quinta-feira, 18 de abril de 2019

Éfeso - A grande cidade do Império Romano


Junto à costa do mar Egeu, a menos de uma centena de quilómetros da cidade de Izmir, encontramos as ruínas da antiga cidade de Éfeso. Trata-se de uma cidade da Grécia antiga, construída no século X aC, e que se transformou depois numa das capitais mais importantes do Império Romano na Ásia Menor.
A cidade de Éfeso guarda séculos e séculos da história da própria humanidade, tendo sido um dos berços das antigas civilizações durante várias eras. A sua localização estratégica, por estar junto a um porto importante para a expansão das trocas comerciais, fez com que a cidade constituísse um polo fundamental de todas as civilizações que se desenvolveram naquela zona. 

Chegou a fazer parte do Império Persa, antes de Alexandre - O Grande, e passou depois pelo domínio egípcio, até cair nas mãos dos romanos, tornando-se na grande capital da Ásia Menor no período Bizantino e uma das cidades mais importantes do Império Romano, depois de Roma.

Sofreu alguns terramotos que a destruíram parcialmente e, mais tarde, durante o Império Otomano, foi ocupada pelos muçulmanos e aí sofreu profundas alterações, ao serem eliminadas as referências cristãs existentes da cidade.

Com toda esta história, e apesar da destruição a que foi sujeita, a cidade é atualmente uma espécie de museu ao ar livre e uma das cidades do mundo antigo que se encontra em melhor estado de conservação.

Encontramos extensas ruas em mármore, como a Rua Curetes, e vários vestígios das colunas e pórticos de antigos templos, e uma série de esculturas com um valor histórico incalculável.

Dos vários templos da cidade de Éfeso salientam-se as ruínas do Templo de Adriano, construído numa homenagem ao Imperador Adriano, é atualmente uma das estruturas em melhor estado de conservação.
Das esculturas que vamos encontrando destaca-se o baixo relevo com a figura da Deusa da Vitória ou Deusa Nice (ou Nike), que personifica a vitória, a força e a velocidade e é representada por uma mulher alada, filha de Palas e Estige, duas figuras da mitologia grega.

Esta imagem de pedra serviu de inspiração à marca de artigos desportivo Nike para criar o seu logótipo, que apresenta uma forma triangular deitada, semelhante à da representação desta deusa grega.
Encontramos também as ruínas do Monumento Memmius, construído durante o reinado de Augusto, no século I dC, por Memmius, em homenagem ao seu avô, o ditador Lucius Sulla. Além de alguns vestígios em mau estado, o monumento inclui uma escultura em baixo relevo com as figuras do pai e do avô do seu autor. 
Mas o monumento mais prestigiado da cidade de Éfeso é a Biblioteca de Celsus. Foi fundada no ano 115 dC para honrar e servir como sepultura a Tiberius Julius Celsus Polemaeanus, membro do alto escalão do Império Romano. Foi uma das primeiras bibliotecas públicas, embora com financiamento privado, custeada pela fortuna pessoal da família, sob a gestão do filho de Celsus. 

A biblioteca foi construída para armazenar 12 mil rolos de pergaminho, e era referida nos textos históricos como a terceira maior da antiguidade, só superada pela biblioteca de Pérgamo e, principalmente, pela grande Biblioteca de Alexandria. 
A estrutura da Biblioteca de Celsus tem uma fachada impressionante em mármore, com dois andares adornados por 16 colunas em estilo coríntio, que ajudam a suportar o conjunto com três portas e três janelas, e algumas estátuas, que são réplicas das originais.

