quarta-feira, 9 de abril de 2014

Por terras de Sua Majestade - Inglaterra (Abril de 2014)

Um dos países imprescindíveis para qualquer viajante, a Inglaterra, é berço de uma riqueza histórica incalculável e é também um dos principais palcos mundiais da modernidade.

As minhas viagens pelo Reino Unido, primeiro, em 1985, pela Escócia e por Inglaterra e, mais tarde, em 2000 e 2006, apenas a Londres, deixaram um interesse latente de vir a fazer uma nova viagem, devidamente preparada, tentando percorrer e visitar alguns dos locais mais interessantes deste país.

Assim, em Abril de 2014, embarcámos num avião da Easy-jet, com destino ao aeroporto de Gatwick.

White Cliffs of Dover:
A chegada a Gatwick logo pelas 9.30 da manhã permitiu um aproveitamento total deste primeiro dia de viagem. Levantámos um carro previamente alugado e partimos autoestrada fora com a sensação de quem vai fora de mão, o que, nas primeiras horas, não foi nada fácil.
O primeiro destino do dia, após um percurso de 140 km, foi para Leste até à cidade de Dover. Uma zona portuária de onde saem as principais ligações via marítima na travessia da Mancha e é também o local onde túnel ferroviário, que liga Inglaterra ao velho continente, se afunda sob as profundezas do canal.
Mas aquilo que nos levou a Dover não foi, nem a cidade nem as infraestruturas portuárias, mas antes as grandes falésias, White Cliffs of Dover, que definem o contorno da ilha e marcam a fronteira entre o mar e a terra, na parte mais estreita do canal da Mancha.
Fazem parte de um parque natural com acesso condicionado e pago, mas com estacionamento fácil. Parámos o carro e preparámo-nos para uma caminhada seguindo alguns dos trilhos assinalados no mapa que nos foi dado à entrada.
O local é imponente, as  falésias que caem sobre ao mar, são de cor branca, como o nome indica, pela sua composição à base de giz, e atingem até 110 m de altura, o que dá uma sensação vertiginosa e quase assustadora a quem percorre os estreitos trilhos.
Estas falésias valem como um símbolo importante para a Inglaterra, por constituírem uma primeira muralha simbólica com que as invasões inimigas se depararam, sempre que o país foi ameaçado pelo exterior ao longo da sua história.


O dia estava bonito, com sol e vento, ideal para um longo passeio (cerca de 2 horas)… e foi clara a sensação de que aquele local era definitivamente um espaço com uma grande carga mística. Não sei bem porquê mas a imagem daquele mar faz-nos adivinhar a presença do imenso continente logo ali, depois da bruma que nasce das águas na linha do horizonte. E logo atrás, mantendo o mesmo tom da envolvente, a paisagem é dominada pela colina que enverga no seu cume o místico Castelo de Dover.

Canterbury:
Partimos para o próximo destino, após mais 30 km de estrada, a cidade de Canterbury (ou Cantuária), o principal centro da Igreja Anglicana do Reino Unido, por abrigar o seu líder espiritual, o Arcebispo da Cantuária, que é a figura maior desta religião (quase equivalente ao papa dos católicos embora, neste caso, reporte ainda àquela que é a figura suprema, a Rainha de Inglaterra).
Começámos por uma das extremidades de pequena cidade, o Westgate Towers, caminhando pela rua principal e mais concorrida, a High Street. Trata-se de uma rua com todo o tipo de comércio e restauração, frequentada por ingleses e turistas e cortada a meio pelo rio que divide a cidade, o River Stour.
Fizemos ainda um pequeno percurso até às margens do rio onde parámos para usufruir do ambiente tranquilo e bucólico, pelas casas de aspeto antigo, mas bem cuidadas e pela vegetação de um verde vivo, a envolver as margens.
Voltámos à High Street e seguimos em direção à principal atração da cidade, a Canterbury Cathedral. Entrámos pelos portões na praça da Sun Street, outra das ruas movimentadas da cidade.
A catedral é um monumento de referência para a religião anglicana, é mesmo o mais importante em todo o Reino Unido, mas não tivemos tempo suficiente para a visitar com todo o detalhe e ficámo-nos apenas pela nave principal da igreja.
No fim da visita continuámos pela Sun Street até às margens do rio e depois o percurso final até ao local onde tínhamos deixado o carro.

