sábado, 28 de julho de 2012

Madrid, Parque Warner e Toledo

(fim-de-semana grande em Julho de 2012)

No final de Julho de 2012 partimos em direção a Madrid para um fim-de-semana prolongado em que visitaríamos a cidade e levaríamos os miúdos ao Parque da Warner Brothers. Ao longo do percurso que fazemos entre Portugal e Madrid, há sempre a possibilidade de fazermos um pequeno desvio para visitar a bonita cidade de Todedo. Na verdade, não foi o que fizemos neste fim-de-semana, mas já o tínhamos feito noutras viagens e voltámos a fazê-lo no ano de 2016, pelo que vou  juntar a visita a toledo a esta crónica sobre Madrid.

Desta vez, além da minha família completa, incluindo as minhas quatro filhas (Alice, Madalena, Beatriz e Marta), foram também o Pedro Vasco e a Fátima com os dois miúdos. 

A viagem que vou aqui descrever segue, mais ou menos, o percurso representado neste mapa... para além da ligação até Lisboa com cerca de 500km:


MADRID

Ao longo dos anos tenho visitado a cidade de Madrid com alguma frequência, tendo acompanhado a sua evolução e modernização, desde a minha primeira visita, em 1984, quando, numa paragem de um só dia no início do meu primeiro inter-rail, esta cidade me deslumbrou, sobretudo porque, nessa época, Lisboa era ainda uma cidade meio tristonha, quando comparada com a exuberância madrilena.

Nesta viagem em 2012 Madrid já não deslumbrava assim tanto, mas continuava ainda a ser uma cidade cheia de pontos de interesse que mereciam ser visitados. E foi o que decidimos fazer, nos dois dias que iriamos estar em Madrid, escolhemos um conjunto de trajetos que nos iriam levar aos locais principais da cidade, e que estão localizados como se representa no seguinte mapa:

Dia 1:
Depois de uma viagem madrugadora atravessando meia península, começámos a nossa visita à cidade bem no coração do centro de Madrid, preparando uma caminhada que se avizinhava longa e cansativa, sobretudo para os miúdos, por isso tínhamos que ir parando constantemente para que o passeio se tornasse suportável.
O percurso começou pela Plazza de las Cortes, adornada pela simbólica Fuente Neptuno, na imensa avenida que corta a cidade de lés-a-lés, o Paseo del Prado, que liga depois, mais acima, com o famoso Paseo de la Castellana.
Fizemos um pequeno percurso, ignorando o Museo del Prado, que ficaria para depois, e entrámos no imenso Parque del Retiro. É um jardim enorme, um autêntico pulmão da cidade, frequentado pelos madrilenos no Verão como refúgio das temperaturas elevadas que quase derretem a cidade.
O parque inclui uma área de jardim de 118 hectares com zonas exóticas e peculiares, como o jardim de árvores esculpidas, que surge logo à entrada.

A imensa zona verde é dominada por um lago enorme, quase sempre com pequenos barcos a remos com turistas ou madrilenos, que se tentam refrescar ou aproveitam para namorar.
O Parque do Retiro teve a sua origem no século XVII e inclui, para além dos lagos e zonas ajardinadas, uma coleção de esculturas e alguns palácios e monumentos. É um local acolhedor onde apetece parar junto ao lago, à sombra, saboreando um gelado comprado nos muitos quiosques que se vão encontrando.

Foi isso que fizemos, percorremos o parque demoradamente, sem pressas, compensando a hora do calor com a brisa fresca que se sente à sombra do imenso arvoredo. 
Saímos do Parque pela Calle de Alcalá junto à Puerta de Alcalá, um monumento do século XIII constituído por um pórtico, com duas portas retangulares e três arcos, construído à época para servir como porta de entrada da cidade.
A 300 metros mais abaixo encontramos uma das praças mais emblemáticas de toda a cidade, a Plaza Cibeles. A praça, que é também uma rotunda rodoviária muito movimentada, é dominada pelo Palácio de Comunicaciones, ou Palácio Cibeles, inaugurado em 1919 para funcionamento duma moderna, à época, central de distribuição de correios.