Mas a qualidade daquela fachada que hoje ali encontramos, resulta de uma extraordinária combinação entre a arqueologia e a engenharia. Na verdade, durante os séculos da sua existência, a biblioteca foi sendo danificada, primeiro por um incêndio e, posteriormente, por terramotos, que a foram derrubando, deixando-a totalmente destruída. Só recentemente, na década de 1960, uma equipa de arqueólogos austríacos desencadeou um projeto de reconstrução desta fachada, uma tarefa quase impossível que, no entanto, acabou por ser bem-sucedida. Com os trabalhos de reforço projetados pelos engenheiros da equipa, foi possível garantir a estabilidade daquele monumento até à atualidade, e a biblioteca é agora uma das atrações mais populares da antiga cidade de Éfeso. 
Ainda na mesma praça da biblioteca fica um edifício que é identificado como sendo o prostíbulo da cidade, sendo que se conta uma estória, ou uma lenda, de que existiria um túnel que ligava esta casa de diversão para homens, até à biblioteca. Se esta lenda for mesmo verdadeira imagino a preocupação das mulheres do Império Romano, com o facto dos respetivos maridos passarem horas a fio a ler pergaminhos. Isto numa altura em que as mulheres não estavam autorizadas a entrar em bibliotecas.
Além dos vestígios dos templos e monumentos mais nobres, também são visíveis algumas marcas de uma vida mais corrente, como é o caso da zona das latrinas que faziam parte dos antigos balneários públicos.
A cidade perdeu uma parte da sua importância quando a zona do porto foi assoreando e o mar se afastou da cidade cerca de 6 quilómetros, perdendo-se a vantagem das trocas comerciais diretamente das embarcações até ao centro da cidade.

Na zona do antigo porto começava a entrada Sul da cidade, com a chamada Rua do Porto, que permitia que os recém-chegados por via marítima, entrassem diretamente na cidade junto à sua maior edificação, o Grande Teatro.

Trata-se de um anfiteatro do século III aC, que ao longo dos tempos foi espaço para lutas de gladiadores e peças de teatro. É o maior de toda a Turquia com capacidade para 25 mil pessoas, ao longo das 66 filas da enorme bancada e encontra-se, ainda hoje, num estado de conservação muito razoável, o que permite a sua utilização na realização de eventos musicais ou de teatro.

A sensação de estar naquele espaço é fantástica. Subimos até ao ponto escolhido, sentamo-nos, inspiramos fundo e deixamo-nos por lá ficar observando aquela envolvente. Há sempre alguma pantomina com o que cada um resolve fazer, e há quem cante ou quem declame, só para testar a acústica do espaço. Mas mesmo com toda a azáfama que os turistas sempre trazem, acaba por se experimentar uma sensação interessante de alguma introspeção, quando tentamos imaginar os espetáculos que acontecerem naquele mesmo espaço durante séculos e séculos. 

Terminámos assim a visita a Éfeso, a grande cidade romana do oriente, que chegou a albergar mais de 250 mil habitantes, e que hoje é uma espécie de museu a céu aberto que atrai milhares de turistas todos os anos, desde os apaixonados pela história de arte e pelos temas religiosos, a todos os outros que, como nós, são apenas curiosos que escutam atentamente o que os guias lhes dizem, tiram muitas fotos e seguem em frente, sem a inspiração que aquela carga histórica tão fantástica deveria merecer. 

Este é mais um dos problemas duma viagem à Turquia, a densidade de informação é tanta e em turbilhão, que nem conseguimos processar para apreciarmos convenientemente a preciosidade de locais como este.




quarta-feira, 17 de abril de 2019

Pamukkale - O castelo de algodão


Próximo da aldeia de Denizli, bem nas profundezas da Turquia, a quase 600 km de Istambul, avistamos o que nos parece ser uma montanha coberta de neve, com 200 m de altura e cerca de 1 km de extensão. Mas outrora, os turcos, bem mais criativos, imaginaram que ali se encontrava um imenso castelo feito de algodão e, por isso, resolveram batizar aquela montanha com o nome de Pamukkale, o que em turco significa literalmente Castelo de Algodão (Pamuk: Algodão e Kale: Castelo).
Mas este maciço de cor branca não é a única atração do local, nem a única razão pela qual a UNESCO o declarou como Património Histórico da Humanidade. Pamukkale faz parte de um complexo termal que inclui o conjunto de piscinas que se formaram como uma escultura natural no calcário e também as ruínas bem conservadas de Hierápolis, uma importante cidade do Império Romano.
E são estas piscinas de água termal e curativa, que atraíram os romanos que por ali passaram há mais de 2200 anos, que hoje levam milhares e milhares de turistas a visitar o imponente Castelo de Algodão.