Ao todo acabámos por percorrer menos de 2 km a pé, sempre a um ritmo lento, mas em espaços muito agradáveis, e mesmo os mais movimentados, com muito mais ingleses do que turistas. Valeu bem a pena pararmos nesta pequena cidade.

Greenwich:
Continuámos o nosso trajeto mais 90 km para a noroeste até à cidade de Greenwich. Mais do que uma cidade, Greenwich é quase um bairro periférico de Londres, localizado nas margens do rio Tamisa, mas que é sobretudo conhecida pelo seu Observatório Real e pela sua Universidade.
A Universidade de Greenwich, The Old Royal Naval College, com os seus edifícios imponentes que se estendem até à margem direita do rio Tamisa, constituem o elemento arquitetónico de referência da área designada por Maritime Greenwich, considerada como património mundial da humanidade pela UNESCO, desde 1997. O local inclui, além do Old Royal Naval College, também o Royal Greenwich Observatory e o National Maritime Museum. 
O Royal Greenwich Observatory, localizado no alto da colina que se desenvolve imediatamente atrás do edifício da universidade, é o local de referência da longitude que divide o globo terrestre em duas partes, ocidental e oriental, onde foi fixado o Meridiano de Greenwich, ao qual estão associadas as coordenadas de longitude de 0º 0' 0", e que serviu de base para a definição do tempo médio de Greenwich (TMG).

O alinhamento do meridiano está simbolicamente assinalado no jardim do edifício do observatório, através de algumas marcas e também desenhado no vazio por um raio laser de cor verde, claramente visível durante a noite, atravessando a cidade e perdendo-se algures nas águas do Tamisa.
Além do Observatório e da Universidade, a cidade dispõe ainda de outros pontos de interesse, desde logo o imenso parque verde localizado na envolvente do Observatório, mas também um centro histórico interessante e bastante movimentado e ainda, já junto ao rio, o magnífico navio-museu Cutty Sark.

O Cutty Sark é um veleiro britânico do século XIX, da classe "extreme clipper", e a última das embarcações de transporte de chá, preservada como símbolo da época do domínio inglês sobre a Índia…ou, para mim, e talvez para a maioria das pessoas… apenas uma marca de whisky.
Depois de um passeio pelas margens do rio, junto à universidade e pela envolvente do Cutty Sark, entrámos no centro da cidade, repleto de lojas, cafés e restaurantes, e chegámos depois ao Parque de Greenwich, uma imensa zona verde com uma colina marcada pela presença do Observatório Real.
Para além da curiosidade em assinalar todas as referências ao Meridiano, o grande atrativo do alto daquela colina é a magnífica vista que se pode disfrutar, uma paisagem de tirar o folgo. Logo em baixo a silhueta da universidade com o rio por trás. À direita o imponente Millennium Dome, que atualmente passou a ser chamado como, The O₂ Arena, um pavilhão poli-desportivo inaugurado para as comemorações da mudança de século. À esquerda ao fundo, a zona oriental de Londres, com os contornos dos edifícios do Financial District.
Demorámo-nos naquela paisagem pelo entardecer até que o sol deu lugar à lua e as imagens foram substituídas pelos pontos de luz que assinalam apenas os seus contornos…..e sempre com a marca bem evidente do próprio meridiano, desenhado em forma de raio laser, definindo bem aquilo que fica para Este da linha do “zero” e o que caiu para o outro lado, para Oeste... parece algo simples mas, na verdade, é algo que não conseguimos fazer em qualquer outro lugar deste planeta.

