quarta-feira, 11 de março de 1998

Florida

No Inverno de 1998, aproveitando uma promoção da British Airways, completamente imprevisível mas também totalmente imperdível, partimos em direção à Florida para uma aventura no Disney World. Desta vez fomos em família, eu a Ana Lúcia e as minhas filhas mais velhas, a Alice e a Madalena, na altura com 7 e 5 anos, e também o Zé Amorim, com a Rosário e o Nuno.

(7 dias em Março de 1998)

Dia 1:
Voámos via Londres e chegámos ao aeroporto de Orlando numa tarde quente de Março, Inverno em Portugal mas praticamente Verão naquela zona da Florida. Depois de alugarmos uma van de 7 lugares, partimos à descoberta do admirável mundo do Disney World.
A sensação foi fantástica, como acontece sempre que embarcamos num clima invernio e, passadas apenas algumas horas, aterramos já em pleno Verão, não que estivéssemos no hemisfério Sul, porque não estávamos, mas sim pela proximidade face ao Golfo do México e ao mar das Caraíbas. Mais tarde concluiríamos que não iria ser sempre assim…..às vezes há surpresas.

Mas assim que chegámos ao hotel corremos a disfrutar de um banho de piscina de águas quase mornas, com que nem sequer sonharíamos ainda uma semana antes.

Foi desta forma que terminámos um dia enorme, com a travessia do atlântico, do Norte para o Sul, de Leste para Oeste e do Inverno para o Verão……tudo num único dia. 

Amanhã começamos a aventura.

Dia 2:
O Disney World é constituído por três parques principais, para além de outro tipo de atrações, (como parques aquáticos, com escorregas de água, por exemplo), mas também uma rede de hotéis e restaurantes, que servem de apoio a todo o complexo. As várias infraestruturas e os vários parques são ligados entre si por uma rede de estradas e uma linha de comboio monorail.
Os principais parques Disney são o Epcot Center, o MGM Studios (atualmente designado por Disney Studios) e o Magic Kingdom, a verdadeira terra dos sonhos.

No primeiro dia começámos pelo Epcot Center. Com a sua imagem dominada por uma esfera gigante, com a aparência de uma bola de golfe, este é o parque do futuro, com atrações diversas que recorrem às tecnologias mais vanguardistas à época (de notar que estávamos em 1998, ainda antes do início da nossa Expo, que nos veio mostrar algumas dessas novidades tecnológicas, até então desconhecidas).
O dia no parque foi deslumbrante, até mais para os adultos do que para as crianças. O parque é enorme e tem sobretudo duas grandes áreas, uma relacionada com vários países que aqui são homenageados e a outra área que comporta as atrações futuristas, com recursos tecnológicos de vanguarda.
Na área envolvente ao enorme lago dispõem-se pavilhões inspirados em vários países, e é como se fossemos percorrendo cada uma dessas zonas, pelos edifícios e réplicas de monumentos, mas também pelos cheiros, que resultam das comidas típicas nos restaurantes temáticos, ou pelas músicas que ecoam das colunas de som.

Mas a parte forte deste parque são as atrações que usam a tecnologia mais avançada, relacionadas com os vários ambientes do nosso planeta, os mares e a terra, e também sobre o espaço, e ainda as zonas designadas por Universe of Energy e Imagination, onde se encontram vários simuladores e se apresentam espetáculos com efeitos especiais e tecnologias de vanguarda. 

No Universe of Energy destaco uma viagem ao mundo dos dinossauros, numa floresta tropical que parecia real, pela vegetação e até pelo ambiente, quente e húmido. E de vez em quando éramos surpreendidos pela presença de alguns daqueles gigantes, como se fossem verdadeiros e ameaçadores. Era a tecnologia dos animatrónicos, uns bonecos com mecanismos robóticos que lhes permitem movimentar-se como se fossem reais. Como dizia a minha filha Alice, na altura com 7 anos: pai, tens que reconhecer que isto é muito assustador……e era mesmo, mas também completamente incrível.
Não faço aqui a descrição pormenorizada do parque, também porque já não me recordo dos detalhes, mas sobretudo porque estes parques vão evoluindo e, atualmente, certamente que serão bastante diferentes (por exemplo, não faz sentido referir os preços dos ingressos, já que hoje serão completamente diferentes). 
Ao final de cada dia a noite é aproveitada como elemento decorativo e as luzes vão dando nova roupagem aos ambientes, culminando num espetáculo de luz, imagem, som e fogo de artifício, que se realiza sobre as águas do lago.

