sábado, 2 de setembro de 2023

Liubliana


A cidade de Liubliana é a capital da Eslovénia, um dos novos países que se formaram depois da desagregação da antiga Jugoslávia. Trata-se de uma pequena cidade que é marcada pela existência do rio que atravessa o centro histórico e, sobretudo, pela presença do seu castelo no alto de uma colina, como um farol sobre a cidade, que domina toda a paisagem da sua envolvente.
No roteiro que escolhemos para conhecer esta cidade fizemos a divisão entre a zona ocidental, mais moderna, e o centro histórico. Seguimos assim os trilhos representados no mapa seguinte, começando por escolher o parque de estacionamento assinalado, a partir do qual fizemos o nosso primeiro percurso, marcado a amarelo, deixando para depois o percurso a verde ao longo de centro histórico.
 
O estacionamento está localizado junto à Praça da República, numa zona de edifícios modernos, mas que surgem intercalados com outros edifícios mais clássicos e monumentais.

A Praça da República, ou Trg Republique, antiga Praça da Revolução, foi criada a partir de um projeto modernista do arquiteto Edvard Ravnikar e é o coração simbólico do estado da Eslovénia, pois encontra-se rodeada por vários edifícios públicos importantes, como o prédio da Assembleia Nacional da Eslovénia e as Torres Futuristas da TR3.

A modernidade que aqui encontramos é algo bafienta, resultando claramente de um período em que a Jugoslávia sofria a influência das tendências soviéticas, não só políticas, mas também na arquitetura. Por isso, esta praça, que é como o epicentro do poder esloveno, não é um espaço minimamente atraente.

Apesar de um tendência arquitetónica pouco entusiasmante, vamos encontrar duas esculturas bastante interessantes, e que melhoram muito aquele aspeto frio de uma praça encaixotada por entre edifícios quadradões.

Uma dessas obras é designada por Monument to Edvard Kardelj, uma escultura dedicada ao político e economista Edvard Kardelj (1910-1979), que foi também um membro importante do Partido Comunista da Eslovénia durante a Segunda Guerra Mundial. O monumento mostra Kardelj avançando a partir de um conjunto de figuras inexpressivas e foi erguido nesta praça em 1981, dois anos após a sua morte, numa altura em que ainda era chamada de Praça da Revolução.

Nesta mesma praça encontramos também o Spomenik Revolucije, ou Monumento à Revolução, um memorial que comemora a vitória dos guerrilheiros da Jugoslávia na Segunda Guerra Mundial, e homenageia também a Revolução Socialista que derrotou as forças ocupantes e opressivas fascistas que dividiram a Eslovénia.

Ou seja, no meio de uma arquitetura com traços marcantes das tendências do bloco de Leste, surgem dois monumentos que comemoram façanhas dos tempos áureos do socialismo da antiga Jugoslávia… demasiadas alusões a um período e a uma tendência política, da qual os eslovenos se quiseram livrar, logo que lhes foi possível.

De qualquer forma, na envolvente da Praça da República, além destes edifícios de escritórios que ali encontramos, alguns deles importantes edifícios públicos e governamentais, existem ainda alguns dos museus ou salas de espetáculos mais importantes da cidade, como são os casos do Centro Cultural Cankarjev Dom, do Museu Nacional da Eslovénia, ou ainda o SNG Ópera e Ballet de Liubliana.

O Cankarjev Dom ou Cankar Hall é o maior centro cultural e de congressos da Eslovénia. O edifício foi desenhado pelo arquiteto Edvard Ravnikar, ainda na época em que a Eslovénia fazia parte da Jugoslávia, tendo sido inaugurado no ano de 1982.
Quanto ao Museu Nacional da Eslovénia, o Narodni muzej Slovenije, trata-se de um edifício clássico e muito elegante, que foi fundado em 1821, quando a Eslovénia fazia parte do império austro-húngaro.
Já o edifício da Ópera e Ballet de Liubliana, sede da companhia nacional de ópera e de bailado da capital eslovena, foi construído entre 1890 e 1892 em estilo neo-renascentista, em plena época de governação austro-húngara. A sua fachada possui colunas jónicas que sustentam um frontão adornado com estátuas alegóricas à Tragédia e à Comédia do escultor Alojz Gangl.
E ainda nesta envolvente encontramos também a National Gallery, ou Narodna galerija, e a Moderna Galerija Ljubljana, o Museu de Arte Moderna da Cidade.

