sábado, 13 de abril de 2019

Istambul - Com um pé em cada continente

Foi há apenas um século, em 1923, que a antiga Constantinopla foi rebatizada dando origem à atual cidade de Istambul, como consequência de um processo que levou ao fim do Império Otomano e à fundação do novo estado da Turquia, levado a cabo sob a liderança do herói nacional, Mustafa Atatürk.

Apesar das alterações na nova Turquia e da atribuição do nome de Istambul, terem tido enorme importância na modernidade do país e da antiga cidade de Constantino, são ainda as suas raízes históricas, desde Império Romano ao Império Otomano, que marcam a cidade e a tornam particularmente interessante.
Mas, ainda assim, Istambul não é só história, é também uma cidade colossal e uma das maiores da Europa, com cerca de 16 milhões de habitantes, e é também a única em todo o mundo que se estende entre dois continentes.

A Constantinopla bizantina, antiga capital da cristandade e, posteriormente, o principal polo do maior império muçulmano da antiguidade, é agora uma cidade renovada, com uma população muito jovem, e uma modernidade que começa a despontar, embora fique a ideia de que lhe falta ainda algo para ser, de facto, uma cidade europeia e moderna, como outras grandes capitais.

Fica localizada a Norte do Mar de Mármara e é rasgada pelo Bósforo, que separa a Europa da Ásia, formando-se, quase naturalmente, três centros distintos. Dois deles na Europa, a parte mais antiga, a Sul do braço de mar a que chamam Corno de Ouro, onde se erguem as principais preciosidades históricas, e a parte mais moderna, que fica a Norte daquele braço de mar. A Oriente do estreito de Bósforo surge a parte asiática da cidade que, curiosamente, é a parte mais moderna e aquela que mais se parece com uma cidade europeia.

Para visitarmos a parte europeia da cidade fizemos alguns percursos que nos levaram aos principais pontos de interesse, sobre os quais escreverei mais à frente, tendo seguido, mais ou menos, os trajetos assinalados neste mapa:

Antes de falar de cada um dos locais que fomos percorrendo ao longo da cidade, registo este link que nos leva a um vídeo com algumas das melhores fotos que fui registando nesta viagem por Istambul.

Começámos a nossa visita pela parte mais antiga de Istambul, o seu centro histórico que, durante vários séculos, foi o coração da antiga Constantinopla, e onde iríamos encontrar os principais monumentos e as grandes referências históricas da cidade.


Hipódromo de Constantinopla:

Fizemos uma primeira paragem na Praça Sultanahmet que parecia ser só mais uma praça como tantas outras, salientando-se apenas a existência de dois obeliscos e alguns vestígios arqueológicos. Mas, na realidade, aquela praça foi outrora o Hipódromo de Constantinopla, o principal centro desportivo, mas também social e cultural, da antiga cidade de Constantino. Era ali que os romanos faziam as célebres corridas de cavalos com carruagens, numa quase batalha campal (pelo menos, foi essa a imagem que retivemos das cenas imortalizadas no filme Ben-Ur). Era um desporto muito popular naquele mundo antigo (imagino que fosse o equivalente ao nosso futebol), pelo que os hipódromos eram bastante importantes e muito comuns nas cidades dos períodos romano e bizantino.

O hipódromo foi construído no século III por ordem de Septimus Severus e foi posteriormente ampliado por Constantino, para que pudesse acomodar até 100 mil espectadores, imagine-se! Entretanto acabou por ser destruído ao longo dos anos devido a vários terramotos e, sobretudo pela ação da chamada Quarta Cruzada.

Atualmente, a antiga pista de corridas encontra-se soterrada, embora se vejam algumas ruínas a cerca de dois metros abaixo da praça, e as principais construções que ainda estão visíveis são a chamada Fonte Alemã, o Obelisco Egípcio e o Obelisco de Constantino VII, e o que resta da Coluna Serpentina, uma obra de arte composta por três serpentes entrelaçadas, construída para celebrar a vitória dos gregos sobre os persas no século V aC.

Bem próximo do antigo Hipódromo de Constantinopla ficam os dois principais monumentos da cidade, a Mesquita Azul e a Basílica de Santa Sophia, e fica também o Palácio Topakapi, a residência oficial de vários Sultões do império Otomano.


