terça-feira, 29 de agosto de 2017

A verdadeira cozinha algarvia

Para além da descrição dos locais visitados, que vou fazendo nestas crónicas, para ilustrar devidamente cada viagem não posso deixar de mencionar a oferta gastronómica que cada local proporciona. Embora este não seja um espaço para analisar e classificar restaurantes, em certas viagens surgem restaurantes que acabam por ser relevantes para a experiência vivida e, nesses casos, acho importante mencioná-los nas minhas crónicas. 

No entanto, muitas vezes, a gastronomia não se revela importante e a opção por um restaurante é meramente aleatória e, nesses casos, acabo por não fazer sequer qualquer referência. Mas existem alguns lugares onde a escolha dos restaurantes e da sua oferta é fundamental para apreciarmos devidamente o local visitado. 

É sobretudo em Portugal que a escolha dos restaurantes me vai merecer mais referências e, neste caso, vou referir-me particularmente ao que se pode comer na região do Algarve. 

O Algarve tem uma oferta enormíssima de restaurantes e, há dois anos atrás, tive a oportunidade de publicar uma crónica relativa a um dos melhores restaurantes algarvios. A crónica chamou-se “Uma experiência gastronómica”, e referia-se ao Vila Joia, um dos restaurantes mais caros do país e o primeiro a ser contemplado com duas estrelas Michelin. Mas sendo um restaurante algarvio também não é, de todo, um restaurante de comida algarvia. E o que pretendo fazer agora é descrever a minha experiência de degustação da comida típica algarvia, dos verdadeiros sabores da região. E, para tal, experimentei vários restaurantes mas apenas um me convenceu verdadeiramente. 

Esta crónica vai falar sobretudo da nossa experiência numa noite de final de agosto em Estômbar, no restaurante “O Charneco”... um nome a fixar. 

Mas vou ainda começar por falar de outras experiências, de outros locais e de outros tempos, algumas até mal sucedidas. 

Ao vasto menu que a degustação no Charneco nos ofereceu, e que irei descrever mais à frente, acrescento agora três pratos, que são bastante comuns na região do Algarve, e que poderiam figurar num menu de uma espécie de top 10 da comida algarvia. 


E começo pela Sardinha Assada. Não a provámos no Charneco e nem é sequer uma iguaria regional, visto que a podemos saborear por toda a nossa costa, e basta lembrar a época dos Santos Populares, quando a sardinha é rainha, ou, por exemplo, a sardinha que se come junto à lota de Matosinhos. Mas aqui a sardinha come-se principalmente em Portimão. Junto à foz do Arade, atravessamos um arco que nos leva à praça dos restaurantes, com um grelhador comunitário onde todos levam o seu peixe para assar. Sugiro dois restaurantes, o Peixarada e o Dona Barca. Este último é muito mais famoso, o que torna mais difícil arranjar lugar e, por isso, acabo quase sempre por escolher o Peixarada. Não sei se é ali que se come a melhor sardinha do Algarve, e certamente também dependerá da própria sardinha estar mais seca ou mais gorda, mas o que vos posso dizer é que ali se comem umas belas sardinhas e não há Verão em que eu não passe por Portimão para uma sardinhada.


Outro prato característico da região algarvia, e que também não estava incluído no menu daquele dia, é o Arroz de Lingueirão, típico sobretudo na Ilha de Faro, e também imperdível nas nossas viagens ao Algarve num dos restaurantes da ilha.


Para terminar as referências gastronómicas que não foram contempladas no menu daquele dia no Charneco, mas que são experiências imperdíveis da gastronomia algarvia, falta mencionar o Franguinho da Guia. Naturalmente, na Guia, esta receita de pequenos frangos assados e bem temperados, pode ser encontrada em vários restaurantes, mas registo aqui a minha preferência evidente pelo restaurante O Teodósio. Mais um sítio que repetimos todos os Verões. 

Ainda antes de chegarmos ao Charneco vou referir um outro restaurante que me tinha sido “vendido” como sendo o melhor espaço para experimentar a boa comida tradicional algarvia. Refiro-me ao restaurante Vila Lisa, na Ameixoeira Grande, próximo do Alvor. Um restaurante com uma decoração interessante, com quadros pintados pelo proprietário, e com um conceito que parecia vencedor, uma degustação de pratos regionais, num ambiente que mistura o típico e genuíno algarvio com uma tendência artística e intelectual. E foi assim que foram atraindo milhares de visitantes todos os anos, e mesmo fora do verão, o que fez com que o restaurante tivesse ficado na moda, e não há nada pior. Quando lá fui já estava na moda, mas deu para usufruir do espaço e do ambiente e até foi uma noite divertida, talvez por causa das garrafas de aguardente de medronho e de abafadinho que deixaram na nossa mesa. Mas a verdade é que a refeição propriamente dita, e que, na minha opinião, é o que mais importa - chamem-me conservador - esteve muito aquém das expetativas. Serviram uma série de pratos e todos eles típicos da região, mas já não me pareceu que se preocupassem com o rigor e a qualidade, nomeadamente na escolha da cozinheira, porque as casas cheias já estavam garantidas dia após dia. Foi este o exemplo do restaurante típico mais afamado do Algarve que se revelou como uma tremenda desilusão, apesar de ter sido uma noite super divertida... como já mencionei. Ah, é verdade, o preço também não foi particularmente simpático... pagámos 35 € por pessoa há já 4 anos. 



E, finalmente, depois de muitos outros restaurantes que fomos experimentando ao longo dos anos em toda a região do Algarve, encontrámos O Charneco. Aconteceu no final de agosto de 2017, tinha-me sido recomendado e fiz a reserva pelo telefone. Encontra-se bem no coração de Estômbar, a pequena vila de casas brancas, situada entre Lagoa e Portimão. O restaurante fica ao lado da sede do Clube de Futebol "Os Estombarenses" e mesmo atrás da igreja local, um bonito edifício, também ele caiado de branco, como toda a vila.
O nome aparece sobre a porta, onde se refere também, para que não hajam dúvidas, que se trata de uma Tasquinha.
A decoração é a que se espera de um restaurante típico, sem luxos nem grandes pretensiosismos, quase como se estivéssemos numa casa de família, com fotos e outros objetos pessoais. Na verdade é um espaço descontraído onde nos sentimos bem. 

O atendimento é perfeito, também familiar. O Sr. Charneco andava por lá mas, na altura, já era a filha que assegurava a cozinha... e de que maneira!

Explicaram-nos apenas o conceito, vão trazendo os pratos que prepararam para aquele dia, e só temos que escolher as bebidas, que também estão incluídas no preço do menu. Escolhemos água e vinho branco, que é da casa, sem marca, mas que nos pareceu bastante agradável.
Depois das bebidas e de um pão de fatia, que parecia o típico pão alentejano, mas que era um pão algarvio, começou o desfile de iguarias confecionadas pela cozinheira... que é muito mais chef do que muitos outros que assim se apelidam.

