sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Porto Santo

Depois de uma estadia na ilha da Madeira muito exigente fisicamente, com percursos por veredas e levadas, com eventos ao nascer do sol e alguns sunsets... saímos do aeroporto do Funchal bastante estoirados, incrivelmente felizes, mas arrasados, precisando desesperadamente de uns dias de férias. Foi desta forma que encarámos os quatro dias seguintes na ilha de Porto Santo, umas férias para descansar das férias… e não há melhor lugar para isso do que a magnífica praia de Porto Santo, com a sua areia dourada e as suas águas tépidas e cristalinas.

Chegámos assim à ilha, era ainda madrugada, e encontrámos uma praia lindíssima, com os primeiros raios de sol que banhavam as águas, particularmente calmas naquela manhã, e o extenso areal, tornando-o ainda mais dourado e mais apetecível.

Tínhamos três dias completos e um quarto dia para a viagem de regresso, e resolvemos intercalar o nosso tempo entre a praia da extensa costa Sul, a tal da areia dourada, e outros pontos de interesse, sobretudo miradouros, que nos permitiriam observar as várias paisagens que a ilha nos oferece.

O resultado dos nossos movimentos na ilha de Porto Santo estão assinalados neste mapa, onde se distinguem os percursos feitos em cada um dos três dias desta viagem:


Primeiro dia

Enquanto o sol clareava chegámos à Vila Baleeira e deixámo-nos ficar algum tempo, apreciando as imagens do raiar do dia, percorrendo a praia e entrando pelo mar adentro, através do cais que sai da Praia da Fontinha e que permite uma visão diferenciada de grande parte do areal.

Algumas horas depois, com tempo para dar entrada no hotel, iniciámos o primeiro dia na ilha, atravessando até à costa Norte, onde fomos experimentar as piscinas naturais que se formam no Porto das Salemas.

Mesmo antes de chegarmos ao nível do mar é possível comtemplar, cá de cima, do chamado Mirador do Porto das Salemas, as imagens extraordinárias deste local, com as belas piscinas naturais que ali se observam.
Nunca apreciei particularmente as chamadas piscinas naturais que, na maior parte das vezes, são até bastante artificiais. Foi esse o tipo de piscinas que encontrámos com frequência na ilha da Madeira. Mas aqui é diferente, estas piscinas não podiam ser mais naturais, com a linha exterior do rochedo formando uma barreira capaz de amortecer as ondas, e com as depressões que se formam na rocha a funcionarem como pequenas lagoas naturais, que usamos como se fossem piscinas… uma beleza e um prazer enorme, podermos nadar nas águas mornas e transparentes que ali encontrámos.
Experimentámos piscinas com várias dimensões, das maiores às mais apertadas, mas sempre extraordinariamente bonitas, com formatos diversos e verdadeiramente naturais, com uma água cristalina em tons de azul-esverdeado, resultante das cores claras dos rochedos… e sempre muito apetecíeis pela temperatura acolhedora, que neste dia era de 25º.


Demorámos algum tempo, de piscina em piscina, numa diversão sem fim, mas a maré começou a subir e as piscinas começaram a perder a proteção das rochas… eu já sabia que este local deveria ser visitado na maré-vazia, e sabia o horário das marés, não foi um acaso termos encontrado estas condições que nos proporcionaram um final de manhã assim tão prazeroso.

Mas faltava agora subir a imensa rampa de volta ao estacionamento, um enorme sacrifício, mas que pode ser visto como um preço justo para o acesso a um local tão fantástico.

Voltando ao topo da falésia procurámos por um outro miradouro, neste caso junto à Fonte da Areia, uma outra zona de piscinas naturais. Como acabámos por escolher o Porto das Salemas, viemos agora à Fonte da Areia, mas sem descer até ao nível do mar, ficámos apenas cá em cima, onde observámos as piscinas naturais, desta vez já completamente inundadas pela subida da maré.
Depois de uma manhã tão estimulante, precisávamos agora, quase desesperadamente, de ir almoçar, e optámos por um dos apoios de praia que se encontram ao longo da costa Sul, alguns deles com excelente qualidade. Desta vez selecionámos o Pé na Água Restaurante & Beach Bar, um local excelente para uma refeição ligeira antes de uma tarde de praia… bem, ligeira será um eufemismo, porque, com o alho que encontramos no bolo do caco, e nas lapas, e nas azeitonas, e nas batatas fritas, e até nos tremoços, nunca será de grande ligeireza.

Tínhamos ainda toda a tarde para usufruir de uma praia de areia dourada e águas tépidas, onde iriamos ficar literalmente de papo para o ar, com tempo para cochilar, entre banhos de sol e banhos de mar… e assim nos deixámos ficar, ao sabor da brisa que nos refrescava, neste dia de grande calor e emoções fortes.


Antes de terminarmos o dia, para irmos depois jantar num dos excelentes restaurantes da ilha, fomos até ao porto de recreio, num final de tarde bastante agradável, embora este porto não seja um local particularmente bonito, nem com um arsenal de barcos muito rico, mas torna-se distinto pela silhueta da colina castanha que se eleva naquela extremidade da ilha.


