sábado, 6 de março de 2004

São Paulo, Rio de Janeiro, Búzios e Angra

(11 dias em Março de 2004)

Para nós, portugueses, o Brasil será sempre um país de referência, não só por ser um destino turístico riquíssimo, mas também pela ligação, quase umbilical, que existe e tanto se faz notar, entre estes dois países. E claro que, falar do Brasil é, necessariamente, falar também do Rio de Janeiro.

Quase por acaso, a partir de uma deslocação a um congresso em São Paulo, surgiu a oportunidade para poder fazer uma viagem naquela zona do país. E foi assim que, depois de terminados os meus compromissos, a minha mulher se juntou a mim em São Paulo e começámos a nossa aventura.


Dia 2:
Depois de um primeiro dia totalmente preenchido com a viagem de avião (neste caso viajou apenas a Ana, porque eu já estava em São Paulo), iniciámos então a descoberta da cidade.

São Paulo não é uma cidade é um monstro, com 16 milhões de pessoas, um trânsito que não conseguimos imaginar, uma dimensão em quase tudo, que está fora dos nossos referenciais. Talvez por isso, a única forma de nos movermos em São Paulo de modo mais ou menos controlado, será confinarmo-nos a algumas áreas, conhecidas como mais tranquilas, mas que nos permitirão conhecer o essencial da dinâmica desta cidade, sem nos arriscarmos demasiado. Assim, dispúnhamos de uma tarde e de um dia completo, para os quais programámos as respetivas visitas, em zonas perfeitamente delimitadas e aparentemente controladas.

O ponto de partida foi a Av. Paulista, por ser a localização do nosso hotel, mas também por ser a espinha dorsal da cidade, de onde tudo começa e para onde quase tudo vai acabar.

Nesta primeira tarde resolvemos percorrer a zona Sul ou zona dos jardins.

Saímos pela Paulista e virámos depois para a zona dos Jardins, com bairros onde as avenidas têm ainda prédios altos, são quase sempre com muitas árvores nos passeios.
À medida que nos aproximamos do Parque do Ibirapuera os prédios mais altos vão dando lugar às moradias de alta qualidade, o que faz com que estes bairros sejam dos mais chiques de São Paulo.

Entrámos no Parque do Ibirapuera, um espaço que permite uma oferta bastante rica, não só como zona verde da cidade, mas também porque alberga várias infraestruturas culturais, como alguns museus, um auditório, o planetário, etc. Foi um bom lugar para uma pausa retemperadora a meio de uma tarde quente de Março e pareceu-nos razoavelmente seguro.
Naquela zona o nosso objetivo era chegar até ao hotel-restaurante Skye e ficar por lá no final da tarde e início da noite. O restaurante e bar do hotel ficam num terraço que permite disfrutar de uma vista perfeitamente extraordinária. Os bairros envolventes, na zona dos jardins, são constituídos por moradias e só alguns kms mais longe, já próximo da Av. Paulista, se erguem os edifícios mais altos e que vão sendo depois substituídos por algumas fiadas de arranha-céus.
Do alto daquele espaço ao ar livre, que é também um bar e restaurante com uma decoração de design bastante interessante, a paisagem é fantástica, e permite uma imagem clara da linha do horizonte desenhada pelo contorno dos prédios mais altos.
Ficámos a ver o sol desaparecer e as luzes dos edifícios a começar a brilhar, uma após outra…..e enquanto o céu vai escurecendo, a cidade vai emergindo ao longe num milhão de estrelas brilhantes.
Ficámo-nos apenas pelo bar e pelas caipirinhas, porque queríamos ainda jantar num restaurante que nos foi referido como imprescindível, o Figueira Rubaiyat. 
Mas ainda antes demorámo-nos um pouco mais até que a noite se instalasse, para uma última imagem de um skyline com a cidade já totalmente iluminada, esmagados de tanta beleza e pela imponência desta cidade.
Já tínhamos caminhado perto de 6 km apenas numa tarde e faltavam ainda mais 3 até ao restaurante…..mas decidimos ir de táxi, não pela distância a percorrer, mas porque a noite estava a escurecer e não valia a pena corrermos riscos, afinal estamos em pleno São Paulo e, apesar de ter sido um dia tranquilo e, aparentemente, seguro, as estatísticas não revelam essa tranquilidade.

O restaurante, o Figueira Rubaiyat, é de facto muito bom, todo o espaço fica debaixo da copa de uma figueira centenária imensa. A comida é ótima e o ambiente é excelente.















Dia 3:
Começámos o novo dia pela Av. Paulista. Desta vez percorremos alguns quilómetros passando pelos edifícios mais emblemáticos, como o Museu de Arte Assis Chateaubriand. É uma avenida brutal que nos engole com o seu palpitar, o imenso tráfego, os milhares de pessoas atarefadas, os arranha-céus, os cheiros que fazem perceber níveis de poluição elevados, o ruído quase ensurdecedor.
Fomo-nos dirigindo para a zona Norte, onde fica o centro histórico da cidade, com a Catedral Metropolitana, a Praça da Sé e o Mercado Municipal. Só aqui a cidade muda de fisionomia, com algumas construções mais clássicas que destoam da modernidade da grande maioria dos restantes edifícios.

Voltámos depois por ruas diferentes até à Av. Paulista. A paisagem é sempre muito semelhante, grandes edifícios, ruas movimentadas, os passeios cheios de gente.

Nota-se que a qualidade dos locais, sejam residenciais, zonas de comércio e centros de escritórios, ou as próprias ruas, vai piorando claramente à medida que nos afastamos para Norte da Av. Paulista. Percebe-se que o núcleo central da cidade, com a qualidade de uma cidade americana ou europeia, corresponde à área envolvente à Paulista incluindo, a Sul, a zona dos jardins. Mas quando nos afastamos dessa área vamos entrando em zonas cada vez mais feias e degradadas e começam a aparecer as primeiras favelas. E quando percorremos as ruas de táxi, por exemplo a caminho do aeroporto, concluímos que a periferia da cidade é quase sempre uma imensa favela onde moram vários milhões de paulistas, e onde não nos conseguimos sentir minimamente tranquilos.

Por isso, voltando à nossa zona de conforto, e depois de um almoço rápido numa típica lanchonete, regressámos em ritmo lento até à Av. Paulista para terminar a caminhada, já longa (quase 8 km) deste dia.

Para passar o final da tarde escolhemos a Vila Madalena e depois, para o serão, o restaurante italiano, Famiglia Mancini e, desta vez, em vez da habitual caminhada, fizemos ambos os percursos de táxi, cada um deles com cerca de 6 km.