Começaram por uma entrada fria numa Tábua de Queijo e Presunto, e umas tigelas com Azeitonas, com um Picadinho de Febra de Porco com tempero de alho, azeite, vinagre e salsa, com uma Salada de Cenouras à Algarvia, cortadas às rodelas e temperadas com azeite, alho e salsa, e ainda com umas fatias de Muxama de Atum em azeite. A muxama é um produto feito com a mesma receita que os fenícios e os romanos utilizavam há dois mil anos. Resulta de um antigo modo de processamento do peixe, utilizando os lombos do atum, que são curados em sal grosso e depois lavados para retirar o excesso de sal, resultando numa espécie de presunto do mar, e com o aspeto muito semelhante ao do presunto.
Da entrada passámos para a sopinha do dia, uma Tomatada quente com ovo, que em vez de escalfado tinha sido mexido na sopa, que estava perfeitamente deliciosa. 
Os pratos iam-se sucedendo e nem sempre nos diziam do que se tratava, deixaram alguns para que adivinhássemos. Foi o que aconteceu com o prato seguinte... e não adivinhámos. 

Era uma salada fria e tinha o tempero habitual de uma salada de polvo, com cebola picada, azeite, vinagre e salsa, mas, neste caso, com umas batatas cozidas e com uma iguaria que eu nunca tinha provado, as Ovas de ChocoUma delícia, digo-vos eu, que nem aprecio cebola crua e não morro de amores por batata cozida e, ainda assim, considerei este prato um dos petiscos top da noite. 
Ainda nos frios, brindaram-nos com os tradicionais Carapaus Alimados, um prato dos mais típicos do Algarve, com os lombos de carapau bem salgados, quase a parecerem de conserva. Neste caso acompanhavam com rodelas de tomate algarvio, o chamado tomate rosa, e alho cru, para os mais corajosos.
A noite foi passando e o apetite começava já a escassear depois de, nos petiscos iniciais e de forma pouco cautelosa, termos abusado do pão e até do vinho. 

Mas não íamos deixar de cumprir a empreitada até ao fim e, assim, fomos substituindo o vinho pela água e deixámos de molhar o pãozinho. 

Chegaram os pratos quentes, mais um difícil de adivinhar. Eram pataniscas, isso dava para perceber, mas não eram de bacalhau. E, de facto, era um prato menos comum, tratavam-se de Pataniscas de Raia, raras e muito saborosas.
Para quem não fuma e, por isso, não tem necessidade de fazer umas saídas periódicas, recomendo que façam também umas pausas, vão até ao largo da igreja, apanhem ar e estiquem as pernas. E este é um dos momentos-chave para essa pausa... é que ainda falta uma entrada, um prato de peixe e um de carne, e uma sobremesa, ou seja, é como se estivessem agora a chegar ao restaurante. 

E lá veio mais uma entrada quente e esta foi diretamente para o top. Não que se tratasse de algo raro, porque era apenas um prato de Ameijoas à Bolhão Pato, mas com ameijoas fresquíssimas da Ria de Alvor, o que fez com que o resultado final fosse sublime, talvez umas das melhores ameijoas que já provei.
E chegámos aos pratos principais, trocaram inclusive do prato de petisco para pratos grandes. Pena já não termos espaço no estômago, porque ainda vinham aí iguarias excecionais. 

O prato de peixe era um Arroz de Tamboril, bem malandrinho e com um tempero pouco comum, mas fantástico, sem tomate e com bastantes coentros. Uma delícia, se tivesse aparecido uma hora antes seria devorado com sofreguidão, mas, agora, depois de uma hora e meia de jantar, já só comemos quase por obrigação... isto é um conselho para quem resolva viver esta experiência, trata-se de uma maratona e há que dosear o esforço para os últimos quilómetros... e eu que comecei a fazer sprints logo nos primeiros 100 metros.
Faltava apenas o prato da carne, informaram-nos tratar-se da influência árabe na gastronomia algarvia, um Borrego Assado com Hortelã. Felizmente a hortelã aparecia crua a enfeitar o prato e não no tempero, porque eu sou daqueles que não aprecio particularmente a hortelã... talvez num Mojito ou na pasta de dentes. Mas aqui a hortelã podia ser retirada e o borrego ficava divinal, derretia-se na boca, que pena quase não ter um espacinho no estômago... fiz nova paragem e nova volta até à igreja, imprescindível para esta fase final.
E achávamos que tinha acabado, tínhamos lido que eram sete pratos e já havíamos provado oito. Mas ainda havia uma sobremesa, ou melhor, um pijama de sobremesas algarvias, com o tradicional Figo Seco com Amêndoas, uma Tarte de Laranja, uma Tarte de Alfarroba e Canela e, o meu favorito, um Don Rodrigo, o doce regional com fios de ovos e amêndoa, que vem embrulhado num saquinho de papel de prata.
No final veio ainda um café servido num copinho de barro e a conta que, tal como tínhamos lido, foi de 25€ por pessoa... uma bagatela para uma oferta com esta qualidade. 

Terminámos assim um manjar que se transformou numa experiência que nos ficou gravada na memória, com a autenticidade da gastronomia da região, incomparavelmente melhor do que a maioria dos restaurantes algarvios que tínhamos experimentado. 

Ficámos completamente rendidos com tantos paladares e tanta comida, e totalmente satisfeitos com a experiência. Fechámos uma noite, tão rica e tão extraordinária, com a certeza de que teríamos de voltar.

Carlos Prestes 

sexta-feira, 28 de julho de 2017

Açores - Ilha de São Miguel

Há quem se pergunte por que razão estamos sempre tão empenhados em tentar conhecer o mundo quando, muitas vezes, não conhecemos sequer o nosso país. A maior parte das vezes este é apenas um chavão que é usado por quem não viaja e quer, dessa forma, ter uma argumentação racional para a sua decisão de se manter em terras lusitanas. Mas quando pensamos no arquipélago dos Açores e, sobretudo, na sua ilha mais importante e especial, a ilha de São Miguel, conseguimos perceber aquela frase, entendendo que, de facto, faz pouco sentido partir à conquista do mundo se tivermos ainda por descobrir locais tão raros e belos como os que podem ser encontrados neste nosso arquipélago perdido a meio do Atlântico.

É esta a sensação que tenho sempre que regresso aos Açores, é quase uma introspeção, como quem se reconcilia com o próprio país, tantas vezes desvalorizado.

Conheço apenas quatro das nove ilhas do arquipélago (São Miguel, Terceira, Faial e Pico) mas, desta vez, só vou falar das viagens mais recentes que fiz à ilha São Miguel, em 2003 e em 2017.

Para além dos textos e fotos com que fazem parte desta crónica, deixo também aqui o link deste vídeo, feito com as imagens gravadas durante a mesma viagem, no Verão de 2017. 


Das quatro ilhas que conheci não há a menor dúvida de que São Miguel é a mais bonita e a mais interessante. Todas as outras têm os seus encantos, mas nada que se compare com o encanto que São Miguel oferece. Muitas vezes, não tomamos a decisão de visitar um determinado local porque nos parece inalcançável, como acontecerá, por exemplo, se pensarmos em visitar as nove ilhas do arquipélago, que será dispendioso e demorado. Mas não desistam, se não conseguem esse objetivo mais ambicioso fiquem-se apenas pela ilha de São Miguel, uma viagem mais simples e mais económica, e certamente não se sentirão defraudados.

