sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Baviera e Tirol


(4 dias em novembro de 2007)

No início de novembro de 2007 resolvemos fazer um fim-de-semana prolongado na Baviera, visitando alguns locais do Sul da Alemanha e da Áustria. Voámos com a TAP para Munique, onde chegámos ao final da manhã. Como pretendíamos fazer algumas viagens para o Sul do país resolvemos alugar um carro no aeroporto, e foi dessa forma que chegámos à cidade.


Munique

A visita a esta cidade seguiu um roteiro que foi passando pelas suas principais atrações assinaladas neste mapa:
Começámos o nosso percurso a partir da Karlsplatz, uma praça enorme que funciona como portão da cidade velha. Aliás, os edifícios que dominam a praça e que se dispõem em semicírculo, estão ligados ao centro por um portão medieval, que foi preservado até à atualidade.

A praça inclui ainda, no seu centro, um imenso fontanário que é utilizado no Verão como uma espécie de banho público, que os mais jovens usam para se ir refrescando enquanto passam algumas horas ao sol, como quem está na praia (quem não tem praias por perto utiliza o que pode… e eu próprio, não desta vez em novembro, mas há muitos anos atrás, numa visita a esta cidade no mês de agosto, também aproveitei aquelas águas do fontanário para me refrescar).
Em frente à Karlsplatz fica o imponente edifício do Landgericht de Munique, o Tribunal Distrital da cidade que é o maior e mais importante de todos os tribunais da região da Baviera.
Voltando à Karlsplatz e passando pelas portas medievais da cidade entrámos na Newhouser Strasse, uma imensa rua pedonal, ampla e com quase 1 km, ao longo da qual se dispõem lojas, restaurantes e hotéis, tal como alguns dos monumentos mais emblemáticos da cidade.

Um desses monumentos é a Catedral de Munique, localizada na Frauenplatz, a cerca de 500m da Karlsplatz. A catedral de Nossa Senhora Benedita, ou Frauenkirche, é a maior igreja da cidade. É uma igreja católica construída no final do Séc. XV onde funciona a arquidiocese de Munique, que domina toda a paisagem da envolvente, com as suas torres imponentes que são visíveis de quase toda a cidade.

Apesar do estilo gótico, a catedral está construída em tijolo vermelho e tem uma aparência sóbria, sem os ornamentos típicos do gótico. A capela principal desenvolve-se por 109m de comprimento, 40 de largura e 37 de altura. As suas duas torres têm quase 100m de altura e terminam em cúpulas, combinando com o estilo arquitetónico do restante edifício.

Voltando a Neuhauser, chegamos à praça principal da cidade, a Marienplatz, onde fica o monumental edifício Neues Rathaus, que correspondente à atual Câmara Municipal da cidade.

Foi construído no final do século XIX em estilo neogótico. Tem uma área de quase dez mil metros quadrados e tem mais de 400 divisões.
Uma das principais atrações do edifício é o Rathaus-Glockenspiel, um relógio e um carrilhão com figuras animadas.
Demorámo-nos algum tempo na Marienplatz. É o local onde palpita o coração da cidade, as pessoas vão enchendo a praça, os artistas de rua vão provocando alguns aglomerados, aqui e ali, as esplanadas estão cheias, apesar do frio que vai fazendo. Nós próprios deixámo-nos ficar numa dessas esplanadas, saboreando uns crepes com gelado, enquanto apreciávamos o vaivém constante com que esta zona da cidade vai respirando.
Seguimos depois até à Platzl, uma praça com grande concentração de restaurantes, e com uma arquitetura típica da Baviera.

É nesta praça que se localiza uma das mais emblemáticas cervejarias de toda a Baviera, a Hofbräuhaus que, segundo consta, era mesmo a preferida de Adolf Hitler. O edifício remonta ao século XVI, embora tenha sido destruído nos bombardeamentos da segunda guerra mundial, foi depois reconstruído em 1958. Para além da cerveja, que circula em tabuleiros enormes nas canecas de litro, o restaurante serve todo o tipo de pratos bávaros, como o eisbein com chucrute (um joelho de porco cozido, com uma espécie de couve branca avinagrada... horrível).