Mesquita Azul 

É uma das mesquitas mais emblemáticas de todo o mundo e a mais importante do país. Foi mandada construir no século XVII num estilo clássico otomano, pelo sultão Ahmet I, quando este tinha apenas 19 anos. O objetivo deste sultão era superar a imponência e a beleza da Basílica cristã de Santa Sophia. Foi por isso erguida com seis minaretes, o que, nessa época, só se encontrava na grande mesquita de Meca (o que criou alguma indignação junto dos fiéis e fez mesmo com que fosse construído em Meca um sétimo minarete). Foi escolhido um local para a sua construção mesmo em frente à Santa Sophia, de modo a enfatizar a supremacia do Islão sobre o Cristão Bizantino. De qualquer forma, não sei se por erro de cálculos ou por falta de competência técnica, a Mesquita Azul ficou com uma cúpula de 43m de altura, quando a Basílica de Santa Sophia atinge os 56m, gorando-se assim o objetivo de vincar a supremacia islâmica sobre aquele monumento cristão.

Mas ainda assim, não deixa de ser uma mesquita colossal e é mesmo a mais importante de toda a Turquia e um dos templos islâmicos de referência em todo o mundo.
Mas foi também a primeira grande desilusão desta viagem, desde logo porque prometia muito....era um edifício magnífico, uma referência da cultura islâmica e uma das poucas mesquitas em atividade que pode ser visitada por não muçulmanos....e quando a expetativa é muito elevada, a desilusão é também maior.

Mas, inicialmente, quando ainda estamos do lado de fora, a mesquita começa por cumprir aquilo de que estamos à espera, pela dimensão gigantesca e quase arrepiante e pela sua arquitetura, tão peculiar e fascinante. E mesmo quando chegamos ao pátio principal, continuamos agradados com a envolvente daquele monumento.
Preparámo-nos então para entrar e ficámos a saber que, apesar da forte pressão turística, o local continua a funcionar como mesquita e é mesmo o mais importante local de culto da cidade, o que me agradou particularmente, pela hipótese de poder contactar um bocadinho mais com a mística desta religião tão fascinante.

Mas quando entrámos a desilusão foi inevitável....quando era suposto encontrarmos um local de culto e oração, contido e carregado de espiritualidade, com total respeito pelos rituais religiosos, encontrámos um espaço que quase parecia uma espécie de parque de diversões, com toda aquela mise-en-scène de “milhões” de turistas de todo o mundo a calçar e descalçar sapatos, com as mulheres a cobrirem a cabeça com lenços, numa barulheira quase infernal, apesar do esforço para que se fizesse silêncio.

Também é verdade que não estivemos lá nas horas de oração, durante as quais a mesquita fecha aos visitantes, ainda assim, estava à espera que o local transmitisse uma carga de espiritualidade e que apelasse à reflexão, mas não consegui sentir nada disso....no entanto, fiquei bastante agradado com algumas das fieis de circunstância que por lá andavam.
Mas, pior ainda, quando esperava ver os inúmeros azulejos azuis que forram as paredes interiores e que estão na origem do nome que foi dado à mesquita, e a imensa cúpula central, com um revestimento que é uma preciosidade artística, encontrei apenas vários conjuntos de andaimes, tapumes e torres disfarçadas e, aqui ou ali, uns painéis que mostram a réplica daquilo que está a ser tapado, e que transformam aquele local numa espécie de estaleiro de obras….e, ainda por cima, em vez dos crentes aguardando pelas suas atividades religiosas, encontrámos uma multidão de turistas com as suas câmaras e telemóveis a dispararem freneticamente.....e sim, eu também era um deles, mas isso não impede que tenha achado este lugar, quer enquanto monumento quer como local de culto, uma tremenda desilusão. 
Só em alguns recantos nos foi possível observar um pouco daquilo que se escondia por detrás dos tapumes e só assim pudemos constatar a maravilha que aquela mesquita deverá ser quando as obras de reabilitação e restauro forem concluídas e as preciosidades que agora se escondem forem reveladas.
Mais tarde, à saída da mesquita, percorremos o jardim que a separa da Basílica de Santa Sophia, um local onde encontramos vários símbolos do Islão e onde conseguimos dispor das melhores vistas panorâmicas que comprovam a beleza indiscutível da silhueta da Mesquita Azul. 


