sábado, 6 de julho de 2002

Viena d’Áustria


A cidade de Viena, capital da Áustria, está localizada junto às margens do rio Danúbio, e tem um lastro histórico e artístico impressionante, desde logo pelas referências a algumas das suas principais figuras, como Mozart ou Freud.
Atualmente encontramos ainda uma cidade monumental, com os seus palácios imperiais, graciosos e opulentes, uma herança dos Habsburgo, refletindo ainda a elegância dos séculos XVIII e XIX, quando a capital austríaca era o principal centro da hegemonia do império austro-húngaro.

Visitei esta cidade em duas ocasiões, mas sem nunca me ter encantado, apesar de reconhecer que se trata de um lugar extraordinariamente bonito, pelas suas ruas muito bem organizadas, pelos seus edifícios, sempre grandiosos e, sobretudo, pelos monumentos que se dispõem ao longo de toda a cidade, alguns deles verdadeiras obras-primas da arquitetura… mas o resultado é como se tivéssemos num imenso museu, apreciando a imponência dos edifícios, mas sem que esse conjunto mexa connosco, não há qualquer chama, não nos apaixona minimamente.

Não quero dizer com isto que a cidade de Viena não mereça ser visitada, claro que merece, mas não estejam à espera de uma experiência sensorial marcante, preparem-se apenas para um desfile de monumentos e edifícios clássicos que se vão sucedendo à medida que fazemos os nossos percursos pelas ruas e praças da capital austríaca, e que podem seguir aproximadamente os três longos trajetos marcados neste mapa, organizados para uma visita de dois dias:



Trajeto 1


No primeiro trajeto aqui assinalado faremos uma caminhada pela periferia do centro histórico, chegando até às margens do Danúbio, um rio que, supostamente, seria um elemento principal da cidade de Viena, mas que passa algo afastado do centro, e acaba por não ter grande protagonismo para quem visita a cidade.


Naschmarkt

Escolhemos o início do primeiro percurso em função da proximidade do hotel onde ficámos, e começámos assim pelo Naschmarkt, um dos mercados mais conhecidos de Viena, onde se encontram quiosques de venda de carne, pão e todo o tipo de alimentos, e também de flores, que dão ao mercado uma imagem colorida.

Mas este mercado não serve só para fazer compras, é também muito utilizado à hora das refeições, visto que ali existem vários restaurantes internacionais, supostamente a preços acessíveis, o que é algo discutível, numa cidade tão cara como esta… mas recomendo que se tente escolher uma das muitas opções de restaurantes que ali se encontram.

Desde o século XVI que este lugar se tornou no mercado de rua mais conhecido de Viena, e só nos finais do século XVIII passou a ocupar um armazém, que foi sendo transformado até ao edifício que atualmente ali se encontra.



Karlskirche

A apenas 10 min a pé chegaremos à igreja Karlskirche, que corresponde à Igreja de São Carlos Borromeu, e que é uma das mais importantes igrejas de Viena.

Durante a peste a cidade de Viena, o Imperador Carlos VI prometeu ao povo que, quando a cidade ficasse livre da epidemia, iria construir um templo dedicado a São Carlos Borromeu, padroeiro da luta contra a peste. E foi assim que esta belíssima igreja foi construída.

A construção da igreja foi um processo moroso que só terminou ao fim de 25 anos de obras… empreiteiros, do que é que se estaria à espera! Mas no final terá valido a pena, pois o resultado final é um monumento lindíssimo.

As fachadas são bastante singulares, não se assemelhando com a maioria das igrejas que encontramos pela Europa fora. Neste caso salienta-se a cúpula, essa um pouco mais comum nas cidades do Norte, mas também as duas colunas exteriores, inspiradas na Coluna de Trajano de Roma, com uma decoração em espiral que representa algumas cenas da vida de São Carlos Borromeu.

Mas há um outro pormenor, o lago que fica em frente da fachada principal, e que é marcante na paisagem que nos é oferecida do exterior, combinando a beleza do edifício, com o seu reflexo no espelho de água.



Monumento aos Heróis do Exército Vermelho

Logo atrás desta igreja surge a Schwarzenbergplatz, uma praça onde se ergue a estátua de um soldado. Será um soldado do Exército Vermelho e está apoiado no alto de uma coluna com 12 metros, empunhando uma bandeira e um escudo dourado.

Trata-se de um monumento aos Heróis do Exército Vermelho e recorda os 17 mil soldados soviéticos que morreram no Batalha de Viena, na luta pela libertação da cidade da invasão Nazi durante a Segunda Guerra Mundial.

Na sequência desta batalha a cidade foi libertada e, numa fase de transição, a capital austríaca foi mesmo dividida em quatro zonas de ocupação, americana, soviética, francesa e inglesa.

Este monumento foi assim erguido de forma natural, como agradecimento à participação soviética. Mas o memorial não iria ter uma boa reputação por muito tempo, devido à posição duríssima do bloco de Leste que aconteceu alguns anos depois, e se manteve por várias décadas.

O monumento é ainda composto por uma colunata em pedra e por uma fonte, que algumas vezes está a funcionar com projeção de jactos de águas, produzindo uma bonita imagem de todo o conjunto.



Palácio Belvedere

A pouco mais de 300 metros iremos encontrar uma das entradas para acesso aos jardins e ao Palácio Belvedere, um dos monumentos mais interessante da cidade.

Registo que foi dos poucos monumentos cujo interior visitei das duas vezes em que fui a Viena e, atualmente, recomendo claramente que se faça essa visita… e já explico porquê.

Mas vamos começar pelo mais interessante, que são os exteriores, quer as fachadas do palácio quer os magníficos jardins, a fazer lembrar a grandiosidade e a elegância do palácio de Versalhes.

Este complexo foi construído como residência de Verão do Príncipe Eugenio de Saboya e é formado por um conjunto de dois palácios ligados por um enorme jardim francês. No ponto mais alto fica o Palácio de Belveder, o mais grandioso e também o mais bonito e, no extremo oposto do jardim, fica o palácio do Baixo Belvedere, menos interessante e quase insignificante, quando comparado com o seu vizinho.

O mais interessante neste complexo será passearmos pelos jardins e observarmos toda a envolvente, que é sempre lindíssima. Num dos lados do palácio principal encontramos um jardim mais modesto, mas com um enorme espelho de água, que faz um belo efeito.

Do lado oposto estende-se o tal jardim francês, oferecendo algumas imagens riquíssimas, quer pelo enquadramento da fachada do palácio quer pelo próprio jardim e as suas fontes.

O interior do Belvedere não é particularmente exuberante, mas eu também nunca apreciei muito a decoração dos interiores de palácios e outros monumentos, é sempre uma tremenda seca. Mas, neste caso, o palácio abriga no seu interior um museu de arte, e é isso que eu venho recomendar e apenas porque ali se exibem coleções de pinturas, entre as quais se encontra a maior coleção de todo o mundo de obras de Gustav Klimt, incluindo o seu famoso quadro "O Beijo".



Stadtpark

Seguimos depois até ao Stadtpark, o Parque da Cidade, um grande jardim municipal, que é dividido pelo canal do Wiental Kanal (um canal do rio Viena) e onde se encontram várias estátuas de famosos artistas, escritores e compositores vienenses. De entre as várias estátuas que ali se encontram espalhadas destaca-se o monumento a Johann Strauss, uma das figuras mais notáveis da cidade.
Mas a joia da coroa deste parque é a sala de espetáculos Kursalon, que foi construída entre 1865 e 1867 em estilo renascentista, sob decisão do imperador Franz Josef I.