A Vila Madalena é um bairro nobre da cidade de São Paulo, bastante conhecido por ser um espaço de grande concentração de restaurantes e esplanadas e um dos principais destinos de vida noturna, com bares e discotecas…..um ótimo local para tomar um copo num final de tarde quente do fim de verão.
O bairro é muito frequentado pela comunidade universitária e concentra grande quantidade de espaços artísticos, como ateliers, centros de exposições e mesmo algumas ruas com muros e casas pintadas, numa mostra permanente da arte urbana local. Encontram-se também diversas lojas de vanguarda e algumas escolas de música, teatro e artes plásticas.


Dia 4:
E de manhã lá fomos nós “pegar” a “ponte aérea” entre São Paulo e Rio de Janeiro e chegámos àquela que é a alma e o coração do Brasil, a Cidade Maravilhosa…..cheia de encantos mil!
A primeira preocupação que nos surge ao chegar ao Rio tem a ver com a segurança, sabendo da sua fama de cidade perigosa. Contudo, o processo de pacificação que tem vindo a ser implementado em várias favelas, fez com a cidade se tenha tornado cada vez mais segura. Ainda assim devem ser tomadas as preocupações básicas, como em qualquer cidade grande, ou seja, evitar o uso de objetos valiosos, ficar atento aos bens pessoais, tentar evitar ruas desertas, sobretudo à noite.

O importante é que a segurança não se torne uma paranóia e que se consiga descontrair, desfrutando dos prazeres de estar numa cidade tão bonita e aceitar o abraço de receção que o Cristo Redentor nos oferece com os seus braços abertos.

De qualquer forma são notórias a discrepâncias sociais nesta cidade, até bem mais do que em São Paulo, no Rio, as favelas estão espalhadas por morros e pelas planícies da periferia, e são visíveis de qualquer parte da cidade e sobretudo dos locais de observação privilegiada, como do Corcovado. A sensação que nos fica é que o Rio “turístico” é apenas a Zona Sul e o Centro Histórico, onde vivem perto de 2 milhões de cariocas, sendo que, os restantes 6 milhões de habitantes vivem em zonas que, a nós, nos parecem intermináveis favelas. Sabemos que não será bem assim, que algumas daquelas áreas serão espaços residenciais normais, mas a nós parecem-nos genuinamente como uma favela contínua.

Esta cidade é também um símbolo de uma corrente musical que marcou o panorama da música mundial, a Bossa-Nova, que, para mim, que sou um fã incondicional, tem um significado muito especial. E se nos deixarmos levar (nem que seja só pela sugestão) acabamos por sentir mesmo um pouco daquele balanço que a marca o ritmo da bossa e acabamos por trautear ou assobiar melodias que fazem parte do nosso imaginário desde sempre, e que sabemos que foram naquelas ruas e bares, naqueles areais, que foram criadas e interpretadas pela primeira vez……e ficamos a bater o pé como se acompanhássemos a voz suave do Tom Jobim sussurrando-nos ao ouvido....e começamos a ouvir baixinho…..da janela vê-se o Corcovado, o Redentor, que lindo!
E há ainda mais música, o samba e a loucura do carnaval, as escolas de samba e o sambódromo, mas isso são tudo coisas das quais não sou propriamente fã.

Chegámos a Ipanema, onde ficava o nosso hotel e quisemos logo aproveitar o facto de ser ainda Verão e de termos uma praia ali à mão (lembro que em Março, fim do Inverno em Portugal, é o fim do Verão no Rio, altura das águas de Março fechando o Verão, como diz a canção de Elis Regina).

E foi assim que fizemos, escolhemos uma das muitas praias entre Ipanema e Leblon, numa paisagem de rara beleza com uma faixa de 4 km de areias brancas e águas de azul vivo e ao longe, a Norte, a Pedra do Arpoador, e a Sul, o Morro dos Dois Irmãos. A linha do calçadão que separa a praia da cidade, encontra-se sempre cheia de gente e quase sempre gente muito gira….Ipanema e Leblon são dois dos bairros mais caros do Rio de Janeiro e a praia reflete essa característica, embora tenha o clima relaxado e descontraído tipicamente carioca. E é nessas paisagens maravilhosas que turistas e cariocas se concentram todos os dias para curtir as ondas, beber um chope gelado ou água de coco, jogar vólei ou futebol de praia, caminhar ou andar de bicicleta ou de patins pela marginal.

A praia de Ipanema começa no rochedo do Arpoador até ao canal do Jardim de Alah, que liga a Lagoa Rodrigo de Freitas ao mar e, daí até ao fim, passa a ser a praia do Leblon. As praias são identificadas como “Postos”, em função do respetivo posto de salva-vida. Uma das praias mais frequentadas é a do Posto 9, que fica a meio de Ipanema, sempre cheia de jovens e com grande concentração de surfistas e, ao que dizem as revistas sociais, é o local escolhido pelas celebridades brasileiras. Outra das praias mais frequentadas é a do Posto 8, onde se concentra a comunidade gay, fácil de identificar pelas bandeiras em arco-íris. Curiosamente, naquele mês de Março de 2004, era justamente a praia do Posto 8 que concentrava mais banhistas em todo o areal.

No Leblon, um bairro ainda mais sofisticado e mais chique, o ambiente na praia é mais tranquilo e até as águas são mais calmas e, por isso, costuma ser frequentada por famílias que moram nos arredores e por cariocas e turistas que procuram passar um dia mais tranquilo, sem a agitação jovem de Ipanema.
Entre as várias ofertas acabámos por escolher um dos postos de Ipanema, mas não dos mais populares. Mas ainda assim é impossível passar algum tempo na praia, tendo em conta os nossos referenciais. Para nós uma praia também é um local para descansar ao sol e não apenas uma espécie de parque de diversões, mas ali é impossível qualquer repouso. Sentámo-nos em espreguiçadeiras e, em cada minuto, aparecem miúdos tentando fazer o que quer que seja para chamar à atenção e tentar obter alguns Reais….desde dançar o samba a fazer demonstrações de capoeira, qualquer coisa serve. Além dos miúdos, há ainda os vendedores de praia, os camelôs, com os seus pregões constantes e a insistirem connosco até à exaustão…..são imparáveis. Podemos tentar fugir para a água (e para isso devemos ir para a praia apenas de tshirt, calções e havaianas e, no máximo, uma nota pequena enrolada no bolso dos calções, para qualquer apetite de última hora)……mas a água também não é particularmente apetecível. Para já, e embora Ipanema e Leblon sejam praias em que a qualidade da água é das melhores em todo o Rio, na verdade, a proximidade da Baía da Guanabara, altamente poluída, ainda se faz notar. Depois a temperatura não é famosa, não passa dos 20 graus. E por fim o mar pode estar agitado e as correntes fortes e perigosas.