Já as salsichas, que aqui acompanham com puré de batata, com a minha cerveja alemã favorita, a cerveja de trigo ou weiss beer, são um petisco extraordinário.

Mas só à noite voltaríamos a este local para experimentar algumas dessas iguarias.
Seguimos ainda pelas ruas animadas até ao jardim Hofgarden, onde se localiza o edifício grandioso do Bayerische Staatskanzlei, a Chancelaria do Estado da Baviera ou Governo Regional.

O edifício enquadra-se num dos lados do jardim, com o aspeto semelhante ao dos jardins dos palácios franceses, como o de Versalhes.
Entrámos depois numa das maiores praças da cidade, a Odeonsplatz onde, curiosamente, estava exposto um imenso outdoor publicitando Portugal como destino turístico. O nome da praça resulta de uma antiga sala de concertos, o Odeon que, porém, já não existe no local.
Fizemos ainda mais alguns percursos, já depois do sol ter caído e regressámos ao hotel seguindo um caminho diferente. Mais tarde iríamos voltar à praça Platz para passar o serão e para jantarmos.
Durante a noite, na Hofbräuhaus, a maior cervejaria da cidade, o jantar foi abundante e tipicamente bávaro. Fomos servidos por fräuleins e pastores tiroleses vindos diretamente das montanhas… que entornavam as canecas de cerveja, enquanto se balançavam ao som da orquestra residente que ia entoando música tirolesa… que só se tolera depois do primeiro litro de cerveja.


Terminámos a noite passando por ruas inesperadamente movimentadas e parando, aqui ou ali, para mais uma bebida que ajudasse a aquecer aquela noite fria.


No dia seguinte, resolvemos ir até ao imenso Parque Olímpico, onde foram realizados os jogos de 1972, para visitarmos o conjunto de infraestruturas desportivas ainda operacionais.

Desde a minha primeira visita a Munique, em 1984, que fiquei impressionado com a arquitetura daquele complexo desportivo, que, nessa altura, era algo completamente vanguardista. Mas o curioso é que, nesta visita em 2007, 23 anos depois, aquele local continua a respirar modernidade e a constituir um marco incrível da arquitetura. Acrescento ainda o facto de, desde 84, ter tido já a oportunidade de visitar outros complexos olímpicos, muito mais recentes, e nenhum deles me ter impressionado tanto como este, embora construído há várias décadas.

Chegados à zona do parque somos logo agarrados pela beleza do complexo, dominado pelas imensas coberturas translúcidas, fazendo lembrar tendas de circo com grossos cabos de aço de suspensão.
A disposição das várias infraestruturas desportivas entre si, perfeitamente integradas num espaço dominado por zonas verdes e lagos, faz com que, no conjunto, a paisagem seja espantosa e, ainda hoje, completamente futurista.
Além do estádio e dos vários pavilhões, a paisagem é também caracterizada pela existência da enorme torre de telecomunicações, onde funciona um restaurante panorâmico, mas também pelo complexo da BMW, de onde se destaca o edifício principal, que se encontra perfeitamente integrado no conjunto de infraestruturas do parque olímpico.

Mas a visita a este parque não nos pode deixar alheios à história que ali foi vivida. No dia 5 de setembro de 1972, uma brigada terrorista palestiniana, auto-denominada como “Setembro Negro” entrou na aldeia olímpica e sequestrou onze atletas israelitas. As forças policiais alemãs tentaram uma operação para libertar os reféns num aeroporto perto de Munique, para onde foram conduzidos pelos sequestradores, contudo, a polícia veio a demonstrar uma total falta de preparação para lidar com uma situação extrema como esta, tendo mobilizado uma equipa sem capacidade para responder aos terroristas, o que acabou por levar à morte de todos os atletas sequestrados.