Foram momentos muito bonitos no alto daquela colina àquela hora do ocaso. Uma ótima maneira de terminar um dia que nos pareceu infinito….e pensarmos que foi hoje, embora muito cedo, que saímos de casa, diríamos que já cá estávamos há uma semana (esse é sempre um dos grandes passos de magia das viagens, aumentam o nosso tempo de vida, como se comprássemos mais tempo ao criador).
Acabámos a jantar no centro da cidade, a oferta de restaurantes é imensa, embora, como em toda a Inglaterra, o melhor é escolhermos restaurantes de cozinha internacional, porque a comida inglesa é pouco recomendável. Optámos por um mexicano e partimos depois para últimos 95 km até ao hotel reservado em Cambridge.

Foi um dia enorme, além da viagem de avião fizemos ainda um percurso de 340 km de carro e, até agora, tem valido bem a pena.

Cambridge:
Acordámos já em Cambridge e saímos para mais um dia longo mas que prometia bastante… por entre algumas das pérolas mais preciosas de Inglaterra.

Começámos o nosso passeio na Magdalene Street a caminho do centro, saindo da ponte sobre o rio Cam, exatamente o rio e a ponte que dão o nome à cidade. Desde logo confirmámos que os locais mais bonitos da cidade, as pontes, os jardins e as margens do rio, não têm um acesso público fácil porque fazem parte das propriedades privadas de cada um dos colégios da famosa Universidade de Cambridge.
A Universidade de Cambridge é uma instituição tradicional de ensino do Reino Unido considerada como uma das mais prestigiadas e importantes de todo o mundo. Foi fundada em 1209 e é formada por 31 colégios (Colleges). A Universidade de Cambridge já produziu 82 vencedores do prémio Nobel, mais do que qualquer outra universidade do mundo. A lista de nomes é impressionante mas, como exemplo, destaco apenas duas figuras inquestionáveis, Isaac Newton e Charles Darwin. Tem sido considerada como uma das 4 principais universidades do mundo (juntamente com as suas rivais, Oxford, Harvard e Princeton).
Mas resolvermos começar pelas ruas e, só mais tarde, tentaríamos então chegar aos jardins dos Colleges, através do river Cam. Assim, tomámos a direção de uma das praças do centro, onde se localiza o Guildhall Market e o edifício do City Council, numa manhã ainda molhada pela chuva que caiu durante a noite e aproveitámos para ir vendo e até entrando no mercado, nas lojas, livrarias, pubs e cafés.
O ambiente é acolhedor, o céu está ainda cinzento e os empedrados refletem a luz nas superfícies molhadas. A cidade tinha acabado de acordar e começava a adquirir o ritmo de mais um dia, com o movimento nos mercados e nas lojas, os estudantes a caminho das escolas, as bicicletas que começavam a preencher as ruas, e também os turistas, normalmente em grupos seguindo religiosamente o seu guia.

Mas nesta manhã ainda cinzenta os turistas resumiam-se a dois ou três grupos, o que nos agradou bastante, uma cidade sem turistas é sempre mais genuína e menos um parque de visitas.

Passámos pela Kings Parade, na porta do Kings College, um dos principiais colégios (a par do Trinity College) e, logo depois, chegámos ao rio na zona de Scudamore's Punting Station onde entrámos num barco para um passeio, onde iríamos poder ver os chamados Backs, as traseiras ou quintais dos colégios.

É nestes passeios de barco, os chamados Punting Tours no rio Cam (porque os barcos, que se conduzem como gôndolas venezianas, são designados como “punt’s”), que podemos conhecer os espaços mais belos e bucólicos da cidade. Além das pontes privadas, que ligam as margens dos jardins dos vários colégios, podemos também contemplar a arquitetura majestosa dos edifícios da universidade.

Uma das referências neste passeio é a Bridge of Sighs, que faz parte do St John's College, com o mesmo nome e a mesma imagem do que a Ponte dos Suspiros, de Veneza, que será a original, porque é a mais antiga. Oxford tem também uma ponte semelhante, a Hertford Bridge, mas que, de acordo com os relatos dos habitantes de Cambridge, será uma cópia da sua ponte.
Além do ambiente nostálgico e de uma beleza indescritível, que nos rodeia ao longo das margens do rio Cam, o barqueiro contou-nos ainda quase tudo sobre a história deste lugar, tornando aquele passeio ainda mais interessante.