Segundo dia

Começámos a manhã por ir logo até à praia e escolhemos um espaço diferente, existe um sem número de opções ao longo dos mais de sete quilómetros do areal. Desta vez ficámos mais ou menos a meio e, como já tínhamos estado a tarde anterior estendidos na areia a apanhar banhos de sol, hoje o bicho carpinteiro começou a morder e optámos por um passeio ligeiro ao longo da praia… e foram uns ligeiros quatro quilómetros… para cada lado (meu Deus, porque é que esta gente não sossega?).

A caminhada levou-nos a descobrir belas paisagens ao longo das areias douradas desta praia da costa Sul (já estou a abusar do adjetivo, mas aqui tudo é dourado, dos nomes dos hotéis até à própria ilha… conhecida por ilha dourada).

Neste percurso tomámos a direção da extremidade Oeste da ilha, a Ponta da Calheta. Pelo caminho fomos encontrando alguns dos principais hotéis, que estão todos localizados numa faixa estreita junto à praia.

O percurso era longo e, aparentemente, a paisagem seria sempre a mesma, mas, na verdade, fomos tendo uma sucessão de imagens que acabaram por ser sempre diferentes e surpreendentes, e que nos foram enchendo os olhos, de tão bonitas que são.


No final do percurso atingimos a praia da Ponta da Calheta, onde se ergue o Ilhéu da Cal e se avista ao fundo a silhueta da ilha da Madeira.
A Calheta termina num rochedo onde surgem alguns recantos que formam piscinas naturais, que se diferenciam da paisagem mais comum, com o mar e o extenso areal… o tal da areia dourada.

Regressámos mais tarde até a nosso local de poiso, após uma nova caminhada de mais quatro quilómetros, e ficámos pela praia algumas horas, desta vez em descanso ativo, só interrompido para uns banhos de mar demorados, aproveitando a água com os seus 25º.

Voltámos depois a sair da praia para uma nova paragem para almoço e para mais uma ronda pela ilha. Fomos desta vez ao lado Ocidental, junto à Ponta da Calheta, e subimos ao Miradouro das Flores, um local com uma vista extraordinária, outra vez o Ilhéu da Cal, rodeado por um mar que ganha tons de azul-turquesa ao banhar a areia da praia.

A paragem seguinte levou-nos a um outro refúgio desta ilha, a Praia do Zimbralinho, uma enseada com calhau negro, onde as águas atingem uns tons incríveis de azul vivo.
Continuámos nesta parte da ilha passando depois pela zona dos Morenos, um popular parque de merendas muito utilizado pelos portosantenses, próximo de mais um dos miradouros da ilha, o Miradouro do Furado Norte, este com vista para o inóspito Ilhéu do Ferro.

Um pouco depois estávamos a chegar ao Porto Santo Golfe, um clube de golf que contruiu um campo relvado para um circuito de 18 buracos, regado com águas depuradas das ETARs, e que nos surge como algo estranho, pelo verde da relva no meio de uma paisagem completamente seca.

Junto ao campo de golf ergue-se o Pico da Ana Ferreira, onde se salienta um rochedo que apresenta um conjunto de formações com um aspeto peculiar.

Esta deformação da rocha, com elementos em forma prismática, resulta do arrefecimento do magma em zonas preferenciais originando uma configuração em colunas, que dá origem a uma estranha escultura natural com uma imagem muito interessante.

Para fechar o dia fomos ainda à capital da ilha, a Vila Baleira, uma povoação pequena e pouco desenvolvida, praticamente concentrada em torno da sua praça principal, onde encontramos, por exemplo, a Câmara Municipal do Porto Santo e a Igreja da Nossa Senhora da Piedade.
Uma das figuras mais ilustres da história desta ilha é a de Cristóvão Colombo, que terá aqui vivido depois do seu casamento com Filipa de Moniz, filha de Bartolomeu Perestrelo, o primeiro Capitão Donatário do Porto Santo.

Atualmente encontramos a chamada Casa Colombo, um museu que foi instalado exatamente nos edifícios onde terá vivido Cristóvão Colombo, muito antes de ser conhecido como o Grande Almirante e de se ter tornado numa das figuras maiores dos descobrimentos.

A casa museu fica no centro da vila, na envolvente da Igreja da Nossa Senhora da Piedade, mas nem sei se terá qualquer interesse porque não a visitámos… digamos que, neste ambiente de sol e praia, a última coisa que me apeteceria fazer era visitar um museu.
Mas, pelo contrário, nas nossas visitas à vila Baleira, não deixámos de entrar numa outra casa, menos rica do ponto de vista museológico, mas muito mais apelativa. Trata-se da Boutique da Poncha, onde experimentámos ponchas e niquitas num espaço bastante agradável que aproveitámos para uns momentos de lazer e descontração, enquanto provávamos estas bebidas tradicionais da região... apesar de não serem propriamente uma criação daqui do Porto Santo.