No centro da rotunda localiza-se a famosa Fonte de Cibeles, um dos símbolos da cidade desde os finais do século XVIII, quando foi esculpida.

Atualmente esta praça tem uma outra utilização, também ela simbólica. É aqui que os adeptos de futebol do Real de Madrid festejam os seus títulos. Recentemente também a seleção espanhola conseguiu várias conquistas no futebol mundial e foi na Plaza Cibeles que decorreu o centro dos festejos dessas vitórias, fazendo da praça como um local oficial para as grandes comemorações (de notar que o Atlético de Madrid continua a festejar as suas vitórias na Fuente de Neptuno, 500m mais abaixo). 
Seguindo pela Calle de Alcalá, deixámos a Gran Via à nossa direita e fomos subindo até praça central da cidade, a Plaza de la Puerta del Sol. No local de confluência entre a Gran Via e a Calle de Alcalá encontramos um dos edifícios mais belos de toda a cidade, o Edifício Metropolis. 

Trata-se de um prédio lindíssimo, projetado em 1905 pelos arquitetos franceses Jules e Raymond Février para abrigar a seguradora La Unión y el Fénix, seguindo o estilo Beaux-Arts, com destaque para a cúpula com frisos dourados, onde se ergue a estátua da deusa Vitória alada.
Depois de termos já caminhado mais de três quilómetros, aproveitámos para uma pausa retemperadora, para mais um gelado, desta vez para os adultos, e uns grazinados para as crianças, numa esplanada onde nos apeteceu ficar observando a cidade que despertava duma longa siesta, retomando o seu ritmo frenético habitual.

Depois desta pausa ganhámos coragem para voltarmos à estrada e subimos até à Puerta del Sol, um dos centros nevrálgicos desta cidade e uma das suas praças mais famosas e concorridas. O edifício mais marcante da praça e também o mais antigo, é a Casa Real de Correos, com a sua emblemática torre do relógio, que, nas passagens de ano, é utilizado para a contagem decrescente até à meia-noite, seguida ruidosamente pelos milhares de madrilenos que ali se juntam nesse evento.
A praça atrai todo o tipo de visitantes por ser o principal centro da cidade e tem ainda outros atrativos, desde logo, a escultura do Oso y el Madroño (o Urso e o Morango), inaugurada em 1967 para representar os símbolos heráldicos da cidade de Madrid, sendo muitas vezes considerada como o próprio símbolo da cidade. 
Uma outra marca da Puerta del Sol é o facto de estar ali materializado o ponto do km zero de todas as estradas espanholas. 

Mas é também desta praça que saem as principais ruas de comércio, como as Calle de la Montera ou as Calles Preciadas e del Carmen, ruas pedonais onde ficam algumas das principais lojas da cidade.

Foi deambulando por estas ruas que entrámos na grande avenida desta zona da cidade, a Gran Via. É uma importante zona comercial e de negócios, mas também turística e de lazer, onde se encontram, por exemplo, as principais salas de teatro e cinema da cidade.


Percorremos toda a avenida até chegarmos a uma outra praça emblemática de Madrid, a Plaza de España. A praça é também um grande jardim e é dominada por um imponente edifício, com a sua fachada em branco e cor-de-tijolo, junto à Calle de la Princesa.
Em pleno jardim, existem algumas esculturas em homenagem ao escritor Miguel de Cervantes, como a estátua de Dom Quixote de la Mancha, sobre o seu cavalo Rocinante, e com o seu companheiro de aventuras, Sancho Pança.
Atingimos o entardecer exaustos de tanto caminhar sob um calor intenso, mas também completamente compensados por tanta informação e tanta intensidade num único dia. Mas os mais miúdos começavam já a questionar se ainda faltava muito para o restaurante onde iríamos jantar... o que é bem natural!

Mas já nem faltava assim tanto, logo ali estavam os jardins do Palácio Real, com o edifício majestoso da Casa Real Espanhola. Também designado como Palácio Oriente, é a residência oficial do Rei de Espanha. 

