa, com uma imensa praia de calhaus rolados, e uma ampla avenida com uma calçada pedonal, o chamado Passeio dos Ingleses ou Le Promenade des Anglais, quase sempre cheia de gente, passeando a pé ou de patins, mais apressada ou mais tranquila.

As praias estão divididas pelos respetivos postos de apoio de praia, normalmente associadas a restaurantes ou bares, e ocupadas por espreguiçadeiras e chapéus-de-sol, o que faz com que a maioria delas sejam espaços privados e sem acesso público... algo a que nós, portugueses, não estamos minimamente habituados. Nesta viagem estávamos em março e o tempo nem sequer convidava a um banho de mar, mas, nas minhas anteriores visitas à cidade (primeiro num inter-rail em 84 e, mais tarde, em 2000, com a minha equipa de andebol) era verão e senti um certo desagrado por nos limitarem o acesso à praia sem pagar. Mas, se pensarmos bem, uma praia de calhaus cinzentos não é suficientemente apelativa para que nos apeteça sequer dar um mergulho.

No ano de 2000 o sol banhava aquela marginal e, por isso, escolhi uma foto dessa altura, em contraste com a foto tirada neste final de tarde chuvoso, 13 anos depois.


Ao longo do Le Promenade des Anglais, na marginal e nas avenidas mais interiores, as construções são de um estilo clássico e elegante, fazendo lembrar os principais boulevards de Paris. 

No final dessa avenida, se nos afastarmos da costa, a cidade mantém-se elegante e moderna, ao longo do Promenade du Paillon, uma alameda que liga a marginal à zona do Théâtre National.

Se continuarmos no Promenade des Anglais junto ao mar, ao longo do Quai des États-Unis, até ao mercado das flores, le Cours Saleya, a cidade transforma-se num bairro antigo, o Vieux Nice. Esta zona velha da cidade contorna ainda o monte do castelo até à baía do lado oposto, onde se localiza o famoso porto de Nice. 

Antes de começarmos a nossa visita à cidade, e ainda de carro, fomos até ao monte do Le Chateau. A melhor razão para se visitar a zona do castelo será para observar a extraordinária vista panorâmica sobre a cidade e o mar, de um dos lados e, do Port de Nice, do outro… e não para visitar o próprio castelo. 

Foi o que fizemos, mas com grande pena, por estar um dia cinzento e chuvoso, mas, ainda assim, as paisagens merecem ser contempladas. Quem não estiver com carro pode ir até ao monte de elevador até ao topo e depois descer pelas escadas ao longo da colina. 


De seguida estacionámos o carro num parque bem perto do Vieux Nice, por ser a zona mais central da cidade, e partimos num longo percurso pedonal neste final da tarde e início da noite, até pararmos para jantar. 

Começámos pelo mercado das flores, le Cours Saleya, que é uma das principais atrações da cidade, com as ruas envolventes preenchidas com cafés, restaurantes e lojas de souvenires, sempre muito concorridas. O mercado funciona seis dias por semana e, às segundas-feiras, é substituído por uma espécie de feira da ladra, de velharias e antiguidades.

Entrámos depois no coração do Vieux Nice, um bairro pitoresco e bem cuidado, com zonas glamourosas, cheias de esplanadas, e com outras ruas mais estreitas, algumas apenas ruelas, num autêntico mercado de rua. 

Os edifícios do bairro são da traça habitual desta zona, com cores pastel, amareladas e alaranjadas e, de vez em quando, salientam-se as torres de algumas igrejas, que definem os contornos da paisagem.

Atravessámos todo o bairro e passámos pelo sopé do monte do Le Chateau chegando, até à Place Garibaldi.

Mais à frente atingimos a grande baía do Port de Nice. Uma marina com todo o tipo de embarcações, desde os mais luxuosos iates de recreio até aos barcos de pesca e os muitos barcos para visitas turísticas, mas também com uma área, junto à ligação da baía ao mar, reservada aos ferries que fazem os trajetos até à Córsega.