Com tudo isto a nossa passagem pela praia não foi além de uma hora e meia e regressámos ao calçadão, onde se pode disfrutar do melhor que estas praias oferecem, que é a magnifica paisagem e, aí sim, sentámo-nos num dos quiosques e ficamos a beber um chope geladinho e a ver a cidade a respirar…..e nós a inspirar do seu oxigénio……e surge mais uma canção à memória, desta vez, e bem a propósito, é o Caetano Veloso que ecoa com o seu Menino do Rio……e sentimos como nunca, um calor que provoca arrepio.
Depois de algum tempo deambulando pela marginal a aproveitar o ambiente fantástico daquelas praias, resolvemos fazer um longo passeio pelos bairros de Ipanema e Leblon, atravessando até à outra margem, onde a cidade desagua numa das zonas mais bonitas do Rio, a Lagoa Rodrigo de Freitas ou, como é conhecida popularmente, apenas a Lagoa.

É formada por água salgada devido à ligação que tem ao mar através de um canal que atravessa os jardins de Alah e que divide os bairros de Ipanema e Leblon. A Lagoa tem um formato que se assemelha a um coração e, por isso, e também por estar no centro dos bairros mais emblemáticos daquela zona da cidade, é considerada como o coração da Zona Sul.

A Lagoa está rodeada pelos bairros mais chiques da cidade e a sua marginal, com passeios e ciclovias, permite longas caminhadas, jogging, passeios de patins ou de bicicleta, E é essa a imagem mais comum naquela zona da cidade, sobretudo de manhã e ao entardecer.

No lado Sul da Lagoa existe um outro local interessante, o Jardim Botânico, mas são precisas algumas horas para o visitar e, por isso, não o incluímos no nosso itinerário.
Apesar da imagem típica daqueles bairros ser quase sempre marcada pelo ambiente de praia, com cheiro a mar e a sal, a Lagoa apresenta-se, por vezes, como um local bucólico, sobretudo em dias chuvosos, e torna-se ainda mais acolhedora e mais bela.....dominada ao fundo pela silhueta do Cristo Redendor, numa vigília interminável sobre toda a cidade.

Dia 5:
Começámos o segundo dia de visita ao Rio pela praia de Copacabana. Fizemos um primeiro trajeto de táxi até ao Forte de Copacabana, pois ia ser um dia de grandes caminhadas e era melhor poupar esforços. Depois da visita ao espaço do forte, que permite observar a paisagem fantástica da praia com o morro do Pão de Açúcar ao fundo, saímos pelo calçadão ao longo de toda a meia-lua que forma o contorno da praia.
Depois de algumas incursões que fomos fazendo pelas ruas do bairro de Copacabana, voltámos sempre à praia e ao famoso calçadão, um dos símbolos do Rio de Janeiro, com cerca de 4 km de comprimento, é construído em calçada portuguesa com pedras brancas e negras, num desenho característico que é também uma das marcas da cidade. É ao longo desta larga calçada, que divide a praia da Avenida Atlântica, que encontramos alguns dos melhores hotéis do Rio, como o luxuoso Sofitel e o tradicional e o mais antigo da cidade, o Copacabana Palace.
A praia de Copacabana é um dos locais que atrai maior número de turistas, tal como o próprio bairro, que é um dos mais movimentados do Rio. Com a particularidade de existirem favelas que descem pelos morros e desaguam nas ruas do bairro, será preciso ter um cuidado extra com o dinheiro e objetos de valor sempre que se for à praia.

Depois das primeiras horas do dia passadas na baía de Copacabana, voltámos a entrar num táxi para chegarmos ao próximo ponto de visita, o Pão de Açúcar. Uma impressionante montanha de cerca de 400 m de altura é um dos maiores símbolos do Rio de Janeiro. O Pão de Açúcar impõe-se na entrada da Baía de Guanabara e destaca-se de outros dois morros menores, o da Babilônia e o Morro da Urca. Tal como outros na cidade do Rio, o Pão de Açúcar é uma montanha do tipo monólito constituída por rocha granítica.
O acesso à montanha é garantido por um teleférico que transporta todos os anos milhares de turistas em busca daquela vista incrível, mas para os mais aventureiros, existem trilhos combinados com percursos de escalada, que permitem um acesso ao cume muito especial. Para quem tenha coragem, de certo será um dia inesquecível.

Lá em cima, no topo do Pão de Açúcar, apesar de ser um local bastante frequentado por turistas, conseguimos sempre encontrar algum espaço reservado e tranquilo para observarmos uma das vistas mais bonitas do Rio de Janeiro. É encantador e chega a arrepiar, aquela paisagem sem fim, dum lado Copacabana e do outro a Baía da Guanabara, com as praias do aterro do Flamengo e, mesmo em frente, com a beleza de um cartão-postal, a praia do Botafogo…..e ao fundo, ergue-se o Cristo Redendor, sempre vigilante.

O tempo vai passando e não queremos abandonar este local, como quem observa um quadro e olha em detalhe para cada pincelada e vai percorrendo cada pormenor desta cidade que nos surge hoje ainda mais maravilhosa.
Voltámos finalmente ao teleférico e descemos até à Urca. Optámos desta vez por caminhar até à praia de Botafogo, seguindo um percurso que nos vai oferecendo a vista da Baía da Guanabara e do morro do Pão de Açúcar, que vai ficando para trás.

Chegámos ao Botafogo, um bairro com qualidade, embora diferente das zonas chiques do Leblon e Ipanema, que se liga ao mar num areal que contorna a baía formando uma praia quase inacreditável, de tão bonita que é…..mas, como não há bela sem senão, esta praia tem águas poluídas e não são recomendados banhos de mar.

Continuámos depois pelo aterro do Flamengo, chegando à zona da praia e à faixa marginal que é um imenso espaço verde, e que dá a este areal uma imagem peculiar e de rara beleza. Também aqui a beleza da praia contrasta com a qualidade das águas. Embora menos fechado do que o Botafogo, o areal do Flamengo está ainda bem dentro da Baía da Guanabara, toda ela bastante poluída.

De novo de táxi, apenas um pequeno trajeto que nos deixou no Centro Histórico do Rio.