A origem destas formações geológicas deveu-se à existência de correntes termais de águas quentes no subsolo, que foram provocando o derrame de carbonato de cálcio, que depois foi solidificando como mármore travertino, dispondo-se numa configuração invulgar em forma de bacias. Com o passar dos séculos foi-se formando este conjunto piscinas termais que descem em cascata pela colina.
Pelas fotos percebe-se que se trata de um local lindíssimo, pelo menos é o que parece (e não deixa de ser verdade), mas a realidade é um bocadinho diferente e a beleza não é assim tão sublime. 

É que Pamukkale, como toda a Turquia, padece do problema do excesso de turistas. Começa pela dificuldade em chegar ao estacionamento, pelas dezenas de autocarros de turismo que percorrem os mesmos acessos, depois são as multidões, sempre em grupos e em torno dos respetivos guias, descaracterizando toda a autenticidade do local….bem, lá estou eu a esquecer-me que nós também somos turistas e que, desta vez, até chegámos de autocarro como todos os outros.

De qualquer forma há uma tendência para que os grupos de turistas se acumulem quase sempre nos mesmos lugares, o que nos permite fugir para o lado oposto. É que dessa forma podemos tentar evitar as multidões, afastando-nos das piscinas abertas ao público, onde as pessoas vão chapinhar e partilhar os respetivos pés-de-atleta, só para terem a certeza de que a água está bem quentinha. 
Assim, ao nos afastarmos da restante multidão, podemos escolher as piscinas mais vazias e desfrutar demoradamente das melhores paisagens, onde a natureza se apresenta ainda em estado quase puro. 

Mas ao entrar no complexo de Pamukkale, antes de atingirmos o Castelo de Algodão, encontramos as ruínas da cidade de Hierápolis, fundada no século II aC, durante a presença do Império Romano nesta região. 

O enquadramento das ruínas romanas é fantástico. A paisagem é dominada pelo verde viçoso dos campos, pontilhado pelo vermelho das papoilas que ali florescem, e por uma envolvente lindíssima, onde se incluem as montanhas nevadas na cordilheira que fica em frente.

O local para a criação desta cidade não podia ser mais apropriado. A existência de água em abundância e, neste caso, até com propriedades terapêuticas, mas também a extraordinária beleza da envolvente, incluíam todos os requisitos que eram apreciados naquela época. 

Foi assim construída uma cidade com todo o tipo de edifícios públicos e monumentos, como acontecia nas principais cidades do Império Romano. São por isso encontrados vestígios de vários monumentos, entre os quais um teatro romano majestoso, uma arena que chegou a abrigar mais de 12 mil espectadores.

Tal como acontece sempre nas cidades romanas, também aqui existiram as habituais termas. E uma das atrações deste complexo é mesmo uma piscina dessas termas, que funcionou como uma espécie de centro de saúde. Chama-se a Antique Pool ou Piscina Sagrada, mas é sobretudo conhecida por Piscina de Cleópatra, porque, segundo a lenda, a própria Cleópatra terá usado as suas águas para tratamentos. 

Ninguém pode confirmar que foi mesmo assim, mas a piscina funciona como atração especial do complexo. Por um pagamento extra podemos nadar nas suas águas termais quentes, num espaço que se encontra rodeado por palmeiras e descobrir as colunas jónicas de mármore, dos primórdios da construção da cidade, que se encontram tombadas no fundo da piscina.


Fazendo um breve balanço da visita a este local, desde logo não podemos negar a sua beleza, que é evidente, sobretudo pela combinação entre as ruínas romanas e o fenómeno geológico, bastante raro, que está na origem do Castelo de Algodão. É, por isso, indiscutível que se trata de um ponto de visita obrigatório para quem queira conhecer este país.

No entanto, sofre dos mesmos problemas das restantes atrações turcas: o excesso de turistas e a necessidade de percorrer centenas de quilómetros para aqui chegarmos. 


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terça-feira, 16 de abril de 2019

Capadócia - Um prodígio da natureza


A Capadócia é a grande atração da Turquia Central, um lugar incrível, prodigiosamente esculpido pela natureza, com longos vales adornados por formações geológicas fabulosas e jamais vistas, que fazem com que este local nos impressione....é impossível ficarmos desapontados face à riqueza do esplendor artístico e quase divino que a natureza ali deixou. 