Este passeio de barco pelas águas do rio Cam, percorrendo a cidade de Cambridge, foi já o segundo que tive a oportunidade de fazer. Da primeira vez foi em 1985, andava a percorrer o Reino Unido de comboio, com um passe de Inter-Rail, e era ainda um miúdo... como se pode ver nesta foto em que apareço ao lado do meu amigo António Pedro, armados em marinheiros de água-doce. 
Voltando a 2014, depois de cerca de uma hora no barco voltámos às ruas passando pela Trinity Ln até à King's College Chapel, onde se pode visitar, não só a capela, mas também os jardins do colégio (as entradas nunca são livres, mesmo nas igrejas, é sempre preciso pagar), mas vale a pena percorrer aqueles espaços, os jardins interiores com os seus edifícios seculares e a ponte sobre o rio Cam. É um passeio imprescindível, que serve como referência para imaginarmos cada um dos outros 30 colégios.


Quando os raios de sol começaram a romper tornando os verdes da relva e das árvores mais viçosos, as ruas ficaram mais povoadas, os ruídos mais intensos, como se a cidade regressasse ao presente depois de algumas horas de viagem por um tempo passado, mal definido, quase intemporal.
Começámos com um dia cinzento mas muito acolhedor e apropriado ao imaginário nostálgico desta cidade, que nos fez sentir como se viajássemos no tempo e percorrêssemos os mesmos espaços que outrora foram percorridos por Newton, Darwin ou Stephen Hawking.

E era hora de terminar a visita a esta cidade que nos tocou e continuarmos a nossa descoberta por terras de Sua Majestade, partindo exatamente para um dos seus aposentos, o Windsor Castel.

Windsor Castel:
Partimos numa viagem de 130 km até Windsor, ou Windsor Castel, porque esta pequena cidade só existe como polo de apoio ao castelo e àqueles que o visitam.
O castelo de Windsor é constituído por um conjunto de muralhas e torres imponentes, que rodeiam palácios e jardins, alguns deles funcionam como museu e são visitáveis e outros são aposentos reais ou de estado, e constituem uma das principais residências da família real, não só da atualidade mas ao longo dos séculos.
O castelo original foi construído no século XI e nunca mais deixou de ser habitado, sendo mesmo o castelo há mais tempo habitado de toda a Europa. No interior das muralhas encontra-se também a Capela de São Jorge, construída no século XV, e considerada como uma das construções mais importantes da arquitetura gótica inglesa.

A utilização do castelo pela família real tem sido constante ao longo dos séculos, quer como centro político e militar quer como residência oficial. Foi com a rainha Vitória que o castelo se transformou num centro de entretenimento real durante grande parte do seu reinado e nos reinados dos seus sucessores. Mais recentemente, o Castelo de Windsor foi usado como refúgio da família real durante os bombardeamentos da Segunda Guerra Mundial.

Atualmente, para além de ser um polo turístico muito frequentado, serve de base a várias visitas de estado, e é também a casa de fins-de-semana preferida da Rainha Isabel II.
A ala inferior do castelo inclui a Capela de São Jorge, a Torre Redonda e os alojamentos dos Cavaleiros Militares. As alas Sul e Superior correspondem aos apartamentos de estado, que também são visitáveis.
Uma das atrações turísticas do castelo é o render da guarda que pode ser observado todos dos dias às 11h30m (não coincidiu com a nossa visita, mas encontram-se sempre alguns guardas em pose).
A aquisição dos bilhetes pode ser reservada pela internet para evitar perdas de tempo na fila. O preço de adulto é £19.20 mas, sempre que existem visitas de estado, o que ocorre com frequência, os apartamentos de estado deixam de ser visitáveis e os bilhetes têm uma redução de preço de 50%.
A cidade de Windsor desenvolve-se a partir da estação de caminho-de-ferro, com ligações constantes para Londres, a apenas 50 km, e que contém uma ala onde se reproduz a antiga estação de comboios vitoriana. Alberga também uma grande variedade de lojas de marcas famosas no centro comercial Windsor Royal Station, e existem ainda pelas ruas da cidade, uma grande variedade de pubs, restaurantes e lojas de lembranças.