Esta é a zona das empresas, bancos e seguradoras, por isso é muito mais interessante durante a semana, com toda a azáfama de quem ali trabalha. Foi também a zona mais importante do Rio durante séculos e, por isso, tem uma grande marca histórica. Resolvemos fazer um percurso que fosse passando pelos locais de maior interesse histórico. Começámos pela Igreja da Candelária e seguimos depois para o Paço Imperial, construído na época colonial, quando servia de residência aos governadores da cidade, e que, posteriormente, funcionou como gabinete de Dom João VI, de Dom Pedro I e de Dom Pedro II. Com a proclamação da República, sofreu uma grande decadência até ser transformado em centro cultural.

Passámos ainda por um dos pontos mais interessantes do centro do Rio, a Praça Floriano, conhecida como a Cinelândia. O nome remete ao início do século XX, quando os melhores cinemas da cidade ali se concentravam, mas, atualmente, apenas o tradicional Cine Odeon continua no local. Ao redor da praça, ficam também o Teatro Municipal, a Biblioteca Nacional e o Museu Nacional de Belas Artes, com edifícios de arquitetura clássica que dominam cada uma das praças onde se localizam.
O centro do Rio é plano e perfeito para caminhar, e aproveitámos para vaguear entre praças e ruas, ao sabor dos estímulos que iam surgindo, sem qualquer rumo definido mas, por fim, dirigirmo-nos até à Lapa, onde pretendíamos passar o final da tarde.

Nesse bairro boémio, está a moderna Catedral do Rio de Janeiro e os Arcos da Lapa, o principal símbolo do bairro, um aqueduto em estilo romano construído no século XVI para levar água do Rio Carioca até à cidade. (Na época da nossa visita era possível atravessar de um lado ao outro dos arcos no Bonde de Santa Teresa, que saía do centro da cidade, passava pelo aqueduto e entrava no bairro de Santa Teresa, porém, desde 2011, após a ocorrência de um acidente, o bonde deixou de funcionar. Após 3 anos de interrupção e obras de reabilitação, o Bonde terá voltado a funcionar em 2014).
A Lapa é um pequeno bairro que fica próximo do centro do Rio, e que, na década de 50, era famoso pela sua vida cultural ativa e pela grande quantidade de restaurantes e bares que se tornaram ponto de encontro de artistas e intelectuais.

Depois do seu período de ouro a Lapa entrou em decadência e acabou por se tornar até bastante perigosa. No entanto, nos últimos anos houve um processo de revitalização e redescoberta do bairro e a Lapa voltou a ser um espaço boémio que atrai cariocas e turistas que invadem as calçadas, transformando o ambiente numa grande festa ao ar livre.

Quem quiser conhecer a noite carioca não deverá perder um serão passado na Lapa. Pode-se jantar, ouvir música, beber umas cervejas e umas caipirinhas, e percorrer as ruas numa noite bem descontraída. Embora se deva ficar sempre atento aos bens pessoais porque o bairro pode ficar bastante cheio e tornar-se um alvo privilegiado para os carteiristas.
Faltava ainda subir pelas calçadas pitorescas que ligam a Lapa ao bairro de Santa Teresa e optámos por utilizar o tradicional bonde.

Localizado acima do Centro e da Lapa, este foi um dos primeiros bairros da cidade, com origens do final do século XIX, quando os portugueses começaram a construir mansões ao redor do Convento Santa Teresa, para aproveitar a vista privilegiada da entrada e saída de navios da baía da Guanabara.

A partir das décadas de 60 e 70, a elite passou concentrar-se nos bairros de Copacabana, Ipanema e Leblon, e Santa Teresa perdeu a nobreza de antigamente, embora sem nunca ter perdido o charme. Por isso foi bastante natural a recente redescoberta por artistas e cariocas que atualmente ocupam as suas ruas com ateliers, restaurantes e bares tradicionais, que fazem do bairro de Santa Teresa um centro cultural e gastronómico do Rio de Janeiro.

Passámos o final da tarde a passear pelas ruas de Santa Teresa, com as suas calçadas em paralelepípedos aos altos e baixos e esventradas pelos carris que trazem o bonde, com os seus edifícios de estilo colonial, e sempre aproveitando a vista incrível sobre a Baía de Guanabara, o centro histórico e a zona sul do Rio.
Terminámos o dia a observar o cair do sol. Foi um dia fantástico, tivemos o privilégio de contemplar algumas das paisagens mais majestosas que o planeta pode oferecer. Ficámos sem fôlego com tanta beleza, quase sem acreditar que aquilo era mesmo real.

Estamos exaustos, fizemos mais de 15 km a caminhar, mas não nos poderíamos sentir mais recompensados e repousados do que naquele final de tarde observando uma vez mais a cidade que nos parece mágica enquanto escurece.
Por hoje o dia está acabado mas amanhã voltaremos à Lapa para jantar e viver a experiência de uma noite de boémia típica, numa envolvente que nos levará ao imaginário, que há tantos anos nos foi trazido pela Ópera do Malandro, essa obra-prima de Chico Buarque, também ele, um carioca orgulhoso da sua cidade.

Dia 6:
Para este dia fizemos um contacto prévio para contratar um taxista que nos ia acompanhar durante os percursos programados, permitindo assim a visita a locais mais distantes. Pareceu-nos uma boa alternativa, sobretudo porque era uma pessoa referenciada por um amigo, o que nos dava algum conforto. Assim, à hora combinada, lá estava o Sô Jorge que iria ser o nosso cicerone durante aquele dia.

Depois de uma breve paragem na Floresta da Tijuca o primeiro destino do dia foi o Morro do Corcovado com o seu Cristo Redendor.

Sendo ainda manhã não havia uma grande concentração de turistas mas percebe-se que aquele é um espaço concebido para as visitas turísticas……as pessoas chegam, tomam posição nos locais privilegiados de observação, tiram fotografias e partem. 

E era mais ou menos isso que pensávamos fazer, mas fomos surpreendidos. Quando parámos num local onde conseguíamos contemplar a paisagem em toda a sua dimensão, fomos envolvidos por uma tal sensação de cumplicidade para com a cidade, que se tornou impossível abandonar aquele lugar antes de um prolongado momento de entrega…..faltou-me o ar, faltaram-me as forças nas pernas, senti arrepios, chegaram-me as lágrimas aos olhos, num misto de vertigem e comoção. Deixou de nos importar quem eram os outros que ocupavam a plataforma do miradouro, já não nos preocupava a presença do nosso taxista esperando por nós, deixámos de ter a noção do tempo……ficámos sozinhos apesar de existir tanta gente, a olhar deslumbrados para aquela cidade que nos prendeu àquele local, disponível para se mostrar em toda a sua extensão…..a sua Lagoa, no coração da zona Sul, os bairros chiques de Ipanema e Leblon, fixando a linha onde acaba a cidade e começa o mar, as praias de Botafogo e Flamengo, o centro histórico e os muitos morros que contornam a cidade, dominados pela presença imponente do Pão de Açúcar.