No ano de 1868 foi realizado o primeiro concerto nesta sala por Johann Strauss, o mestre das valsas vianesas.

Atualmente, realizam-se no teatro Kursalon concertos onde são tocadas obras de Strauss ou Mozart, pela Orquestra Alt-Wien, e que são vistas por mais de 200.000 espetadores em cada ano. A possibilidade de assistir a um desses espetáculos permitirá sentir uma atmosfera semelhante à da época de ouro das valsas vienenses.


Hundertwasserhaus

Caminhando ainda no Stadtpark ao longo do Wiental Kanal chegaremos depois ao Hundertwasserhaus, um complexo residencial do início dos anos 80, que se destaca pela sua imagem bastante original.
A obra é uma criação do arquiteto Friedensreich Hundertwasser, um artista nascido em Viena em 1928, que se destacou no mundo da pintura, da escultura e da arquitetura, pelas suas obras especiais e diferenciadas, coloridas e originais.

Numa cidade tão clássica, o Hundertwasserhaus é uma lufada de ar fresco de modernidade, com a imagem de um quadro colorido e ondulado, transformado num edifício residencial, o que faz dele uma das atrações imperdíveis de Viena.

Ao lado do edifício principal, há também um simpático shopping feito no mesmo estilo, o Hundertwasser Village.


KunstHaus Wien

Seguindo mais alguns minutos a pé e encontraremos uma outra obra de arquitetura disruptiva, o Museu KunstHaus que corresponde ao Museu Hundertwasser, onde são expostas as obras do artista. Ali encontram-se obras de arte do pintor Freidrich Hundertwasser, desde pinturas a alguns trabalhos gráficos e desenhos de arquitetura.

Quem não quiser entrar no museu, como eu não quis, pode ficar apenas do lado fora e apreciar a fachada do edifício que é bastante interessante, embora menos impressionante do que o seu vizinho, o edifício Hundertwasserhaus.


Os rios da cidade de Viena

Historicamente, Viena é a cidade clássica e monumental do Danúbio-Azul, pelo menos é essa a áurea que envolve a sua história, por força das valsas e óperas ali compostas e tocadas durante vários séculos. Mas quando visitamos a cidade, sentimo-nos desiludidos com o rio que ali vamos encontrar… quase nem encontramos o Danúbio, e quando o conseguimos ver, pouco tem a ver com o Danúbio-Azul que imaginámos.

Na verdade, nas proximidades do centro da cidade só vamos encontrar o chamado rio Viena, ou Wienfluss, que é apenas um canal do curso de água principal, o tal Danúbio, que passa mais afastado do centro.

Mas na zona do Wienfluss não vamos descobrir aquela imagem do romantismo associado à ideia sonhada do Danúbio-Azul, das valsas e das salas de espetáculos vienenses. Pelo contrário, e em vez desta imagem romântica, encontramos uma dinâmica urbana, quando os mais jovens ali se juntam, sobretudo ao entardecer, para aproveitar o fim do dia, tomar uma bebida e apreciar os eventos da arte urbana que ali se vão manifestando.

De todas as pontes que vamos encontrando no Wienfluss, destaca-se uma delas onde se ergue um monumento de inspiração cristã, a chamada Marienstatue, uma estátua com a representação da Nossa Senhora com o Menino ao colo.
Para conseguirmos encontrar o curso principal do rio Danúbio será preciso que nos afastemos, pelo menos, mais uns dois quilómetros do centro. E ao final dessa caminhada vamos encontrar um rio que é ainda mais distante daquela imagem sonhada dos séculos passados. O rio é bastante largo e funciona agora como um meio de transporte de mercadorias e pessoas, através dos muitos barcos que o percorrem todos os dias, como as embarcações de cruzeiro que descem o rio entre as várias cidades que ele atravessa, seguindo a caminho de Bratislava e, mais à frente, de Budapeste.

Atualmente foram crescendo alguns bairros modernos na margem esquerda do rio, tornando-o irremediavelmente afastado do eterno Danúbio-Azul criado por Strauss na sua mais bela valsa.


Prater

No acesso a esta zona do Danúbio podemos escolher um caminho que passe junto do Prater, um popular espaço de lazer onde se encontra o parque de diversões mais antigo do mundo, e também o estádio mais importante da cidade.

Na zona do parque destacam-se algumas atrações que se mantêm desde a sua inauguração em 1897, como um dos carrosséis e a roda-gigante, com 60 metros de altura, e que é um dos símbolos da cidade de Viena.

Terminando o primeiro percurso por zonas periféricas da cidade, entramos agora no centro histórico, pelas ruas mais apertadas e onde encontraremos alguns dos monumentos mais representativos da capital austríaca.


Carillon Ankeruhr

Ainda perto do rio Viena, o Wienfluss, entramos no centro histórico e encontramos o relógio mais bonito da cidade e uma peça da Art Nouveau, o relógio Ankeruhr.

Em 1911, a companhia de seguros Der Anker desenvolveu um plano para construir um grande relógio público na sua nova sede. Para isso contratou o pintor e escultor da Art Nouveau Franz Matsch, que definiu o design artístico, sendo os mecanismos do relógio concebidos pelo relojoeiro da corte.

Atualmente o Ankeruhr é uma atração turística para quem visita o centro da cidade de Viena, por onde recomendo que se faça uma breve passagem.


Stephansdom

Situada em pleno coração do centro da cidade, a Stephansdom ou Catedral de Santo Estevão, é a sede principal da arquidiocese de Viena.

Foi construída sobre as ruínas de uma igreja românica dedicada a Santo Estevão, construída no século XII, embora do antigo templo apenas se conservem a Porta dos Gigantes e as Torres dos Pagãos.

A catedral é composta por um corpo principal e por uma torre com 137 metros de altura, em forma de agulha, construída em estilo gótico, que pode ser vista de vários pontos da cidade, anunciando a localização da catedral. Quem quiser contemplar as paisagens do alto desta torre pode fazer a visita e preparar-se para uma subida árdua por uma escada caracol, mas no fim será recompensado com uma bela vista do centro da cidade.
O telhado da catedral é revestido por mais de 250.000 azulejos que tiveram de ser restaurados depois de terem sido seriamente danificados durante a Segunda Guerra Mundial.

A praça Stephansplatz, onde se ergue a catedral, é um dos pontos de visita mais importantes da cidade de Viena, onde os turistas permanecem apreciando este magnífico monumento, antes ou depois de visitarem o seu interior, também ele bastante rico e imponente.


Café Korb

Nesta zona do centro da cidade encontramos um café com quase 120 anos de tradição, o Café Korb. A sua história começa ainda na monarquia e até o Imperador Franz Josef compareceu pessoalmente à cerimónia de abertura em março de 1904.

Esta cafetaria fica bem no coração do centro histórico, mesmo na detrás da Katholische Kirche St. Peter, uma das igrejas católicas da cidade, e também na proximidade da Catedral.

Apesar de se tratar de um café cheio de história, não deixou de se modernizar, quer na decoração quer também na própria cozinha e nos menus que são oferecidos. Mas, ainda assim, tem garantido, na sua essência, a preservação cuidadosa dos detalhes interiores que refletem o charme de décadas de história, ao estilo das cafetarias Art Lounge, com uma atmosfera de café literário ou clube cultural, neste caso utilizando as paredes para expor algumas pinturas de artistas conceituados, como Oswald Oberhuber ou Adrian Buschmann.