Voltando de novo até à cidade através da Place Garibaldi, chegámos à zona moderna e vanguardista dominada pelo edifício do Théâtre National de Nice. Percorremos depois a Promenade du Paillon, uma alameda com uma faixa central para peões e cheia de espaços verdes.

Já perto da marginal percorremos Place Masséna e a Rue de France, uma longa rua pedonal que é o centro comercial da cidade, cheia de lojas de todo o tipo, e com algumas áreas totalmente ocupadas por restaurantes com as suas esplanadas. O local é animado e resolvemos que, depois de uma volta que ainda queríamos fazer pelo Passeio dos Ingleses, voltaríamos mais tarde a esta rua para jantarmos.




Terminámos mais um dia longo em que percorremos o trajeto representado no mapa, agora já nos principais destinos da Côte d’Azur, mas este dia foi altamente prejudicado pelas nuvens e pela chuva que nos acompanhou, não tendo sido possível apreciar a verdadeira beleza das paisagens, principalmente em Nice... felizmente já era a minha terceira visita a esta cona do Sul de França, e nas outras alturas estavam dias de céu limpo e sol radioso... e nessa altura estava tudo muito mais bonito.



Mónaco:

O dia acordou soalheiro ao contrário da noite anterior que foi chuvosa e estragou o brilho que se esperava para um serão passado em Nice.

Mas ainda bem que o sol avivava os azuis do Mediterrâneo, porque hoje iriamos passar um dia na terra dos sonhos, terra de de príncipes e princesas, o Principado do Mónaco.
Tínhamos um percurso programado como referência, e começámos pelo alto do rochedo que se eleva a partir do mar, onde se situa o Castelo do principado. Desde logo, uma das atrações principais da zona, é o próprio Castelo, casa oficial dos príncipes e símbolo principal da monarquia monegasca.

Na sua envolvente há um conjunto de ruelas pitorescas que nos levam à Catedral de São Nicolau, ou Castelo do Mónaco, o monumento mais importante da cidade, onde se encontram os túmulos dos vários governantes da família Grimaldi, como o príncipe Rainier III, pai do atual governante, o príncipe Albert II e das suas irmãs, Caroline e Stéphanie.

Mas o principal ícone daquela igreja e o mais procurado pelos visitantes, é o túmulo da princesa eterna, Grace Kelly, antiga estrela de Hollywood que viu os sonhos transformados em realidade ao casar-se com o Principe Rainuer III e a tornar-se uma princesa de verdade. E até a sua morte, ainda muito jovem, foi de um dramatismo cinematográfico, num acidente ao volante dum desportivo descapotável, quando certamente seguia veloz com os cabelos loiros ao vento… levando-a diretamente para a galeria dos eternos mitos, como James Dean ou Marlin Monroe. 
Além da Catedral, a colina do Castelo, o bairro designado como Mónaco-Ville, permite ainda a visita ao museu oceanográfico Jacques Cousteau, com o seu edifício monumental sobre o mar que domina a paisagem do rochedo. 
Mas um dos principais atrativos da zona é a possibilidade de contemplar as vistas magníficas dos dois lados do rochedo, com a baía da marina principal da cidade do Mónaco, a nascente, e o Port de Fontvieille, a poente. 

Percorremos todo o contorno do rochedo apreciando a paisagem das várias perspetivas e descemos depois a encosta até à zona da marina. 
Chegámos à cidade que se desenvolve ao longo da colina que constitui a primeira encosta da cordilheira dos Alpes Marítimos, que estão logo ali alguns quilómetros mais atrás, nesta altura totalmente cobertos de neve. O principado é constituído por 11 bairros, sendo os mais importantes o Mónaco-Ville, que corresponde ao rochedo do Castelo e da Cidade Velha, o bairro de La Condamine, na envolvente da marina, e Monte Carlo, a zona envolvente ao casino, que é o mais charmoso e glamouroso do principado.