Demorámos bem mais tempo do que tínhamos programado mas valeu a pena, é dali que compreendemos o verdadeiro significado da cidade maravilhosa cheia de encantos mil. É algo que tem a ver com a beleza da cidade mas sobretudo com a emoção que se experimenta quando a observamos daquele local.

Para além das emoções que nos deixaram atordoados existem alguns dados, bem mais concretos, que caracterizam esta atração turística. O morro do Corcovado fica entre o centro histórico e a zona Sul, tem uma altitude de 710 m e o seu nome vem da semelhança com uma “corcunda”. O motivo que o leva a ser o principal ponto turístico do Rio, não será o próprio morro, mas sim a estátua de Jesus Cristo construída no topo, o Cristo Redentor, que abre os braços para a cidade como se nos abraçasse a todos. Mas para mim, nada é mais fascinante do que aquela vista inigualável que faz deste monumento um dos mais impressionantes de todo o mundo.

O projeto começou em 1824 com a construção de um “bonde” até o topo da montanha. Mais tarde, depois de um concurso para a escolha do respetivo projeto, realizado no âmbito das comemorações do centenário da independência brasileira, o Cristo Redentor foi construído e posteriormente inaugurado, em 1931. Em 2007, o Cristo Redentor foi considerado uma das Sete Maravilhas do Mundo, como o Machu Pichu, no Peru, ou a Grande Muralha da China.

Deixo aqui apenas alguns conselhos para uma ida ao Corcovado. Como a vista é a grande atração, torna-se indispensável fazer a visita num dia com tempo bom ou, pelo menos, com uma boa visibilidade. O acesso é fácil, há muitas opções de transporte público que nos podem levar até à entrada da estação de comboio do Corcovado, no bairro do Cosme Velho, onde o bonde sai de meia em meia hora, das 9h30 às 18h30. Depois da chegada, o monumento é acessível por escadas rolantes e elevadores. Outra alternativa será ir de táxi ou contratar o transporte no hotel, entrando numa espécie de excursão.
Não fiz ainda qualquer referência ao futebol, uma das paixões do povo brasileiro, mas acabou por ser do alto do Corcovado que essa referência se tornou incontornável. Do lado Norte, enquanto nos perdíamos na paisagem, surgiu imponente o estádio Maracanã, um dos símbolos indiscutíveis da cidade. Foi construído para o campeonato do Mundo de 1950 e, no dia da final, com 200 mil pessoas no estádio, o Brasil perdeu com o Uruguai num triste episódio que ficou conhecido como Maracanaço.

Na altura da nossa viagem o estádio do Maracanã estava já bastante desatualizado face às exigências atuais de conforto e segurança. Mas nos últimos anos o espaço foi totalmente reformado para a Copa do Mundo de 2014 e para as Olimpíadas de 2016, onde o Maracanã será palco das cerimónias de abertura e encerramento.
Depois de uma tentativa falhada de passar uns momentos na praia, no primeiro dia em Ipanema, quisemos agora experimentar a costa que começa na Barra da Tijuca e se estende para Sul, onde se encontram as maiores, mais limpas e mais selvagens praias do Rio, procuradas principalmente por surfistas e pescadores. 

A Barra da Tijuca, que está ainda distante das zonas mais desertas, desenvolve-se a em torno da praia e de uma extensa marginal, e é ocupada por grandes condomínios e shoppings, motivo pelo qual ganhou o nome de Miami carioca.

Mas para conhecermos o melhor possível aquela zona costeira, acabámos por escolher uma praia a 20 km da Barra, a praia do Parque Ecológico da Prainha. Assim, percorremos a marginal com uma paisagem de praias de aspeto selvagem, areias brancas, águas agitadas e montanhas cobertas por um verde intenso. Ficámos apenas duas horas, para uns mergulhos, uns banhos de sol e um almoço ligeiro à beira-mar.
No regresso, já no fim da tarde, fugimos ao túnel que atravessa o morro da Rocinha, por baixo daquela que é uma das favelas mais famosas do mundo, e entrámos pela marginal de São Conrado, zona conhecida pelo morro que serve de base aos saltos de asa-delta e parapente e por um céu sempre colorido, pela presença constante dos praticantes daquelas modalidades radicais em pleno voo.

Mais à frente a marginal atravessa o sopé da Favela do Vidigal. Não pensámos entrar mas quisemos encontrar um local onde pudéssemos parar e observar o bairro. Queríamos apenas fazer uma pequena ideia daquilo que é uma favela brasileira. E assim foi, observámos o bairro que ocupa um espaço imenso daquele morro, onde vivem, certamente, milhares de pessoas….mas as imagens que captámos não deixam de ser pitorescas e belas….talvez fosse a distância de segurança a conferir-lhe um brilho especial.
Acabámos a viagem fazendo uma última paragem no Mirante do Leblon onde pudemos observar uma praia ainda muito concorrida num final de tarde quente e apetecível.
O táxi deixou-nos no bar Garota de Ipanema para uma última caipirinha num local especial, por estar associado a esse símbolo da bossa-nova. Não é mais do que qualquer outro bar de Ipanema ou do Leblon mas, apesar disso, sente-se uma certa mística por estarmos num espaço onde, segundo dizem, terá sido frequentado em tempos por alguns dos criadores dessa corrente musical.

Para terminarmos o dia fizemos um último passeio pela marginal, passando antes pela Praça General Osório, conhecida pelo mercado hippie que lá ocorre todos os domingos.

À medida que o sol se punha fomo-nos aproximando do Arpoador. O entardecer visto da Pedra do Arpoador é quase um evento….a vista do pôr-do-sol sobre o mar, revelando a silhueta da costa Sul do Rio, dominada pelo contorno do Morro dos Dois Irmãos, é duma beleza arrepiante (tornou-se um hábito de quem observa o pôr-do-sol daquele local, esperar até que o sol se ponha completamente e no final, aplaudir......e será sempre bem merecido cada um daqueles aplausos) 
Despedimo-nos daquela cidade que nos foi prendendo cada vez mais à medida que o dia se ia também despedindo, já com a saudade de quem se apaixonou e quer voltar em breve…..e quase pudemos ouvir uma última canção de Jobim a embalar aquele momento…..jurámos paixões eternas, que são nossas e são também por aquela cidade maravilhosa……..e ouviu-se ao longe, quase num sussurro:

Eu sei que eu vou-te amar. Por toda a minha vida, eu vou-te amar.
Em cada despedida eu vou-te amar. Desesperadamente……

Eu sei que vou sofrer. A eterna desventura de viver.
A espera de viver ao lado teu. Por toda a minha vida….