Peterskirche

A Igreja de S. Pedro fica meio-escondida entre os edifícios clássicos do centro de Viena. Trata-se de uma igreja católica do século XVIII, que mantém ainda a sua atmosfera histórica e religiosa, pois, ao contrário das restantes igrejas da cidade, esta não estará a abarrotar de turistas. Por isso merece que se entre e se aprecie, sobretudo, as elegantes decorações que adornam o teto.


Pestsäule

Num dos mais famosos passeios pedonais vienenses, que tem o nome de Graben, encontramos mais um monumento representativo da história da cidade. Neste caso trata-se da chamada Coluna da Peste, ou Pestsäule.

No ano de 1679 a cidade foi devastada pela Grande Peste de Viena, diferente da peste negra, que dizimou a Europa três séculos antes, mas que ainda ceifou quase 80 mil vidas.

Treze anos depois, seria erguida na rua Graben, a Pestsäule, ou Coluna da Peste, ou ainda, Coluna da Santíssima Trindade, que constitui um memorial dedicado às vítimas da epidemia e uma interessante escultura, feita para afastar novas pragas da cidade.
Esta coluna inspirou-se na tradição das colunas marianas, ou da Santíssima Trindade, que apresentam no seu topo a imagem da Virgem Maria. Uma primeira versão, ainda em madeira, foi erguida durante o período em que a peste assolava a cidade, mas o imperador da época, Leopold I, comprometeu-se a construir uma estátua mais robusta, e que seria erguida para agradecer o eventual fim da epidemia… mas Leopold não iria ficar por perto para dar moral aos seus súditos sofredores, pois fugiu para bem longe da cidade e só retornou quando a peste já tinha acabado.

Mais tarde, ao longo de vários anos, diversos escultores estiveram envolvidos no desenvolvimento e construção deste monumento que encontramos bem no centro da principal rua pedonal de Viena, a rua Graben, nas proximidades da catedral de Stephansdom.


Palácio Hofburg e Museu Sissi

Durante mais de 600 anos o Palácio Hofburg foi o local de residência dos Habsburgo. Trata-se de um enorme complexo arquitetónico, com uma fachada muito bonita, que inclui os antigos aposentos imperiais e mais algumas atrações, como uma capela e uma igreja, a Biblioteca Nacional Austríaca, a Escola de Inverno de Equitação, a Prataria da Corte e até o escritório do Presidente da Áustria.
Mas uma das principais atrações deste conjunto será o Museu Sissi, o nome por que era conhecida a Imperatriz Elizabeth da Áustria, que foi a esposa do Imperador Francisco José I.

Na exposição deste museu é possível observar diversos objetos que fizeram parte da vida de Sissi, como alguns vestidos, retratos e muitos outros pertences. Ao longo das seis salas do museu talvez consigamos entender uma pequena parte da vida atormentada, e muitas vezes incompreendida, da imperatriz, com relatos sobre a sua rebeldia contra a vida na corte, a sua obsessão com a beleza e a magreza, e o estado de profunda melancolia que a afligia.

Esta personagem tornou-se uma figura mítica durante toda a sua vida, como que uma primeira versão da princesa do povo, e essa áurea veio a perpetuar-se pelas gerações futuras, quando a sua vida foi retratada num filme rodado em Hollywood por Ernst Marischka, no ano de 1955, dando a conhecer a todo o mundo a história desta jovem imperatriz… mais recentemente, foi ainda rodada pela Netflix uma série sobre a sua vida.

Numa tentativa de fugir dos outros, mas também de si própria, a imperatriz não deixou de viajar pelo mundo… tendo estado algum tempo em Portugal, na ilha da Madeira, onde se encontram registos da sua presença, e até uma estátua com a sua figura.

No ano de 1898 a Imperatriz da Áustria foi assassinada, em Genebra. Num barco a vapor que flutuava no Lago Léman, Sissi foi apunhalada por um anarquista italiano, num caso que mexeu com as paixões e emoções populares…"Ah não, não foi nada! Ele apenas me esmurrou no peito, aparentemente ele estava atrás de meu relógio", foram as últimas palavras da Imperatriz Sissi, poucos momentos antes de morrer.
Sob o edifício do palácio encontra-se um arco que podemos percorrer até ao pátio interior, o chamado Innerer Burghof, que merece ser visitado, para conhecermos o edifício de uma outra perspetiva.


Wiener Minoritenkirche

Esta igreja, formalmente chamada de Italienische Nationalkirche Maria Schnee, foi construída no século XII em estilo gótico francês, e é a principal igreja franciscana da cidade de Viena.

A sua imagem exterior é bonita, mas bem diferenciada da maioria dos monumentos da cidade, com os seus traços simples e modestos, como é comum nos edifícios com inspiração nos princípios adotados pelas ordens franciscanas.


Burgtheater

Depois da Comédie Française, o Burgtheater em Viena é o segundo teatro mais antigo da Europa. Esta sala de espetáculos é referida como sendo o teatro da burguesia, em oposição ao Volkstheater, que em tempos foi o teatro do povo.

Podemos apreciar a fachada do edifício, que é bastante bonita, mas quanto ao seu interior será necessário fazer uma visita guiada, ou comprar um ingresso para assistir a um espetáculo. Para além da sala de espetáculos, que será sempre uma referência, destacam-se no interior deste teatro as escadarias principais onde se encontram pinturas no teto de Gustav Klimt.


Rathaus

Em frente ao Burgtheater, na praça Rathausplatz, fica o maior edifício não religioso da cidade, o Rathaus, que funciona como Câmara Municipal de Viena.

Trata-se de um extraordinário edifício construído entre 1872 e 1883, com a sua torre central enorme, no topo da qual se ergue uma estátua com 3 m de um cavaleiro envergando uma armadura e uma lança, que é chamado de Rathausmann (o homem da câmara).
No piso de baixo deste palácio encontra-se o tradicional restaurante ‘Wiener Rathauskeller’, uma referência da cidade, com os seus belos salões e a praça que fica em frente, a Rathausplatz, corresponde a uma grande área onde de encontram algumas estátuas de pessoas notáveis da história vienense. Esta praça é também usada para alguns dos eventos mais frequentados da cidade, como o Christkindlmarkt (Mercado de Natal), ou o Musikfilm Festival.


Volksgarten e Theseustempel

Logo depois da Rathausplatz entramos no Volksgarten, o Jardim do Povo, um bonito espaço ajardinado e decorado com várias estátuas, que se encontra rodeado por alguns dos grandes monumentos vianenses.

Ao centro, existe o Theseustempel, uma construção ao estilo dos templos gregos. O seu nome significa Templo de Teseu e a sua origem remonta ao início do século XIX, concebido pelo arquiteto da corte para vir a abrigar uma única obra de arte contemporânea: a escultura de mármore branco de Antonio Canova, Teseu Derrotando o Centauro. Durante setenta anos esta obra permaneceu ali no Templo de Teseu, mas em 1890, depois da inauguração do Kunsthistorisches Museum, a obra foi transferida para este museu, onde ainda hoje pode ser encontrada na grande escadaria.

Mas o Theseustempel mantém-se ainda ao centro do Volksgarten, conferindo um ar monumental a este jardim.


Trajeto 3


Fiz aqui uma pausa, dividindo os trajetos 2 e 3, mas, se quisermos, podemos continuar a nossa caminhada entrando diretamente no Trajeto 3 que começa logo ali ao lado, bem perto Volksgarten, junto à praça do parlamento.