Neste mesmo local, durante a ocupação árabe, foi mandada construir uma fortificação muçulmana, pelo Emir de Córdova, Maomé I. Mais tarde, o Rei Filipe V ordenou que se construísse um palácio no mesmo local, que passasse a simbolizar o poder da casa de Bourbon, no domínio da monarquia espanhola. A construção decorreu nos finais do século XVIII.

O Palácio localiza-se na envolvente dos Jardines de Sabatini e da Plaza de Oriente, em frente ao Teatro Real e à Opera. Logo ao lado, separado apenas pela praça pedonal de la Almeria, fica a imponente Catedral de la Almudena, a sede episcopal da diocese de Madrid.

Toda esta zona respira história. Parámos algum tempo e enquanto os miúdos apreciavam alguns espetáculos de rua, fomos observando a arquitetura monumental dos edifícios e, sobretudo, o palpitar de uma cidade que se preparava para cumprir uma noite quente de sábado, que será certamente, como é sempre em toda a Espanha, um acontecimento. 

Mergulhámos depois na teia de ruelas pitorescas que são também uma esplanada contínua, onde se pode parar para uma copa e uma tapa, ou mesmo para jantar. Ainda deambulámos por algumas dessas ruas e praças, inspirando a sensação de fazer parte daquela vertigem noturna, mas depois decidimos escolher o local certo onde pudéssemos parar para jantar.

Passámos por alguns dos locais de referência para passar a noite a tapear, como é o caso do Mercado de San Miguel, mas que estava completamente lotado e chegámos a entrar na imensa Plaza Mayor, também ela cheia de esplanadas, quase todas ocupadas.
Optámos por uma das esplanadas de rua e voltaríamos depois à Plaza Mayor, que merece uma visita mais demorada. 

Parámos então para um descanso já mais que merecido e começámos a picar algumas das iguarias da carta, desde os revueltos às tábuas de quesos e ibéricos, dos pimentos às tortilhas, das patatas bravas às calamares… e muito mais, que fomos experimentando pela noite fora… acompanhando com uns ice-teas, para os miúdos, e várias cañas para nosotros.

Não foi certamente dos melhores restaurantes nem das melhores refeições que já experimentámos, mas naquela noite quente na frenética Madrid, duvido que houvesse outra refeição que nos pudesse saber tão bem como aquela nos soube.

Ficámos o tempo necessário para recuperar forças e saciar o apetite... e a sede, claro, e voltámos ao labirinto das ruas, ainda e sempre cheias de espanhóis que vão chegando e ficando pela noite fora, e entrámos depois de novo na Plaza Mayor.

É uma praça retangular, com 129m por 94m, rodeada por edifícios de três pisos, todos com a mesma traça arquitetónica, com arcos no piso térreo, onde funcionam restaurantes e outras lojas tradicionais. As entradas e saídas na praça são feitas através de 9 pórticos, que a ligam às ruas envolventes.

No empedrado da praça há centenas de pessoas, andando ou paradas, a observar o movimento, ou sentadas numa das muitas esplanadas que preenchem grande parte de praça.

A noite caiu e cada vez o movimento se tornava mais denso, os espanhóis são mesmo assim, vivem sempre a noite com grande intensidade. Tínhamos ainda que chegar ao carro e descemos pela Calle de Alcalá, logo depois das Puertas del Sol, revisitando alguns dos locais por onde tínhamos passado, mas agora com a nova roupagem com que a noite vai vestindo a cidade.

À noite a cidade adquire quase sempre uma outra personalidade, como se fosse uma cidade realmente diferente, mais mágica, mais brilhante e, certamente, mais acolhedora, sem as temperaturas escaldantes do dia. Por isso o passeio de volta foi muito mais agradável e nem nos apetecia terminar já este dia... que foi enorme, nem acreditamos que ainda esta manhã tomávamos o pequeno almoço em casa… diria que já estou em Espanha há vários dias.

Chegámos ao carro, perto da Fuente de Cibeles, fechando um dia que foi inesquecível… muito pelo esforço que foi despendido ao longo de várias horas, mas sobretudo pelas recompensas que obtivemos em troca.