Faltava apenas uma última noite, que iríamos passar na Lapa, e partiríamos na manhã seguinte para mais alguns percursos ainda naquela zona do Brasil..….primeiro Búzios e depois Angra dos Reis e Paraty.

Dia 7:
Na manhã seguinte o nosso taxista privativo estava à porta do hotel bem cedo para nos levar até Búzios, num percurso de 180 km (há várias alternativas para se fazer este trajeto, como o ónibus, com saídas diárias da rodoviária Novo Rio, mas esta alternativa em táxi, ou carro alugado com motorista, pareceu-nos mais favorável, sem ter sido sequer muito cara……mas os preços naquela altura já não servem de referência para a atualidade). Após uma viagem de quase 3 horas, chegámos a Búzios ainda pela manhã.

A vila local chama-se Armação dos Búzios mas toda a zona é conhecida apenas como Búzios. Constituída por uma península com 8 km de extensão, com uma costa recortada por várias enseadas onde se formam um total de 23 praias. Do lado Norte a costa recebe as correntes marítimas do Equador e do outro, é banhada por águas com influência das correntes do Sul, o que faz com que as praias a Norte tenham águas quase mornas, enquanto que, do lado Sul, águas passam a ser bem mais frias.

O interesse de Búzios como atração turística e polo de investimento imobiliário surgiu a partir de 1964, depois da atriz francesa Brigitte Bardot, ter visitado aquelas praias e ter divulgado os seus encantos. Desde essa altura que a península de Búzios passou a ser um dos polos turísticos do estado do Rio de Janeiro mais concorridos, com procura de turistas, não só brasileiros mas de todo o mundo, sobretudo vindos da Argentina. Aliás, até uma parte dos restaurantes e das muitas pousadas existentes na zona, são propriedade de argentinos que, nos anos 70, ocuparam e investiram nesta zona do Brasil, fugindo à crise económica do seu país.

A importância da atriz Brigitte Bardot na divulgação de Búzios como destino turístico não foi esquecida pela população nem pelos governantes locais, que a homenagearam com uma estátua na vila de Armação, como se ela ali continuasse a contemplar o mar e os pescadores na sua faina, recolhendo as redes, também eles não mais que estátuas, mar adentro, ao sabor das marés…..e deram mesmo o nome de Orla Bardot à rua marginal empedrada, que surge na continuação da rua principal, a Rua das Pedras.
A região tem diferentes tipos de praias, para além da diferença de temperatura das águas, que permitem diversos tipos de utilização. Desde as praias mais familiares às mais jovens e irreverentes, onde se fazem festas de dia e durante a noite; desde as mais calmas, para banhos de mar e de sol, às mais agitadas, de mar aberto, convidando às atividades mais radicais como o surf e o windsurf; desde as praias mais próximas da vila de Armação e, por isso, mais concorridas, às mais desertas, algumas que são mesmo praias naturistas, ou de nudistas….há praias para todos os gostos.

Em Búzios existem diversas pousadas, também para todos os gostos e todas as bolsas. Algumas delas são mesmo muito requintadas e acolhedores, mas mesmo as mais simples têm quase sempre um aspeto agradável. Aliás a arquitetura local é uma das características positivas que encontramos em Búzios, os edifícios têm sempre um aspeto cuidado, tanto pela volumetria e forma, como pelas cores, quase sempre bem integradas na paisagem dominada pelo verde das encostas.

A nossa pousada era bastante acolhedora e muito bem localizada, a dois passos da praia João Fernandinho. Passámos o resto do dia praticamente de papo para o ar, entre uns mergulhos e uns banhos de sol, só interrompidos para uns camarões fritos e umas cervejas…..depois umas caipirinhas….e mais uns mergulhos…..e por aí fora!

A Praia João Fernandinho é a irmã mais pequena da Praia João Fernando, duas enseadas entre encostas verdejantes, rodeadas por pousadas e condomínios de luxo, com águas calmas e transparentes num tom de verde intenso. A temperatura da água era ligeiramente acima dos 20 graus, estas praias ficam a meio entre as encostas Norte e Sul, por isso a temperatura é o resultado da mistura das águas.
À noite, o destino obrigatório é sempre a Vila de Armação de Búzios e, sobretudo, o polo turístico com maior oferta, a Rua das Pedras, cheia de restaurantes e bares, lojas de roupas de verão e souvenires, tudo com ótimo aspeto. Passa-se um serão agradável com várias alternativas….do mais soft ao mais puxado.

O acesso a partir dos hotéis e pousadas faz-se em ónibus gratuitos, que fazem alguns circuitos de modo a cobrir as principais zonas de alojamentos, numa cadência de hora a hora, deixando-nos diretamente à entrada da Rua das Pedras.

Dia 8:
Há várias formas de se percorrer a península para conhecer as praias, desde as excursões organizadas, aos táxis, aos carros ou motas alugados, mas os mais apelativos são os buggies locais e as escunas, grandes veleiros que fazem tours pelas ilhas e enseadas.

Neste segundo dia alugámos um buggy para o reconhecimento da zona e escolhemos algumas das praias aparentemente mais interessantes.

Começámos pela Praia da Tartaruga, uma baía com águas cristalinas e um local ideal para a desova de três espécies diferentes de tartarugas marinhas, daí o nome da praia. As águas são geralmente calmas e costumam ser as mais quentes da região, porque está virada a Norte e não recebe as correntes mais frias do Sul. É uma das boas praias de Búzios para mergulhar de máscara.
Passámos uma parte da manhã na praia até sairmos em busca de um novo destino, a Praia de Geribá, uma longa faixa de areia virada a Sul. Por vezes o mar está agitado e formam-se ondas que atraem surfistas e fazem com que o ambiente seja descontraído e cheio de jovens num imenso burburinho, sobretudo em frente ao Fishbone, um bar, restaurante, pizzaria e lounge, onde a música eletrónica vai enchendo as tardes de verão. A água é das mais frias da zona, o que para o surf não é problema, mas para nós incomodou-nos um bocado, tendo em conta que umas horas antes estávamos do lado Norte com águas bem mais quentes.
Mas quem está em família poderá escolher a Praia da Ferradura, também ela na costa Sul, é uma enseada de águas frias mas calmas, devido à forma da baía que lembra uma ferradura quase fechada, cortando a força das ondas. Assim, e por ter águas tranquilas, é uma das preferidas das famílias com crianças e dos adeptos de desportos náuticos.