Edifício do Parlamento austríaco

O Parlamento de Viena foi construído no século XIX num estilo clássico e é um dos edifícios mais notáveis da Ringstrasse.

Aproveito agora para falar um pouco da Ringstrasse, que é uma avenida circular que rodeia todo o centro de Viena, ao longo da qual se encontram grande parte das obras arquitetónicas mais significativas da cidade. O centro de Viena esteve protegido por uma muralha desde o século XII e, mais tarde, a partir de 1850, foi crescendo enquanto se formavam vários bairros no exterior dos muros. Em 1857, a muralha começou a ser derrubada para dar mais espaço à cidade e, no seu lugar, foi construída uma grande avenida, a Ringstrasse… e o Parlamento de Viena foi construído como parte do projeto de renovação desta avenida.

O edifício segue aquele estilo que lembra a antiga Grécia, com as habituais colunas e um grande pórtico central. Durante a Segunda Guerra Mundial, o edifício do Parlamento foi bombardeado, o que destruiu cerca de metade das suas paredes e coberturas. As obras de reconstrução prolongaram-se até 1956, dando ao edifício um aspeto semelhante ao original.

Se estivermos interessados podemos ver o interior do Parlamento, participando em visitas guiadas, mas a mim, pessoalmente, não é algo que me atraia, preferindo ficar do lado de fora e apreciar apenas a bonita fachada e a fonte que fica em frente.


Volkstheater

Continuando o nosso caminho por este conjunto de ruas e avenidas majestosas, rodeadas por todo lado por edifícios imponentes, podemos escolher o que queremos ver, num autêntico cardápio de monumentos. E no meio de tudo isso, podemo-nos focar num dos edifícios mais modestos que ali se encontram, o Volkstheater… ou o teatro do povo, tal como o Volkswagen, que foi concebido como o carro do povo.

O Volkstheater foi inaugurado em 1889 como um complemento ao Burgtheater. Atualmente, com 830 lugares, é um dos maiores teatros de língua alemã em todo o mundo, e com as remodelações sofridas transformou-se no teatro mais moderno da Áustria.


Maria-Theresien-Platz

A próxima paragem é feita na imensa praça Maria-Theresien, que é também conhecida como a praça dos museus, e é um dos sítios mais monumentais da cidade, como se isso fosse possível, onde encontramos, frente a frente, dois dos mais importantes museus vianenses, que já tive a oportunidade de visitar, o Naturhistorisches Museum, que é o museu de História Natural, e o Kunsthistorisches Museum, o museu de História da Arte.

O Museu de História Natural foi inaugurado em 1889 e é um típico museu dedicado a estas temáticas, com exposições sobre a diversidade da natureza e a história do planeta, desde os tempos dos dinossauros.

Trata-se de um museu grandioso, com mais de 20 milhões de objetos, mas, ainda assim, fica muito aquém dos seus homónimos de Londres e de Nova Iorque.

Apesar de toda essa grandiosidade, acredito que existem muitas outras coisas para ver em Viena antes de ir a este museu, pelo que recomendo apenas uma visita pelo exterior, observando o edifício, que tem um aspeto idêntico ao seu vizinho da frente, o Museu de História da Arte.
Mas o caso do Museu de História da Arte é bem diferente, esse merece claramente ser visitado, tanto pelas obras que ali se expõem quanto pelas histórias que se vão conhecendo ao longo da visita… mas fiquem sabendo que será preciso bastante tempo para uma visita em condições. Apesar disso, muitos são os turistas que o visitam todos os anos, o que faz dele o museu mais visitado de Viena.

São ali expostas as principais obras de arte reunidas pela família Habsburgo ao longo dos séculos, obras essas que estavam guardadas nos palácios Belvedere e Hofburg, entre outros. Com a reconstrução da Ringstrasse, no final do século XIX, foram criados estes dois edifícios monumentais idênticos, e um deles haveria de ser o Museu de História da Arte da cidade, passando a reunir as principais obras que se encontravam dispersas por outros espaços.

Ao contrário de outros museus que se estabeleceram em Palácios ou noutros lugares históricos, o edifício do Museu de História da Arte foi já projetado para ser um museu e as suas salas foram construídas e decoradas em função do conteúdo que iria ser exposto.

As exposições abrangem diversas temáticas, algumas relativas aos períodos da antiguidade oriental, grega, romana e egípcia, com a presença de múmias, objetos para o culto dos mortos, esculturas ou outros elementos decorativos. Mas há também um espaço imenso dedicado à pintura, com obras do século XV até o XIX, com pintura holandesa, flamenca e alemã e, noutra ala, com obras de pintores italianos, franceses e espanhóis.

O museu possui pinturas de grandes mestres como Velázquez, Canaletto, Tiziano, Rubens, Rafael e Rembrandt, e é um dos grandes museus de arte de todo o mundo, que deverá ser visitado se tivermos, pelo menos, umas três horas disponíveis. Se o tempo de visita for curto, fiquem-se apenas pelas fachadas do edifício, ou melhor, pelo conjunto dos dois edifícios gémeos.

Ao sairmos da Maria-Theresien-Platz, voltámos de novo até ao imenso Palácio de Hofburg, que contemplamos, desta vez, do lado da Heldenplatz, onde o palácio mostra a sua principal fachada.


Österreichische Nationalbibliothek

A Biblioteca Nacional Austríaca, que encontramos pouco depois, foi mandada construir no século XVIII, pelo imperador Carlos VI, para ser usada como biblioteca da corte.

Atualmente, é uma das bibliotecas históricas mais bonitas e mais importantes de todo o mundo, com uma coleção de mais de oito milhões de livros e outros objetos que estão expostos na própria biblioteca, no museu do Papiro e no museu do Globo Terrestre.

Embora se trate de uma preciosidade, é bem frequente visitarmos a cidade sem entrarmos neste espaço, tal como aconteceu comigo das duas vezes que ali fui. Nesse caso, resta-nos chegar à Josefsplatz e apreciar o exterior do edifício da biblioteca, que nem é particularmente espetacular, se pensarmos na concorrência que se encontra por toda a cidade… mas podemos apreciar aquelas fachadas enquanto nos lembramos da riqueza cultural que ali se encontra por detrás daquelas paredes.


Galeria Albertina

O Museu Albertina tem uma das coleções gráficas mais extensas do mundo, formada por mais de 65.000 desenhos e cerca de um milhão de gravuras. O museu está instalado num palácio que pertenceu a Maria Cristina e ao seu marido, o Duque Alberto Von Sachsen-Teschen, daí o nome da galeria.

Trata-se de um museu moderno com exposições de algumas das principais obras-primas da arte moderna, desde o impressionismo até à atualidade, incluindo pinturas de alguns artistas importantes, com Monet, Renoir, Cezanne, Matisse, Miró, Picasso, entre muitos outros. E isso já seria mais do que suficiente para reservarmos algum tempo para visitar este museu. Mas depois podemos pensar que Viena talvez não seja a cidade ideal para se apreciar este tipo de obras, que devem ser vistas onde foram pintadas, ou seja, a maior parte delas em Paris

Mas além destas salas com o melhor que a pintura mundial tem para mostrar, existem também outros espaços inteiramente dedicados ao período em que reinaram os Habsburgo, uma parte que é muito mais austríaca e mesmo vienense, mas que, para mim, pelo menos, será muito menos interessante.