São Miguel tornou-se mais próxima com a chegada dos voos low-cost e, por isso, é agora imperdível para quem gosta de viajar à descoberta da natureza (embora não seja linear que se consigam boas tarifas de avião... a abertura e fecho de voos a preços que sobem e descem é uma constante e a impossibilidade de cancelamentos gratuitos deixa-nos sempre com alguma tensão no processo de reserva dos voos). 

Entretanto, além da marcação do voo, têm também que garantir o alojamento que, em época alta, não é muito abundante, o que faz subir os preços. Assim, e se não conseguirem hotel a preços aceitáveis, podem tentar as casas ou apartamentos preparados para o efeito através do Booking ou, sobretudo, do Airbnb

Depois há ainda que assegurar o aluguer de automóvel. Uma vez mais a oferta não abunda devem reservar com alguma antecedência, caso contrário, estarão sujeitos a que só haja disponibilidade de carros de gama mais alta e, por isso, mais caros, ou pior ainda, podem estar sujeitos a não conseguirem alugar carro, o que vos estragaria as férias. O aluguer pode ser feito pelo site da rentalcars.com, que seleciona as ofertas disponíveis para a gama escolhida por ordem de preço. Vão concluir que os melhores preços são normalmente oferecidos pela alugadora Ilha Verde. Só tem um inconveniente, como trabalham com mais clientes estarão sujeitos a filas maiores para levantar a viatura no aeroporto.

A viagem no Verão de 2017 foi a minha quarta visita à ilha e encontrei-a como nunca, sobretudo em termos de acessos, restaurantes e outras ofertas turísticas... mas também há sempre um reverso da medalha, com demasiados turistas para o meu gosto, perdendo-se um pouco aquela sensação de que gostaríamos que a viagem acabasse e pudéssemos ficar naquela terra apenas a desfrutar daqueles silêncios magníficos e profundos.

Uma das dúvidas que se colocam quando resolvemos marcar uma viagem a São Miguel tem a ver com a época do ano em que a viagem deverá ser feita e qual deverá ser a sua duração. 

Quanto à época do ano não há dúvida, entre Maio e Julho, com os dias mais longos, maior probabilidade de dias de sol e com as hortenses em flor, que marcam a paisagem de toda a ilha... estou a excluir agosto propositadamente, para evitar a enxurrada de turistas.

O número de dias de viagem já dependerá de cada um de vocês, os vossos timings não devem ser forçados, cada um deve respeitar o ritmo que mais gosta para as suas férias. De qualquer forma diria que o período apropriado oscilaria entre os quatro dias completos, para os mais acelerados, e os seis dias, para os mais preguiçosos.

Ainda assim o programa que aqui apresento, que não é mais do que uma crónica das minhas próprias experiências, refere vários percursos mas sem estarem associados ao número de dias que a viagem deve durar, para que cada um possa adaptá-la ao seu próprio ritmo.




Para alguns dos percursos a fazer nesta ilha será quase indispensável termos um dia de céu limpo, e é exatamente o que acontece nesta viagem. A Lagoa do Fogo está no fundo de uma cratera de um vulcão e oferece uma paisagem lindíssima a quem a observa do alto ou quem tem a coragem de descer até à lagoa, mas, quando o cume da montanha está coberto por nuvens, este local deixa de ter qualquer graça e será uma tremenda desilusão.

Por isso escolhemos cuidadosamente o dia para fazer este percurso, observando previamente o alto da montanha (que é visível de Ponta Delgada), confirmando assim que iriamos ter um dia de sol na lagoa. E foi o que nos aconteceu, um dia limpo e uma lagoa lindíssima.

Seguimos diretamente para o alto da montanha, que pode ser alcançado pelos dois lados da ilha, e parámos o carro na estrada junto ao Miradouro da Lagoa do Fogo. A paisagem a partir desse miradouro já é suficientemente compensadora e a maior parte das pessoas não vai além de uma breve paragem nesse local. 

O vulcão do Fogo, localizado na zona central da ilha, dá forma ao grande maciço vulcânico da serra de Água de Pau. A caldeira vulcânica está rodeada por uma densa e exuberante vegetação endémica, e tal como o vulcão que lhe deu forma, terá tido a sua formação há cerca de 15 mil anos, admitindo-se que a última erupção tenha ocorrido no séc. XVI.
Só mesmo os mais corajosos resolvem descer pelas paredes da caldeira até à praia da lagoa, que foi reconhecida como uma das Sete Maravilhas de Portugal na categoria de Praia Selvagem.

Naquele dia nós tivemos a coragem suficiente e descemos o trilho íngreme de mais de um quilómetro que serpenteia a encosta até ao nível da lagoa e pudemos contemplar as paisagens que aquela praia nos oferece.

O percurso não é fácil, tanto pela descida, com ravinas e rampas enlameadas, como pela subida, tão inclinada que chega a parecer uma escalada. Mas as vistas são de tirar o folgo ao longo de todo o caminho. É talvez uma das paisagens mais poderosas das que podem ser encontradas em todo o nosso país e, por isso, não me arrependo nada de ter feito aquela descida e ter podido desfrutar daqueles momentos que nos emocionaram.
Depois de um percurso extenuante durante cerca de duas horas, estávamos a poucos minutos de um outro ponto de interesse daquela montanha, a Caldeira Velha.

Aparentemente seria o ponto de paragem ideal para aproveitarmos os banhos termais de águas quentes e sulfurosas e seria essa uma boa forma de conseguirmos o relaxamento de que os nossos músculos precisavam... mas reconheço que estava enganado.

A Caldeira Velha é uma reserva de grande importância para a botânica e fauna típicas das florestas da chamada Laurisilva. O local, com acesso reservado, obrigando ao pagamento de um bilhete de ingresso de 2€ por pessoa, apresenta uma vegetação exuberante que vamos observando através dos trilhos que percorremos ao longo de uma ribeira que é alimentada por nascentes de águas de origem termal que caem formando cascatas e pequenos açudes.

Destacam-se duas dessas represas de água onde podemos ficar literalmente de molho. Uma delas, que se vai formando junto a uma pequena cascata, tem águas tépidas a cerca de 24º e ligeiramente acastanhadas, devido à abundância de ferro.
Um outro pequeno açude fica situado imediatamente a jusante da chamada Caldeira Velha, onde brotam da terra fumarolas e águas ferventes com cheiro intenso de enxofre.      
O açude recebe as águas quentes e medicinais da caldeira e fica com uma temperatura bem quente, de cerca de 38º. Acabou por ser essa a alternativa escolhida, quisemos experimentar o mesmo tipo de banhos que as populações locais têm vindo a utilizar há já vários séculos, mas reconheço que a ideia de estar num imenso jacuzzi, ainda que natural, mas cheio de gente, não me agradou particularmente. E foi essa a desilusão face à expetativa de uma espécie de SPA após o esforço da caminhada até à Lagoa do Fogo.

Descemos, entretanto, o resto da montanha até à costa Norte, e seguimos ao longo dessa zona litoral da ilha. Neste percurso encontrámos vários miradouros preparados com zonas de picnic, além dos locais para a observação das paisagens. Constatámos que um dos hábitos dos habitantes de São Miguel é o de passarem as tardes dos dias soalheiros de fins-de-semana fazendo picnics num dos muitos locais preparados para esse efeito em toda a ilha... concretamente junto aos vários miradouros que a ilha oferece, alguns deles são os que se encontram ao longo desta estrada do lado Norte.