Oxford:
Saímos de Windsor perto das 16h a caminho de Oxford, a cerca de 60 km, para visitar a cidade ao final da tarde. 

Oxford estava uma cidade nostálgica, talvez porque não se registava grande azáfama àquela hora ou talvez fosse pela luz do entardecer. Não deixa de ser uma cidade bonita mas incomparavelmente menos atraente do que a cidade de Cambridge e, na realidade, é impossível deixarmos de fazer comparações…..porque se tratam de duas cidades de matriz idêntica e até rivais (é uma rivalidade natural entre universidades mas que, neste caso, tem proporções mais evidentes, que se refletem, por exemplo, na regata anual de remo no início de cada primavera, no rio Tamisa, onde as equipas das duas universidades competem entre si. Tem havido equilíbrio ao longo dos mais de 150 anos, sendo que, os registos mostram que Cambridge vai à frente com 81 vitórias, contra 75 de Oxford).
Tal como em Cambridge é a universidade marca a vida e a arquitetura da cidade de Oxford, com os seus 40 colégios (colleges) espalhados por toda a cidade. Também por aqui passaram figuras ilustres, nas várias áreas, incluindo líderes políticos, cientistas, escritores e alguns vencedores do prémio Nobel, como por exemplo, Bill Clinton, Tony Blair, J.R.R. Tolkien (autor de O Senhor dos Anéis) e Oscar Wilde.

Recentemente, um de seus colégios, o Christchurch College, foi escolhido para a rodagem dos filmes da sequela Harry Potter, revelando que a arquitetura e a decoração deste colégio, estarão perfeitamente enquadradas na época que se retrata no imaginário de Hogwarts.

Percorremos o centro histórico, bastando deambular apenas por algumas ruas e encontram-se os edifícios dos principais colégios da universidade, tal como as igrejas e monumentos mais importantes.

Começámos a nossa caminhada perto do rio Tamisa e fomos percorrendo algumas da principais ruas, edifícios e monumentos, como o Oxford Castle, a Carfax Tower, The University Church, a Radcliffe Camera, a Hertford Bridge, o Trinity College e o Sheldonian Theatre, entre outros pontos de interesse.

Apesar da cidade estar perto do rio Tamisa, ao contrário do que se passa em Cambridge, a paisagem do rio não é dominante nem está intimamente ligada à universidade e aos seus colégios. Podemos chegar perto de alguma das margens do rio com um aspeto nostálgico, mas não podemos fazer um passeio de barco que nos levasse a mergulhar no coração da cidade e desvendasse uma parte da sua magia, como acontece em Cambridge.

Um facto curioso é que, na minha primeira visita a estas duas cidades, em 1985, tinha ficado com a sensação oposta, ou seja, encantei-me mais por Oxford do que por Cambridge, mas não consigo perceber porquê, registo apenas o facto, em 30 anos, ou as cidades mudaram muito, ou terei sido eu a mudar!



Depois de jantarmos, desta vez numa cadeia de comida italiana, dirigimo-nos ao hotel, terminando assim mais um dia riquíssimo, por três das cidades clássicas de Inglaterra.

Stratford-Upon-Avon:
Depois de um primeiro trajeto de 90 km, começámos o dia numa pequena cidade, Stratford-Upon-Avon, terra natal William Shakespeare e totalmente dominada pela omnipresença do dramaturgo inglês e com uma marca arquitetónica bem visível dos séculos XV e XVI.
É também marcada pelo rio Avon, que lhe dá o nome e que rodeia a cidade como se fosse um lago, criando um ambiente melancólico na sua envolvente.