Em resumo, quem permanecer um longo período em Viena, pelo menos quatro a cinco dias, pode aproveitar para visitar este museu, mas em caso de uma visita mais curta, como é mais comum, talvez seja melhor aproveitar algo mais tipicamente vianense… limitando-se, nesse caso, a apreciar apenas as fachadas do edifício que alberga este museu.


Ópera de Viena

A menos de uma centena de metros da Galeria Albertina encontra-se o Teatro da Ópera de Viena, o Straatsoper, que foi o primeiro edifício do projeto da Ringstrasse a ser finalizado e, durante a sua existência, tem servido de base à Ópera Estatal de Viena, a sua companhia residente, que é uma das companhias de ópera mais conceituadas a nível mundial,

Esta sala foi inaugurada em 1869 com a apresentação de uma obra de Mozart, o que seria um bom início para uma história de sucesso… mas, na verdade, nem sempre foi assim. O edifício tem um design renascentista que foi uma deceção para os vienenses, que esperavam algo mais interessante. Ainda durante a construção, como resultado desta má reação do público, o arquiteto autor do projeto suicidou-se, desolado com a ideia de que a sua obra não tivesse triunfado. O segundo arquiteto que foi depois contratado para acabar a obra, também não aguentou a pressão e acabou por morrer de um enfarto.

Ainda nesta toada de desgraças, em 1945, durante a Segunda Guerra, uma bomba atingiu o edifício, o que fez com que este tivesse estado encerrado durante dez anos, voltando a abrir as suas portas em 1955, mas, dessa vez, dotado das tecnologias mais avançadas à época.

A visita à Ópera de Viena pode ser feita através de visitas guiadas ou adquirindo ingressos para um espetáculo, o que será certamente mais interessante. Neste caso até existe um programa para que a ópera seja acessível a todos, com bilhetes de pé a preços muito baixos, a menos de 5€, enquanto os bilhetes normais atingem mais de 150€. Estes ingressos especiais, além de não terem assentos, também só estão disponíveis duas horas antes do espetáculo, sendo necessário esperar numa fila, normalmente demorada, e sem a garantia de se conseguir bilhete.

Mas em qualquer das opções de acesso a este teatro, devemos sempre apreciar os pontos mais interessantes do edifício, como o hall de entrada, a escadaria principal e, claro, o grande auditório com espaço para 2.800 pessoas.

Terminamos assim a visita ao centro da cidade, faltando agora apenas o Schönbrunn Palace, mas que fica já numa zona periférica e não tão fácil para se chegar caminhando, pelo que recomendo que se utilize a linha U4 do metropolitano.



Schönbrunn Palace

Este palácio, uma espécie de Versalhes austríaco, foi construído no século XVII como residência de Verão da família imperial, e ostenta todo o luxo e requinte que têm sempre estas residências reais.

O interior do palácio até mereceria ser visitado, embora, no final da visita completa à cidade, talvez já não haja paciência para mais salas e salões em estilo rococó, e tudo o mais que se encontra dentro do palácio. Por isso, talvez a melhor alternativa seja visitar apenas os jardins, que são bastante bonitos.
Ao longo dos imensos jardins vamos encontrar vários lagos e fontes, dos dois lados do palácio, ambos com fachadas bastante bonitas. A fonte principal fica já na extremidade do jardim e chama-se Neptunbrunnen, ou Fonte de Neptuno, de onde podemos apreciar a paisagem os jardins e do palácio ao fundo.
Um passeio pelos jardins e pelas fontes e lagos, sempre com as belíssimas imagens das fachadas do palácio, será algo imperdível e uma excelente forma para terminar esta visita à cidade de Viena.

Terminamos assim a visita à capital austríaca, uma das cidades mais monumentais de toda a Europa, o berço ainda visível do Império Austro-húngaro, que foi de enorme importância na história europeia durante vários séculos.

Mas termino como comecei constatando que toda esta beleza, todo o luxo e opulência que ali encontramos, pode-nos deixar deslumbrados… e deixa mesmo, mas dificilmente nos irá apaixonar.

Carlos Prestes
Julho de 2002




quinta-feira, 2 de maio de 2002

Maldivas (Uma semana de mergulho)

(Maio de 2002)


A Viagem:

Que melhores férias se poderão fazer do que a nossa própria lua-de-mel, uma viagem de sonho que queremos partilhar com quem escolhemos para partilhar toda a nossa vida…..e que melhor local para esse momento tão sedutor do que um paraíso na terra como o arquipélago das Maldivas.

Foi essa a nossa escolha….foi esse o palco do nosso encantamento. As Maldivas, um local paradisíaco que quisemos desfrutar neste momento tão importante da nossa vida, aproveitando tudo aquilo que este pequeno país nos podia oferecer.

Para além de ser o local ideal para namorar num cenário de lua-de-mel, esta escolha teve ainda um outro propósito. É que além de gostarmos imenso de luas-de-mel….naturalmente, gostamos também muito de praia e de mergulho e, nesse aspeto, não haverá melhor sítio no nosso planeta com praias tão maravilhosas e locais para mergulhar tão fantásticos. 

Assim, partimos uns dias depois de nosso casamento a 20 de Abril de 2002, num voo da Lufthansa com escala em Frankfurt, para fazermos cerca de 10 mil km até à cidade de Malé, capital do arquipélago das Maldivas, localizado em pleno Oceano Índico, a cerca de 500 km da Índia e do Sry Lanka.

Esperávamos passar pouco mais de uma semana numa lua-de-mel de sonho, que queríamos complementar com longas horas entre as águas transparentes e quentes, pintadas de azul-turquesa, do Índico, e as areias brancas de coral que formam as várias ilhas que se agrupam nos 26 atóis que formam o país.

Mas ainda mais que isso, queríamos também aproveitar a nossa presença naquele local para fazer uma semana completa com mergulhos diários, que deram uma dimensão muito especial a esta viagem, pois não é com frequência que encontramos locais com um fundo do mar tão espetacular, e é muito rara a oportunidade de podermos fazer parte daquele ambiente inacreditável, como se andássemos literalmente à procura de Nemo…..por entre centenas de familiares da Dori.
Inicialmente pensámos complementar esta viagem com uma extensão ao Sri Lanka, porque na época nem existiam problemas de segurança muito relevantes, mas considerámos que a viagem se tornaria demasiado cansativa com os voos locais e trocas de aviões, roubando tempo precioso para mergulhar e namorar. De qualquer forma se acrescermos ao tempo de viagem mais 2 a 4 dias, esta extensão pode ser bastante interessante porque permite uma oferta diferente do que apenas um destino de praia e mergulho, levando-nos a ambientes mais selvagens, dando assim uma outra dimensão às férias, embora o acréscimo de custo seja bastante significativo. Mas acabámos por nos confinar às Maldivas por um período total de 9 dias, sendo 2 inteiramente consumidos em viagens.

O País

A República das Maldivas é um pequeno país insular localizado em pleno Oceano Índico a Sudoeste do Sri Lanka e da Índia, constituído por 26 atóis onde emergem 1196 ilhas, das quais apenas 203 são habitadas. Os atóis, onde se formam cadeias de ilhas, são compostos por recifes de corais e bancos de areia, situados no topo de uma cordilheira submarina com 960 km de comprimento, que se ergue no Oceano Índico e se dispõe de Norte para o Sul. As ilhas que formam Maldivas resultam dos ligeiros afloramentos do recife, sendo por isso o país com a mais baixa altitude em todo o mundo, com o ponto mais elevado a 2,3 m acima do nível do mar e com uma altitude média de 1,5 m.