A National Gallery abriga a maior coleção de obras de arte em território esloveno, com origem desde a Idade Média até obras do século XX. Foi fundada em 1918 e é uma instituição pública de arte, cultura e ciência, que investiga e estuda as obras de arte, transmitindo ao público a história da criatividade artística de todo o espaço cultural esloveno.
O Museu de Arte Moderna expõe uma coleção permanente de arte eslovena dos séculos XX e XXI, e acolhe também algumas exposições temporárias onde são apresentadas novas práticas artísticas. A galeria funciona também como centro de documentação, estudo, pesquisa e ensino que oferece um espaço de discussão sobre a produção artística na Eslovénia.
Todos estes edifícios merecem ser vistos por fora, apreciando as suas fachadas clássicas ou modernistas, mas não tivemos a preocupação de visitar o interior de cada um deles.

No limite desta parte da cidade surge uma imensa zona verde, a mais importante de Liubliana, que é chamada de Parque Tívoli. Um parque urbano que se funde com a floresta que se desenvolve às portas da cidade, e que aproveitámos para visitar e usufruir das bonitas paisagens e das sombras acolhedoras que este espaço oferece.

Depois da visita ao Parque Tívoli deixámos esta zona da cidade e seguimos em direção do centro histórico, onde iríamos seguir o percurso assinalado a verde no mapa da cidade.

Começámos pela Praça do Congresso, ou Kongresni trg, que fica a apenas 10 min dos jardins Tívoli de onde tínhamos vindo, o que nos fez perceber que a cidade é bastante pequena e que será extraordinariamente fácil percorrê-la de lés a lés. Ainda nesta praça começamos por apreciar a bela imagem do Castelo de Liubliana, lá no alto da colina, que, de agora em diante, nos iria acompanhar ao longo de quase todo o centro histórico.
A Praça do Congresso de Liubliana está integrada na principal zona verde do centro histórico, o tranquilo e verdejante Parque Zvezda, e exibe alguns dos edifícios mais bonitos da cidade, como é o caso da Igreja Ursulina da Santíssima Trindade, que ocupa o lado Norte da praça.
Já do lado Sul encontram-se os edifícios da Universidade de Ljubljana e da Filarmónica Eslovena, dois belos edifícios que dão a esta praça um aspeto monumental… que combinam na perfeição com a imagem do castelo, sempre em destaque, como se fosse um autêntico farol desta cidade.

Saindo da Praça do Congresso e virando à direita no topo Sul, passamos junto ao edifício da Universidade, ainda em plena praça e, mais à frente, encontramos a Biblioteca Nacional, um edifício com fachadas peculiares revestidas a tijolo.
Nesta zona encontrámos as festividades que fazem parte do Festival de Verão de Liubliana, com epicentro no chamado Križanke, um anfiteatro ao ar livre que existe na zona de um antigo mosteiro e serve para a apresentação de vários espetáculos… nomeadamente no âmbito do festival.


Mas estamos também numa zona de ruas apertadas e pitorescas, como é o caso da Rua Križevniška, cheia de plantas e flores, que nos conduz até ao rio que atravessa e domina o centro histórico da cidade.

Chegando às margens do Rio Ljubljanica vamo-nos aproximando do centro e passamos a estar rodeados por bonitas casas e palacetes que ali se encontram, tornando-se visível a colina principal da cidade, onde ergue o castelo.

Ao longo do rio vamos encontrando várias pontes, e também várias promenades, como aqui lhes chamam, com rampas de acesso e uma espécie de bancadas viradas para o rio. A principal ponte desta zona é a chamada Ponte dos Sapateiros (Cevljarski Most), que é a ponte mais antiga da cidade, com origem no século XIII, e que chegou a ser, em tempos, um ponto de cobrança de taxas dos alimentos, temperos e tecidos que entravam na cidade.

Junto a esta ponte entramos numa zona animada e muito acolhedora, por onde nos apetece passear, cheia de esplanadas e muito movimentada, com um ambiente que nos vai acompanhar por todo o centro histórico.

Podemos apreciar as paisagens do rio que são muito bonitas nesta zona, e seguimos pela rua marginal do lado oposto, a Rua Ključavničarska, por entre as mesas e os chapéus de sol das esplanadas dos vários restaurantes que ali se localizam, num ambiente fantástico, sobretudo a partir do final da tarde, quando toda esta zona fica cheia de gente… e não são só turistas, os eslovenos também usam estes espaços para jantar ou para tomar um copo.