Assim, quisemos seguir os hábitos locais e fizemos também nós um picnic com algumas iguarias que tínhamos preparado, como o famoso queijo da ilha. Escolhemos o Miradouro de Santa Iria que fica logo após a descida da montanha e que nos permitiu, enquanto comíamos, contemplar uma paisagem lindíssima daquela zona da ilha.
Mais uns quilómetros em direção ao Nordeste e entrámos na chamada Rota do Chá, que inclui as plantações e respetivas fábricas, do Porto Formoso e da Gorreana.

A Plantação de Chá Gorreana remonta ao ano de 1883 e é a mais antiga plantação de chá da Europa. É reconhecida internacionalmente como uma produtora de chá de primeira classe, atingindo atualmente uma produção de cerca de 40 toneladas por ano nas variedades de chá preto e chá verde, que são sobretudo para exportação.

As plantações cobrem uma área de 32 hectares formando um campo verdejante constituído por várias carreiras da planta do chá, a camélia sinensis, que adquirem um aspeto muito peculiar, como se as plantas fossem separadas por sulcos. Estas zonas das plantações são acessíveis através de trilhos devidamente assinalados e de acesso livre.

Fizemos uma pequena caminhada ao longo das plantações e visitámos a fábrica. Fizemos uma visita livre mas também há possibilidade de uma visita guiada, mas em ambas podemos ver as várias fases de tratamento da folha de chá até ao empacotamento. Terminámos num bar onde nos oferecem os dois tipos de chá produzido, o preto e o verde. O único custo desta visita acaba por ser apenas com o chá que acabamos sempre por comprar.                                      
Já a meio da tarde, e porque os acessos com as novas estradas se tornaram bastante facilitados, sobrou-nos ainda tempo para visitar os pontos mais interessantes da zona Nordeste da ilha.

Começámos pelo Parque Natural da Ribeira dos Caldeirões, um dos locais mais procurados na região do Nordeste, com uma vegetação diversificada, e dominada pelas águas da ribeira, sobretudo pela abundante queda d'água que se vai formando pela encosta. Encontram-se ainda no parque, um moinho de água que funciona como um pequeno Museu Etnográfico, ou as antigas casas de moleiro, atualmente transformadas em lojas de artesanato.
Seguimos depois até à vila do Nordeste, a capital do município que, como a maioria das povoações da ilha, não tem grande interesse turístico e nem é sequer uma terrinha pitoresca. Por isso, nem chegámos a parar e continuámos ao longo da costa parando depois em três dos pontos turísticos assinalados. Desde logo, e ainda muito próximo da vila do Nordeste, encontrámos o Miradouro do Farol da Ponta do Arnel.
Mais à frente, já numa zona onde as estradas se tornam sinuosas ao percorrer os vales que recortam as encostas, chegamos ao Miradouro da Ponta do Sossego e ao Miradouro da Ponta da Madrugada, ambos com paisagens bastante bonitas sobre as encostas verdes, que nesta zona descem abruptamente até ao mar pintado de um azul forte.

No final deste dia podíamos ainda fazer o regresso a Ponta Delgada passando pelo lado Sul a ilha e pela vila da Povoação, mas optámos por retornar pelo lado Norte da ilha, aproveitando as novas estradas e viadutos que permitem uma ligação entre o Nordeste e Ponta Delgada em menos de uma hora.



Percurso 2 - Passeio de meio-dia para observação de baleias e golfinhos:


Para nós, que adoramos todo o tipo de atividades relacionadas com o mar, era impensável ir aos Açores e não tentar explorar o que aquele mar tem para oferecer. No entanto, ainda não tivemos oportunidade de fazer mergulho no arquipélago e, desta vez, será igual, porque estamos com as miúdas e não as queremos deixar à espera durante tanto tempo. 

Assim, optámos por fazer algo onde elas pudessem participar e escolhemos as habituais viagens para observação de baleias e golfinhos, e em ambas as viagens que já fizemos, em 2003 e agora em 2017, encontrámos baleias e brincámos com os golfinhos à volta do barco. 

A escolha da empresa para estes passeios deve ser feita com antecedência e nós levávamos a viagem já reservada, o que acarreta algum risco, porque um passeio destes pede um dia de sol, mas às vezes temos mesmo que arriscar, embora tenhamos tido sorte e acabámos por fazer o passeio num lindo dia em que o sol brilhava.

Existem várias empresas que prestam este serviço, mas recomendo duas delas, a Futurismo, que opera a partir de Ponta Delgada, e a Terra Azul, que sai de Vila franca do Campo. Escolhemos a Futurismo porque o nosso alojamento era perto da Marina de Ponta Delgada. Chegámos às 8h30, fizeram o briefing, deram-nos impermeáveis e coletes salva-vida e lá fomos a alta velocidade, num semirrígido zodíaco.
Percorremos grande parte da costa no sentido Este, passámos pelo Ilhéu de Vila Franca e chegámos à zona da Povoação.
Mais à frente, depois do piloto ter obtido um sinal do vigia, que está em terra com binóculos de longo alcance, dando nota do avistamento do sopro de uma baleia, bem ao largo, afastámo-nos da costa a toda a velocidade. Ainda estivemos bastante tempo atrás da dita baleia, que mais parecia um jogo do gato e do rato. Mas, finalmente, conseguimo-nos aproximar e observar os seus movimentos de mergulho e retorno à superfície.
Segundo a bióloga que nos acompanhava no barco tratava-se de uma baleia de Bryde com cerca de 10m, que é uma baleia de barbas, ao contrário da espécie residente, a Sperm Whale, que conhecemos como Cachalote, e que se trata de uma baleia de dentes.

Esta foi uma observação rara e causou alguma excitação na tripulação, é que esta era apenas a segunda baleia de Bryde que foi avistada em São Miguel desde o ano de 2013. Tivemos que ir muito para leste para nos aproximarmos deste mamífero, já tínhamos inclusive a ilha de Santa Maria à vista.
Ao fim de algum tempo em torno desta baleia aguardando pelas sucessivas subidas para respirar, deixámo-la seguir o seu caminho e aproximámo-nos da costa à procura de golfinhos.
Não faltou muito até encontrarmos um grupo enorme de Golfinhos Atlânticos, sempre curiosos e prontos para a brincadeira, constantemente aos saltos em torno das embarcações.
A boa disposição que os golfinhos nos trazem é de facto contagiante, só nos dava vontade de saltar as amuradas e ir nadar com eles entrando verdadeiramente naquela brincadeira.
Na fotografia seguinte eu tento fazer a foto ideal para um dos lados do barco, mas era do lado oposto que os golfinhos se acumulavam.
Mas a Beatriz foi mais esperta e arrojada e, como se vê na mesma foto, resolveu mergulhar a GoPro tentando captar os movimentos dos golfinhos debaixo de água... e as fotos e filmes obtidos foram perfeitamente espantosos.

