sexta-feira, 8 de setembro de 2023

Montenegro - Sveti Stefan, Budva e Kotor


Enquanto nos encontrávamos em Dubrovnik, na Croácia, resolvemos tirar um dia completo para fazer uma viagem e visitar algumas zonas costeiras do Montenegro. A viagem nem é muito longa, apenas cerca de 120 km (e pode até ser mais curta, fazendo uma travessia em ferry), embora o tempo previsto para esta distância possa alcançar de duas horas e meia e três horas, em função da demora na fronteira.

Devido a esta previsão do tempo de viagem, resolvemos sair bem cedo, a rondar as sete da manhã, e fizemos bem, porque a duração do trajeto realizado acabou por se confirmar, não tanto pelo tempo perdido a atravessar a fronteira, que até foi rápido, mas porque as estradas são apertadas e sinuosas, e atravessam todos os povoados que ficam no caminho, não sendo possível andar com grandes velocidades.

Seja como for, o tempo reservado para este dia foi perfeitamente adequado para fazermos a viagem programada, que nos deu uma imagem aproximada desta zona costeira do país.

O Montenegro é mais um país dos Balcãs que em tempos fez parte da Jugoslávia e que, após a dissolução deste estado, em 1991, manteve-se ainda ligado à Sérvia, formando um novo país, o Estado da Sérvia e Montenegro, do qual só se separou em 2006. Assim, durante a guerra dos Balcãs, contra a Croácia e contra a Bósnia, o Montenegro fazia parte das forças agressoras, que tentaram impedir a independência integral destes países da antiga Jugoslávia.
Apesar do Montenegro não pertencer à União Europeia, resolveram adotar o Euro como moeda oficial, no entanto, o acesso a este país obriga a passar por uma fronteira e a exibir os passaportes. Também haverá que ter cuidado e desligar os dados móveis dos telemóveis ainda no lado da Croácia, para evitar que o rooming seja cobrado.

Geograficamente, o país é formado por uma imensa cordilheira com montanhas escarpadas até ao mar, onde se localizam algumas vilas medievais, e uma estreita faixa no litoral do Adriático, ao longo da qual se encontram diversas zonas balneares e algumas praias.

No mapa seguinte assinala-se o trajeto que fizemos neste dia, sempre em estradas nacionais, não passámos por qualquer autoestrada:
 


Bocas de Cattaro

Pouco depois de atravessarmos a fronteira montenegrina chegámos a uma zona balnear que contorna a baía formada por um imenso braço de mar, que se assemelha a um fiorde norueguês, e é chamado de Bocas de Cattaro.
Este imenso fiorde vai-se estreitando até dar passagem para uma outra zona deste mesmo braço de mar, que é como um lago enorme e que é conhecido como Baía de Kotor.
Nessa zona estreita do fiorde podemos decidir qual o trajeto a seguir; ou continuamos até à baía de Kotor, e teremos de percorrer uns 30 km adicionais, sempre pelas estradas apertadas que contornam a baía; ou podemos atravessar de ferry nesta zona estreita, poupando os tais 30 km.

A decisão dependerá, naturalmente, da eventual existência de filas para apanhar o ferry. Como saem barcos em cada 15 minutos, não esperámos quase nada e fizemos a travessia em cerca de 10 min, poupando algum tempo. De qualquer forma, mais à tarde, no caminho de regresso, iríamos percorrer toda a baía de Kotor, ficando assim a conhecer essa bonita zona.



Sveti Stefan

Seguimos depois na direção de Budva, a grande estância turística desta zona do Montenegro, mas deixaríamos a visita a esta cidade para depois e continuámos até à pequena ilha de Sveti Stefan.

Esta paragem serve apenas para observarmos a ilha, mas sem a conseguirmos visitar. É daqueles sítios que aparecem nas seleções fotográficas dos spots turísticos do Montenegro, mas, na verdade, toda a ilha é atualmente um resort de luxo do grupo Aman, e só lá podem entrar os hóspedes ou visitantes autorizados.

Mas, ainda assim, não quisemos deixar de aproveitar as bonitas paisagens em torno desta ilha, começando logo por observá-la a partir de um ponto de paragem junto à estrada, ainda no alto da montanha.
Depois disso, já ao longo da descida, à medida que nos íamos aproximando da ilha, continuámos a parar para tirar sucessivas fotografias desta imagem tão bonita.
Cá em baixo, depois de deixarmos o carro no estacionamento que ali existe, e que é bastante caro, mas nestas zonas não há alternativas melhores, seguimos a pé até às praias que se formam na baía em torno da ilha, começando por chegar ao centro onde se encontra um passadiço de pedra, com passagem interdita, que serve de acesso a quem tenha permissão para chegar à ilha.
Do lado direito fica a praia privativa do hotel e, do lado esquerdo, fica a praia pública… e é quase chocante, porque a praia do hotel estava praticamente deserta.