Ao chegarmos à ponte seguinte, e voltando à direita, entramos no acesso ao centro histórico pela Rua Mestni, com as suas construções coloridas do barroco.
Chegamos assim à praça da Câmara Municipal, a Mestna hiša, ou Praça da Cidade, onde se encontra o edifício da presidência do município e a Fonte dos Três Rios Carniola. Trata-se de uma fonte concluída no ano de 1751, e que é também conhecida por Fonte de Robba, por ter sido criada pelo escultor veneziano Francesco Robba. É considerada como um dos mais famosos monumentos do barroco de Ljubljana, criada a exemplo das famosas fontes romanas, com três estátuas de deuses fluviais que a decoram, representando os três rios de Carniola: Sava, Ljubljanica e Krka.

Mais à frente passamos ao lado da principal igreja da cidade, a Catedral de Liubliana.


A Catedral de Liubliana foi erguida num local que tinha sido ocupado por uma antiga igreja românica do século XIII. Após a destruição desta igreja devido a um incêndio, foi feita a sua reconstrução em estilo gótico, mas, anos depois, já no século XV, esta nova igreja haveria de voltar a ser incendiada durante as invasões turcas.

Só no início do século XVIII, entre 1701 e 1706, foi contruída a atual catedral, uma igreja barroca com capelas laterais em forma de cruz latina, com um projeto do arquiteto jesuíta Andrea Pozzo. Mais tarde, em 1841, foi construída a cúpula da igreja e foram aprimoradas as decorações interiores, com bonitos afrescos, estátuas, pinturas e os anjos que envolvem os altares das naves esquerda e direita.
Continuando na proximidade da catedral chegamos ao largo do mercado, mas ainda antes de voltarmos até perto do rio, escolhemos subir até ao castelo.

O acessoao castelo pode ser feito pelo Funicular, que se encontra ao lado do edifício do Teatro das Crianças, e que nos deixa logo lá em cima. Ou então optamos por ir pé, seguindo por carreiros ingremes, mais difíceis, mas também mais bonitos e, claro, mais baratos… embora o preço da subida não seja muito caro, apenas 3,3€.

São apenas 550m seguindo trilhos apertados, mas a inclinação é tal que chegamos ao topo completamente esbaforidos. Já lá acima começamos por apreciar as muralhas do Castelo de Liubliana, com uma origem que remonta ao final da Idade do Bronze, tendo perdurado pela época romana, quando a cidade era denominada de Emona.

Já depois da Idade Média, o castelo torna-se propriedade dos Habsburgos, que constroem as sua muralhas fortificadas para se protegerem dos ataques turcos. Durante as invasões de Napoleão o castelo foi usado como quartel e hospital militar, e até ao fim da segunda Guerra Mundial foi usado como penitenciária.

Atualmente esta fortificação, cuja imagem domina toda a cidade de Liubliana, é utlizada como espaço de exposições, tem também um restaurante, mas é sobretudo um belíssimo miradouro sobre a cidade.

A descida é bastante mais fácil e chegamos rapidamente perto da catedral, na zona do Mercado Central, onde acontece atualmente uma feira diária, cuja origem remonta à época medieval. Os produtores da região vendem aqui os seus produtos agrícolas, frutas e legumes, mas também de tudo o que se possa imaginar de comidas e bebidas. No entanto, este mercado só está a funcionar de manhã e à tarde, quando lá estivemos, estava completamente vazio.
No entanto, se nos dirigirmos para perto do rio, vamos encontrar um edifício comprido que é designado por Mercado Coberto de Plečnik, junto ao qual existe um imenso mercado cheio de quiosques de comida pronta, num espaço que fica colado ao edifício da catedral.

Nesta zona encontramos várias bancas com diversos tipos de pratos e muitas mesas cheias de gente. Estivemos lá num sábado e não apanhámos o que ali acontece às sextas-feiras, o chamado Open Kitchen, quando os restaurantes da cidade montam ali pequenas bancas para venda de uma espécie de tapas dos seus pratos de referência, mas a preços simpáticos, e mesmo os restaurantes com estrelas Michelin também aparecem neste evento semanal. De qualquer forma, mesmo sem o Open Kitchen, o lugar não deixava de estar bastante animado e convidativo.