Dia3:
O segundo parque escolhido, os Estúdios da MGM, aproxima-se mais do mundo da fantasia Disney, embora ainda com uma série de atrações associadas aos efeitos especiais utilizados na rodagem de filmes, mas já inclui um conjunto de espetáculos que reproduzem alguns dos desenhos animados de referência. 
A entrada no parque faz-se pela Hollywood Boulevard e sentimos logo que entrámos num ambiente dos estúdios de cinema.
A primeira atração chama-se The Great Movie Ride e leva-nos ao mundo do cinema com referências ao imaginário dos filmes de toda uma vida, tanto para as crianças, com as produções mais recentes, como era o caso do filme Mulan, que estava ainda na fase de produção dos desenhos de animação, como para os adultos, com referências aos filmes eternos, como Feiticeiro de Oz, Singing in the Rain ou Casablanca.
Ainda no ambiente da rodagem de filmes passámos pelas zonas de filmagens com efeitos especiais de dois dos clássicos da MGM.

O Indiana Jones, com uma cena cheia de tiros e explosões rodada ali bem perto de nós.
O Terramoto, onde fomos envolvidos no interior da simulação de um tremor de terra, com a destruição a acontecer no momento, provocando explosões e o rebentamento de um tanque, com as águas em enxurrada ameaçando perigosamente a nossa zona de observação.
O parque tem depois umas zonas com teatros onde passam espetáculos que são mini musicais do estilo Broadway, sempre com os temas dos filmes da Disney.

Assistimos à Pequena Sereia, à Bela e o Monstro e ao Crocunda de Notredame, o mais recente filme naquela época, que foram os momentos altos do dia, sobretudo para as miúdas.

Para os mais corajosos havia a Torre do Terror, onde nos levam sentados num elevador por uma casa assombrada, sujeitos a todo o tipo de aparições fantasmagóricas e que, de repente, dispara em queda livre pela torre abaixo, deixando os nossos estômagos lá em cima.
O final do dia neste parque é também celebrado com um espetáculo de encerramento fantástico, com música, luzes e fogos-de-artifício.

Dia 4:
Faltava ainda o parque dos sonhos, o Magic Kingdom, dominado pela presença do imenso palácio da Cinderela, com uma beleza que nos leva de imediato até ao mundo de fantasia de Walt Disney.
Foi um dia espantoso para as crianças, que deliraram em corrida atrás das personagens principais dos seus filmes favoritos, a quem lhes pedem autógrafos, como o caso da Pequena Sereia, a escolha mais apreciada, e neste caso nem foi preciso correr atrás dela mas antes esperar numa fila à entrada da gruta onde estava esticada, por razões óbvias de falta de mobilidade. Mas num parque Disney as figuras mais relevantes serão sempre a de Mickey Mouse e a sua Minnie, que também nos deram os respetivos autógrafos.
Entrámos pela Main Street, a rua principal, com o castelo ao fundo, a partir da qual chegamos a todos os locais da magia. 
É desta rua que, diariamente, começa a parada dos personagens Disney, que percorre todo o parque com carros alegóricos, cada um com o tema de cada filme animado……e que constitui uma das principais atrações do parque, sobretudo para os miúdos.
O Magic Kingdom é o parque das atrações mais clássicas da Disney, com referências, por exemplo, à Branca de Neve, à Alice no País das Maravilhas, ao Pinóquio, ao Peter Pan….com vários tipos de diversões, como carrosséis, montanhas russas ou circuitos que se fazem no interior dos ambientes recriados de cada filme de animação. Todas estas diversões estão localizadas em áreas temáticas distintas: Adventureland, Liberty Square, Tomorrowland, Frontierland e Fantasyland.
Dentro desta terra de sonhos é no Fantasyland que se encontram os sonhos de criança e onde estão as atrações que nos levam ao imaginário Disney mais infantil.

No Tomorrowland encontramos uma das montanhas russas mais famosa de todo o Disney World, o Space Mountain. O Frontierland é também bastante interessante, e recria um ambiente entre o Farwest e o Rio Mississipi, com referências aos cowboys e ao mundo de Mark Twain, com os seus heróis, Tom Sawyer e Huckleberry Finn.


À medida que o sol se vai pondo, o parque adquire novas cores. A parada da noite, ou Electrical Parade, é uma festa de luz e cor inesquecível…….e precede o espetáculo de encerramento mais fascinante de todos os três parques, com as luzes e o fogo de artifício enquadrados com a imagem do castelo da Cinderela, recriando um ambiente que parece ser magia de verdade.