Dia 2:
Dispúnhamos ainda deste dia para conhecer, ou revisitar, alguns dos locais mais interessantes da cidade de Madrid, neste caso tínhamos programado umas visitas muito específicas e fomos diretamente para o primeiro local que tínhamos escolhido, o Museo Reina Sophia.

Para acesso a esse museu acabámos por estacionar perto da grande estação ferroviária da cidade, a Atocha. Desta vez nem entrámos no edifício, mas não deixámos de apreciar a sua arquitetura bem característica, que marca esta zona da cidade no final da avenida do Paseo del Prado.
Foi por aqui que cheguei a Madrid na minha primeira visita à cidade, há já algumas décadas, e depois disso voltei ainda a visitar este espaço mais algumas vezes. No interior da nave principal, a estação tem uma decoração curiosa, recriando um jardim tropical, talvez pouco apropriado.

Porém, desde o dia 11 de março de 2004, este local transformou-se num espaço de homenagem às vitimas do maior atentado ocorrido em território espanhol, quando, nesse dia, rebentaram três bombas no interior de comboios que entravam ou saíam da estação, tendo provocado 192 vítimas mortais. O atentado foi revindicado por uma célula da Al-Qaeda e é conhecido em Espanha como o 11-M. 

O edifício da Estação da Atocha é assim o equivalente ao ground-zero do 11 de setembro de Nova Iorque, e foi também contruído no seu interior um memorial em homenagem às vítimas, transformando este lugar numa marca incontornável na cidade de Madrid... muito para além de uma simples estação ferroviária por onde passam diariamente milhares de passageiros.
Voltando ao Museo Reina Sophia, trata-se um dos mais importantes museus de arte moderna de Espanha, com algumas obras de referência. A primeira boa surpresa foi o preço, apenas 8€ para os adultos, mas as crianças e também os estudantes, não pagavam. O ingresso destinava-se apenas às obras da coleção, mas também não achámos que as exposições temporárias fossem suficientemente apelativas.
A coleção do museu inclui várias obras de alguns dos principais artistas do século XX, com Salvador Dali, Juan Miró e, sobretudo, Pablo Picasso. 



Mas a grande atração do museu, que era também o nosso principal objetivo, é a sala onde se encontra a grande obra-prima de Picasso, o quadro Guernica.

O Guernica é um painel enorme e perturbante, pintado por Pablo Picasso em 1937. Mede 7,8m x 3,5m, é pintado a óleo, a preto e branco, e é inspirado nos bombardeamentos sofridos pela cidade espanhola de Guernica, em Abril de 1937, por aviões alemães, numa operação de apoio de Hitler ao ditador Franco, durante a Guerra Civil espanhola.
Enquanto percorremos as várias salas do museu, com motivos de maior ou menor interesse, temos a noção de que somos meros espetadores de peças de arte que nos prendem mais ou menos, algumas nem nos chegam sequer a tocar minimamente, mas há outras que nos envolvem e que nos levam a uma observação mais cuidada e demorada. Mas somos sempre os visitantes que apreciam aquela mostra de arte e nunca para além disso.

Mas perante o Guernica a sensação foi diferente. Mais do que uma tela, é como se Pablo Picasso nos tivesse deixado as imagens vivas de uma tragédia, que nos envolvem como se estivesse a ocorrer algo de realmente trágico a cada instante em que a observamos… já não somos apenas meros visitantes mas antes testemunhas.

Foi assim que me senti, vivendo um momento muito especial, uma sensação quase irrepetível. Mas esta é claramente uma reação pessoal, não é algo que o quadro ofereça a todos os visitantes, podemo-nos envolver mais ou menos e, naturalmente, cada um terá sentido à sua maneira, a sua presença junto daquela obra.

Mas, na verdade, qualquer que seja o impacto emocional que o quadro nos provoque, acabamos por fazer todos o mesmo... entramos, paramos, olhamos, respiramos fundo, voltamos a olhar, demoramos o tempo que entendemos ser necessário... e abandonamos a sala. Mas, se para alguns este processo começou e acabou naquele instante e naquele local, para mim, a imagem daquele quadro perdurou na minha memória como uma história real que, naquele momento, me foi dada a testemunhar.