A cidade é um polo turístico concorrido e as suas atrações estão quase sempre relacionadas com William Shakespeare, como a casa onde ele nasceu e a casa onde viveu, o próprio teatro da cidade, o Royal Shakespeare Theatre, é também um espaço dedicado ao dramaturgo e mesmo a Holy Trinity Church, é referida como sendo a igreja onde Shakespeare foi batizado.

As ruas e praças constituem também uma atração turística interessante, quase sempre dominadas pela presença de casas de traça medieval, com o habitual ripado de madeira escura que serve de estrutura às paredes exteriores e define a imagem típica que caracteriza toda a cidade.








Faltavam ainda mais de 200 km para a segunda parte deste dia, na cidade de Liverpool.

Liverpool:
Foi uma viagem por uma autoestrada movimentada e sob uma chuva intensa. Um dos dados que se pode registar viajando por Inglaterra é que as estradas, nomeadamente as autoestradas, têm sempre muito tráfego e o pavimento em mau estado, o que justifica os vários congestionamentos de trânsito devido a obras… tudo isto agravado pelo facto de se conduzir pela esquerda.

Mas acabámos por chegar, não em 2 horas, como seria normal, mas ao fim de 3, depois de algumas filas complicadas na zona de Manchester… mas o sol acabou por nos receber à chegada o que melhorou muito o nosso astral.

Liverpool é uma das cidades de referência de Inglaterra e é logo associada a dois fenómenos: os Beatles e o Liverpool Football Club.

Foi por aí que começámos, por uma visita a Anfield Road, o estádio deste clube que é um dos clássicos europeus do futebol. É de facto inquestionável o palmarés do Liverpool FC, mas o estádio não tem, nem de perto nem de longe, a imponência e o carisma de outros estádios que já visitei, como a grande catedral da Luz.
Depois de fazermos o check-in no hotel escolhido, bem no centro da cidade, partimos para uma caminhada que se adivinhava longa mas interessante.
Liverpool é uma cidade muito rica do ponto de vista artístico, com vários museus, salas de espetáculos e galerias de arte, como Walker Art Gallery.
Mas o mais determinante na história desta cidade é o facto de ter sido o local de encontro de quatro rapazes, John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr que, no início dos anos 60, formaram um dos grupos musicais mais importantes de sempre em todo o panorama artístico mundial, The Beatles. Por isso escolhemos um único museu para incluir na nossa visita à cidade, o The Beatles Story Museum… mas esquecemo-nos de um pormenor, é que encerra às 4 pm… e nós chegámos lá um quarto de hora depois.

Assim sendo, ficámo-nos por uma caminhada pelos principais polos de interesse na cidade, entre o centro político e comercial e a zona das docas, que tem vindo a ser remodelada nas últimas décadas e que se encontra atualmente como um local de visita obrigatória.

O percurso começou nas ruas do centro da cidade, pela Hanover St e pela Church St, até à antiga estação Grand Central Hall. 
Depois de algum tempo a praça de onde emergem o St. George's Hall e a Walker Art Gallery, descemos pela Whitechapel St e passámos pela The Beatles Shop, onde se pode ver ou comprar algum do merchandising da marca Beatles.

Logo ao lado, está o The Cavern, um dos pubs mais famosos do mundo, pelo papel que desempenhou na história dos Beatles. Quem tiver possibilidade, deverá tentar fazer uma visita noturna a este pub, onde os Beatles deram os seus primeiros concertos em 1961 e por onde também passaram algumas figuras de topo da cena musical inglesa, como os Rolling Stones ou Elton John.

Fizemos depois uma paragem mais prolongada no Chavasse Park, uma zona verde junto a um centro comercial com uma boa oferta de cafés e restaurantes, e com vista sobre as docas.
No trajeto seguinte chegámos ao estuário do rio Mersey, uma área totalmente renovada com as docas, as Albert Dock, transformadas em espaços que albergam restaurantes, lojas e galerias de arte, e o próprio museu dos Beatles, Beatles Story Museum.
Continuando na zona ribeirinha pudemos apreciar uma paisagem que inclui os edifícios industriais seculares e um conjunto de edifícios modernos, como o próprio pavilhão Echo Arena, ou o Museum of Liverpool, numa mistura que cria um ambiente arquitetónico fascinante marcado pelos contrastes.