Deixámo-nos ficar algum tempo em torno da imensa marina, com todo o tipo de embarcações, desde o navio de cruzeiros, que ali estava aportado naquele dia, até aos luxuosíssimos iates.
Curiosamente a maioria dos barcos envergava bandeiras de países longínquos, como o Panamá ou as Ilhas Caimão e outros paraísos fiscais, ou até, incrivelmente, com a bandeira portuguesa (esta situação curiosa e até lamentável, tem a ver com o facto do porto do Caniçal, na Ilha da Madeira, ser também Porto-Franco e, por isso, isento de impostos).

E o Mónaco é também, ele próprio, um paraíso fiscal, por isso alguns dos barcos envergavam a bandeira local. Mas o principado tem apenas pouco mais de 30 mil habitantes, dos quais menos de metade é que são monegascos, os restantes são maioritariamente franceses e italianos.

Mas a marina é sobretudo ocupada pelos barcos dos estrangeiros, embora não se veja, por exemplo, uma única bandeira francesa… para fugirem dos elevados impostos sobre fortunas que se pagam em França. 
Depois de passarmos algum tempo na marina, onde almoçámos, fizemos um percurso à volta da baía e continuámos na direção de Monte Carlo, na colina do lado oposto.

Apesar das ruas modernas e devidamente organizadas, dominadas pelo charme das lojas e restaurantes por onde vamos passando, há um percurso especial que resolvemos seguir, o circuito que é feito pelos Fórmula 1 no Grande Prémio do Mónaco.
E foi assim que fizemos, seguindo o circuito tantas vezes repetido pelos bólides da Fórmula 1, começámos na zona das piscinas, exatamente onde fica a grelha de partida. 
O percurso começa numa envolvente de prédios modernos, das últimas décadas do século passado, mas à medida que subimos a rampa e nos aproximamos de Monte Carlo, começamos a encontrar edifícios com uma traça diferente, mais antigos e mais luxuosos, já com todo o charme da arquitetura clássica francesa.

Durante a subida vamos aumentando o angulo de visão sobre a baía, com uma perspetiva diferente da marina, agora do lado oposto e com o rochedo por trás, dominado pelo Castelo dos Príncipes monegascos.
Chegados ao centro de Monte Carlo, percebemos que estamos na capital do glamour.
O Casino, o Hotel de Paris e o Café de Paris, formam uma praça que é quase uma passerelle... de milionários, de modelos (quase sempre, as modelos com os milionários) e de carros, numa autêntica mostra de bólides de luxo (muitas vezes ocupados pelas modelos e os seus milionários).
Perante um cenário daquele tipo quase só nos resta observar… as lojas são todas de marcas de luxo, o Hotel de Paris é uma miragem, só tivemos coragem para uns sorbets na esplanada do Café de Paris, onde nos demorámos, sentindo o palpitar de um mundo de contos de fadas, a ver os Ferraris, os Bentleys, os Maseratis, num vai-vem, como se tudo aquilo fosse perfeitamente vulgar. 

Desta vez, com as miúdas, não pudemos entrar no Casino, mas há uns tempos, no ano 2000, quando passei alguns dias na Côte d’Azur com a minha equipa de andebol, tive a audácia de entrar no Casino e de arriscar uns euros nas slot-machines. Foi apenas uma brincadeira, o dinheiro voou ao fim de alguns, poucos, minutos, mas depois continuei a observar o espetáculo. Lá estavam os milionários, os mesmos, com as modelos do costume, no Black-Jack ou na Roleta, carregando a mesa com pilhas de fichas, a valerem centenas e centenas de euros, seguindo o balanceado das instruções do concierge, convidando-os a apostar… fait vous jeux, dizia ele.
Depois de satisfeita a nossa curiosidade sobre o mundo dos ricos... como é que andam, como é que são, e são todos horríveis, os milionários, claro, porque as modelos, são modelos! Resolvemos então continuar, pista fora, vencendo as curvas e contracurvas deste nosso Grande Prémio.