A linha do equador passa a sul do arquipélago, pelo que, naturalmente, o clima é tropical e húmido, intercalando momentos de céu limpo com um sol tórrido, com grandes chuvadas tropicais que, normalmente, nos chegam aos finais de tarde, antes do pôr-do-sol. 

Historicamente o país foi colónia portuguesa (desde 1558), holandesa (desde 1654) e britânica (desde 1887). Em 1965 tornou-se independente e depois disso foi instaurada uma república. 

Atualmente a população segue maioritariamente a religião islâmica, sendo o país menos populoso entre todos os países muçulmanos. É também o menor país e menos populoso de toda a Ásia.

Malé é a maior cidade e a capital das Maldivas, localizada no extremo Sudeste do Atol Kaafu, muito próxima da ilha vizinha onde se encontra o aeroporto internacional Ibrahim Nasir que recebe milhares de voos com turistas provenientes de todo o mundo. A cidade é fortemente urbanizada e tem cerca de 80 mil habitantes, o que, tendo em conta a sua pequena dimensão, a transforma numa cidade densamente povoada, ao contrário da grande maioria das restantes ilhas do arquipélago.
A cidade, tal como todas as ilhas do lado da costa Este do arquipélago, ou seja, do lado ocidental da ilha de Sumatra, foi sacrificada pelo tsunami que varreu aquela zona do Oceano Índico, quando as ondas altamente destrutivas, inundaram dois terços da cidade, no dia 26 de Dezembro de 2004. 

Felizmente a nossa viagem aconteceu cerca de dois anos e meio antes desta catástrofe. 

A maior parte das cerca de 200 ilhas que são habitadas, não têm qualquer povoação local residente, funcionando apenas como ilhas-hotel, totalmente ocupadas e geridas como resorts, muitos deles bastante luxuosos e, aproveitando a qualidade e beleza das águas, em alguns deles são construídos conjuntos de bungalows de alto luxo, em estacas de madeira cravadas sobre o mar. Existem hotéis ao longo de todo arquipélago e de todos os atóis. Os hotéis nas ilhas mais próximas de Malé permitem que as viagens de acesso se possam fazer de barco ou em pequenos hidroaviões. Os atóis mais distantes obrigam a viagens de aviões maiores até a alguns aeroportos e depois é feita a distribuição dos passageiros de barco. 

O hotel escolhido por nós foi o Holiday Island Resort, na Ilha de Dhiffushi, no Atol Alifu Dhaalu (também conhecido como South Ari Atoll), localizado a cerca de 100 km para Sudoeste de Malé, representado neste mapa, com todo o arquipélago e no mapa seguinte com destaque de apenas alguns dos atóis.

Fizemos a viagem em hidroavião, a baixa altitude, sobrevoando cerca de 100 km de mar e passando por diferentes ilhas, invariavelmente com paisagens extraordinárias, definindo o contraste entre as águas profundas, de azul mais forte, e os afloramentos de coral, responsáveis pelos azuis-claros…...e depois os bancos de areia branca que formam as praias e a vegetação intensa que cobre cada uma das ilhas, algumas ocupadas por resorts e outras totalmente desertas. A viagem seria de cerca de 35 a 40 minutos, mas com algumas amaragens, para deixar passageiros noutros hoteis, acabou por demorar cerca de uma hora.


O avião fez algumas descidas para deixar passageiros em vários resorts, o que nos permitiu observar de mais perto alguns dos complexos mais luxuosos do arquipélago.
Finalmente, chegámos ao nosso hotel……talvez menos exuberante do que alguns que tínhamos observado durante a viagem, mas viria a revelar-se bastante acolhedor e adequado aos objetivos da viagem.

O Hotel:

O Holiday Island fica localizado na extremidade Sul do Atol Alifu Dhaalu na Ilha de Dhiffushi, a apenas 97 km de Malé, que podem ser feitos de hidroavião, como neste caso, num aparelho da Trans Maldivan Airways, ou então em barcos rápidos, mas que se tornaria demasiado demorado.
A ilha tem cerca de 700 m de comprimento e 140 m de largura. Por entre uma vegetação tropical densa, encontra-se o complexo principal, onde fica o restaurante, rodeado por jardins integrados na vegetação. Existem também outros edifícios de uso público, como bares ou outras zonas de lazer e um cais localizado na extremidade do pier, que avança sobre o mar numa extensão 300 m.

Os quartos ocupam a primeira linha da periferia da ilha e são constituídos por bungalows individuais, localizados entre os coqueiros e outras árvores, de forma que, apesar de muito próximos do areal, estão de tal modo integrados na vegetação que mal são percetíveis a partir da praia.
Existem também umas palhotas de apoio às atividades de desportos náuticos, como a canoagem ou o snorkeling. Já as instalações da escola de mergulho têm um edifício próprio que nem sequer é gerido pelo hotel mas sim por uma equipa de instrutores da PADI que, naquela altura, eram todos italianos. 

Aliás, a ilha é especialmente ocupada por italianos, principalmente por casais ou grupos de adultos, ao contrário de outras ilhas, com ofertas de hotel mais apelativas para grupos de famílias, por exemplo. Nesta ilha não há sequer uma piscina nem aquela animação típica de hotel, o que é ótimo. Também não se vê ninguém a praticar desportos motorizados, como as motos de água, que são tão incomodativas. O que nos pareceu é que esta ilha é frequentada sobretudo por quem procura as saídas para mergulhar. 
Os bungalows estão praticamente encostados à praia e podemos ficar nos pátios privados à sombra dos coqueiros com os pés sobre aquela areia branca de coral, como se estivéssemos em pleno areal.

Quando ultrapassamos a área protegida pela vegetação não há hipótese de nos esticarmos ao sol, como fazemos habitualmente em qualquer praia, porque naquela zona dos trópicos, o sol, quando brilha, derrete tudo o que atinge. Assim, só saíamos da sombra quando queríamos entrar diretamente na água, quer fosse para nadar quer fosse para apanhar banhos de sol, porque a única solução era fazê-lo dentro de água.
A escolha do regime de hotel é importante, uma vez que não há absolutamente mais nada na ilha…..a ilha é o hotel e o hotel é a ilha. Portanto, não vale a pena pensar que se come alguma coisa em qualquer lado porque isso não existe. No entanto, o hotel não era daqueles do Tudo Incluído em que parece que o único propósito das férias é a comezaina. Mas tinha o regime de Pensão Completa que seria o mais conveniente, mas nem esse nós escolhemos. Como a ideia era ir mergulhar todos os dias e fazer ainda umas saídas adicionais para fazer snorkeling, era água a mais para se misturar com grandes almoçaradas. Assim optámos pela Meia Pensão…..e acabámos por ir comendo umas coisas bem mais ligeiras que se serviam nos bares do hotel, e fomos também degustando uns cocos que eu próprio apanhava subindo às árvores, como um artista de circo (confesso que eram daqueles coqueiros completamente deitados, com o tronco quase na horizontal). Com um almoço mais levezinho ganhávamos depois à hora do jantar porque vínhamos com o apetite ao rubro e atacávamos as muitas iguarias com que éramos brindados.