Estivemos por ali bastante tempo, os golfinhos não abandonavam os barcos e dava a ideia que poderíamos ter ficado ali pela tarde fora que eles não se iriam embora, mas era já perto do meio-dia, a hora em que deveríamos estar a chegar à Marina de Ponta Delgada e ainda nos esperava mais de meia-hora de viagem.

Neste trajeto final o barco transformou-se numa espécie de parque de diversões saltando a ondulação com grande velocidade, o que nos deixou divertidos, mas também encharcados. Fizemos ainda um pequeno desvio para seguir uma jamanta oceânica perto da superfície, acompanhada por um imenso cardume de peixes.

Chegados à marina com uma sensação de cansaço, mas, sobretudo, com uma tremenda satisfação por aquela aventura, num contacto direto com um ambiente genuinamente selvagem, algo que não encontramos com frequência.
Aproveitámos aquela hora de um dia tão bonito para nos sentarmos a almoçar numa das esplanadas daquela marginal junto à marina.



Tínhamos passado a manhã no mar e quisemos aproveitar o dia de sol para fazermos o final da tarde numa das praias locais, e escolhemos aquela que é, certamente, a mais bonita das praias da ilha, o Ilhéu de Vila Franca do Campo.

Mas, ao chegar a Vila Franca, fizemos ainda um pequeno desvio até à Ermida da Nossa Senhora da Paz, uma pequena igreja com uma escadaria decorada com painéis de azulejo mostrando imagens da representação da Via Sacra, que se localiza sobre a encosta atrás de Vila Franca e com uma vista magnífica sobre o ilhéu.
A igreja atual foi construída no século XVIII e foi erguida sobre o templo original, que remonta possivelmente ao século XVI, no mesmo local onde, segundo a tradição, um pastor terá encontrado uma imagem da Virgem numa gruta.
 
Descemos depois até ao porto e comprámos os bilhetes da travessia até ao ilhéu (5€ por pessoa, ida e volta... em 2017). O Ilhéu de Vila Franca do Campo tem uma lotação limitada de 400 pessoas, mas a meio da tarde é mais fácil conseguirmos lugar, quer no ilhéu quer no barco.

Os barcos saem à hora certa e regressam 10 min depois, e nós resolvemos sair no barco da 16h e regressar no último barco, às 18h10, ficando o tempo suficiente para um final de tarde numa praia que fica ainda mais bonita ao entardecer.
A praia é lindíssima, com uma beleza única e completamente natural, e a temperatura e transparência das águas, torna-a bastante agradável para uns mergulhos e umas boas braçadas.
Aproveitámos cada minuto no ilhéu até à hora da saída do último barco, quando os tons do fim da tarde tornavam o ilhéu ainda mais bonito e já quase sem banhistas.
Na última carreira do barco o comandante resolveu presentear-nos com uma volta completa ao ilhéu, em vez do habitual percurso, que vai direto para Vila Franca em menos de 10min. Desta vez pudemos observar todo o contorno da pequena ilha, passando pela zona que é atualmente o ex-líbris deste local, e até da ilha São Miguel, a zona do grande penhasco que é adaptada para saltos integrados no circuito internacional Red Bull Cliff Diving, onde os melhores mergulhadores do mundo saltam para a água de uma altura de 27m (21m para as senhoras). A última etapa deste circuito tinha passado pelo ilhéu há apenas três semanas e os relatos da tripulação do barco e de alguns residentes eram ainda entusiasmados.
Abandonámos o ilhéu deixando para trás uma silhueta deslumbrante que nos era revelada por aquele fim de tarde perfeitamente maravilhoso.
Chegados a Vila Franca quisemos ainda experimentar a iguaria gastronómica local, as queijadas, que se podem provar na Fábrica de Queijadas do Morgado, que oferece uma agradável esplanada perto do mar. As queijadas são uma delícia e ideais para acompanhar uma cerveja bem fresquinha, tornando aquele final de tarde ainda mais apetecível.

Seguimos depois pela costa até à zona da Caloura e fizemos ainda duas paragens. Primeiro numa das praias de areia escura que surgem nesta costa, a Praia de Água d'Alto e, depois, no Miradouro do Pisão, onde é visível a piscina localizada bem no centro da baía da Caloura, que é uma das atrações desse local.

Descemos, entretanto, até à Caloura, atualmente uma das zonas de referência de toda a ilha como local de veraneio, bastante frequentada, quer por turistas quer pelos habitantes locais.

Para além da piscina e dos banhos de mar, a maior atração desta zona é o Bar da Caloura, uma esplanada sobre a baía que parece ser bem agradável, mas que se encontrava completamente esgotada e com uma fila imensa de gente à espera de entrar. Parece-me claramente um daqueles locais sobrevalorizados por estar na moda, e porque se tomam uns gins e se comem uma lapas, mas nada que justificasse uma procura tão desenfreada... digo eu, mas não entrei lá, se calhar é mesmo um bar espetacular.

De qualquer forma tínhamos outros planos para jantar e não nos afetou o facto do Bar da Caloura estar a abarrotar e ficámo-nos apenas pelas bonitas paisagens que esta zona oferece.




Um novo dia em que o sol se tornava indispensável para que a beleza dos locais que íamos visitar fosse devidamente revelada.

Neste percurso fomos explorar a zona Oeste da ilha, onde se encontram alguns dos principais pontos de interesse, como é o caso da famosa Lagoa das Sete Cidades.

Começámos um pouco antes, mas logo com paisagens deslumbrantes que essa zona da ilha nos brinda.
As primeiras paragens foram no Miradouro do Pico do Carvão e junto ao Aqueduto do Carvão, apenas um aperitivo para o que o dia tinha para nos oferecer.

Subimos depois até à Lagoa das Empadadas e à Lagoa das Éguas. São lagoas lindíssimas e pouco frequentadas, porque não estão ainda muito divulgadas. Vale bem a pena fazer este pequeno desvio e ficar algum tempo, aproveitar para fazer uma caminhada fácil à volta das duas lagoas.

Na rampa de acesso a estas lagoas está um sinal que informa que o acesso só deve ser feito com viaturas 4x4. Na verdade, a menos que esteja a chover muito, mas, neste caso, as próprias lagoas perdem todo o interesse, qualquer viatura, mesmo de gama mais baixa, consegue lá chegar, o acesso é íngreme mas está pavimentado.

Alguns quilómetros depois chegámos à Lagoa do Canário e podemos entrar com o carro num caminho de terra batida que nos conduz ao trilho de acesso ao Miradouro da Grota do Inferno.

Daí saímos a pé, um percurso fácil de menos de 1 km, e vamos encontrar uma das vistas mais fantásticas da ilha, tendo à nossa frente a imensa cratera da Lagoa das Sete Cidades onde se enquadram outras lagoas, como a Lagoa de Santiago, e ao fundo surge o mar contornando a ilha.
Este é daqueles lugares onde nos apetece ficar algum tempo, escolhermos um lugar para ficarmos sentados e permanecermos por ali, apenas a observar e a inspirar aquele ar puro. Felizmente este lugar ainda não atrai os autocarros de turistas como outras zonas da ilha e, por isso, podemos desfrutar a paz de um lugar tão inacreditável como este... não deixem de aproveitar esta sensação inesquecível. 
Ao sairmos desta zona fizemos uma paragem na Lagoa do Canário que, estranhamente, nos parece agora uma lagoa perfeitamente vulgar, face à exuberância dos lugares que visitámos nas últimas horas.
Já de novo na estrada nacional chegámos até ao Miradouro da Vista do Rei, o melhor local para contemplarmos a Lagoa das Sete Cidades.