Este triste acontecimento, o mais negro de toda a história dos Jogos Olímpicos, com a morte de 11 atletas, ficou conhecido como o “Massacre de Munique”. Mais tarde, a Mossad, os serviços secretos israelitas, numa operação conhecida como “Ira de Deus”, desencadeou uma caça ao homem por todo o mundo, tendo vindo a eliminar, um por um, todos os cabecilhas responsáveis por este ataque, declarando-se de forma definitiva, uma guerra sem tréguas entre estes dois povos, judeus e palestinianos, que lutam há anos pelo mesmo pedaço de terra. 

Subindo ao alto de uma das colinas que se formam no complexo conseguimos contemplar todo o Parque Olímpico. O silêncio era dominante e aquele era um dia cinzento, tornando a paisagem ainda mais grave. As imagens daquele local melancólico e a sugestão de uma página de história tão negra, que ali foi vivida, tornava aquele monumento e aquela visão quase arrepiantes. 

Tantos anos depois, do acontecimento e também das minhas anteriores visitas a este local, em 1984 e em 1999, e a emoção ainda se faz sentir. É um espaço que nos toca e, definitivamente, é ainda um dos principais pontos de interesse da cidade de Munique.

No último dia, já a caminho do aeroporto, fizemos ainda um pequeno desvio ao lado da autoestrada, para espreitar o novíssimo parque desportivo, inaugurado uma ano antes, para o campeonato do mundo de futebol de 2006, o Alianze Stadium, o estádio que passou a albergar o principal clube de futebol alemão, o Bayern de Munique.
Não visitámos o interior do estádio, observámos apenas a sua imagem exterior, também ela futurista, tal como a do seu vizinho mais velho, o Estádio Olímpico.



Castelos da Baviera

Saímos cedo de Munique em direção ao Sul, para chegarmos à região dos Alpes do Tirol, e visitar essa zona magnífica, cheia de montanhas e lagos, adornada pelos mais belos castelos que possamos imaginar.
O nosso programa era chegar à zona do Tirol e passar pelo Castelo de Neuschwanstein, o mais bonito e mais emblemático dos castelos de Ludwig II, o Rei “Louco” da Baviera.
Mas a viagem prevista levava-nos, em primeiro lugar, a Oberammergau, uma pequena cidade que é conhecida, sobretudo, pela quantidade de casas com as fachadas adornadas com frescos de diversos motivos, como a casa onde figura a representação da história do Capuchinho Vermelho, um clássico dos irmãos Grimm.

É bem interessante percorrer as ruas desta pequena cidade como quem visita uma galeria de arte, em que as obras-primas se vão sucedendo a cada esquina.
Além das casas decoradas, nesta zona do Sul da Alemanha encontram-se também alguns dos principais palácios da Baviera. Aliás, há mesmo quem faça um percurso seguindo à risca o circuito assinalado entre palácios e castelos. Mas não foi essa a nossa escolha, o nosso destino era percorrermos as montanhas e vales daquela região, e usufruirmos da beleza das paisagens, mas, pelo caminho, fomo-nos cruzando com algumas dessas construções imponentes e luxuosas.
Já fora da cidade de Oberammergau atravessámos a Baviera mais profunda e campestre, com sinais das explorações agrícolas e pecuárias, numa paisagem rural de grande beleza. Num dia de sol, como este, as imagens revelam bem o contraste entre os verdes vivos dos campos e a folhagem das árvores, com os castanhos e vermelhos outonais.

A existência de lagos é muito comum nesta zona, com  as suas paisagens magníficas do espelho de água  refletindo a beleza sublime das imagens que se avistam, sobretudo em dias de céu limpo e sem vento, como era o caso deste dia frio de novembro.