E logo de seguida entrámos na curva mais famosa do circuito, que faz quase 360º, junto ao Fairmont Hotel e ao seu parque de estacionamento que mais parece um stand de carros de luxo.

Continuámos o percurso desviando ligeiramente do circuito de F1, e seguindo pelo imenso jardim japonês até às praias junto à Promenade du Larvotto, mais uma zona chique do principado.
Mais tarde voltaríamos à pista, desta vez caminhando pelo Boulevard Louis II e o túnel que atravessa o edifício do Fairmont Hotel, e que é um dos ícones do Grande Prémio do Mónaco, onde se verificaram alguns acontecimentos marcantes para a modalidade, como quando, em 1984, sob uma chuva intensa, Ayrton Senna surgiu como um prodígio da condução, adivinhando-se pela primeira vez o potencial de uma carreira ao mais alto nível. 
Chegados novamente à zona da marina, deixámo-nos ficar mais algum tempo, sempre observando a forma como esta cidade se move, com charme, com glamour, um local à parte, uma pequena colina entre o Mediterrâneo e os Alpes Marítimos onde nasceu e permanece esta joia rara.


Menton:

Dispúnhamos ainda de algumas horas no final deste dia e pretendíamos conhecer e passar o serão, numa das localidades pitorescas e muito glamourosas da Côte d’Azur, Menton.
É uma pequena cidade que fica muito próxima da fronteira com Itália. A zona velha de Menton tem uma arquitetura muito bem cuidada e conservada, com a silhueta marcada por uma das igrejas típicas desta região e pelo casario com aspeto pitoresco, com as habituais cores, dos amarelos e dos ocres.

Em frente repousa uma baía de areias grossas e cascalho de cor clara, formando uma praia de águas calmas que, quando o sol brilha, adquire mesmo os tons azul-turquesa típicos do mediterrâneo.
Nas ruas, o ambiente é muito agradável, com charme, pessoas bonitas, as lojas e as esplanadas com ótimo aspeto, tudo é cuidado e muito bem frequentado. Não se notam tanto os milionários, mas vêem-se algumas modelos. 

O serão estava ameno e terminámos a noite numa esplanada, onde experimentámos um típico bife tártaro francês, desta vez acompanhando com dois flutes de champagne francês, já em tom de despedida.



Cannes:

Era o nosso último dia em França, que guardámos para Cannes. Estacionámos bem no centro e preparámo-nos para uma longa caminhada por esta cidade que, onde íamos passar pelos locais mais atrativos desta cidade, seguindo, mais ou menos este trajeto:
Para mim, Cannes sempre foi uma inspiração, aquele símbolo da sétima arte, a capital europeia do cinema, com todo o glamour e o charme que a envolve, e que conheci ainda em miúdo, numa altura em que me deixava fascinar com muito mais facilidade.

Começámos pela praça principal, com vista para a colina dominada pelas torres do Château de la Castre e da Église Notre-Dame d'Espérance.
Subir depois as ruas as inclinadas que nos levaram ao topo da colina do castelo, onde chegámos à igreja de Notre-Dame de l’Espérance e ao Musée de la Castre, numa zona rústica e antiga com casas pitorescas e ruelas estreitas.