Palácio de Topkapi

Atravessámos o jardim e contornámos a Basílica de Santa Sophia, que ficaria para mais tarde, seguindo diretamente até ao Palácio de Topkapi. Trata-se de um palácio constituído por um conjunto de edifícios monumentais que se distribuem por uma vasta área de jardim, e que serviram de residência aos sultões do Império Otomano ao longo de quatro séculos.
Atualmente o complexo está convertido num museu onde se encontram variadíssimas preciosidades, incluindo os tesouros pertencentes a cada um dos sultões, ou uma extraordinária coleção de armas e até algumas relíquias sagradas para cultura islâmica, como uma marca do pé e alguns pelos da barba, do profeta Maomé. 

De todo o complexo salienta-se a importância de alguns pavilhões, como é o caso da Biblioteca de Ahmet III que, por sorte, tinha acabado de reabrir após um longo período de obras de reabilitação e restauro. O edifício está, de facto, fantástico mas quem estiver à espera de uma biblioteca que se desengane, porque não irá encontrar qualquer tipo de livros.

Deixámo-nos depois ficar por ali algum tempo percorrendo, sem pressas, os vários edifícios e as áreas de jardim, tentando perceber como é que teria sido a vida quotidiana dos sultões e daquele palácio, sabendo-se que, para além dos monarcas que por lá passaram, moravam também ali as famílias, o staff político e militar, os empregados do palácio, que eram muitos, e ainda (e não menos importantes) as concubinas do harém do sultão, o que correspondia a um total de cerca de 5 mil pessoas.
O espaço é bastante bonito e, por isso, e até para aliviar um pouco de tanta carga histórica numa só manhã, resolvemos fazer um passeio demorado pelos jardins e usufruir da panorâmica extraordinária sobre o Bósforo que nos mostra as partes asiática e europeia da cidade de Istambul.

O complexo inclui ainda outros dois edifícios importantes - o famoso e luxuoso Harém do Sultão, também ele visitável, mas mediante um pagamento adicional, e no qual acabámos por não entrar - e um templo cristão, a Igreja de Santa Irene, que é uma das maiores igrejas cristãs da cidade, e que aparece ali, de forma inusitada, em plenos jardins de um dos palácios muçulmanos mais importantes da história ancestral do Islão. 


Yerebatan Saray – A Cisterna da Basílica

Junto à Hagia Sophia, ainda no bairro de Sultanahmet, esconde-se uma imensa galeria subterrânea que serviu como cisterna para armazenar a água de consumo da cidade de Istambul durante o Império Bizantino. A galeria foi construída na época de Justiniano, no século VI e é a maior das várias cisternas que abasteciam a cidade. Ocupa uma área de 140m por 70m e a sua cúpula abobadada é suportada por 336 colunas romanas de mármore com 8m de altura, permitindo armazenar muitos milhões de litros de água, que eram transportados desde o Mar Negro, através de condutas e aquedutos, numa extensão de mais de 20 km. 
Atualmente a cisterna já não está totalmente cheia de água e tem um conjunto passadiços que nos permitem caminhar entre as colunas, o que faz com que o local seja visitável e uma das principais atrações da cidade. 
Quando se procedeu rebaixamento das águas na cisterna foram descobertas algumas esculturas de estilo romano na parte inferior das colunas. Foram assim reveladas as estátuas de duas Medusas, figuras mitológicas com cobras na cabeça, em vez de cabelos, que se encontravam submersas e, por isso, escondidas, talvez porque, de acordo com a mitologia, quem olhasse uma Medusa nos olhos seria transformado numa estátua de pedra. A existência destas esculturas é, ainda hoje, um mistério, mas admite-se que aquelas cabeças de Medusa estariam ali para espantar os monstros que pudessem assombrar aquele espaço subterrâneo.
Mais recentemente, a cisterna foi também usada como cenário de filmes, desde o antigo From Russia with Love, um 007 da era Sean Connery, ao mais recente Inferno, na adaptação ao cinema do livro de Dan Brown, onde Tom Hanks aparece como o herói que tenta salvar a humanidade, evitando que as águas da cisterna fossem contaminadas por um vírus com efeitos devastadores


Hagia Sophia

A Basílica de Santa Sophia foi mandada construir no ano de 532 por ordem do Imperador Justiniano I, líder da cidade de Constantinopla e do antigo Império Romano do Oriente, o chamado Império Bizantino. 