Num dia bonito como este consegui, pela primeira vez em três visitas ao local, descortinar a diferença de cor das águas de cada uma das lagoas, a Lagoa Azul e a Lagoa Verde.
A caldeira das Sete Cidades tem um diâmetro de cerca de 5 km e a sua lagoa ocupa uma vasta área de mais de quatro quilómetros quadrados e chega a uma profundidade de 33 metros, o que faz desta lagoa a maior reserva de água dos Açores.

É uma área importante em termos de vegetação, mantendo ali muitas das espécies endémicas do arquipélago, como o cedro-do-mato, o azevinho local e muitas outras.

A lagoa é, na verdade, formada por duas lagoas separadas numa zona estreita onde existe a ponte que liga as duas margens, e têm a particularidade das suas águas apresentarem cores diferentes, de um lado um espelho de águas de tom esverdeado e, do outro lado, as águas com tom azulado. Apesar dessa coloração só ser percetível em dias de sol, não deixa de ser mais um elemento a contribuir para uma beleza admirável de toda a paisagem envolvente. Esta ocorrência inusitada deu mesmo lugar a que surgissem lendas sobre a sua origem e formação, mas a diferença de coloração resulta, na realidade, dos diferentes tipos de algas que ocupam os fundos das duas lagoas.

Conta, no entanto, a lenda que uma princesa se apaixonou por um pastor, um amor impossível que teria de acabar necessariamente com a separação forçada pela família real. No encontro de despedida, os dois apaixonados choraram tanto que junto aos seus pés, aos poucos, foram crescendo duas lagoas. Uma com águas de cor azul, das lágrimas derramadas pelos olhos azuis da princesa. A outra, de cor verde, nasceu das lágrimas derramadas dos olhos verdes do pastor. Reza a lenda que se os dois apaixonados não puderam viver juntos para sempre, pelo menos as lagoas nascidas das suas lágrimas ficaram juntas e jamais se separaram.

Voltando ao mundo real, no Miradouro da Vista do Rei a panorâmica sobre a lagoa encontra-se um pouco ofuscada por uma grande quantidade de plantações de hortenses, que cortam o angulo de observação, o que nos deixa um pouco frustrados. No entanto, temos a hipótese de subir ao interior do edifício do antigo hotel Monte Palace que ali continua abandonado há muitos anos.

Ainda antes de falar da paisagem não posso deixar de lamentar como é que se permite que um edifício se mantenha em ruínas desde 1991, numa das localizações mais nobres da ilha, dando uma imagem, não só dos Açores, mas mesmo do país, que nos envergonha a todos.

De qualquer forma, e enquanto o acesso àquele elefante branco estiver sem qualquer restrição, o que é perfeitamente inacreditável, nomeadamente, pela total ausência de condições de segurança, podemos sempre subir a um dos pisos mais elevados e contemplar, aí sim, a vista completa da extraordinária Lagoa das Sete Cidades... mas com cuidado, pela vossa saúde!
Contemplar uma paisagem é algo que, por vezes, deve ser feito de forma demorada. Deixar-nos ficar sem movimento e sem pressas, só pelo prazer que nos é dado pela observação de imagens tão grandiosas. Do alto daquela imensa cratera de um vulcão extinto há séculos é essa a sensação que se experimenta, uma beleza sublime que nos faz apetecer ficar a contemplar demoradamente.

Mas algum tempo depois acabámos por voltar ao carro e descemos a estrada que nos levou ao interior da cratera.

Já em plena descida encontramos à direita o Miradouro do Cerrado das Freiras, com vista sobre a lagoa das Sete Cidades e, um pouco mais a baixo, do lado esquerdo, um miradouro sobre a Lagoa de Santiago, uma lagoa rodeada por uma floresta cerrada, de um verde vivo, tal como o seu espelho de água.

Nesta descida ao longo da cratera do vulcão até às Sete Cidades atravessamos um vale que é um dos grandes prados de pastagem da ilha, com manadas de vacas leiteiras pastando e com o adorno das plantações de hortenses floridas, numa paisagem que é a típica imagem de marca desta ilha. Por todo o lado somos confrontados com estas imagens de prados verdejantes que são a principal referência de São Miguel, mas é nesta zona que os campos de pastagem mais abundam e é por isso que resolvi abrir aqui este parêntese para mencionar a paisagem rural da ilha... de hortenses, prados verdejantes e das chamadas “vacas felizes”.


Chegados à ponte das Sete Cidades a lagoa perde o impacto que nos emociona quando a contemplamos lá do alto. Agora parece-nos apenas um lago bonito e calmo. As duas lagoas são contornadas por uma estrada estreita que nos permite fazer todo o tipo de percursos... a pé, de bicicleta ou de carro, em algumas zonas. O espaço é tranquilo e melancólico e sugiro uma caminhada à descoberta ao longo das lagoas, pode não ser longa, podem levar o carro para trajetos maiores e complementando depois com uns passeios a pé. É um local que vos vai tranquilizar, um sítio apropriado para reflexão e meditação.
Depois de relaxarem um pouco junto ao espelho de água da lagoa devem agora partir para junto do mar, que fica bem perto, a poucos quilómetros, e continuem o relaxamento observando aquele oceano azul forte e fixem lá bem ao fundo a linha do horizonte.

A paragem que fizemos foi próxima da Ponta da Ferraria, com vista para o Farol, a Sul, e para os rochedos da Ferraria, do lado Norte, junto ao edifício das termas e perto do Pico das Camarinhas, um pequeno pico constituído por um cone de escória, formando uma cratera minúscula.

O Pico das Camarinhas nasce sobre a fajã lávica na Ponta da Ferraria, na base de uma arriba fóssil, onde se encontra o SPA termal das Termas da Ferraria, que incluem uma piscina natural, onde a água do mar é aquecida por nascentes termais.

Continuando pela costa em direção ao Norte da ilha parámos no Miradouro da Ponta do Escalvado, que nos mostra uma panorâmica lindíssima, revelando os Ilhéus dos Mosteiros frente à praia de vila. Uma praia com areia de uma cor tão preta que até nos pareceu que teria sido obtida esmigalhando alguns milhares de bolachas Oreo.

Ainda na vila dos Mosteiros, mais à frente, passámos por outra atração de veraneio deste local, as Piscinas Naturais dos Caneiros, que se formam nos rochedos de lava que vão definindo pequenas piscinas com água do mar, alimentados pelas ondas.
Depois dos Mosteiros entrámos na zona da Bretanha, ao longo da costa Noroeste da ilha. Esta zona terá sido em tempos povoada por comunidades de origem francesa e é daí que lhe surge o nome da região francesa. Mas é também essa presença francesa que terá marcado o atual sotaque açoriano e, repare-se, que esse sotaque, que associamos ao arquipélago, na verdade, é apenas uma característica da ilha de São Miguel. Se pensarmos na sonoridade da língua portuguesa e lhe dermos o arrastado, meio cantado, do sotaque francês e ficamos com a pronúncia açoriana que conhecemos.