Caminhámos depois para a zona do Waterfront, passando por alguns dos museus de referência, como a Tate Modern de Liverpool, o Merseyside Maritime Museum e o Museum of Liverpool. Como já referi a nossa escolha não incluiu a visita aos muitos museus desta cidade (até porque iríamos acabar esta viagem em Londres e era aí que tínhamos planeado algumas visitas a museus, mas quem quiser aproveitar a oferta artística e cultural desta cidade deverá reservar um dia adicional para esse efeito).


Ficámos um longo tempo na zona do Waterfront, num final de tarde que acabou soalheiro, e desfrutámos de uma paisagem majestosa, pelo contrate entre a arquitetura moderna, que marca as intervenções de requalificação da zona ribeirinha, e um conjunto de edifícios clássicos de envergadura imponente, tudo isto enquadrado numa paisagem de um rio que, devido à largura do estuário, nos faz sentir à beira-mar. 
No final do dia, e depois de termos percorrido quase 5 km a pé, escolhemos fazer apenas uma saída no centro para jantar e um pequeno passeio, sem coragem para uma noite mais prolongada num dos muitos pubs da cidade, com uma certa sensação que estávamos a perder algo irrepetível….mas às vezes é mesmo assim, não se consegue fazer tudo o que se gostaria… mas para algum leitor mais resiliente (e sem duas crianças na tripulação) recomendo a tal visita aos pubs e, se possível, escolhendo o famoso The Cavern e esperar a sorte de lá encontrar alguma banda interessante.




















The Cotswolds:
Saindo de Liverpool de manhã bem cedo para um percurso de 270 km até à zona campestre de Inglaterra, a chamada Provence inglesa, aqui designada como as Cotswolds.

As Cotswolds correspondem a uma cadeia de pequenas colinas com aldeias típicas, localizadas no centro do país, na região onde se encontra a nascente do Tamisa. A zona das Cotswolds está classificada como Area of Outstanding Natural Beauty (AONB) desde 1966, o que corresponde aos atuais parques nacionais.

Depois de sairmos da autoestrada passámos por várias aldeias que povoam as colinas das Cotswolds, quase todas semelhantes, com o mesmo tipo de arquitetura e com uma paisagem rural muito marcada pelos campos verdejantes, ou pelas longas planícies amarelas das plantações de “Colza” (uma espécie de couve silvestre que serve de forragem).
Decidimos entretanto parar para uma visita numa dessas aldeias, talvez uma das mais típicas e mais bonitas da região, a aldeia de Bibury, conhecida pelas suas casas do século XVII, feitas em pedra cor de mel e com telhados íngremes.
A aldeia desenvolve-se nas margens do rio Coln e é formada por um conjunto de cottadges (pequenas casas rurais pitorescas), num bom estado de conservação. Os campos, sobretudo nas margens do rio e na envolvente aos viveiros de trutas ali existentes, são de um verde impressionante.

A aldeia é um dos principais destinos turísticos da Inglaterra rural e é servida por um conjunto de casas de chá e por um hotel de charme de referência daquela zona, o The Swan Hotel.

O maior edifício em Bibury é o monumental Bibury Court Hotel, construído no século XVII, localizado nas margens do rio e envolvido por um imenso relvado. Também funciona como restaurante mas, por razões óbvias, aconselho apenas a uma visita pelo exterior ou, para os mais corajosos (ou abonados) talvez um tea & scones!!!


Stonehenge:
Percorremos mais 95 km até ao Stonehenge, localizado na zona sul de Inglaterra, é um dos principais monumentos pré-históricos no Reino Unido e em todo o mundo.