De qualquer forma, começámos por percorrer o calçadão que fica do lado da praia privada, e entrámos num pequeno bosque que nos guiou até à enseada seguinte, onde se encontra mais uma bonita praia. Na volta, voltámos a apreciar a paisagem da ilha, o ex-líbris da imagem de promoção turística montenegrina, mas, desta vez, num ângulo diferente.


Como estava um dia bonito, além de nos deixarmos impressionar pelas paisagens, apesar de não podermos chegar perto desta aldeia antiga convertida em hotel de luxo, não quisemos deixar de experimentar as águas montenegrinas.

A temperatura serão os mesmos 20 a 22º, que já tínhamos encontrado na Croácia, mas os azuis do mar são tão bonitos que torna estas águas particularmente apetecíveis, mesmo sem existir uma praia de areia, embora, neste caso, a gravilha rolada que chega até ao mar seja até bastante fofa.
Mas se nos afastarmos da linha de água, o “areal” volta a ser um cascalho muito pouco convidativo, apesar das paisagens continuarem bonitas.
Mas apesar das areias mais grosseiras e de estarmos literalmente na praia dos pobres, não deixámos de aproveitar para uns mergulhos e umas boas braçadas que nos levaram até à ilha… como não tínhamos estatuto de convidados, fomos a nado e ameaçámos trepar o rochedo, só para chatear a segurança.
Na despedida desta manhã, voltámos a parar na subida para apreciarmos, uma última vez, a paisagem fantástica da ilha de Sveti Stefan... que continuava ainda bonita.


Budva

Seguindo depois de volta a Budva, estacionámos já próximo da cidade velha e fizemos os restantes percursos sempre a pé. Todos os locais de referência estão assinalados no mapa apresentado no início desta crónica.

Budva está dividida em duas partes completamente distintas, a cidade nova e a cidade velha. Começo aqui por fazer referência à parte mais moderna da cidade, que, apesar de ser conhecida com o nome pomposo de Riviera de Budva e de ser o principal destino balnear do Montenegro, é pouco acolhedora, como uma espécie de uma Quarteira local, caótica e desinteressante, com os típicos mamarrachos de betão na envolvente das praias, uns em cima dos outros… e, para piorar, as praias são muito piores do que as da Quarteira, com aquele cascalho em vez de areia.

De qualquer forma, este destino é considerado como a capital do turismo montenegrino e atrai muitos milhares de turistas locais todos os verões, e tem, por isso, uma oferta bastante diversificada, das praias à marina, das lojas aos restaurantes, dos bares às discotecas… tudo horrível, na minha opinião, só disfarça quando é visto à distância, como nestas duas fotos:

Mas, para compensar, o centro histórico de Budva, ou Stari Grad, na língua local, é bastante mais bonito e harmonioso. Trata-se da antiga cidade velha, que ocupa uma pequena península que avança pelo mar adentro (como todas as penínsulas) e que se encontra integralmente protegida por muralhas.
A melhor fora de apreciarmos a imagem deste centro histórico, será afastarmo-nos um pouco ao longo da praia de Ričardova Glava, que fica mesmo ao lado, e daí contemplarmos a silhueta da cidade e das suas muralhas.
No interior existem várias edificações do século XV e ruas empedradas com lojas e restaurantes, que se ligam entre si de forma labiríntica, e às vezes desembocam em pequenas praças com esplanadas.
         

De vez em quando cruzamo-nos com as igrejas da cidade, todas elas ortodoxas, como é o caso da Igreja de Santa Maria in Punta e da pequena Igreja da Santíssima Trindade.

Mas o monumento mais relevante da cidade velha é a igreja de St. Ivan, também ortodoxa, que tem estatuto de catedral, apesar de não ser muito grande. Esta igreja, tal como toda a cidade, foi severamente danificada por um terremoto no ano de 1979. Mas a cidade e como os seus monumentos, foi totalmente restaurada e não apresenta quaisquer sinais dessa destruição, mantendo intacta a traça original da idade média.
Nesta pequena cidade, entre uma rua e outra, aparecem portas em arco que nos levam até ao mar, com as habituais águas cristalinas e de tons azul forte, mas sempre com as também habituais praias de cascalho, pouco convidativas.

Saindo para o lado Norte da cidade entramos na praia de Ričardova Glava e podemos continuar pelo passadiço que liga esta praia à baía seguinte, onde se encontra a Praia de Mogren.

Neste percurso à beira-mar vamos desfrutar das melhores paisagens de Budva, começando logo com a imagem da primeira praia, enquadrada com a silhueta da cidade velha, onde se destaca a torre da igreja de Santo Ivan e o paredão da muralha da cidadela.
Mais à frente encontra-se uma pequena estátua, mas que representa um icon desta cidade, trata-se da Bailarina de Budva.