Nesta zona da costa Norte da ilha não se encontram grandes atrativos a menos de alguns miradouros e de algumas povoações.

Assim, parámos apenas no Miradouro da Covilhã, ainda na Bretanha e, depois, já na vila de Capelas, o Miradouro do Porto das Capelas, onde terminámos este percurso voltando diretamente para Ponta Delgada.




Tenho vindo a falar da necessidade de termos dias de sol para que as paisagens sejam valorizadas, mas, neste dia, embora o sol ajudasse, não será tão indispensável, e foi por isso que selecionámos este percurso quando o dia acordou enevoado e a chuviscar.

Começámos o dia bem cedo por Ponta Delgada. Não pela cidade, que visitámos sempre ao final do dia, como explico mais à frente, nem pelas pastelarias que a cidade tem, porque era aí que fazíamos os pequenos-almoços diariamente.

Começámos pelo Mercado, não chegámos a fazer compras, por opção, mas era ali que as poderíamos fazer, para comprar ananases e frutas dos açores ou para ir à loja do Rei dos Queijos.

Ainda dentro da cidade de Ponta Delgada fomos visitar as Estufas de Ananases Augusto Arruda. Com mais de 100 anos de história, a plantação Augusto Arruda é uma espécie de museu. As visitas, que são gratuitas, levam-nos a conhecer várias estufas com todas as fases do crescimento do ananás. Levam-nos também à Gift Shop para provar o Licor de Ananás, uma receita da família exclusiva da Plantação, bem como outros produtos transformados do ananás.


Saímos depois na direção das Furnas seguindo a estrada pela costa Norte e fazendo a primeira paragem vários quilómetros depois, já no Miradouro do Pico do Ferro, para contemplar a paisagem da Lagoa das Furnas.

Em baixo, entre encosta da cratera do vulcão das furnas e a beira da lagoa, são visíveis as chamadas fumarolas, uma zona de terras fumegantes e com cheiro a enxofre, local onde há já várias horas cozinhava o panelão do cozido que iríamos almoçar mais tarde.
A vista do Miradouro do Pico do Ferro é das mais bonitas da ilha. O vale das Furnas, em tons de um verde vivo, não é bem um vale, mas uma cratera com 7 km de diâmetro, última memória de um vulcão há muito inativo, onde descansa o imenso espelho de água da Lagoa das Furnas.

Descemos depois até à povoação das Furnas, estacionámos o carro e fizemos a pé os restantes trajetos dentro da vila.
Começámos por entrar no Parque Terra Nostra, um jardim com mais de duzentos anos e com uma quantidade incrível de plantas endémicas e outro tipo de árvores, flores e plantas, incluindo, por exemplo, uma das mais notáveis coleções do mundo de camélias de diferentes espécies, ou a maior coleção da Europa de Cycadales. É um parque grandioso e de beleza ímpar, uma referência paisagística e ponto obrigatório no roteiro turístico da ilha de São Miguel.

A entrada custa 8€ por pessoa e permite entrar, sair e voltar a entrar, se isso nos der jeito. Permite também o acesso à piscina do parque, ou tanque de água termal, cuja construção remonta ao ano de 1780, que é alimentado por águas ferrosas quentes, que brotam diretamente da terra a cerca de 38ºC.

O mergulho nesta piscina é bastante curioso, porque as águas naturais são opacas, de um castanho-alaranjado de tanto ferro, e bem quentes, tal como saem da terra. Faz-nos muita impressão entrar naquela água, mas depois sentimo-nos bem. No final parece que fizemos um tratamento de pele, que fica macia e aveludada. Atenção com o fato de banho a utilizar, que deve ser velho ou muito escuro. O parque tem uns balneários para troca de roupa e um chuveiro na rua, mas que permite tirar a água castanha do corpo e só depois é que nos podemos limpar, se não queremos estragar também a toalha.

Uma das atrações turísticas das Furnas é o cozido feito nas fumarolas de vapor que brotam da terra. As panelas são fechadas e colocadas nuns poços existente nas terras fumegantes, e tapados com terra, ficando a cozinhar cerca de seis horas até apurar o paladar de um cozido que é muito semelhante ao cozido à portuguesa, embora mais pobre de enchidos. Os vários restaurantes da vila deixam as suas panelas devidamente assinaladas às 6h da manhã, e recolhem-nas ao meio-dia para as levar para preparação e serviço dos almoços. Já conheci outros restaurantes, mas sugiro aquele de eu mais gostei, o Miroma, onde o cozido se aproxima mais do nosso cozido à portuguesa.

Miroma - Rua Dr. Frederico Moniz Pereira 15, Furnas (Cozido das Furnas) - 296 584 422

O cozido é muito bom, embora, como já referi, não atinge o nível dos melhores cozidos à portuguesa, que são sempre mais ricos. É bem servido o que permite que se dividam as doses, caso contrário vão apanhar uma enorme barrigada que vai ser difícil digerir, sobretudo porque a vila tem uma série de sítios a cheirar a enxofre que vos pode indispor se estiverem com o estômago assim tão cheio. Ao almoço não deixem de acompanhar com o pão local, ou pão de lêvedo, com um paladar ligeiramente adocicado, mas que vai bem com o cozido.
Um outro ponto a visitar nesta vila é a zona das Caldeiras das Furnas, onde várias bolsas de água fervente vão borbulhando, são pequenas caldeiras em ebulição de onde vai saindo um fumo intenso e mal-cheiroso. Estamos ali numa proximidade desconfortável do poder de um vulcão, inativo, mas, pelos vistos, não definitivamente extinto.
Ainda na vila das furnas, cruzamo-nos com as restantes atrações, a igreja e o ribeiro que atravessa a vila.

As Fumarolas das Furnas estão situadas junto à lagoa e têm um acesso pedonal através de passadiços de madeira que nos permitem chegar perto das terras fumegantes e caldeiras de águas ferventes, sinais de uma terra vulcânica ainda ativa. Debaixo destas terras foram criados buracos para se fazerem os tais cozidos das furnas, sendo visíveis as placas de cada um dos restaurantes da vila.

O acesso é condicionado e paga-se a entrada e o estacionamento, 50 cent. por pessoa e 80 cent. pelo carro.

A Lagoa das Furnas está localizada no fundo da imensa cratera deste vulcão, já inativo há séculos. A lagoa, tal como a vegetação que cobre as encostas da cratera, pode ser percorrida parcialmente de carro, mas, sobretudo, através dos trilhos pedonais que permitem explorar toda a área envolvente da lagoa, permitindo desvendar alguns dos mistérios que aquela zona parece esconder.


Na margem desta lagoa encontra-se uma das mais curiosas igrejas da ilha, a Capela de Nossa Senhora das Vitórias, cuja origem remonta ao ano de 1886.
Terminada a visita à zona das Furnas continuámos para Ponta Delgada, escolhendo desta vez a estrada pela costa Sul, passando por Vila Franca do Campo e por Lagoa.

No entanto, logo à saída das Furnas fizemos um novo desvio para mais uma Lagoa, a última desta viagem, a Lagoa do Congro.