Trata-se de um enorme círculo de pedras do megalítico, da Idade do Bronze. Até hoje a origem da sua construção é ainda incerta, bem como da sua função, mas acredita-se que tenha servido para estudos de astronomia, ou cultos religiosos, ou até para práticas de magia.

O Stonehenge, que se pensa ter sido construído entre os anos 2600 e 2000 a.c., corresponde a uma estrutura formada por círculos concêntricos de pedras que chegam a ter cinco metros de altura e a pesar cinquenta toneladas. Com base nas informações sobre o movimento dos corpos celestiais, as observações do Stonehenge terão sido usadas para indicar os dias correspondentes aos ciclos anuais, nomeadamente aos Solstícios.

Sabe-se, por exemplo, que no dia 21 de Junho, o sol nasce num perfeito alinhamento com as pedras principais.


Sobre as suas funções arquitetónicas, sugere-se que o Stonehenge pretenderia ser a réplica de um santuário de pedra.

Segundo dados mais recentes, obtidos por arqueólogos, o Stonehenge estará relacionado com a existência de um povoado que terá sido a maior aldeia neolítica do Reino Unido.

Para a visita ao local o bilhete de ingresso é de £15 para adultos e cerca de metade para crianças. Apanhámos uns atrelados para passageiros que nos levam cerca de 3 km até ao local do monumento, por forma a condicionar as visitas e, desta forma, tentar garantir alguma proteção. Depois, podemos percorrer uma pista pedonal em torno do monumento, a uma distância de cerca de 20 metros, permitindo uma observação perfeita sem, contudo, haver o risco dos visitantes virem a tocar nas pedras.

A visita está longe de ser mágica, apesar do hipotético misticismo do local, mas é impossível um alto nível de concentração na presença de tantos turistas. Ainda assim, se nos tentarmos focar naquela evolvente abstraindo-nos das outras pessoas (e apesar de tudo paira algum silêncio, como se se tratasse de um local de culto), pode ser, como foi, uma experiência bem mais profunda do que uma simples observação de pedras.

Bath:
Mais 55 km e chegámos a Bath, uma cidade termal localizada no sudoeste de Inglaterra, já muito próximo do País de Gales, onde fomos passar o final da tarde.

Bath é uma cidade com banhos termais com uma imensa carga histórica, porque as nascentes existentes no local foram descobertas pelos Romanos os quais, devido às propriedades curativas das águas, construíram ali as primeiras termas da cidade.

Ainda hoje a cidade é dominada pelas termas que atraem visitantes de todo o país para tratamentos com as águas das nascentes, que continuam a apresentar propriedades curativas.

Além das termas, as Roman Baths, a cidade tem uma arquitetura clássica muito interessante e foi mesmo considerada como Património da Humanidade.

As ruas são bastante concorridas e com vários pontos de interesse, por onde passámos num passeio de mais de 2 km entre a St Michael's Church, o Theatre Royal Bath e a Bath Abbey.
Junto ao rio Avon, os Parade Gardens são um ótimo local de passeio num dia de sol, com a presença dominante da ponte Pulteney Bridge, que constitui o ex-líbris da cidade. É uma ponte em arco construída no século XVIII e é uma das quatro pontes do mundo que possuem lojas por toda sua extensão, em ambos os lados (como acontece no Rialto ou na Ponte Vechio em Itália).







Depois de passarmos algum tempo em torno da ponte e nos jardins, em ambas as margens do rio Avon, dirigimo-nos para a parte mais alta da cidade, a praça circular onde fica o Circus of Bath.

Voltámos para a Queen Square, próximo do local onde tínhamos estacionado para fazermos o percurso final do dia, mais 200 km até ao hotel junto ao aeroporto de Gatwik, onde vamos passar a noite.


Depois duma viagem extraordinária pela Inglaterra mais profunda, na manhã seguinte, depois de entregarmos o carro na alugadora em Gatwik, iremos esperar as minhas filhas mais velhas, a Alice e a Madalena, que vão fazer parte da tripulação de viagem nos próximos quatro dias de viagem, desta vez na cidade de Londres.


Carlos Prestes
Abril de 2014

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