Numa época em que a força religiosa era especialmente importante, Justiniano decidiu construir esta basílica para mostrar o poder do Império Bizantino e decidiu que esta iria ser o maior e mais impressionante símbolo desse poder. E durante quase todo um milénio a basílica de Santa Sophia foi mesmo o maior templo do cristianismo em todo o mundo.

Contam os registos que Justiniano terá investido 150 toneladas de ouro para sua construção e que escolheu os melhores arquitetos daquela época, que recorreram sobretudo aos materiais mais nobres, como o mármore. As colunas usadas nas naves foram trazidas do Templo de Ártemis em Éfeso e as colunas que suportam as cúpulas foram trazidas do Egito.

Mas no monumento que visitámos já pouco resta da sua construção original. Na verdade, ao longo dos séculos da sua existência, a basílica foi várias vezes danificada devido a terramotos, e depois novamente reconstruída. Além disso sofreu profundas alterações quando deixou de ser uma igreja cristã e passou a ser uma mesquita, o que fez, por exemplo, com que fossem construídos os quatro minaretes que atualmente encontramos. 
O nome desta igreja corresponde, ainda hoje, a uma ideia enganadora. Com efeito, a designação de Santa Sophia parece estar associada a uma santa com esse nome, mas, a verdade é que não existe nenhuma santa chamada Sophia. Mas qual é então o significado deste nome? Recorrendo à designação original da basílica, “Hagia Sophia”, percebemos que significa, em grego, "Sagrada Sabedoria" (como na palavra filosofia ou philo-sophia, que é o estudo da sabedoria). Portanto, a tradução correta deveria ter apelidado esta igreja de Santa Sabedoria e não Santa Sophia.....porque foi essa a ideia que esteve na origem da sua criação, um templo que representasse a força do Império Bizantino dedicado ao poder da sabedoria. 

Mas o domínio bizantino sobre Constantinopla terminou em 1453, quando o sultão otomano Mehmet II conquistou a cidade, e então a Hagia Sophia deixou de ser uma igreja cristã e foi transformada numa mesquita. As cruzes foram substituídas pelos símbolos com a Estrela e a Lua Crescente, os sinos e os altares foram destruídos ou desmontados, as figuras com santos, em esculturas, pinturas murais ou painéis de mosaicos, foram cobertos por uma camada de gesso. E com a construção do primeiro minarete, o monumento ganhou uma aparência islâmica também por fora.

Mais recentemente, em 1934, o fundador da República da Turquia, Mustafa Atatürk, transformou a Hagia Sophia num museu. Esta mudança levou à recuperação das imagens originais com minuciosos trabalhos de restauro, revelando, por exemplo, os antigos mosaicos bizantinos, que são, ainda hoje, importantes símbolos do cristianismo. Este é um dos painéis que encontramos no interior da basílica, no qual, mesmo não estando completamente preservado, os rostos estão bem visíveis, com a figura de Jesus, que aparece ao centro, com Maria à sua direita e João, à sua esquerda.
E ainda um outro painel onde surge a Virgem Maria com Jesus ao colo, ao lado dos imperadores Justiniano I e Constantino I.
Atualmente a igreja revela, de forma perfeitamente integrada, a presença das duas culturas, a cristã e a muçulmana, como acontece nesta cúpula onde aparecem os nomes de Maomé, à esquerda, e de Alá, à direita, enquanto que, ao centro, surge a imagem de Nossa Senhora com Jesus no colo. 
O interior o espaço é colossal, um imenso átrio dominado pela cúpula central, onde se salientam os contrastes entre as pinturas garridas que preenchem tetos e abóbadas e os mármores acinzentados das colunas e arcadas, notando-se também uma presença constante de referências e símbolos religiosos.
Os visitantes têm acesso à escadaria que nos leva ao primeiro piso, onde é possível observar de outro ângulo o imenso átrio, iluminado pela luz solar que espreita pelas janelas e por um conjunto de candelabros, que conferem àquele espaço um aspeto muito peculiar.
É também impressionante a grande cúpula central com as suas 40 janelas que, para além de deixarem entrar a luz, também impedem a expansão de fissuras, que poderiam destruir a sua estrutura.
À saída da basílica voltamos a contemplar a sua silhueta, que agora conseguimos decifrar de uma forma diferente.
Neste momento, o futuro da Hagia Sophia é algo incerto, devido a uma proposta do partido nacionalista MHP, que reivindica a transformação do museu novamente numa mesquita. Até agora os requerimentos apresentados nesse sentido fracassaram no parlamento e o governo turco não se tem manifestado sobre esta questão, aparentemente em reação aos protestos internacionais. A UNESCO também está preocupada com esta possibilidade, uma vez que a Hagia Sophia é Património Cultural da Humanidade desde 1985.