Não foi com o objetivo de comer muito e bem que para ali fomos, mas de facto, naquele restaurante, comia-se bastante bem e, quase sempre, muito. Os pratos eram sobretudo dentro dos paladares ocidentais, mas haviam sempre umas alternativas mais indianas, por vezes picantes, que eu nunca deixei de provar. As sobremesas eram também uma arte do chef que um dia nos recebeu com uma série de esculturas feitas em chocolate……nem sei se seriam para comer, mas impressionaram bastante. 

A Praia:

A praia é a essência daquelas ilhas……posso admitir que nem todos os visitantes sejam fãs de mergulho, que é algo muito específico e que obriga a alguma técnica e destreza, mas uma pessoa que não goste de praia, tem que fazer um favor a si própria, nunca ir para as Maldivas. Digo isto, que parece quase uma evidência de La Palice, mas porque tenho ouvido vários relatos de pessoas que escolhem este destino, sobretudo em lua-de-mel, mas que depois referem que não gostam muito de praia….que a areia atrapalha muito e o sol e a água, é tudo um tremendo incómodo. E há quem diga que não saiu da piscina……que sacrilégio, meu Deus!!!! Como é que é possível alguém trocar uma piscina por um mar azul-turquesa, com 28ºC, sobre uma areia finíssima de um branco que até encandeia……que praias magníficas estas, queria poder viver ali uma eternidade.

Felizmente nós os dois, eu e a Ana, somos fãs incondicionais de tudo aquilo que estas ilhas têm para oferecer, por isso viemos para o sítio certo e na altura certa…….adoramos estar na praia, na areia ou no mar, e ali estava aquela praia encantadora com águas mornas e cristalinas…...somos fãs de mergulho, e bem ali à frente tínhamos o fundo do mar mais belo e mais rico que alguma vez tínhamos visto……gostamos de degustar da boa cozinha, e os nossos jantares e pequenos-almoços, eram simplesmente magníficos…….e claro que adoramos namorar, e o namoro sob aquele sol e aquela lua, que para nós era de mel, foi ainda mais encantador e mais delicioso por todo aquele ambiente de sonho que nos rodeava.

Passar os dias na praia é muitas vezes um tédio, há quem diga. Mas para nós não, nadávamos horas a fio, parávamos para descansar nas espreguiçadeiras, líamos mais umas páginas dos livros que nos acompanhavam, voltámos a nadar, agora noutra zona da ilha, e voltámos a parar…….e era assim….uma grande maçada…..e tudo isto nestas paisagens de sonho, e ainda por cima com as praias completamente desertas, como se tivessem sido reservadas em exclusivo para a nossa lua-de-mel.

Para diversificar um pouco fazíamos uns passeios à volta da ilha, percorrendo toda a periferia pela beira-mar…..mas uns dias depois substituímos esse percurso por outro, ao longo da mesma periferia, mas desta vez por dentro de água e sempre a nadar. Outro percurso interessante, que repetíamos todas as noites depois de jantar, era chegar ao cais do ancoradouro através do passadiço de 300 m…..e depois tínhamos que regressar à praia…….uff, já estou cansado só de recordar tamanho esforço. 

O Mergulho:

O arquipélago das Maldivas é um dos destinos mais desejado e sonhado entre a comunidade de mergulho, com recifes coloridos, peixes pequenos com todas as formas e cores e peixes grandes……dos mais assustadores aos mais pacíficos, e ali está tudo aquilo ao nosso alcance…..entramos naquele admirável mundo e durante os minutos (perto de uma hora) em que o oxigénio nos vai deixando respirar, sentimo-nos como se pertencêssemos àquele universo deslumbrante.
Programámos fazer vários mergulhos, embora quiséssemos também conhecer o recife de águas mais superficiais a pouco mais de 1 km da ilha, onde se podia fazer snorkeling, numa experiência quase tão interessante como nos mergulhos de profundidade que fizemos.

Tínhamos programado um total de 5 mergulhos, uns mais madrugadores e outros à tarde, mas o primeiro contacto que tivemos com este mar magnífico foi explorando o recife fazendo apenas snorkeling, isto é, nadando com máscara, respirador e barbatanas. Tínhamos chegado nessa mesma manhã e fomos até ao apoio de praia onde nos forneceram o equipamento e nos indicaram a hora em que uma embarcação nos iria deixar sobre o recife para 40 minutos de surpresas. No último momento, antes de deixarmos o barco, e convém dizer que éramos apenas nós dois e o rapazinho que ficou no barco nossa espera, ele fez uma breve explicação. Comecem por aqui, sobre o recife, que encontram corais de formas e cores diferentes, muitos peixes coloridos e moreias. Vão depois chegando ao limite do recife onde o mar passa para profundidades muito maiores, e aí começam a aparecer alguns peixes maiores…..há tartarugas e alguns tubarões!!!!!! E esse final da frase ficou a ecoar na minha cabeça, já não consegui ouvir mais nada. Mas, como não somos de fugir, lá fomos mar adentro.

O que ele disse era mesmo o que nos esperava……mas a máquina fotográfica era fraquinha (ainda não existiam câmaras GoPro) e, por isso, a ideia transmitida fica muito aquém da beleza encontrada……mas dá para perceber alguma coisa do que nos foi passando pelo espírito naquela meia hora.
Começámos a explorar o recife e fomos avançando……
Encontrámos depois alguns cardumes, ainda muito à superfície, mas que atraem sempre mais predadores.



Por fim a profecia cumpriu-se, já próximo do limite da barreira de coral, onde se formam falésias de 30 ou mais metros de profundidade, as espécies maiores sobem até ao recife e ali estavam eles. Primeiro uma tartaruga, que é apenas uma fofura, face às piores expetativas.

E enquanto a Ana perseguia a dita tartaruga, num instante em que o sol deve ter sido encoberto por alguma nuvem escura, para tornar o cenário ainda mais medonho, apareceu o já esperado tubarão. Era um Whitetip Reef Shark, uma das espécies de tubarões que por ali circulam, que se identificam pela ponta branca da barbatana, e que, segundo dizem, é dos mais inofensivos….a questão é que, num local cheio de alimento, para que é que se iriam meter com um ser humano, tão grande e desajeitado?....mas essa é uma pergunta que só cada tubarão poderá responder em cada situação, e eu prefiro não esperar pela resposta. 
Depois do susto inicial, com a adrenalina a bombar, continuámos mais algum tempo e então apareceu-nos um Blacktip Reef Shark, com a barbatana preta, como diz o nome. Este mais encorpado e com cara de mau.
Com um tubarão ainda vai, mas com dois achámos que já estávamos a abusar da sorte…...e, de mansinho, sem grande estrilho e sem sequer olharmos para trás, lá fomos nadando até ao barco, onde o rapaz, que era o nosso único salvador em caso de SOS, dormia uma bela soneca.

Mal tínhamos acabado de aterrar e já tínhamos a adrenalina a mil. E nessas situações raramente queremos fugir da experiência, pelo contrário, temos é vontade de repetir……e era isso que iriamos fazer nos próximos dias.


No dia seguinte dirigimo-nos ao local de apoio às atividades de mergulho, uma escola com monitores italianos com a chancela da PADI Scuba Diving. 

Neste local é possível fazer um curso expedito para poder realizar o batismo de mergulho. Mas nesta ilha em concreto, pelo menos durante aquela semana, a maioria dos hóspedes que procuraram estas viagens eram já credenciados e com experiência, o que melhorou a escolha dos locais de mergulho, que está sempre dependente do nível dos mergulhadores que se conseguem juntar.