Terminámos a manhã carregados de arte e cultura e, para equilibrar o barómetro intelectual, resolvemos baixar os níveis... ou seja, resolvemos entrar no submundo do futebol.

Desde logo, chegados ao estádio do Real Madrid, o Santiago Barnabéu, começámos pelo Restaurante 57, na porta do estádio com o mesmo número, e que, segundo consta, é uma das melhores barras de tapas de Madrid. E ai alinharam todos... e confirmámos que as tapas são de facto muito boas, embora a preços altos. Os miúdos adoraram uns mini-hamburguers, mas havia tapas para todos os gostos. Do restaurante há janelas diretas para o interior do estádio, o que constitui um atrativo adicional.

À saída, dividimo-nos em grupos. Os mais primários, ou mesmo primatas, foram visitar o estádio (fui eu, o Pedro, e mais umas miúdas, cujo nome vou proteger). Os restantes optaram pelo descanso à sombra ou por uma visita ao Museu do Prado... mas essa opção podia ter o risco de uma overdose de cultura em massa num só dia e seria de evitar. Apenas a Alice avançou pelo Prado adentro. No final trocámos fotografias.

De um lado tínhamos bancadas, relva e taças diversas (com várias Champions), com direito de acesso ao relvado, ao banco de suplentes, aos balneários, ao museu, e até ao platô das conferências de imprensa, onde me senti um José Mourinho (treinador naquela época) por alguns, breves, instantes. 




Em alternativa aos futebóis, do outro lado, das profundezas do Museo del Prado, chegaram uns Goyas e uns Velasquez escuros e pouco apelativos… mas isso sou eu a dizer (mas também porque já lá tinha estado duas vezes).



Assim foi ótimo, cada um fez o que mais gostava e saímos de Madrid todos satisfeitos. 

À saída do estádio reunimos outra vez a tripulação junto à Plaza Colon, seguimos pelo Passo de la Castelhana e despedimo-nos da cidade.

No final deste segundo dia em Madrid faltava ainda um outro dia inteiramente dedicado ao parque de diversões localizado junto à zona de Getafe, a cerca de 30km do centro da capital espanhola.


PARQUE WARNER

Os parques de diversões nunca me deslumbraram, até porque não morro de amores pelas emoções fortes que as montanhas russas nos provocaram.

Mas, no entanto, por ter quatro filhas, tenho passado muitas horas da minha vida neste tipo de espaços, tanto nos parques espanhóis como nos parques Disney, em Paris e na Flórida. E este foi só mais um dia de grande entusiasmo para alguns e de alguma contenção e até receio para mim. De qualquer forma, com o passar dos anos, vou ficando mais tolerante às sacudidelas e à vertigem das quedas livres, e até já chego a sentir algum gozo, no meio daquela adrenalina toda.

Foi o que aconteceu neste dia passado no Parque Warner Bros, nos arredores de Madrid, experimentei várias diversões e até gostei da maioria delas.
Os ingressos, neste tipo de parques, são sempre caros, sobretudo porque somos muitos. À época pagámos 38 € por adulto e 30 € por criança.

O dia é sempre vertiginoso, entre diversões e espetáculos, entre restaurantes e quiosques de gelados, quase não dá para parar a não ser nas filas mas, felizmente, nem encontrámos filas muito grandes.

Às primeiras diversões percebemos logo que nem todos estariam preparados para as mesmas emoções. E isso é um cuidado que se deve ter, sobretudo com crianças, perceber quem quer ou não quer ir a cada atração do parque, para evitar que alguém acabe por entrar em pânico. 

No nosso caso chegámos à conclusão que existiam dois membros da tripulação que deviam ser poupados das diversões mais radicais e, por outro lado, cinco deles estavam prontinhos para curtir todo o tipo de emoções… como éramos 10 sobravam ainda três que tinham que analisar caso a caso se entravam ou ficavam de fora (e eu era um desses três indecisos).

E depois de estudarmos o mapa do parque e localizarmos as principais atrações e qual o percurso que iríamos fazer, começámos a caminhar pelas alamedas e ruas, sempre cheias e animadas e muito bem decoradas, de forma a fazer o circuito das diversões escolhidas.