E à medida que percorremos as terras da Capadócia vamos encontrando várias formações rochosas com diferentes morfologias, das ravinas onduladas, às cidades subterrâneas, das misteriosas igrejas esculpidas na rocha, às chaminés salientes, com diversas formas e tonalidades. 

Encontramos de tudo isso ao longo desta região, normalmente vamos de carro ou de autocarro mas, sempre que paramos junto às principais atrações, avançamos depois por percursos pedestres, ou podemos também escolher outras alternativas, como passeios a cavalo ou de moto-quatro, e ainda, claro, os incríveis passeios de balão de ar quente, nos quais se sobrevoa uma parte destas joias da natureza.

Há muitos milhares de anos um grupo de vulcões ancestrais, o Monte Ercyies, o Monte Hasan e o Monte Melendiz, estiveram sujeitos a sucessivas erupções, criando espessas camadas de cobertura de cinzas, tufos vulcânicos e magma, que se depositaram sobre aqueles terrenos ao longo de muitos quilómetros.

Através dos séculos, o vento, a chuva e os cursos de água, foram provocando a erosão das rochas mais macias, como são os tufos, mas sem remover as partes de magma, mais resistentes, esculpindo assim algumas formas pouco comuns, desfiladeiros espetaculares com ravinas onduladas, saliências rochosas e pináculos de rocha, as chamadas chaminés, e todo este conjunto forma a espetacular paisagem, quase lunar, da região da Capadócia.
Mas a Capadócia também tem uma influência bem marcada por parte dos seres humanos, que foram esculpindo grutas nas rochas, formando assim as suas próprias casas, e até aldeias inteiras debaixo de terra. Ainda hoje, muitos dos pináculos que apresentam reentrâncias escavadas na rocha, são utilizados pelas populações como armazéns de provisões para os Invernos.

Com tudo isto, são várias as atrações que podemos visitar na Capadócia, e foi isso que fizemos, visitámos alguns dos principais exemplos das marcas geológicas que se podem encontrar nesta região, seguindo o trajeto assinalado neste mapa:


Mas para chegarmos a esta zona da Capadócia temos que percorrer cerca de 750 km desde Istambul, embora possamos escolher a alternativa do avião, o que demora apenas uma hora. Mas o nosso percurso foi feito por estrada, uma viagem sem fim, via Ancara. Este é um dos problemas de uma visita até à Turquia mais profunda, as viagens de carro ao de autocarro são intermináveis.

Neste caso aproveitámos a viagem e, ainda antes de chegarmos à zona principal da Capadócia, parámos numa das cidades subterrâneas que ficam nessa região.


Cidades e Aldeias Subterrâneas

Estas cidades-caverna trogloditas foram criadas como forma de defesa e proteção das populações ao longo dos séculos. Eram aldeias que serviam de refúgio para pessoas e animais, mas também para os seus bens de subsistência, quando vários exércitos atravessavam a Anatólia Central pilhando e capturando pessoas para as escravizar. Nessa altura, as populações abandonavam as suas casas e escondiam-se nestas aldeias subterrâneas, preparadas para que conseguissem sobreviver bastante tempo, até que os exércitos partissem. 

Por isso encontramos aldeias, ou mesmo cidades, cujo acesso para o exterior é apenas uma pequena fresta, o menos visível que pudesse ser para nunca ser descoberta.
Lá dentro encontramos espaços onde eram garantidas as condições de sobrevivência durante os períodos de fuga. E é isso que vamos visitando enquanto percorremos uma rede interminável de túneis e cavernas, onde são visíveis alguns pequenos poços de ventilação.

Nesta zona existem 36 cidades e aldeias subterrâneas, sendo algumas delas bastante amplas e profundas, como é o caso de Kaymakli, com quase 100 túneis e oito andares de caves.

E essa foi mais uma das desilusões da nossa viagem, esperávamos visitar uma das grandes cidades, ainda que não fosse Kaymakli, contávamos que fosse uma das maiores, mas acabámos numa aldeola minúscula, com pouco mais de uma dúzia de cavernas. Embora admita que nas cidades maiores continuaremos a ver exatamente o mesmo, com sucessivos túneis e cavernas, mas a verdade é que a escolha desta aldeia, quando se anunciava uma das cidades referenciadas, constituiu uma desilusão, e foi mais um argumento para tornar esta viagem à Turquia menos maravilhosa.