Para além dos monumentos, das ruas e das praças que adornam o local, a principal atração de que se pode disfrutar do topo desta colina é a magnífica vista sobre a marina, avistando-se lá mais ao longe a extensa marginal ao longo do Boulevard de la Croisette.
Descemos a colina para o lado oposto, em direção ao mar e chegámos à Plage do Waikiki, um areal extenso junto ao Promenade do Boulevard du Midi Jean Hibert. É uma praia de areia branca, e com o mesmo problema das outras praias da Côte d’Azur, o facto das áreas concessionadas serem de acesso privado, sobrando apenas algumas faixas do areal para acesso público. Mas isso não foi um problema para nós, porque ainda estávamos longe da época balnear.
Seguimos depois até ao Porto Velho, a marina principal da cidade, ornamentada, uma vez mais, por todo o tipo de embarcações, tanto as mais típicas, dos pescadores locais, como as de recreio, mais desportivas ou mais luxuosas.
Seguindo depois ao longo do Quai Saint-Pierre, o mais típico de toda a marina, chegámos a uma das principais praças da cidade, junto ao Promenade de la Pantiero, com alguns edifícios de referência, como é o caso do Mairie de Cannes, a Câmara Municipal.
Contornámos toda a marina até ao lado Nascente, onde aportam os maiores e mais luxuosos iates.
Logo por detrás dessa zona da marina chegamos à praça do Palais des Festivals e des Congrés, o edifício mais marcante de toda a cidade por albergar o famosíssimo festival de Cinema de Cannes. É devido a este festival que Cannes é vista como a capital do cinema europeu. 

Na envolvente não há grandes sinais de passadeiras vermelhas nem das inúmeras celebridades que por lá passaram no último festival, mas sente-se que é um lugar com uma mística muito especial. E há até uma tentação de sonhar alto, e começamos a imaginar aquela mesma escadaria coberta por uma carpete púrpura, num vaivém de estrelas de cinema, sob o metralhar de flashes dos paparazzi, e já me consigo ver, a mim próprio, fazendo aquele mesmo percurso, e ficando lado a lado com as grandes celebridades, sentindo uma espécie de miragem, como se tudo à nossa volta me ofuscasse devido ao brilho intenso de uma Palma de Ouro imaginária.
Descendo à terra, e percebendo que o brilho era falso - afinal o evento que estava no Palais des Festivals, era de Shopping e não de Cinema - seguimos pela maior e mais chique marginal da cidade, o glamouroso Boulevard de la Croisette, com um imenso passeio público junto às praias, também de areias brancas e também privadas. 
A meio da extensa marginal encontra-se um dos hotéis mais bonitos e mais chiques de toda a Côte d’Azur, o Carlton Hotel. Costuma ser a escolha preferida das estrelas de cinema, que, ano após anos, nos dias do festival, ali costumam pernoitar. Mas, mesmo num dia corrente, como este dia de março, percebe-se o charme que transborda de todos os sinais, dos clientes, da cuidada arquitetura, da decoração e até da arquitetura.

É como um cenário de outros tempos, noutros festivais com muitas outras estrelas cintilantes à época, como Grace Kelly, a jovem atriz que brilhava em Hollywood e que, neste mesmo local, conheceu o também jovem, príncipe Rainier III, do Mónaco, e juntos fizeram nascer um dos romances mais cinematográficos de que há memória… com príncipes e princesas, amor e tragédia. 

Fizemos depois o percurso até ao final deste passeio marginal, ao longo desta baía icónica... e recordei a minha presença neste mesmo local, no início dos anos 80 do século passado, quando a cidade de Cannes me deslumbrou a ponto de mal acreditar que ali estava, no meio de todo aquele fascínio.
No regresso até ao centro, entrámos pelas ruas interiores, sempre dominadas pela arquitetura clássica francesa, onde se concentram algumas das principais lojas da cidade, que surgem em ruas comerciais e sem trânsito, onde podemos caminhar e espreitar os artigos nas montras da Cartier, Prada, Louis Vuitton e muitas outras do mesmo calibre.

No regresso, chegámos de novo à praça principal, junto à Promenade de la Pantiero e aproveitámos a tarde ensolarada parando numa esplanada para um último almoço antes de partirmos definitivamente até ao aeroporto, para o derradeiro percurso, desta vez de volta a casa.

Era a nossa última noite em França. Foram 10 dias de muitas experiências, muitas emoções e muitos momentos de descoberta que se tornarão inesquecíveis. Amanhã à tarde já teremos que partir, falta-nos apenas uma manhã que será passada em Cannes e já começamos a sentir aquela nostalgia das despedidas.