Tal como na maioria das praias em Búzios também esta reserva uma zona para barracas e quiosques de petiscos e bebidas, com cadeiras, mesas e guarda-sóis, espalhados pela areia.

Foi aqui que permanecemos no início da tarde e, depois de uns mergulhos, começámos por uns pastéis e uns bolinhos de bacalhau, com uma cervejinha gelada, que é servida em garrafa de litro protegida por um isopor (invólucro de esferovite).
Já a meio da tarde voltámos ao buggy para chegarmos às enseadas mais fechadas da costa Leste. Foi a vez das Praias da Azeda e da Azedinha, ambas de águas calmas e cristalinas, ficam entre as praias de João Fernandes e a dos Ossos, e estão localizadas numa zona de proteção ambiental. A praia da Azedinha tem acesso apenas por mar e por uns carreiros a partir da praia dos Ossos e a praia da Azeda é acessível por uma rua de paralelepípedos e uma escadaria de madeira, também a partir da praia dos Ossos.

Estão ambas incluídas entre as praias mais bonitas do Brasil pelas águas muito verdes e transparentes e pela vegetação abundante que as envolve. Mas por estarem em zonas de proteção ambiental, todos os bares e quiosques foram retirados da areia. Na Azedinha, durante a maré cheia, sobra apenas uma língua de areia muito estreita e será difícil conseguir um lugar para pôr a toalha……mas a praia é tão bonita que vale bem a pena passar ali algum tempo, só para observar a paisagem e o ambiente e para dar uns mergulhos nas águas cristalinas e tão apetecíveis.
Já ao cair da tarde fomos ainda visitar a vila de Armação de Búzios, que só conhecíamos durante a noite.

Chegámos ao eixo principal e mais movimentado, que inclui a Rua das Pedras e a Orla Bardot, e encontrámos locais tão perfeitos que nos apeteceu deixarmos o tempo passar sem darmos por isso.
A paisagem envolvente é duma beleza quase incrível, com o mar refletindo o sol ao entardecer, com o charme das casas, lojas ou restaurantes, numa decoração sempre requintada….as ruas coloridas e bem arranjadas, por onde se passeiam pessoas bonitas, falando português com açúcar ou castelhano argentino, cheirando a bronzeador e a sal, e movendo-se num balanço que é marcado pela música que vai ecoando dos bares.

E nós por ali, sentindo que somos parte daquele quadro, que podemos entrar em lojas ou galerias de arte para apreciar ou comprar roupas ou peças de artesanato realmente genuínas. Que podemos beber um gin na esplanada de um bar onde o sol ainda quente nos afaga a pele bronzeada por um dia cheio de sal e de sol. Que podemos desfrutar dos melhores prazeres da gastronomia em restaurantes que são sempre uma experiência. Que naquele dia e àquela hora fazemos parte de uma realidade que nos parece quase virtual de tão perfeita.
E na despedida do dia, as despedidas são sempre marcantes, resolvemos parar algum tempo na Orla Bardot, junto à Brigitte, e com ela contemplar a mesma paisagem de mar com barcos e ilhas, o mesmo sol que se põe……e os mesmos pescadores que teimam em puxar sempre a mesma rede.


Dia 9:
Depois de visitarmos a península de Búzios por terra, faltava apenas fazermos uma ronda por mar. Também neste caso existem várias ofertas, desde as lanchas mais rápidas até às tradicionais Escunas, que são grandes veleiros que permitem viagens a ritmo lento mas a preços muito mais favoráveis do que as lanchas. Como neste dia teríamos de rumar até Angra a meio da tarde, resolvemos fazer uma volta de Escuna pela manhã.

Os passeios podem ser reservados nas pousadas, nas agências de turismo e no próprio porto. As embarcações saem da praia da Armação rumo às praias e ilhas, num passeio que dura duas ou três horas, dependendo do percurso. O roteiro leva-nos às praias habituais, além das ilhas Branca e Feia e incluem paragens para uns mergulhos, em 2 ou 3 lugares que se apresentem mais favoráveis, dependendo das condições do mar. As paisagens desta perspetiva, do lado do mar, são diferentes mas também muito bonitas. De qualquer forma o passeio é muito impessoal, como se fosse uma excursão.

Dispúnhamos ainda de algum tempo e acabámos por ficar na praia João Fernandinho, junto à nossa pousada, para usufruir de umas horas de relax, porque o resto do dia iria ser ainda bastante longo.
À hora combinada, pelas 4 h, chegou o nosso taxista, Sô Jorge, que nos iria levar até Angra dos Reis, num percurso de 370 km, durante mais de 5 horas.

Não se esperava nada de interessante, estes percursos são sempre a parte mais aborrecida das viagens.

Acabámos por viver alguma emoção ao atravessar a Avenida Brasil, já no Rio de Janeiro, uma espécie de grande circular à volta de toda a cidade, e onde tivemos um furo. Apesar de estar ainda luz do dia, o Sô Jorge lidou com a situação de uma forma fria e cautelosa, que até nos começou a assustar, evitando parar em várias estações de serviço e “borracharias”, que ele dizia não serem seguras. Acabou por encostar numa zona onde não nos manteve no carro com as portas trancadas. Trocou o pneu e depois voltou à estrada para mais uma dezena de kms até encontrar uma oficina de confiança. Não percebíamos os medos que ele revelou, sobretudo porque era um homem daquela cidade, mas acabou depois por nos contar que aquela avenida é dos locais mais perigosos do Rio…….e acabámos por confirmar quando, no dia seguinte, ouvimos as notícias de um tiroteio entre policiais e traficantes, durante a noite, nessa mesma avenida.

Talvez por causa de situações como esta se refira habitualmente que os turistas devem ter algumas reservas em alugar carros e andar sozinhos naquelas estradas, é que pode correr alguma coisa mal.
Chegámos a Angra já de noite mas sãos e salvos e instalámo-nos no hotel do Bosque que nos acolheu como um porto seguro….e era mesmo disso que precisávamos.

Dia 10:
O hotel do Bosque fica a cerca de 50 km da cidade de Angra para Sul, a meio do caminho para Paraty, mas a zona de Angra dos Reis que merece ser visitada nada tem a ver com a cidade com o mesmo nome, que é até pouco interessante, mas sim com a extensa baía, ao longo de uma costa recortada com encostas de um verde intenso da mata atlântica e com o conjunto de ilhas que a rodeia.