Eu e a Ana tínhamos certificados internacionais de mergulho obtidos em escolas PADI, e cadernetas de mergulho bastante carimbadas, no meu caso sobretudo devido aos mergulhos feitos na Madeira, enquanto a Ana vinha mergulhando há muito mais tempo e em vários locais.

Assim fomos integrados em grupos experientes e fizemos reservas para cinco dias, com um preço bastante relevante, de cerca de 80 € por pessoa para cada dia.

As saídas são feitas até diversos pontos de mergulho pré-identificados pela maior concertação de fauna marinha, localizados a distâncias diversas da nossa ilha, alguns próximos mas outros mais distantes, embora sempre dentro do mesmo atol.

As ilhas resultam dos afloramentos de barreiras de coral, cobertas por bancos de areia. No limite dessas barreiras formam-se desfiladeiros em coral que definem canais mais profundos entre as várias ilhas do atol. São exatamente esses canais, com profundidades diversas, que são escolhidos como locais de mergulho. Ali é possível encontrar na própria barreira de coral, em toda a sua profundidade, uma infinidade de espécies de pequenos peixes de mil cores, e logo ali ao lado, já em pleno canal, encontram-se as maiores espécies, que por ali vão circulando.

O que todos procuram são sobretudo as grandes espécies, principalmente as mantas e os tubarões baleia. Mas depois há sempre as tartarugas, os peixes napoleão e algumas espécies de tubarões, o withetip, o blacktip, o tubarão cinzento do recife e o tubarão martelo…..entre outros.

As mantas têm uma época específica para aparecerem e não é o mês de Maio, pelo que não vimos nenhuma. Também não vimos tubarões baleia nem os martelo……mas de resto vimos tudo o que tínhamos direito.

Só mais uma particularidade destes mergulhos…….como mergulhávamos nos canais que se formam entre os afloramentos das barreiras de coral, com os movimentos das marés, criavam-se correntes fortes. Assim, o barco largava-nos num determinado local e recolhia-nos a grande distância. Éramos arrastados pela corrente e assim contemplávamos aquelas maravilhas, sem sequer ser preciso bater as barbatanas, a não ser para nos aproximarmos ou afastarmos dos corais. 

Quando emergíamos, já com o oxigénio a atingir a reserva, não fazíamos ideia onde estaria o barco e ficávamos a aguardar que o piloto nos avistasse…….o que criava um certo desconforto, por estarmos alguns minutos a nadar num mar que já não conseguíamos ver, e que sabíamos estar infestado de tubarões. 

Para os mergulhos, propriamente ditos, já não pudemos levar a nossa câmara fotográfica, que não estava preparada para grandes profundidades, e aqui chegámos a atingir os 38 m. Assim pedimos algumas fotos que os monitores tiraram num dos mergulhos.

Qualquer mergulho começa sempre nos corais, onde gravitam pequenos peixes que aqui eram ainda mais bonitos……tal como o próprio coral, que por vezes é um espetáculo. 


Descendo para maiores profundidades ao longo do recife, fomos encontrando outras espécies de maior dimensão como o peixe napoleão, que encontrámos apenas duas vezes, e que é um bicho estranho, parece que se movimenta quase em câmara-lenta, e as tartarugas, que nos apareciam com alguma frequência.

Mesmo no fundo dos canais, a 30…..35 m de profundidade, já com a presença dos peixes maiores, o coral continuava a surpreender-nos, mas nessa zona a nossa atenção estava concentrada nos novos amigos que por ali se passeavam……os tubarões. Ainda as mesmas espécies que tínhamos visto no snorkeling, para além do tubarão cinzento do recife. Num total de 5 mergulhos, cruzámo-nos com 7 tubarões, e ainda hoje recordo a sensação que me assolava cada vez que que vislumbrava um novo espécime…..e que, por vezes, continuava ali pela zona, aproximando-se e afastando-se e, aparentemente, sempre sem nos passar bilhete nenhum….graças a Deus.

Mas em algumas situações, como estas, mesmo a profundidades mais superficiais, aqueles mares continuavam a surpreender……e os predadores continuavam a marcar presença.


Passeios de Barco:

Para além das várias atividades que a ilha nos oferecia e também dos vários momentos de ócio que foram sempre aproveitados da melhor forma, quisemos ainda fazer alguns passeios de barco, sem ser com o propósito de irmos mergulhar.

Escolhemos duas saídas, uma delas até à vizinha ilha de Maamigili, uma das ilhas com habitantes locais, a maioria trabalhará certamente nos resorts mais próximos, mas percebia-se que a pesca seria também uma das principais fontes de rendimento da população….que vive em condições muito parcas, embora não deva existir fome, com um mar tão rico por perto.

A viagem foi feita num barco tradicional que demorou apenas 15 minutos na travessia. Cruzámo-nos com um pequeno bote, o que nos permitiu perceber a forma de pesca artesanal que ali é praticada.

Percorremos a ilha livremente, contactando à vontade com a população, que nos tentava vender algum artesanato, mas que revelava sempre uma grande simpatia. Vivem sob um calor abrasador e nem sequer têm o hábito de tomar banhos de mar, o que daria para refrescar. As casas são pouco mais que barracas em forma de palhotas onde as temperaturas devem ficar ao rubro…..mas essa é a forma como vive a grande maioria da população do planeta, a nós é que tudo isso ainda nos impressiona bastante. 

A segunda saída de barco foi para uma pescaria ao pôr-do-sol e tivemos a oportunidade para confirmar a nossa inabilidade para esta tarefa. Toda a gente do barco ia sacando peixes e nós dois nem um peixinho….mais concretamente, pesquei apenas meio peixe, que terá sido apanhado a meio da subida por um tubarão.

Ainda assim não deixámos de participar no jantar que preparam com o peixe que tínhamos pescado…..que os outros tinham pescado, para ser mais exato. Fizeram um peixe grande, talvez um robalo, em prata sobre o carvão, mas o resultado final foi uma treta…..sem sabor nenhum, provavelmente por ser um peixe sem gordura devido às águas quentes. Fizeram ainda algum sushi e sashimi com os peixes apanhado e serviram com todos os preceitos japoneses. Entretanto, a Ana, sem se ter apercebido que tinham mudado a agulha para um ambiente japonês, viu uma tijela de wasabi e pensou que se tratava de um suculento guacamol, por isso encheu uma colher e engoliu sem hesitar. Como se pode imaginar, ia falecendo ali mesmo, e eu a ver-me viúvo em plena lua-de-mel. Porém, apesar do susto, o episódio acabou por ter um final feliz.

Uma visão do paraíso:

Refiro-me aos maravilhosos sunsets, que nos proporcionaram alguns dos momentos mais extraordinários destas férias……e que vivemos diariamente com toda a intensidade e paixão.

Enquanto caminhávamos até à zona do restaurante, ou nos preparávamos ainda para sair do bungalow, havia sempre um momento que que o céu nos presenteava com uma pintura inesquecível, e quase sempre diferente. 

Era nesses momentos, em que a paisagem e o silêncio nos esmagavam, que melhor entendíamos a profundidade dos sentimentos que nos uniam e que tínhamos acabado de selar. Pelo menos é assim que eu recordo as emoções ali vividas…..apesar de terem já passado tantos anos, é como se tivesse sido ontem. 

E não haverá melhor maneira de fechar a crónica desta viagem de sonho do que deixar aqui algumas dessas imagens…….ficam a faltar as emoções, porque essas são apenas nossas e não partilháveis. 





Carlos Prestes
Maio de 2002


Voltar à página inicial do Blog