Grande Bazar

A Turquia está cheia de bazares, os grandes mercados onde, há vários séculos, se vendem todos os tipos de mercadorias, confirmando o espírito de comerciantes, que os turcos sempre tiveram.

O Grande Bazar de Istambul, foi construído em 1461, e é um dos maiores e mais antigos mercados cobertos de todo mundo, com mais de 60 ruas e cerca de cinco mil lojas.

Tem quatro portões principais e, logo que entramos, ficamos com a sensação de que nos podemos perder a qualquer momento. Mas, na verdade, acabamos sempre por conseguir chegar a uma das ruas principais que nos guiam depois até aos portões de saída.
Calcula-se que aqui trabalhem cerca de 20 mil pessoas e que o número de visitantes diários chegue a atingir os 400 mil.
Naquele labirinto de ruas cobertas, encontramos todo o tipo de comércio, o que faz deste lugar um dos principais polos de interesse turístico da cidade, por ser o local privilegiado para quem gosta de fazer compras. Mas a mim, as compras são algo que raramente me entusiasma, muito menos neste tipo de mercado, onde é sempre necessário regatear o preço com o vendedor.

O bazar é muito conhecido pela joalharia, mas encontramos outras lojas que vendem de tudo, desde a cerâmica aos trabalhos em chapa metálica, desde os candeeiros aos tapetes.



Existem também muitas lojas de especiarias - mas para esses produtos existe um outro mercado muito especial que também visitámos - e algumas lojas onde se encontram as guloseimas locais, as chamadas Delícias Turcas, que ganharam fama pelas referências que foram feitas no filme juvenil “As Crónicas de Narnia”, mas que, na minha opinião, são uma mistela super-enjoativa.

Na visita a este bazar limitámo-nos a circular pelos corredores, apreciando a azáfama do lugar e a sua arquitetura bem típica, e observando as lojas e o que se vendia em cada uma delas. Os tetos são uma das referências deste bazar, sempre com adornos e detalhes artísticos.
Um dos artigos que é comum encontrar nas ruas deste bazar é o chamado "Olho Turco", um amuleto poderoso, muito respeitado pelos turcos, e que representa o olhar de Deus sobre todos nós. Protege quem o possui e afasta as invejas, energias negativas e mau olhado.
Estes amuletos são algo em que as populações acreditam, encontra-se por toda a Turquia, pendurados sobre as portas das casas, para proteção de quem lá mora. Mas os Olhos Turcos são também souvenires muito procurados pelos turistas, e que aparecem sob várias formas, como os colares ou os hímenes, que todos compram para adornar os respetivos frigoríficos, a um preço quase insignificante.


Praça Taksim, Rua Istiklal e Torre de Gálata

A Praça Taksim é a maior praça de Istambul e é também o maior símbolo da resistência popular da cidade, em resposta às constantes posições opressoras do governo turco. É ali que a população, sobretudo os mais jovens, se reúne para reclamar contra o regime e contra as suas políticas antidemocráticas, o que, normalmente, acaba com violentas cargas policiais.
Mas nos dias mais normais, como aqueles em que visitámos a cidade, a praça era apenas um local de passagem para milhares de pessoas, que entravam e saíam na estação de Metro, sempre apressadas em cumprir o seu dia-a-dia. 