O hotel é mesmo numa zona de bosque, cheia de animais, mais ou menos tropicais, como as estranhas capivaras, entre muitos outros.

De qualquer forma, tendo reservado apenas 2 dias para esta zona, tínhamos que tentar aproveitar desde logo o melhor que estas paragens têm para oferecer, o que obrigava a fazer um passeio de barco ao longo da costa e pelas ilhas e ir também até Paraty, uma das pérolas da zona.

Por isso, logo após um café da manhã em pleno bosque, tentámos reservar uma viagem de barco para passarmos toda a manhã. Mas não foi fácil. Não estávamos no pico do verão e, talvez por isso, não havia grande concentração de turistas na zona. De notar que em Angra chove quase todos os dias e em Março era ainda mais provável que houvesse chuva. Na verdade chuviscou apenas a espaços, mas talvez seja o receio da chuva que afasta os turistas nesta altura. Por falta de turistas que pudessem partilhar connosco uma lancha rápida com o respetivo skipper, fomos obrigados a alugar uma só para nós os dois……o que foi muito agradável, a menos do facto de termos suportado o custo total de um barco onde poderiam ir 6 pessoas. Lembro-me, ou tento-me esquecer, que as 4 horas de passeio nos custaram em torno dos 250€….nem sei quanto custará agora, com o Real bem mais alto. A outra alternativa seria chegar à cidade de Angra, 50 km de carro ou ónibus, e entrar numa Escuna para fazer um passeio do tipo excursão, como tínhamos feito em Búzios no dia anterior.

Portanto, lá fomos nós de lancha privativa para uma manhã numa das zonas mais bonitas do Brasil.

Começámos pela costa passando e parando em praias e ilhas desertas, mergulhando nas águas cristalinas de tons verdes, surpreendentemente quentes, com 25 a 27 graus. Fizemos também algumas passagens nos locais mais famosos da baía, como a Praia do Hotel do Frade, a Ilha da Revista Caras, a praia rodeada de bungalows do Pestana de Angra.
Seguimos depois até algumas das ilhas mais bonitas, como as Ilhas Botinas, onde nadámos demoradamente com máscara e barbatanas e pudemos observar um fundo do mar bastante bonito.
Na Ilha da Gipóia parámos para uns petiscos e um banho de praia e, já num último percurso de volta ao hotel, fizemos ainda uma paragem junto à Ilha Sandri, para os derradeiros banhos do dia.

Foi uma manhã fantástica, pelas paisagens, pelos banhos de mar, pelos silêncios que nos rodeavam sempre que o motor do barco era desligado……..e pela possibilidade de estarmos apenas nós os dois naqueles locais com uma paisagem paradisíaca, num encontro entre as águas tranquilas e as encostas de um verde vivo pontilhado pelos roxos das quaresmeiras.
Nessa mesma tarde, passámos no hotel apenas para um duche rápido, e corremos para apanhar o primeiro mini ónibus com destino a Paraty, onde iriamos passar o resto da tarde e o serão.

O Centro Histórico da pequena cidade de Paraty mantém uma parte do casario colonial e das suas ruas em pedras irregulares, muito bem conservados, o que faz com que esta cidade seja um destino turístico muito procurado.
A arquitetura revela bem a sua origem colonial. Algumas casas históricas foram requalificadas e são hoje utilizadas com pousadas, restaurantes, lojas e centros de artesanato, e as ruas são um espaço de constantes apresentações de músicos e outros artistas populares.

Para nós portugueses, passear pela cidade de Paraty é como regressar às origens, tanto pelos traços arquitetónicos que se observam em cada rua, que são os nossos, sem margem para dúvidas, como pelas igrejas que surgem por toda parte da cidade e revelam claramente a sua origem bem portuguesa.

Mas Paraty é bem mais do que apenas uma cidade histórica. Faz parte da baía de Angra e está também rodeada por montanhas cobertas do denso verde da mata atlântica. Junto ao mar, a paisagem é idêntica à de Angra, com incontáveis ilhas e praias, podendo constituir uma boa alternativa para se escolher o hotel em Paraty, em vez da opção que fizemos de ficar mais próximos de Angra.

Paraty permite também um tipo de turismo um pouco mais radical, para as longas caminhadas em trilhos ao longo dos vários parques naturais, com acesso a praias inóspitas e a cachoeiras. No mar podem praticar-se a canoagem oceânica, a vela o windsurf e o mergulho.
Fizemos um percurso ao longo do centro histórico e fomos parando pelas lojas de artesanato, bares e, já ao serão, num restaurante que nos acolheu quando mais precisávamos pelo cansaço de um dia maravilhoso, mas muito intenso, que nos deixou de rastos e famintos.

O ambiente de rua era fantástico, as ruas estavam ainda molhadas da chuvada da tarde mas lentamente começaram a ganhar vida, os bares começaram a passar música, as caipirinhas, os gins, os vodkas, começaram a passar de mão em mão…..a noite tinha acordado.
Voltámos à estrada para mais um trajeto em mini ónibus até ao hotel, naquela que seria a nossa última noite desta viagem que já nos começava a deixar saudades. Estava um luar impressionante, a calma do local era cortada por um ruído constante da bicharada que nos acompanhava naquela noite, mas que não conseguíamos ver. Foi a hora do adeus e da promessa de que voltaríamos, não sabíamos quando, mas, naquela hora, era indispensável acreditarmos que haveríamos de voltar.

Dia 11:
Dia de fazer as malas, mas dispúnhamos ainda de algumas horas de lazer que aproveitámos entre a praia e a piscina do hotel, num dos dias mais tranquilos de toda a viagem.
A meio da tarde o inevitável Sô Jorge, o nosso transfer de serviço, haveria de nos vir buscar para os últimos 200 km até ao aeroporto do Rio, fazendo-nos depois regressar ao mundo real, após mais 10 horas de um voo transatlântico.

Nesta fase as emoções são já contraditórias, por um lado há um chamamento forte das muitas saudades de casa, mas por outro, uma comoção inabalável por termos acabado uma aventura que nos deixará uma marca definitiva na memória das nossas vidas…e já em viagem, enquanto passamos ao lado da cidade do Rio, com o aproximar do aeroporto, esse local que foi sabiamente batizado como aeroporto António Carlos Jobim, e talvez por isso mesmo, olhamos a cidade à distância e ouvimos uma última vez, no rádio do carro ou talvez apenas na nossa imaginação: Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça, é ela a menina que vem e que passa……e fica mais linda, por causa do amor.

Carlos Prestes
Março de 2004