O último dia de diversões terminou, depois de termos percorrido tudo o que havia para percorrer, depois de uma exaustão quase inacreditável, com o acumular destes três dias, mas o que se guarda, acima de tudo, é uma satisfação quase indescritível.


Neste último dia tivemos uma mudança súbita do clima, uma grande surpresa, que vou aqui referir apenas para alertar que os planos nem sempre saem perfeitos, e temos que nos saber adaptar a realidades diferentes. Neste caso tínhamos ouvido na véspera nos telejornais que existia uma onda de frio na costa Leste dos Estados Unidos. Por exemplo, em Chicago, o aeroporto estava fechado devido ao gelo, e na Florida previam-se temperaturas mínimas de 31o Fahrenheit.

Ui….pensámos nós, 31º F devem ser p’raí uns 15º Celcius, se calhar é melhor levar umas sweats na mochila…..mas para mim não é necessário nada, eu vou de calções que não tenho frio nas pernas. Mas 31ºF não são 15 Celcius, são -1º. Por isso o dia foi incrivelmente frio e não estávamos preparados. Tivemos que recorrer ao merchandising disponível para tentar comprar tudo o que nos pudesse aquecer. Só as minhas pernas é que eu não consegui tapar, mas foi bem merecido……reconheço.

Dia 5:
Ainda nos sobravam mais dois dias livres até ao regresso. Assim, neste dia iríamos visitar a cidade de Orlando e chegaríamos até à costa do Atlântico.

Mas a principal atração do dia seria a visita a Cape Canaveral, de onde os americanos fazem sair os seus foguetões com aeronaves e Space Shuttles, para o espaço e, em tempos, mesmo até à lua. 
Saímos de manhã em direção a Orlando para uma visita rápida. A cidade não acrescentou absolutamente nada, parámos no downtown e percebemos que não se tratava de uma grande cidade e não justificava uma visita mais demorada.

Chegados depois a Cape Canaveral, fizemos a visita turística ao complexo, numa zona onde se expõem naves e foguetões antigos e se conseguem ver, a uma certa distância, os locais de lançamento que são atualmente utilizados.

A principal atração é um Space Shuttle, onde podemos entrar e visitar o espaço que tem albergado os astronautas nas principais missões espaciais das últimas décadas. Depois de terem acontecido dois acidentes com a destruição dos respetivos Space Shuttles e com a morte de todos os tripulantes, o governo americano suspendeu as missões com este tipo de aeronaves. Há também um conjunto de outro tipo de naves espaciais que estão expostas nos espaços exteriores do complexo.


É estranho porque nos custa a acreditar que aquelas geringonças, ou outras semelhantes, tenham alguma vez ido até ao espaço e não sejam meros adereços de filmagens para Hollywood. De qualquer forma e apesar dessa sensação de que nada daquilo é real, para quem vier ao Disney World, esta é uma visita imperdível porque, na verdade, foram mesmo naquelas latinhas, ou noutras semelhantes, que os astronautas se lançaram espaço fora.


Seguimos depois pela costa da Florida, numa zona a norte, sem o interesse turístico das praias de Miami ou Palm Beach. Ao longo da costa fomos percorrendo várias zonas de praia, embora o clima não nos tenha ajudado, com as nuvens que cobriam a zona tudo se tornou completamente cinzento, em vez das cores de azul vivo que seriam previsíveis encontrar naquelas águas. 

Descemos a costa até à Indian Harbour Beach, tendo regressado depois à zona do hotel no Disney World.

Dia 6:
Aproveitámos este último dia para visitar um outro parque de diversões, fora do mundo Disney, embora na mesma zona de Orlando.

A opção mais lógica seria escolher o parque da Universal Studios, que é um parque fantástico, com uma oferta que tenta competir com a liderança natural da Disney, e que tem mesmo algumas diversões que superam as mais famosas atrações dos parques da Disney. 

Contudo, achámos que seria mais do mesmo e tentámos um dia mais calmo, de forma a que sobrasse também algum tempo para compras.….que é quase um vício para quem visita os Estados Unidos. 