A praça Taksim estende-se ao longo de um empedrado imenso, e poderia pertencer à cidade de qualquer outro país, a não ser pela marca islâmica evidente, da grande mesquita que está ainda a ser construída.
Mas logo ali bem perto surge também a maior das igrejas cristãs da cidade, a Hagia Triada, igreja Ortodoxa Grega.
E é também aí que começa a imensa rua Istiklal, a mais concorrida e movimentada de toda a cidade, sai da praça Taksim e vai até perto da Torre de Gálata, numa extensão de cerca de quilómetro e meio, sempre preenchida por uma enorme multidão em grande azáfama.
Durante todo o dia, mas, sobretudo, ao final da tarde e pela noite fora, são milhares os turcos e turistas que ocupam toda a extensão da Rua Istiklal. O ambiente é frenético, as pessoas entram e saem das lojas, livrarias, cafés e centros comerciais, ou procuram as ruas envolventes, que a Istiklal vai cruzando, onde a música se faz ouvir por todo o lado, vinda dos artistas de rua ou dos muitos bares que por ali existem.

É bem interessante deixarmo-nos levar pela corrente daquela rua multicultural, onde observamos contrastes que vão da burca à mini-saia, e podemos experimentar aquilo que os turcos têm de mais genuíno - como o seu café, o café turco, uma coisa horrível, cheio de borras e, pior ainda, sempre açucarado - ou o doce típico, a Baklava, uma sobremesa de massa folhada com pistácio, ensopada com uma calda de manteiga muito doce…..demasiado calórico, mas muito guloso. As lojas de doces locais são bastante convidativas e, nesse dia, não resistimos, cedemos mesmo à tentação e provámos algumas dessas iguarias venenosas. 
Mas aquilo que mais diferencia a rua Istiklal, é a existência de um elétrico que atravessa toda a rua, abrindo caminho por entre a multidão, numa imagem que é também uma das marcas desta cidade. O elétrico vai progredindo a custo e os passageiros entram e saem, e há aqueles que preferem uma boleia à pendura. 


Depois de percorrermos os cerca de mil e quinhentos metros da rua Istiklal, entramos no bairro típico de Gálata e nas suas ruas estreitas, cheias de bares e restaurantes, pequenas lojas de souvenires para turistas, e também uma grande concentração de lojas de instrumentos musicais.

Quaisquer que sejam as ruelas escolhidas, todas nos levam invariavelmente até à principal atração do bairro, a Torre de Gálata.
Trata-se de uma construção do séc. XIV, localizada numa pequena praça, entre o casario, que pode ser visitada, se tivermos paciência para esperar nas filas intermináveis. A visita leva-nos a uma varanda a cerca de 50m de altura, que permite uma vista alargada sobre o estreito de Bósforo.


O Corno de Ouro

Corno de Ouro é o nome do braço do Mar de Mármara que divide o lado europeu da cidade, entre a parte antiga, a Sul, e a parte mais moderna, do lado Norte.

Aos descermos do alto do bairro de Gálata, percorremos o emaranhado de ruas estreitas que nos guiam até a este braço de mar e atingimos a ponte que liga as duas margens do Corno de Oiro, a Ponte de Gálata.

Atravessámos a ponte a pé enquanto contemplávamos as paisagens fantásticas que se observam dos dois lados, com a encosta a Sul dominada pela silhueta da Mesquita Süleymaniye e, na margem Norte, um denso aglomerado de casas de onde se ergue a parte superior da Torre de Gálata.

Esta ponte, que é atravessada diariamente por milhares de carros e peões, constitui uma das grandes atrações de Istambul, sobretudo por ser o local de onde conseguimos observar algumas das panorâmicas mais bonitas da cidade, mas também pela quantidade de restaurantes que ocupam todo o seu tabuleiro inferior, e que são, por si só, um atrativo especial para os visitantes, que não devem deixar de aproveitar a oportunidade para um almoço ou um jantar neste local.

São restaurantes especializados em pratos de peixe, o que combina com o facto desta ponte estar constantemente ocupada por várias dezenas de pescadores, que vão pescando à linha o peixe que lhes vem ao anzol, que imagino seja de qualidade duvidosa, face à aparente sujidade daquelas águas. 
Quisemos aproveitar o anoitecer magnífico daquele local e jantámos num desses restaurantes, e deixámo-nos ficar observando o vaivém das embarcações que cruzam este braço de mar, e contemplando o anoitecer que se foi instalando, ainda marcado pelos contornos da Torre Gálata e das maiores mesquitas, além da Süleymaniye, também a Mesquita Yeni, localizada junto à saída Sul da ponte.