Começámos logo por uma das montanhas russas mais emocionantes em que alguma vez já tinha estado, chama-se Super-Homem e é preciso mesmo ter super-poderes para suportar toda aquela adrenalina.

Fiz umas filmagens depois de já ter andado por lá às voltas, porque se tivesse sido antes, certamente teria desistido. Juntei-as a outras imagens gravadas da fila da frente, e o resultado foi este Vídeo que reflete bem o susto que se apanha nesta atração. 

Logo de seguida vem a montanha russa do Batman... mudou o super-herói mas a pancada é a mesma, loopings para trás, loopings para a frente, como se o objetivo fosse chocalhar bem os nossos estômagos.

Mas o parque vai também oferendo outro tipo de atrações mais soft, como os simuladores, os carrosséis, até uma casa assombrada e, sobretudo, as diversões com água, como os rios rápidos ou as quedas de água, de onde caímos dentro de pequenos barcos em forma de tronco de árvore.

No final ficámos todos ensopados e tivemos que passar por uns mega secadores em forma de cabine telefónica, o que foi, por si só, mais uma diversão para os mais pequenos.

Voltando às emoções mais fortes, passámos ainda por uma outra montanha russa, toda em madeira, numa zona do parque que recria o ambiente do faroeste e a montanha russa tem daqueles carrinhos das minas que costumamos ver nos filmes de cowboys. Mas esta foi, de todas, a atração mais desconfortável, não pelas quedas vertiginosas, mas porque, a grande velocidade, a trepidação era tanta que nos deixou completamente desconjuntados.

E houve ainda tempo para subirmos à grande torre, onde nos elevam até ao topo e depois nos deixam cair como se não houvesse amanhã. É a vertigem descontrolada da queda livre mas com uma grande vantagem, em apenas pouquíssimos segundos e está tudo acabado… custa mais a espera e durante a subida do que a própria queda. 
Durante o dia passámos ainda por outro tipo de diversões, umas mais infantis, como uma pista de carros conduzidos pelos próprios miúdos, mas também algumas mais radicais, daquelas que mais parecem testes limite para astronautas… e, por isso, como eu nunca quis ser astronauta, fiquei cá fora a observar os mais corajosos (neste caso, as mais corajosas).

O dia é de grande cansaço, embora se vá parando para refrescar, descansar e também almoçar e jantar, mas no final do dia parece que fomos passados por um rolo compressor… mas ainda assim ficamos com a sensação de que foi bastante divertido.

À noite o parque adquire uma luz cintilante com uma iluminação, que é também parte da própria decoração do parque, e que lhe confere o aspeto diferente, como se estivéssemos num local meio mágico.

Terminámos a noite a assistir ao espetáculo de encerramento com projeção de imagens, feixes de luz e raios laser, sobre o lago, ao som de uma música arrebatadora que marcou bem o final de um dia de grande diversão e de quase exaustão, mas que foi também, definitivamente, um grande dia.


Já visitei Madrid quase uma dezena de vezes. Foram situações distintas, épocas diferentes, outras companhias. Cada visita terá tido os seus encantos, mas desta visita ficou a imagem nítida de uma cidade que soubemos aproveitar o que de melhor tinha para oferecer em apenas três dias.


Não fomos exaustivos e sabemos que a cidade terá muito mais para mostrar e oferecer. Sabemos também a quantidade de monumentos, museus, bairros, bares e restaurantes, que nos passaram ao lado sem que os pudessem ver. Mas tendo apenas dois dias, porque o dia no parque de diversões não entra nestas contas, fizemos uma visita suficientemente representativa dos principais pontos de interesse que a cidade oferece, e usufruímos de cada momento de forma intensa… e certamente que muitas destas boas sensações nos vão ficar gravadas nas nossas memórias, ao longo de muitos anos… e isso é o que mais importa.


TOLEDO

Começámos a visita à cidade parando junto à Puente de Alcantara, uma das pontes antigas que cruzam o Río Tajo, o nosso Tejo, ainda acabado de nascer, que contorna o sopé da colina onde se ergue a cidade histórica de Toledo. A ponte é uma construção romana e foi uma das entradas da cidade na Idade Média e, por isso, está protegida com duas portas fortificadas nas suas extremidades. Foi declarada como monumento nacional desde o início do século XX.