Cerca de 50 km depois estávamos a chegar ao pequeno vilarejo de Hohenschwangau, localizado no sopé da colina do Castelo de Neuschwanstein, um local não é mais do que um polo de apoio aos muitos turistas que visitam os castelos que se erguem nas montanhas vizinhas.
É necessário deixar o carro num dos parques que são disponibilizados na vila e, daí, existem diferentes formas de chegar até ao castelo. Podemos apanhar um Shuttle Bus, por um preço de 2,6€ para os dois trajetos, ou uma requintada charrete, mas aí por 6€ a subida e 3€ a descida. Mas nós, que gostamos sempre do que é mais difícil, decidimos fazer os quase 2 km da subida e da posterior descida, sempre a pé. Mas não há dúvida que é desta forma que conseguimos ter a perceção dos espaços envolventes e sentimos o ambiente natural que nos rodeia de forma mais genuína. 
Caminhámos por entre florestas densas e esplendorosas, passando pela Ponte Marienbrücke, de onde se consegue o melhor local para observar o castelo (e que as outras alternativas de transporte não proporcionam).
Mas o que mais nos deslumbrou em toda a caminhada foi o instante em que, depois de contornar a colina no acesso à ponte encaixada nas encostas do desfiladeiro, se abriu à nossa frente a imagem de um vale inacreditável, dominado pela imponência e pela beleza do castelo… e foi como se, de repente, um cenário encantado nos tivesse engolido e as imagens de um mundo de fantasia, de príncipes e princesas, nos envolvessem agora num ambiente de sonho. Não foi em vão que Walt Disney escolheu este castelo como inspiração e modelo para criar o palácio que recebeu o grande baile, na noite de magia, que viria a transformar a Gata Borralheira na princesa Cinderela.
Por muitas maravilhas que o interior do castelo nos possa oferecer, com divisões luxuosamente mobiladas, com tetos e paredes debruados a ouro e outras preciosidades, nada se compara com a sensação de ser envolvido por aquela paisagem magnífica.

Estávamos ainda trémulos, do cansaço da subida, mas sobretudo da surpresa vivida por aquelas imagens que nos surgiram de repente e sem aviso. Parámos sobre a ponte e tentámos descortinar cada detalhe daquele postal ilustrado onde tínhamos acabado de entrar. E só então começámos a sentir verdadeiramente o prazer daquele momento tão sublime, já percebendo que aquilo era mesmo real. Inspirámos o ar fresco a plenos pulmões e deixámo-nos ficar o tempo suficiente para deixar as emoções sossegarem… com a certeza de que aqueles momentos ficariam definitivamente gravados nas nossas memórias e eternizados no nosso mundo dos sonhos.

Acabámos por cumprir o trajeto final e chegar até ao castelo, mas sabíamos que isso já não seria o mais importante desta visita.
O Castelo de Neuschwanstein é o mais bonito e mais importante dos três castelos do rei Louco. Ludwig II, que governou a Baviera no final do século XIX, era um romântico e um sonhador, e mandou construir, durante seu reinado, vários castelos e palácios extravagantes, gastando o dinheiro do reino de forma obstinada e quase louca. Desde então, começou a ser conhecido popularmente como Rei Louco. Mas foi o seu próprio governo, aproveitando esse mito popular, e receando as dívidas que não paravam de aumentar, que lhe diagnosticou com uma doença mental, declarando-o oficialmente como louco, tendo sido deposto e preso, exatamente um dia antes de sua morte. Graças à loucura, ou extravagância, deste governante, ficaram três castelos dos mais maravilhosos que se podem encontrar em toda a Alemanha.

Este é, dos três castelos, o mais imponente e o mais bonito. Foi construído no final do século XIX, e tem um interior luxuosíssimo. Foi equipado com toda a tecnologia de que à época se dispunha, como uma rede de água corrente, quente e fria, que abastecia as casas de banho do castelo, bem como o sistema de aquecimento, altamente revolucionário naquela altura, mas bastante necessário, durante os Invernos numa zona sujeita a constantes nevões.

O castelo de Neuschwanstein é visitável por um preço de 12€ por adulto e é gratuito para as crianças com menos de 18 anos (preços de 2007). Atenção que é proibido tirar fotos no interior do castelo.

No percurso de descida voltámos a encarar o castelo dos sonhos e voltámos a contemplá-lo demoradamente, até sentirmos que já estaríamos prontos para a derradeira despedida.