Assim, optámos pelo Sea World.
Trata-se de um imenso parque de vida marinha, ao estilo do Zoomarine do Algarve, mas muito maior e muito mais fantástico. Tem os habituais shows de golfinhos e leões-marinhos, enormes aquários, espaços para interação com os animais e algumas diversões semelhantes a montanhas russas.
Os grandes tanques de aquário têm um acesso privilegiado através de um túnel de vidro, que nos permite observar aquele mundo marinho como se fizéssemos parte dele……chegámos mesmo a estar rodeados de tubarões numa das zonas do tanque.
Mas este parque tem uma atração muito especial, o show das orcas. Semelhante ao dos golfinhos, este show é feito com enormes orcas, as chamadas baleias assassinas, o que faz com que o espetáculo esteja associado a um clima de algum risco, em que os tratadores adquirem o estatuto de domadores de leões. (registo que, em 2010, uma orca macho, a maior do parque, atacou e matou a sua treinadora em pleno espetáculo). Neste caso, o show correu na perfeição, sem quaisquer sustos, a menos da parte em que uma baleia gigante, que era apresentada como tendo entrado nos filmes da sequela, Libertem a Willy, molhava propositadamente a metade inferior da bancada. Num dia normal de Verão até seria agradável para nos refrescar, mas face à onda de frio que estávamos a viver, quem ficou molhado não gostou nada.

O parque tem depois imensas diversões, mas tinha várias zonas em obras, adivinhando-se a abertura de novas atrações em pouco tempo. Por isso, não vou descrever tudo o que vimos naquela altura porque, certamente estaria muito desatualizado.

Mas refiro-me apenas às atrações mais interessantes à época, para além do show das orcas e do aquário dos tubarões, gostámos muito da zona da Antártida, chamada o Império dos Pinguins, onde sentimos um frio polar passando junto dos pinguins imperadores, que nos pareciam estar perfeitamente no seu habitat natural.
Gostámos também das zonas de leões-marinhos e de golfinhos, que pareciam quase naturais de tão bem integrados na paisagem, onde podíamos interagir com os aninais livremente, por exemplo, chegámos a fazer festas no dorso dos golfinhos.


A meio da tarde saímos do parque e partimos para mais uma diversão típica nos Estados Unidos……as compras, sobretudo os outlets.

Pelo caminho, ao longo da International Drive, encontrámos uma casa museu perfeitamente incrível, construída como se tivesse sido arrancada pelas fundações e virada ao contrário.
No outlet escolhido existiam duas mega lojas que me fizeram perder a cabeça, as lojas da Calvin Klein e, sobretudo, da Gant.

Naquela época o dólar estava em baixa e os preços da maioria dos artigos eram espantosamente baratos. A oferta das lojas era incrível, todas as cores, todos os tamanhos…….queria trazer tudo para Portugal, a grande dificuldade foi saber parar e ter que fazer escolhas. 

Registo apenas que não sou propriamente adepto dos outlets americanos. Aliás, nas outras visitas que fiz aos Estados Unidos nunca me deixei levar pela loucura das compras…….mas há que reconhecer que uma megastore Gant a preços incrivelmente baixos, é de fazer qualquer um perder a cabeça.



Havia apenas mais uma noite para aproveitar, porque as noites eram sempre um ponto alto de cada dia…..para os adultos, porque as crianças fizeram o pleno, dormindo em todos os restaurantes onde as levámos.

Mas é indiscutível que aquela zona nos oferece uma outra atração, como em todo o país, que é o conjunto de restaurantes com a típica comida americana, que nada tem a ver com fast-food, mas muito mais com influências dos paladares mexicanos…..os nachos, as enxilhadas, mas também os hamburgers de “pounds” à escolha, as baby ribs e muito mais. Sempre com a típica cerveja americana, a Bud Weiser (mais tarde apenas designada por Bud, devido às guerras de patentes com a marca original, da República Checa).
Alguns dos restaurantes na envolvente do mundo Disney são, eles próprios, parte do cenário de fantasia, e foram sobretudo esses que acabámos por escolher para os nossos jantares. 
Um dos mais emblemáticos é o Planet Hollywood, dentro de um enorme globo terrestre……onde fomos neste último dia para nos despedirmos em beleza.
Terminámos o dia e terminámos também esta viagem fantástica, com um extraordinário efeito surpresa, porque não foi minimamente uma decisão planeada com tempo, foi tomada por impulso, de um dia para o outro…..até as miúdas estavam em aulas, e tiveram que faltar.


Viajámos pela terra dos sonhos, as crianças deliraram, porque são crianças e nós, os adultos, delirámos também, porque este mundo de fantasia nos fez voltar outra vez a ser crianças……e não há melhor sensação. No dia seguinte partiríamos, primeiro para Londres e depois para Lisboa……para o Norte, para o frio, para o Inverno, para as nossas escolas, os nossos trabalhos…….para fora do mundo dos sonhos entrando definitivamente no mundo real, de onde tínhamos fugido numa escapadela que ficou gravada nas nossas memórias e nos nossos corações, onde perdurará por muito tempo.

Carlos Prestes
Março de 1998