A visita a esta ponte foi escolhida, não tanto pela ponte em si, mas pela possibilidade de contemplar a paisagem que aquele local oferece, com uma vista perfeita da cidade que se desenvolve na encosta, terminando junto ao rio que, naquela zona, vai serpenteando o vale formando pequenos rápidos.

Fizemos depois o percurso do anel viário, ou Ronda del Valle, que circunda toda a cidade e que oferece as melhores vistas sobre Toledo. Fomos parando algumas vezes na busca das melhores paisagens que dali nos eram oferecidas e, no final, entrámos na cidade pelo lado Noroeste, onde estacionámos.
Ao longo da Ronda del Valle fizemos duas paragens em miradouros com as melhores vistas da cidade, uma no santuário da Virgen del Valle e outra no Mirador del Valle. É sem dúvida a melhor forma de apreciarmos a vista panorâmica de Toledo, com o seu aglomerado de casas de aspeto medieval e com o rio Tejo que corre no fundo do vale, formando um conjunto que poderia ter sido um quadro de algum pintor inspirado.
Por entre o casario que vai preenchendo a colina, salientam-se alguns dos principais edifícios da cidade, como a Santa Iglesia Catedral Primada de Toledo. Trata-se da Catedral Toledo, que é a sede da arquidiocese da cidade, um edifício de arquitetura gótica, que é considerado como uma da obras mais importantes do estilo gótico em toda a Espanha. A sua construção começou em 1226, no reinado de Fernando III, mas as últimas marcas góticas foram posteriores, já no século XV.
Um outo edifícios grandioso que se destaca na paisagem da cidade é o Alcázar, uma fortificação construída na parte mais alta de Toledo, dominando assim toda a paisagem da cidade. A sua localização privilegiada tornou-o num lugar de grande valor ao nível da estratégia militar. O seu nome vem dos árabes, um dos povos que dominou a cidade ao longo da sua história. Foram eles que chamaram ao primeiro edifício que foi construído naquele local de Al Qasar, que significa "fortaleza"... e o nome foi preservado após a reconquista cristã e as várias alterações a que o edifício foi sujeito, já sob o comando dos Reis Católicos.
Depois das bonitas paisagens que nos foram oferecidas daqueles miradouros e antes de entrarmos na cidade, fizemos ainda uma paragem na Puente de San Martín, semelhante à Puente de Alcantara, com a mesma origem romana e com portas fortificadas em ambas as margens. Esta ponte atravessa o rio numa zona com uma largura superior, o que justifica a existência de vários arcos romanos ao longo do seu vão, enquanto a Ponte de Alcantara cruzava o rio num único arco.
Toledo é a grande cidade da comunidade autónoma de Castela - La Mancha e, por isso, são bem visíveis várias alusões àquele que foi conhecido como o Homem de La Mancha, Don Quixote. As suas aventuras, vividas na companhia do seu escudeiro, Sancho Pança, são sempre fantasias que acabam por ser desmentidas pela realidade, como quando, montando o seu cavalo Rocinante, lutava contra moinhos de vento, como se de gigantes se tratassem. Toda esta ficção, que é o resultado da imaginação fértil do autor, Miguel Cervantes, está muito presente nos símbolos da cidade, como se tratassem de pessoas de carne e osso que ali tivessem vivido.

E é um pouco por toda esta simbologia, mas também pelos seus monumentos e pela sua arquitetura, com as casas, ruas e praças bem cuidadas, que esta cidade se assemelha a um povoado medieval... embora com grande parte dos seus símbolos, inconvenientemente transformados em produtos de merchandising.