Do alto destas colinas podemos ainda avistar os lagos que rodeiam a vila de Hohenschwangau e o castelo com o mesmo nome, numa paisagem, também ela de uma beleza sublime, com os tons outonais da folhagem das árvores, contrastando com os verdes dos campos relvados e o azul do espelho de água dos lagos.
Cá em baixo, junto à vila, percorremos ainda as margens do lago, dominado pela presença do castelo de Hohenschwangau. A caminhada foi tranquila, servindo sobretudo para nos acalmar das emoções vividas naquelas últimas horas.

Depois de uma viagem como esta só posso dizer que recomendo vivamente uma visita a esta zona o Sul da Alemanha, sobretudo pelo momento em que a paisagem se abriu à nossa frente e nos fez mergulhar num autêntico cenário de um conto de fadas. Mas registo que é indispensável que as condições de visibilidade ajudem, caso contrário, num dia nublado ou chuvoso, o interesse deste local perde-se totalmente. Aliás, vivi já essa mesma experiência quando, em 1994, tentei visitar este local num dia de chuva intensa… e foi como se nem sequer cá tivesse estado. 


Seguimos depois para Füssen, já na fronteira com a Áustria, uma aldeia típica, rodeada de lagos e montanhas pintadas de neve. O dia estava ainda tão bonito que aproveitámos para um almoço numa esplanada soalheira, para as habituais salsichas e as, também habituais, weiss beer.

Entrando pela Áustria, no coração dos Alpes Tiroleses, optámos pelas estradas secundárias, por entre vales ladeados por montanhas nevadas. O objetivo não era chegar a sítio nenhum mas apenas deambular por aquelas paisagens que nos iam aparecendo pela frente, parando sempre que nos apetecesse.

As aldeias que vamos encontrando são geralmente muito típicas, recordam-nos as caixas de chocolates suíços, sempre com as suas igrejas e as montanhas lá atrás, com os picos cobertos de neve, e no vale, há sempre aqueles campos relvados que lembram um imenso tapete de um verde viçoso.

Voltámos a entrar na Alemanha e chegámos a Grainau, uma zona de lagos com montanhas nevadas, de onde sai um teleférico que distribui os skiadores pelas várias estâncias que ficam para lá daquelas colinas.

Quisemos aproveitar o ambiente bucólico do final de tarde numa esplanada junto às águas serenas de um lago rodeado de montanhas e resolvemos pedir um chá que nos aquecesse do ar que nos começava a gelar… e por lá ficámos, apreciando aquele entardecer. 

E aí aconteceu um episódio curioso… as viagens também se fazem de surpresas e não apenas do que imaginamos encontrar. Neste caso, uma equipa de filmagens de uma qualquer televisão alemã preparava-se para rodar um anúncio sobre vida saudável… não era com marcas mas apenas com este conceito. Nas imagens iria aparecer o plano de uma modelo a trincar com vigor uma maçã estaladiça, enquadrada na paisagem do lago como fundo. Acontece que a modelo, uma alemã típica, loira e alta, tinha uma marca de herpes no lábio inferior, que não estavam a conseguir disfarçar com maquilhagem. E aí pediram à Ana para que ela se deixasse filmar a morder a maçã, substituindo a modelo mal retocada. 

E assim foi, repetiu a cena duas vezes e a equipa de filmagens ficou contente com o resultado. Informaram-nos que o anúncio iria passar pelas televisões alemãs onde, estranhamente, em vez duma loira deslavada, apareceu uma morena bonita... e ainda nos ofereceram os adereços sobrantes, neste caso, duas maçãs, cada uma com a sua dentada. 

Voltámos, entretanto, ao nosso chá apreciando a nostalgia do entardecer nas margens daquele lago calmo no coração dos Alpes do Tirol.


No caminho de volta até Munique, haveríamos de parar ainda em Garmisch-Partenkirchen, a maior das cidades daquele local e o centro de um conjunto de estâncias de ski, onde acontecem correntemente campeonatos e taças do mundo em ski alpino.

No final deste dia tão rico, Garmisch já não nos acrescenta quase nada, apenas uma maior oferta de restaurantes e lojas de souvenires. Mas numa viagem que fiz anteriormente àquela zona da Alemanha, esta tinha sido justamente a cidade que mais me tinha encantado. As coisas mudam muito, o clima também condiciona bastante e, certamente, nós próprios vamos também mudando.