Foi uma noite fantástica e achei este local imperdível para quem visite a cidade de Istambul, no entanto, saiba-se que não arriscámos nenhum dos pratos de peixe que os menus ofereciam, temendo que tivesse sido pescado naquelas águas, aparentemente pestilentas.


Estreito de Bósforo

Para quem visita a cidade Istambul será quase obrigatório fazer um passeio de barco ao longo do estreito de Bósforo, o mar que separa as partes europeia e asiática da cidade. E reconheço que é algo que não deve mesmo deixar de ser feito, pois é a melhor forma de contemplarmos esta cidade, por oferecer as melhores panorâmicas, mas também para poderemos conhecer a riqueza da cidade nas proximidades das duas margens do estreito.

E lá partimos nós, num dos muitos barcos de cruzeiro que transportam diariamente milhares de turistas, saindo de um dos portos principais, localizados no Corno de Ouro, perto da Ponte de Gálata, deixando para trás a imagem da mesquita Süleymaniye a dominar a encosta, e encontrando, logo à frente, a silhueta do Palácio Topkapi e da Hagia Sophia.

Percorremos toda a margem da zona europeia da cidade, passando pelas duas primeiras pontes intercontinentais e regressámos depois junto à margem asiática. 

E logo no início do passeio surgiu-nos uma das referências da cidade, pelo menos para aqueles que acompanham o futebol internacional, o estádio do Beşiktaş, um dos principais clubes turcos. 
Ainda do lado europeu vamos encontrando as bonitas fachadas de alguns palácios e palacetes que fazem parte da história da antiga Constantinopla, como é o caso do Palácio Dolmabahçe, antigo centro administrativo do Império Otomano e, atualmente, convertido num museu.

Trata-se do primeiro palácio de estilo europeu da cidade de Istambul, apesar de ter sido mandado construir por um dos seus sultões. Mais tarde serviu também de residência oficial do primeiro presidente e fundador da República da Turquia, Mustafa Atatürk, que ali passou os seus últimos dias, tendo falecido num dos quartos do palácio em 1938. 
Um pouco mais à frente encontrámos um outro monumento sumptuoso, o palácio do Museu Nacional de Pintura, o principal museu de arte da cidade. O museu exibe peças de arte riquíssimas, que não pudemos ver, mas observámos a sua fachada, que é também uma preciosidade assinalável.
Depois de mais algumas construções majestosas que nos foram aparecendo ao longo desta margem, algumas delas convertidas em resorts turísticos, surge-nos a Mesquita de Ortaköy, peculiar pela sua configuração e também pela localização, praticamente sobre o mar.
Logo depois surge-nos a primeira ponte suspensa do estreito, onde diariamente milhares de viaturas se deslocam, fazendo travessias intercontinentais, entre a Europa e a Ásia.
Ainda na margem europeia passámos depois pelo castelo de Rumelihisarı, uma fortaleza construída no século XV pelo sultão Maomé II, o conquistador daquele local junto ao Bósforo.
E logo de seguida surge a segunda ponte suspensa, muito semelhante à anterior.
Depois da nossa embarcação fazer, também ela, a sua viagem intercontinental, que nos levou até à margem asiática do Bósforo, fomos surpreendidos por uma presença totalmente inesperada.

Por aquilo que observámos, tínhamos constatado que as águas do estreito de Bósforo eram altamente poluídas. Vimos isso pela quantidade de lixo que se encontra em suspensão, mas já seria de esperar, sabendo-se que este estreito está encostado a uma cidade de 16 milhões de habitantes, onde os sistemas de tratamento de águas residuais e de lixos, não serão propriamente os mais evoluídos do mundo. Além disso, é através deste estreito que o imenso Mar Negro comunica com o Mediterrâneo, o que faz com que todo o transporte via marítima se faça por ali, o que corresponde a uma quantidade colossal de navios.

Tudo isto fez ainda aumentar o efeito surpresa de quando nos avisaram que vinha aí um grupo de golfinhos.....era um grupo pequeno que passou alegremente junto ao nosso barco, ensaiando os habituais saltos, para satisfação de toda a gente.
Continuámos pela margem asiática, que me surpreendeu pela quantidade de casas de luxo sobre o mar, intercaladas, aqui e ali, por mais alguns palacetes.