Deixámo-nos então levar ao longo do emaranhado de ruas que formam a cidade e que nos presenteiam, de vez em quando, com alguns monumentos admiráveis. Tínhamos um guia que tentámos seguir, mas logo nos perdemos e nos voltámos a encontrar, com a noção de que é a própria cidade que nos vai conduzindo e não adianta seguir os mapas. De qualquer forma, deixo aqui a planta que utilizámos como guia de referência, onde se assinalam os percursos de ida e de volta:
Começámos o nosso percurso a partir da Puente de San Martín, o que nos obrigou a subir pelas ruas inclinadas até ao topo, onde se localizam os locais mais interessantes da cidade. Fomos percorrendo naturalmente as ruas e praças mais movimentadas, que garantiam a ligação entre os monumentos mais emblemáticos. Foi assim que escolhemos a Calle del Ángel, a Plaza San Antonio e a Calle Santo Tomé... ora subindo ora descendo, pelas ruas mais movimentadas ou pelos becos mais desertos que nos levavam aos recantos que quisemos bisbilhotar. Ao longo do caminho fomos absorvendo aquele ambiente quase medieval, embora nos fique a ideia de que esta idade-média já estará demasiado distorcida por uma nova praga - para além das muitas que realmente assolaram essa época - desta vez encontramos a praga dos turistas (e lá estou eu a dizer mal dos turistas, até parece que não é exatamente aquilo que nós somos).
Depois de um percurso interessante chegámos à Plaza del Ayuntamiento, onde fica, naturalmente, o Ayuntamiento da cidade (ou Câmara Municipal)... mas é também nessa praça que fica a fachada principal da magestosa Catedral Primada de Toledo.

Desta vez não visitámos o interior da Catedral porque já o tínhamos feito numa viagem anterior, mas é uma visita que se recomenda. De qualquer forma, visitando o interior ou apreciando apenas as fachadas, esta catedral justifica algum tempo para apreciar os detalhes e, até talvez, descortinar a mística que resulta de vários séculos de história, com tantas estórias e façanhas que poderiam ser contadas. 

Ao fim de algum tempo junto à fachada principal e depois de contornámos todo o edifício, demos por terminada a visita à catedral, e voltámos às ruelas apertadas, algumas são autênticas rampas e outras são uma espécie de centro comercial, onde se vendem os regalos turísticos da cidade, mas também os quesos embutidos ibéricos... e são também muito comuns as lojas de cutelaria, talvez por inspiração das espadas e lanças de Don Quixote.
Por entre os becos que vamos percorrendo, sempre que surge um espaço ligeiramente mais desafogado, aparecem logo as esplanadas, quase sempre muito concorridas, por onde circulam algumas das melhores especialidades espanholas para se ir picando enquanto se bebe uma caña... muito fresquinha. E foi num desses locais que fizemos a nossa pausa para um almoço tardio.
Atravessámos depois a Plaza Cuatro Calles e chegámos à Plaza Zocodover, duas das praças mais importantes desta zona da cidade.
Faltava-nos agora percorrer o contorno da cidade, até voltar ao carro no lado oposto, começando pelo ponto mais alto dominado pelo imponente Alcázar de Toledo.

A Calle de la Union, uma via periférica do lado Este da cidade, que contorna o Alcázar, abre-nos uma paisagem magnífica, com o Alcázar bem perto, do lado de trás e, à frente, o vale do rio Tejo e o majestoso edifício da Academia de Infantería de Toledo no alto do monte.

Já no caminho de volta fizemos mais algumas calles típicas, desta vez de forma meio desgovernada, praticamente perdidos, sem fazermos ideia onde estávamos, mas tentando seguir o contorno Norte da cidade.
Atingimos finalmente o Paseo Recaredo, com a vista do edifício da Consejería de Hacienda, lá no alto da colina.

Faltavam agora mais de 500km até casa, os mais difíceis de toda a viagem, o que nos faz sentir um pouco stressados, mesmo ao longo de toda a visita... é sempre assim, aconteceu nas três vezes em que visitei a cidade, e em todas elas, Toledo tem ficado sempre para o fim, como um destino de passagem, vindos de Madrid ou de alguma estância de ski nos Pirenéus, fazemos um desvio de circunstância e visitamos esta cidade sem fazer um grande investimento. Mas é burrice nossa, a cidade de Toledo merece bem uma estadia mais demorada, que permita explorar os encantos que não nos são percetíveis numa visita relâmpago, como esta.


Carlos Prestes