Salzburg

Um dos passeios mais interessantes que se poderá fazer a partir de Munique será irmos passar um dia completo a Salzburg, a apenas 150 km. No nosso caso usámos o carro que tínhamos alugado, mas há também a possibilidade de se ir de comboio, com saídas de hora a hora e uma duração de 1h40m.
Salzburgo é uma das cidades austríacas com mais história e mais charme. Localizada no limite da cordilheira dos Alpes, a cidade foi considerada Património Mundial da UNESCO desde 1996, o que justifica, desde logo, o facto de ser o centro turístico mais frequentado de toda a Áustria.
Em termos paisagísticos a cidade é dominada pela presença dos Alpes, ao fundo, do rio Salzach que divide o seu centro histórico, e do monte Festungsberg, no topo do qual se localiza o principal ícone da cidade, a Fortaleza de Hohensalzburg. 

Foi por essa Fortaleza que começámos a nossa visita, tendo saído da zona do rio e assumindo a imensa escalada até ao alto da montanha. Trata-se duma fortaleza medieval, com 250m de comprimento e 150 de largura, e é um dos maiores castelos medievais na Europa. O acesso ao topo pode ser feito através de um funicular, mas há sempre a possibilidade de se subir a pé… que foi o que nós fizemos, claro. O esforço é grande mas é recompensado com a vista fantástica sobre a cidade.

A paisagem permite-nos observar a cidade de Salzburg de forma quase incrível, por nos fazer acreditar que estamos mesmo perante uma cidade do século XVIII, pela arquitetura de época que domina as ruas e praças, pelos edifícios históricos e palácios, pelas torres de igreja e as cúpulas imponentes, e até pelas charretes que preenchem as ruas enquanto passeiam turistas... tudo isso nos leva a entrar no imaginário fantástico daquela época.
Do outro lado do monte a vista sobre as colinas dos Alpes traz-nos à memória as cenas do clássico “The Sound of Music” ou “Música no Coração”, filmado na cidade e nas montanhas que a rodeiam no início dos anos 60. Existe mesmo um percurso turístico, recomendado nos guias locais, em que se percorrem os pontos onde foram rodadas algumas das cenas de exterior do filme. Não optámos por este circuito, mas não deixámos de reconhecer alguns locais ou ambientes que nos recordavam as imagens do filme. 

Descendo da Fortaleza de Hohensalzburg chegámos ao coração da zona histórica, na margem esquerda do rio Salzach, deambulando pelas principais praças e percorrendo as principais atrações, duma cidade que é pequena e, por isso, se percorre facilmente de lés-a-lés.

Neste passeio, primeiro pelo centro e depois pela outra margem do rio, fomos passando pelos locais mais importantes da cidade que se encontram assinalados neste mapa:
Na praça Kapitelplatz salienta-se uma escultura em forma de esfera dourada com um homem no seu topo olhando para o infinito. A obra, executada pelo artista Stephan Balkenhol exatamente neste mesmo ano de 2007, é conhecida como "Sphaera - Um homem sobre um corpo esférico”.

Na envolvente das praças Kapitelplatz e Domplatz, destaca-se a imponente Catedral de Salzburg, um edifício barroco com enormes cúpulas. 

Logo depois entramos na Residenzplatz que é considerado o centro da cidade, onde se localiza o Neubau, sede do governo, a Glockenspiel, uma igreja com um conjunto de sinos que interpretam peças clássicas e a Residência dos Bispos.