Museu ao Ar-Livre de Göreme 

É um dos locais imperdíveis em qualquer visita à Capadócia, é de fácil acesso, fica a apenas 1,5 km da aldeia de Göreme, e foi por aqui que começámos o nosso passeio por esta região.

Trata-se de um complexo composto por grandes formações rochosas, onde se encontram 11 mosteiros localizados nas cavidades da rocha, que revelam uma parte da história riquíssima que foi vivida nesta região.

E ao entrarmos no espaço deste museu, começamos logo por nos deslumbrar com as suas particularidades naturais, os grandes maciços rochosos esculpidos pela natureza, alguns com formas bizarras. Só depois descobrimos as habitações, igrejas e mosteiros que testemunham a atividade dos ocupantes deste local durante muitos séculos.

O museu faz parte da lista de Património Mundial da UNESCO, pela quantidade e qualidade das igrejas que encontramos em cavernas escavadas na rocha, onde são visíveis alguns frescos extraordinários, que podemos observar mas não estamos autorizados a fotografar. A maioria destes frescos estão muito degradados e encontram-se em processo de restauro.

Das várias igrejas ou mosteiros que encontramos nas muitas grutas existentes neste museu, destaca-se a chamada igreja escura, ou Karanlik Kilise, um complexo monástico do século XI. 

É uma igreja com uma cúpula, uma nave principal e quatro colunas e está decorada com frescos que representam cenas do Novo Testamento. Depois de ter sido abandonada, foi ocupada por pombos, cujos excrementos acumulados durante séculos protegeram os frescos existentes nas suas paredes e abóbadas. É por isso que os frescos desta igreja são os mais bem preservados de toda a Capadócia e constituem um excelente exemplo da arte do período bizantino. 

No entanto, já depois dos primeiros restauros, uma parte da entrada colapsou, tornando-a totalmente desprotegida, e visível a partir da zona exterior do museu. 
A visita ao museu é algo cansativa, vamos subindo e descendo sucessivas escadarias estreitas que nos levam até às cavernas, que podem ser simples habitáculos, mas também espaços de culto, com vestígios religiosos da época em que o cristianismo foi predominante nesta região da antiga Anatólia Central.
Todo o vale envolvente ao museu é constituído pelo mesmo tipo de formações rochosas, também com várias grutas que serviram de habitações para as populações trogloditas, sendo que, algumas delas, são ainda utilizadas como armazéns.



Vale Vermelho de Devrent (Vale Imaginário)

Seguimos depois num percurso de cerca de 12 km até ao Vale Vermelho de Devrent, uma zona onde a componente ferrosa dos solos estará na origem dos tons avermelhados que dominam toda a paisagem. 

Uma vez mais o efeito da erosão durante muitos séculos foi esculpindo a superfície terrestre com formas inusitadas e jamais vistas noutros lugares, numa paisagem que nem parece ser deste planeta.

O Vale de Devrent é também chamado de Vale Imaginário. A verdade é que, pelo modo como esta paisagem foi moldada, os rochedos adquiriram formas estranhas que, se dermos largas à nossa imaginação, vamos conseguir identificar algumas semelhanças com certos animais.

Assim, não será difícil imaginarmos neste aglomerado de rochas um autêntico jardim zoológico, tal a variedade de bichos que é suposto identificarmos. Mas eu, que sou sempre cético nestas coisas, pouco mais vi do que uma espécie de camelo, um bocado tortuoso.
Podemos caminhar livremente entre os maciços rochosos e, mais do que bichos, encontraremos várias esculturas naturais que são típicas desta região, entre as quais, aqueles pilares rochosos que são chamados de chaminés de fadas.

Mas de qualquer forma, reconhecendo-se mais ou menos animais, este vale será sempre um espaço bastante interessante, justificando uma caminhada por entre as rochas que nos leve a apreciar as bonitas paisagens que nos são oferecidas. E foi isso que fizemos, subimos aos pontos mais altos e desfrutámos daquelas vistas magníficas.