Ao regressarmos ao Corno de Ouro, passámos ainda junto à Torre de Leandro, ou Torre Donzela, uma construção do século XII, situada numa pequena ilhota em pleno Bósforo.

Foi construída com a intenção de fixar a corrente que perturbava a passagem dos barcos e, ao longo da sua história, foi utilizada como farol, mausoléu, casa de retiro, alfândega e quartel.

Além da sua aparência e da particularidade de se tratar de uma torre que fica algures entre a Europa e a Ásia, existem à sua volta duas lendas que estão na origem dos dois nomes que lhe são atribuídos.

Mas a nós, a magia das lendas não se fez sentir, pareceu-nos apenas um simples farol que nos orientava naquele início de tarde escuro e chuvoso.
E com o cair da chuva que ia persistindo, em contraste com os raios de sol que queriam romper, foram-se formando algumas imagens com uma luminosidade especial, como esta paisagem onde a Torre de Gálata surge sobre a cidade como se fosse o seu farol.


Bazar Egípcio

É também conhecido por Bazar das Especiarias, está localizado na margem Sul do Corno de Ouro, junto à Ponte de Gálata e é um dos melhores lugares da cidade para comprar certos produtos locais, como frutos secos e especiarias. 
O Bazar está construído em forma de L e tem 6 portas de entrada. Os tetos em abóbada do corredor central, estão ornamentados com pinturas decorativas, em excelente estado de conservação, e as própria lojas estão decoradas de forma bastante apelativa.

As cores vivas de alguns dos produtos, sobretudo das especiarias, são um verdadeiro estímulo para os sentidos de quem visita este mercado. 
Este Bazar surge ligado à Mesquita Yeni, localizada mesmo ao lado. Remontam ambos ao século XVII, e foram construídos para uma utilização em conjunto, com os serviços religiosos junto ao local das transações comerciais, ambos bastante importantes para as populações daquela época.
O nome de Bazar Egípcio vem da época em que Constantinopla marcava o final da rota da seda e era o centro de distribuição de toda Europa. Nessa altura as especiarias chegavam da Índia até ao Egito, e era de lá, que iam depois até Constantinopla pelo Mar Mediterrâneo.
Na minha opinião este bazar é bem mais interessante do que o famosíssimo Grande Bazar, apesar de ser muito mais pequeno, achei-o bastante mais bonito e acolhedor.


Passagem para a Ásia

Cruzámos o Bósforo através da primeira das três pontes suspensas que atravessam o estreito e nos levam numa viagem intercontinental, nesta cidade com um pé em cada continente.

É uma ponte como tantas outras, mas a sensação que experimentamos quando a atravessamos, não deixa de ser curiosa, sabendo que estamos a deixar para trás o velho continente e a abraçar o exotismo asiático…..tudo isto é simbólico, claro, sabemos bem que do lado de lá, nada nos espera de muito exótico. 
Mas a partir do alto desta ponte aproveitamos ainda para uma última visão das paisagens que nos são oferecidas, com a Mesquita de Ortaköy, junto ao mar, do lado europeu, e logo depois, já no lado asiático, a nova Mesquita de Çamlıca, uma das maiores da cidade, mandada construir recentemente pelo presidente Erdoğan.

E quando chegamos à margem asiática do Bósforo, constatamos, com surpresa, que esta é mesmo a parte mais moderna e mais europeia da cidade de Istambul, o que não deixa de ser curioso.

Mas há uma coisa que não muda, seja qual for o continente, para este povo turco a paixão pelo futebol está sempre viva e, deste lado, a equipa da terra é o Fenerbahçe.

E terminámos assim esta visita à cidade de Istambul. Não direi que a cidade não é interessante nem que fiquei completamente desiludido, mas reconheço que esperava uma cidade diferente, mais moderna, nos seus traços europeus, mas também mais exótica, na sua componente asiática. Mas, na verdade, Istambul nem é assim tão moderna nem é também assim tão exótica…..é sobretudo uma cidade histórica inacreditável, quase uma cidade museu, com séculos e séculos de estórias para contar, que quase se confundem com a própria história da humanidade.