A Mozartplatz, surge depois quase como a continuação da Residenzplatz, e enverga no centro uma escultura do famoso músico. Salzburg é muito marcada pela figura de Wolfgang Amadeus Mozart, nascido no centro da cidade no final do século XVIII. Além da praça com o seu nome e a sua estátua, existem também, a casa onde ele nasceu e viveu e uma outra casa museu, onde terá também vivido num período mais curto da sua infância.
Entrámos depois pela Getreidegasse, a principal rua comercial da cidade velha, conhecida por estar totalmente enfeitada com letreiros das várias lojas, restaurantes ou hotéis, suspensos no exterior através de poleias metálicas decorativas.
É também a rua que mais turistas atrai, porque a casa do número 9 é o lugar onde Mozart nasceu em Janeiro de 1756 e viveu a maior parte do tempo até aos seus 17 anos. A antiga casa de Mozart é um museu desde 1880, onde se expõem alguns objetos que simbolizam a carreira do músico, como o violino que ele utilizava desde criança, o seu cravo e também retratos e cartas da família Mozart. Atualmente a antiga casa de Mozart serve também como sala para pequenos concertos.
Depois de algumas horas no centro histórico localizado na margem esquerda do rio Salzach, atravessámos uma das pontes até à outra margem do rio, onde se prolonga o centro histórico e para onde se desenvolve a parte mais moderna da cidade. 

Mas deste lado de Salzburg existem ainda alguns pontos que justificam uma visita.
Começámos por subir à colina de Kapuzinerberg, que se ergue a partir da margem direita do rio, parando num ponto da muralha que ali se encontra, assinalado no mapa como Basteiweg (Stadtmauer), que permite uma vista panorâmica magnífica sobre a cidade, com o seu centro histórico dominado pela Fortaleza de Hohensalzburg e com as montanhas dos Alpes ao fundo.

Voltámos a descer a colina até à praça Makartplatz, a mais monumental e mais importante da margem direita, onde se localizam alguns edifícios de referência, destacando-se a Dreifaltigkeitskirche, uma igreja Católica Romana que é considerado o mais importante edifício religioso da cidade de Salzburg.
Ainda na Makartplatz ficam outros edifícios importantes como o clássico e charmoso Hotel Bristol e a Salzburger Landestheater, uma das principais salas de espetáculos de Salzburg, com as suas próprias companhias de teatro, balet e ópera. . E há ainda o Mozart Wohnhaus, a outra residência de Mozart, onde viveu alguns anos na sua infância, e onde foi aberto em 1996 um segundo museu Mozart.

Por fim chegámos ao Palácio e ao esplendoroso jardim do Mirabellgarten, ou Parque Mirabell. O jardim, que pode ser visitado gratuitamente, é do estilo barroco italiano e foi criado no final do século XVII por ordem do Príncipe e Arcebispo Johann von Thun. As imagens de cada recanto deste espaço são de uma beleza perfeitamente incrível e é justamente um dos locais que nos faz recordar algumas das cenas do filme "Música do Coração".

Entrando-se pela Makartplatz percorre-se o chamado Gran Parterre com as suas fontes e esculturas, com o palácio ao fundo. 
Do lado oposto, já no próprio palácio, o Schloss Mirabell, podemos contemplar a paisagem de todo o jardim com a cidade ao fundo, numa imagem lindíssima, que poderia ser usada para adornar caixas de chocolates suíços.
Terminámos o dia, caminhando pelas margens do rio, apreciando a paisagem da cidade, cada vez mais distante e mais ampla, com um belíssimo bilhete-postal.
Salzburg não é uma cidade apaixonante, mas é, definitivamente, das mais bonitas cidades de toda a Europa. Não nos apaixonamos porque a cidade é quase um cenário que ali foi montado para que os turistas o possam apreciar. Não se vê nada que nos emocione ou que mexa connosco, é tudo tão perfeito e está tudo no sítio certo, que quase conseguimos imaginar o pequeno Amadeus criando melodias no seu cravo, ou Julie Andrews, na pele da noviça Maria, correndo colinas abaixo e cantando a plenos pulmões... the hills are alive with the sound of music.


Terminámos aqui a nossa visita a esta zona da Europa, na Baviera e no Tirol, na Alemanha e na Áustria.

São locais que nos prendem sobretudo pela beleza das paisagens. Não se estabelece qualquer ligação especial com as pessoas ou com a sua vivência e a sua forma de estar. Somos apenas turísticas que vamos percorrendo as diversas atrações, como quem vê postais ilustrados... sem chama, sem magia, mas deslumbrados por tanta beleza.


Carlos Prestes
Novembro de 2007