Aldeia de Göreme

Göreme é uma das principais aldeias da Capadócia. Encontra-se na confluência de dois dos vales mais importantes da região, o Vale do Amor e o Vale dos Pombos, e está enquadrada numa floresta de chaminés rochosas, com algumas das casas a aproveitarem as próprias grutas escavadas no maciço, o que dá a esta aldeia um aspeto pitoresco de uma povoação troglodita.
Göreme encontra-se no centro da área que é varrida diariamente por mais de uma centena de balões. É por isso um dos melhores locais para se assistir ao nascer-do-sol com o céu repleto de balões coloridos, numa imagem única e extraordinária.

Nós não tivemos essa oportunidade mas, felizmente, fizemos o passeio de balão e, por isso, pudemos desfrutar das imagens magníficas sobre a aldeia a partir do alto do nosso balão.
Mas a melhor solução para uma viagem à Capadócia, que aqui deixo como conselho para todos quantos queiram visitar esta zona da Turquia, será pernoitarem na aldeia de Göreme. Assim, na primeira madrugada vão poder fazer o passeio de balão e, na manhã seguinte, terão a oportunidade de contemplar uma paisagem fantástica com o céu cheio de balões, enquanto a aldeia acorda e se mostra com um aspeto incrível, que só na Capadócia conseguimos encontrar. 

Mas esta opção obriga a ficar num dos hotéis de Göreme, alguns deles aproveitam as próprias grutas existentes, estão decorados de forma luxuosíssima e dispõem de pequenos terraços que são como miradouros que oferecem um dos mais belos espetáculos do mundo.
Mas nós não tivemos essa sorte e esse é um pecado que eu não consigo perdoar….não me perdoo a mim mesmo pela escolha deficiente, ou não perdoo os organizadores do tour, por não terem sequer proposto essa alternativa. 

É verdade que estes hotéis são muito mais caros do que os resorts, distantes e meio manhosos, onde somos armazenados, em conjunto com outros milhares de turistas. Mas quem faz uma viagem desta dimensão não deve depois poupar numa coisa destas, porque o prazer de passar duas noites no coração da Capadócia é algo que não tem preço.

E foi por coisas como esta, e por outras, que vou mencionando ao longos destas crónicas, que a Turquia que visitámos não foi além dum “quase” maravilhoso….quando tinha tudo para ser uma verdadeira maravilha.


Vale do Amor (Aşıklar vadisi)

O Vale do Amor é um dos lugares míticos da região da Capadócia, com uma imagem de referência que é mesmo um dos seus principais ex-libris. Fica próximo de Göreme e costuma ser visível ao longo do percurso feito pelos balões no seu passeio matinal. Por terra pode ser visitável indo de carro ou autocarro até a um miradouro, com uma vista panorâmica sobre o todo o vale.

O nome deste vale deve-se às formações geológicas que são a marca da própria Capadócia, as chamadas Chaminés de Fadas, uma espécie de pilares rochosos, em que a parte superior tem a forma de um coração invertido.

As Chaminés de Fada, ou Pirâmides da Terra, como também são conhecidas, são torres de rocha mais macia, com cerca de três mil anos de existência, que sustentam pedras pesadas e mais duras, também de origem vulcânica, as tais que têm forma de coração invertido. Cada pedra protegeu e comprimiu o maciço subjacente durante milénios, o que fez com que a erosão se tivesse verificado à volta das pedras mas não por baixo delas, tendo assim esculpido os pilares ou torres que ali se encontram.
Além das vistas panorâmicas, quem quiser entrar nas profundezas deste vale terá de fazer uma boa caminhada, ou então escolher os passeios de cavalo ou de moto-quatro, que são muito comuns nesta zona. 

E aqui volto a registar uma nova queixa sobre os percursos organizados pela Capadócia. Nem todos os autocarros levam os seus passageiros ao miradouro que fica no topo deste vale. Primeiro, porque o tempo se torna escasso, o que só acontece porque somos levados a uma fábrica de tapetes e a uma olaria, que não queríamos visitar. Depois, porque nesta zona tentam-nos vender passeios de moto-quatro. Assim, quem não participou nesses passeios quase nem viu o Vale do Amor....e lá está mais uma razão sólida para que a Turquia não se tenha apresentado assim tão maravilhosa.