Iriamos voltar a esta zona à hora de jantar, mas por agora continuámos em torno do rio e das suas pontes. Uma das pontes mais características da cidade é a chamada Ponte do Dragăo, ou Zmajski most, onde se encontram esculturas de dragões, uma referência à mitologia grega que está na origem de uma lenda da história de Liubliana… sendo que a figura do dragão faz mesmo parte do símbolo e do brasão da cidade.

A outra ponte que desta zona é a chamada Ponte do Carniceiro, ou Mesarski most, uma ponte metálica pedonal moderna, com piso transparente e cujas laterais estão com os seus guarda-corpos completamente preenchidos com cadeados, os chamados cadeados do amor, que temos encontrado noutros locais.

O tabuleiro da ponte está decorado com a chamada Estátua de Bronze do Génio da Água, uma obra do escultor bósnio Jakov Brdar.

A Ponte dos Carniceiros oferece bonitas imagens sobre o rio e alguns monumentos do centro histórico, e conduz-nos às esplanadas que ficam na outra margem do rio, e que formam um espaço particularmente animado, sobretudo durante a noite, quando os restaurantes ficam mais cheios.



Mas deixando a noite para mais tarde, continuámos ainda junto ao rio até chegarmos à ponte mais especial da cidade, a Ponte Tripla, ou Tromostovje, que nos leva até à Praça Prešernov.

A ponte tripla que ali encontramos, começou por ser apenas a ponte do meio, por onde passavam os carros. As duas faixas de automóveis não facilitavam o acesso pedestre e, uns anos mais tarde, foram feitas duas novas pontes, mais estreitas e simétricas, para passagem dos peões. Atualmente toda a Ponte Tripla é utilizada apenas para a passagem dos peões, visto que esta zona do centro se encontra sem trânsito automóvel.

Entrando depois na principal praça de Liubliana, a Praça Prešernov, cujo nome deriva de uma das figuras ilustres da cidade, o poeta Preseren, que está representado na estátua que ali se encontra, e que é considerado o maior poeta da Eslovénia… tendo escrito as palavras do próprio hino nacional esloveno.

A estátua mostra a figura de Preseren, mas também a imagem da sua musa Júlia, que morava numa das casas junto à praça, para onde a escultura de Preseren estará a olhar. Júlia era o amor da sua vida, mas era também de uma família muito rica, ao contrário do próprio Preseren, um pobretanas, como eram os poetas naquela época. E assim este amor terá sido sempre proibido, o que talvez até tivesse ajudado a potenciar a inspiração do poeta.

No centro da praça foi criado um espaço para refrescar os residentes e os turistas durante os meses de verão. É designado como “local com o seu próprio clima”, pelo menos é essa a tradução do nome esloveno, Področje lastnega Vremena, e é uma instalação artística interativa do artista esloveno Zmago Modic. Apesar de Modic ser principalmente um pintor, ficou conhecido por pendurar luzes de Natal por toda a cidade de Liubliana. E foi na sequência deste trabalho de arte urbana que foi criada esta instalação de indução climática, quando Modic trocou as luzes festivas por sprinklers cuidadosamente posicionados. A primeira experiência desta instalação foi feita em 2008, mas só mais tarde, em 2015, é que se iria tornar permanente, neste caso com utilização sazonal, funcionando apenas no verão.

Assim, ao visitarmos este espaço, vamos entrar num ambiente chuvoso, que varia desde uma chuvinha miudinha até a uma grande carga de água. Quando está calor, e neste dia até estava, apetece entrar por ali, como quem regressa ao inverno passado.
Mas a principal marca desta praça, e que é também um dos cartões de visita da cidade, é a Igreja Franciscana da Anunciação… sobretudo pela sua bonita fachada em cores de terracota.

Não conseguimos visitar o seu interior, porque a igreja já estava fechada, mas quem puder deverá fazer esta visita. Vai encontrar algumas obras deslumbrantes, como os seus vitrais, o altar-mor barroco, criado pelo escultor Francesco Robba, ou os bonitos afrescos, restaurados em 1936 pelo pintor impressionista esloveno, Matej Sternen.
Terminamos aqui a visita ao centro da capital da Eslovénia, que iriamos agora revisitar durante a noite para apreciarmos um outro ambiente da cidade e também para jantarmos e disfrutarmos do serão, escolhendo um dos muitos espaços animados que se formam por todo o centro histórico.