Terceiro dia

Mais uma bela manhã em que começámos por ir à praia, desta vez ficámos junto ao Bar do Henrique, mas acabámos por fazer a costumeira caminhada, neste caso fomos para o lado oposto do dia anterior até atingirmos a Praia da Fontinha, junto à vila da Baleira. Assim, em dois dias, percorremos toda a extensão do areal, sete quilómetros para cada lado… parece que estávamos com medo de perder algum metro quadrado de areia.

Mas a verdade é que as paisagens da praia vão mudando todos os dias, e até ao longo do mesmo dia, sempre que o mar se altera, com mais ou menos vento, ou quando o sol vai fazendo com que as cores se alterem, e até em função da quantidade de banhistas, tudo faz mudar o ambiente envolvente e, por isso, vamos encontrando diferentes imagens dos mesmos locais que já tínhamos visto e fotografado, e que agora nos parecem bastante diferentes… como acontece com o pontão de acesso ao mar junto à vila, que agora surge menos tranquilo e acolhedor do que na manhã do primeiro dia.


Depois de algumas horas na rotina habitual nesta praia, entre os banhos de sol e uns banhos de mar prolongados, voltámos ao carro para mais um percurso pela ilha, que será sempre um pequeno percurso, porque a ilha é também bastante pequena, com apenas 11 km x 4 km.

Desta vez fomos para a zona Oriental e começámos por parar junto à Capela da Nossa Senhora da Graça, uma pequena igreja localizada em plena encosta, com uma excelente panorâmica sobre toda a praia.

É nesta ermida que se comemoram as maiores festividades de toda ilha, quando, no dia 15 de agosto, se celebram as festas em honra da Nossa Senhora da Graça.

Esta capela constitui um dos mais antigos templos do Porto Santo. Foi construída no séc. XVI, e chegou a servir de refúgio para muitos habitantes ao tentarem escapar da perseguição dos piratas. O edifício chegou a ser destruído e depois reconstruído, já mais recentemente, nos anos 50 do século passado, mas a devoção dos portosantenses à sua Senhora da Graça, sempre se manteve.
O ponto de paragem seguinte foi no alto do Miradouro da Portela, o melhor local para apreciarmos a paisagem da praia do Porto Santo em todo o seu esplendor.

No alto da mesma colina encontramos os três moinhos de vento que sobreviveram ao tempo, e que representam ainda uma cultura secular associada a esta ilha.

Foi no século XVIII que surgiram os primeiros moinhos de vento em Porto Santo, para a moagem de cereais, necessária ao fabrico do pão. Anos mais tarde, a ilha apresentava já inúmeros moinhos por todo o lado, maioritariamente construídos em madeira e de tipo rotativo. Nessa altura eram utilizados para moer cereais e fornecer farinha aos navios que partiam para a América, mas, atualmente, existem somente três, e servem apenas para manter viva uma página da história desta ilha.

Ainda do Miradouro da Portela conseguimos ver a imagem do Porto de Recreio, onde se salienta o icónico Lobo Marinho, o ferry que faz diariamente a ligação entre a Madeira e o Porto Santo.
O ponto de paragem seguinte foi junto à praia do Porto de Frades, uma baía rochosa que fica abrigada na montanha que se forma na extremidade do lado Este da ilha, junto ao Ilhéu das Cenouras.

Antes de terminarmos a visita à ilha passámos ainda junto ao Pico do Castelo, que contemplámos cá de baixo, sem nos aventurarmos na subida. Aliás, cheguei a programar a subida ao Pico do Castelo, bem como o percurso que se faz ao longo da Vereda do Pico Branco e Terra Chã, mas quando chegámos à ilha decidimos não fazer essas caminhadas, pois os percursos que tínhamos acabado de fazer na Madeira eram muito mais interessantes e, na realidade, era mais apropriado aproveitarmos Porto Santo para descansar, em vez de continuarmos a explorar tudo e mais alguma coisa.
Até ao final do dia iríamos ainda para a praia, escolhemos desta vez ficar junto ao Tia Maria, Beach Club, onde fizemos a nossa refeição ligeira da tarde, um bar engraçado, embora o serviço não nos tenha agradado particularmente.

Acabámos o dia quase ao cair do sol, estava a chegar o fim das nossas férias no arquipélago da Madeira, mas era também o fim do Verão, estávamos já no dia 11 de setembro e quisemos aproveitar os últimos cartuchos, por isso deixámo-nos ficar demoradamente nas despedidas das águas quentes e das areias… as tais areias douradas que são o ex-líbris desta ilha.
Ao serão experimentámos ainda um novo restaurante, tão bom como os outros dois onde tínhamos ido nos dias anteriores e, por isso, faço aqui a referência a estes três restaurantes, todos eles excelentes:

Pouco passava das sete da manhã e era o fim as nossas férias, esperávamos agora que um pequeno avião nos levasse de volta até ao Funchal… mas já nos derradeiros minutos da nossa presença na ilha, voltámos ainda a ser brindados por uma paisagem fantástica, desta vez foi um último e magnífico nascer-do-sol, que nos surgiu como um presente de despedida.

Carlos Prestes
Setembro de 2021