E uma vez mais em jeito de conselho para futuros viajantes, optem por programas que incluam passeios pedestres por estes vales, só assim vão conhecer a verdadeira dimensão da Capadócia. 


Vale dos Pombos (Guvercinlik)

O Vale dos Pombos estende-se entre as aldeias de Göreme e de Üçhisar. Trata-se de mais uma das paisagens interessantes da Capadócia, pelo conjunto formações rochosas ou chaminés que ali se erguem.
Estas chaminés, criadas a partir do vento e da erosão provocada pela água, chegam a atingir perto dos 40 metros de altura, e apresentam várias cavidades que foram ocupadas por pássaros, principalmente pombos, ao longo dos anos. 

Há vários séculos que os pombos têm vindo a ocupar as rochas e falésias deste vale e as populações locais aproveitaram essa circunstância, treinando algumas destas aves como pombos-correio e usando os seus excrementos como fertilizantes para a agricultura. No entanto, atualmente, existem muito menos pombos no vale, que se tornou sobretudo num espaço turístico. 
O Vale dos Pombos é um ótimo lugar para caminhadas, com trilhos bem sinalizados, num percurso de cerca de 4 km que liga Göreme a Uçhisar. 

Fazendo essa mesma ligação por estrada, existem alguns miradouros, associados a cafés e pontos de venda, de onde podemos contemplar toda a panorâmica do vale. Uma das particularidades interessantes é uma árvore que encontramos, decorada com os amuletos locais, os chamados "Olhos Turcos", muito usados para afastar as invejas e o mau olhado.


Aldeia de Üçhisar


Uçhisar é uma aldeia fantástica, literalmente encavalitada em rochedos enormes que fazem lembrar a imagem de imensos castelos de pedra, aliás, Üçhisar tem mesmo o significado figurativo de "três fortalezas".
O rochedo principal que domina a aldeia tem o nome de Kale, que quer dizer castelo, em turco, porque serviu de fortaleza e refúgio em tempos passados. Os rochedos estão cheios de grutas que têm servido durante séculos para habitação e proteção e, até aos dias de hoje, estas cavidades são ainda utilizadas como casas ou armazéns para os habitantes locais.
A fortaleza é um autêntico labirinto que inclui capelas, mosteiros, zonas de habitação e armazéns, ligados entre si por uma rede de galerias empilhadas em vinte andares. Foi usado como abrigo na época hitita (cerca de 1500 aC) e, posteriormente, pelos primeiros cristãos, durante o período romano, ao longo das incursões árabes dos séculos VII e VIII e durante as primeiras invasões turcas.

A aldeia está localizada em torno de formações geológicas muito peculiares que resultam numa paisagem estranha e quase extraterrestre, mas ao mesmo tempo, também magnífica.

Uma parte destas grutas continuam ainda a ser ocupadas pela população local. Além disso, algumas das habitações trogloditas foram transformadas em hotéis de alta qualidade, nos quais gostaríamos de pernoitar. 

O rochedo, tal como toda a aldeia, é bem visível durante o passeio de balão, e constitui uma das principais atrações quando vista lá do alto. Mas quando pernoitamos num dos hotéis desta aldeia, a paisagem que pode ser desfrutada logo ao amanhecer também será certamente algo de fantástico….e é por isso que Üçhisar, tal como Göreme, será um dos lugares ideais para passar a noite na região da Capadócia.
Termino com esta imagem lindíssima que mostra bem a preciosidade das paisagens que são oferecidas quando sobrevoamos este local. Porém, trata-se de uma foto que não foi tirada do nosso balão, porque não passámos por aqui, sobrevoámos terrenos em torno da aldeia de Göreme, que ficam ainda um pouco distantes de Üçhisar.


De qualquer forma, com paisagens mais bonitas ou menos exuberantes, a nossa visita à Capadócia foi algo inesquecível e o ponto mais alto desta viagem por terras da Turquia. Embora se perceba nas minhas palavras algum desagrado, sobretudo porque organização do tour não potenciou o aproveitamento pleno das maravilhas que esta região turca tem para oferecer, e isso deixou-me alguma insatisfação que ainda não ultrapassei.