Esta lagoa encontra-se totalmente rodeada por vegetação densa, de tal forma que só nos apercebemos da sua presença porque existe uma placa que assinala o local, e porque este vem referido no GPS. Deixámos o carro e começámos a descer ao longo da encosta interna da cratera, seguindo um trilho íngreme e estreito e ainda sem vislumbrar a existência da lagoa. Só mesmo ao chegarmos ao nível do espelho de água é que conseguimos perceber a existência da lagoa. Muito fechada por uma floresta cerrada, muito verde, com águas límpidas e muito tranquilas.



Neste texto junto as cidades aos restaurantes porque decidimos conhecer as cidades principais da ilha já nos finais de tarde, a caminho dos restaurantes onde jantámos. Basta marcar o jantar às 21h e chegar à cidade uma hora antes, e será suficiente para conhecer as ruas e praças mais interessantes que as cidades de São Miguel nos têm para oferecer.

Talvez esteja a ser demasiado redutor, mas, nesta ilha, o prato forte é a paisagem natural e não as suas cidades, que apresentam a arquitetura típica do arquipélago, com edifícios predominantemente em branco, adornados a preto, do basalto, a rocha vulcânica mais comum na ilha.

É assim em Ponta Delgada, na Ribeira Grande e em Rabo de Peixe, as três cidades que visitámos enquanto esperávamos a hora de jantar.

A escolha dos restaurantes, e a respetiva reserva, é algo que deve ser feito com alguma antecedência, não deve ser deixado em cima da hora, porque os poucos restaurantes recomendáveis esgotam com facilidade.

Para um programa de referência de quatro noites vou deixar aqui a recomendação de qutro restaurantes (mas experimentámos mais alguns que não vou mencionar por não termos achado uma escolha perfeita).


Ponta Delgada:

A capital da região apresenta uma marginal recentemente remodelada, com as chamadas Portas do Mar, na envolvente da marina de recreio, atualmente cheia de esplanadas ao ar livre, com bares e restaurantes.

A zona da baixa mais tradicional desenvolve-se por detrás da avenida marginal, em torno da Portas da Cidade e da Igreja Matriz, numa envolvente com uma série praças e ruas sem trânsito bastante movimentadas, com bares e restaurantes.



Mencionamos aqui os dois restaurantes de que mais gostámos na cidade, o Alcides e A Tasca.

A Tasca - Rua do Aljube 20 (Tapas, petiscos regionais e bife de atum) - 296 288 880

Há vários petiscos que podemos saborear na Tasca, um restaurante muito agradável, com ambiente informal e boa comida, como o recomendado bife de atum, as lapas ou os pratos de polvo. Mas vou escolher duas entradas que também se encontram noutros restaurantes, nomeadamente no Alcides. O Queijo Fresco, que numa ilha com tantas vacas leiteiras tinha que ser soberbo, e é mesmo. E a Morcela com Ananás, que combina o paladar apurado da morcela regional frita ao ananás local, que aqui é bem docinho, ao contrário do que acontece aos ananases dos Açores quando são trazidos para o continente, que são sempre muito ácidos. A combinação é perfeita, não deixem de experimentar, neste ou noutro restaurante.

Alcides - Rua Hintze Ribeiro 67 (Bife Regional) - 296 629 884

No Alcides não deixem de experimentar a melhor carne que se pode comer em todo o nosso país. Não conheço nada melhor (a menos da Associação Agrícola de São Miguel, que tem um bife muito semelhante). Um bife do lombo (uma dose de 19€ tem mais de 300 g de carne suculenta), que dará para dividir por dois, embora seja uma tentação comer sozinho um bife inteiro daqueles, porque é algo que não se esquecerá....sobretudo se for pedido mal-passado, não inventem com o médio e, por favor, não o estraguem pedindo bem-passado....se for assim, mais vale pedir outra coisa ou ir o McDonalds (percebe-se que estou com água na boca só de escrever este texto?).

Atenção que já fiz em casa e ficou muito bom, não igual, mas muito bom. A receita é simples, um bom naco de lombo só com sal grosso... não vale a pena experimentar com vazia ou outra coisa qualquer... fazer um molho de azeite e manteiga em lume brando a fritar dentes de alho inteiros, levemente esmagados e ainda com pele, uma folha de louro e pimento vermelho já assado... quando o molho está apurado aumenta-se a chama e frita-se o bife, só um bocadinho de cada lado para deixar o interior quase cru, mantendo os sucos da carne. Acompanha com batata frita ou batata assada, e vai otimamente com um tinto....mas, que me perdoem os produtores de vinho açoriano, acho que irá melhor com um bom Douro.


Ribeira Grande:

É uma das cidades principais cidades da ilha, talvez a segunda. A zona mais interessante da cidade concentra os seus principais monumentos, o edifício da Câmara Municipal, a praça e a Igreja da Nossa Senhora da Estrela, e o Jardim Municipal que acompanha a descida da Ribeira, atravessada pela Ponte dos Arcos.



Alabote - Largo East Providence, 68  (Cataplana de Peixe) - 296 473 516

Descendo ao longo da Ribeira até ao mar chegamos ao Largo East Providence onde fica o melhor restaurante da cidade e um dos melhores da ilha, o Alabote. Numa ilha é natural que os pratos de peixe sejam uma referência gastronómica. Nesta ilha em particular a carne de vaca acaba por ter o principal protagonismo, mas há também excelentes pratos de peixe. De todos os restaurantes de peixe e marisco que conhecemos em São Miguel, o Alabote é talvez o melhor e mais requintado... embora não o mais barato. Uma das melhores formas de comer peixe, que aqui servem com grande qualidade, é numa cataplana de peixe e marisco, que recomendo.


Rabo de Peixe:

A vila piscatória de Rabo de Peixe é uma das referências da ilha por ser um dos portos de pesca mais importantes. A população é bem característica da comunidade de pescadores, que trazem o rosto bem marcado pelos traços da pobreza e da dureza de uma vida no mar. A vila é formada por bairros de pescadores e, nas ruas principais, junto à Igreja do Bom Jesus, está preenchida por tascas e tabernas cheias de pescadores, que vão matando o tempo até que uma nova saída para o mar lhes possa garantir o sustento das famílias.


Associação Agrícola de São Miguel - Recinto da Feira, Rabo de Peixe (Bife Regional) - 296 490 001

No Campo do Santana, no Recinto da Feira de Rabo de Peixe, a 2 km da vila, fica o restaurante da Associação Agrícola de São Miguel. Tem um ótimo aspeto e um bife igual ao do Alcides, ou seja, partilha o primeiro lugar no concurso para a melhor carne portuguesa. A mesma receita, o mesmo paladar... só que aqui o bife vem ainda maior, com 400 g, e por um preço de 22€ o prato. Este não há dúvida que é mesmo para partilhar... mas vi várias pessoas a comer um bife inteiro... gordos!

Terminámos assim uma viagem extraordinária, uma aventura e também uma emoção. Explorámos uma ilha lindíssima com alguns dos lugares mais fantásticos que podemos encontrar no nosso país. Quem não conhece não pode deixar de visitar esta ilha maravilhosa.


Carlos Prestes