Esta estátua de bronze que, segundo a lenda, representa o amor de uma jovem bailarina por um marinheiro que acabaria por não regressar. Mas a bailarina terá permanecido fiel a esse amor, voltando diariamente àquela zona da costa na esperança de testemunhar o seu regresso. Esta ideia levou a que tenha sido criada a estátua de bronze que ali se encontra atualmente.
…e outras musas de grandes paixões podiam ser avistadas neste mesmo local à beira do Adriático.
Continuando um pouco mais no passadiço junto ao mar chegamos à baía seguinte e avistamos a Praia de Mogren, uma bonita praia, embora muito cheia de banhistas… e também, claro, com o imenso pecado de não ter uma boa areia. De qualquer forma a imagem desta praia é lindíssima, sobretudo quando apreciámos a sua paisagem vista do alto da colina.

Terminando a visita a esta cidade no alto da encosta, já perto da estrada, pudemos observar as belas vistas sobre toda a baía de Budva.

Ao fundo é visível a ilha de St. Nikola, uma das atrações desta zona, com um formato estranho, parecendo que se está a afundar. De um lado a ilha tem enormes penhascos e do outro praias de “areia” que recebem diariamente muitos turistas que vêm de barco desde a marina de Budva.
Lá em baixo voltamos a apreciar, de um ângulo diferente, a imagem da cidade velha por uma última vez.



Kotor

Apenas a 24 km de Budva entrámos no imenso lago de Kotor que, na verdade, não se trata de um lago, mas de um braço de mar formando uma baía, uma espécie de fiorde, com ligação ao Adriático, e que chega a ser visitado por alguns navios de cruzeiro.

A estrada que que contorna a baía vai passando por pequenas povoações balneares e proporciona sempre bonitas paisagens.

Mas toda esta zona faz parte do município de Kotor, uma pequena e pitoresca cidade encaixada entre as montanhas e o braço de mar, e com um belíssimo centro histórico de origem medieval.

A influência da arquitetura da idade média é notória em toda a cidade velha de Kotor e, mal entramos numa das portas das muralhas que cercam a cidade, neste caso, no Portão do Mar, encontrámos uma primeira praça cheia de lojas e restaurantes, a chamada Praça das Armas, e descobrimos logo um dos monumentos de referência da cidade, a Torre do Relógio.


Continuando pelas ruas apertadas da cidade vão-se seguindo os monumentos principais que fazem de Kotor uma referência histórica do Montenegro.

Os montenegrinos são maioritariamente ortodoxos, embora haja também alguma população católica, mas são poucos, e será por isso que existem várias igrejas ortodoxas na cidade e apenas uma católica. As duas principais igrejas ortodoxas são a Igreja de São Nicolau e Igreja de São Lucas.

Estas duas igrejas encontram-se na mesma praça, juntamente com alguns restaurantes, num conjunto muito interessante, fazendo desta praça a mais bonita da cidade.

Numa outra praça vamos encontrar a tal igreja católica, a Catedral de St. Tryphon's, que constitui uma das únicas duas catedrais católicas romanas que existem no Montenegro.
Mas este centro histórico não são só igrejas e, por isso, vou deixar algumas imagens das ruas e praças onde estivemos no breve percurso que fizemos pela cidade.


         
Mas ao longo deste percurso fomos tropeçando por mais umas igrejinhas, sempre Cristãs Ortodoxas, e pelo Museu Marítimo, que é uma das atrações deste lugar.


Ainda no centro histórico podemos subir às muralhas que contornam a cidade e que nos oferecem algumas paisagens interessantes.


Além de explorarmos o centro histórico, se tivermos tempo e coragem, e se estiver um dia limpo, podemos pagar os 8 € de ingresso e subir à Fortaleza de São João, passando pela Igreja da Nossa Senhora da Saúde, mais uma igreja ortodoxa, para podermos desfrutar as vistas sobre a cidade e o imenso lago.

Esta fortaleza é uma das principais referências históricas de Kotor, criada para garantir a defesa face aos ataques inimigos, cujos barcos eram visíveis lá de cima mal entravam na baía, evitando que a cidade fosse apanhada de surpresa.

Até estava um dia bastante bonito, mas reconheço que não tivemos tempo e, sobretudo, não tivemos coragem para subir à fortaleza. Assim, limitámo-nos a apreciar as vistas de cá de baixo, contemplando o próprio castelo, que vai escalando a montanha, e a pequena Igreja da Senhora da Saúde… e da cidade ficámos apenas com a imagem dos seus telhados.


Seguindo depois ao longo do lago, fizemos ainda algumas paragens nos locais mais agradáveis, uma vez que esta zona costeira vai revelando algumas bonitas paisagens de pequenas aldeias à beira-mar.

É o caso da povoação de Perast, uma das mais bonitas desta baía, com pequenas praias e com o enquadramento do lago com a própria aldeia, onde se salienta a torre da Igreja de São Nicolau.


Em frente a Perast são visíveis duas ilhas que apenas observámos à distância, embora sejam organizados trajetos de barco para as visitar. Numa delas encontra-se a igreja ortodoxa da Nossa Senhora das Rochas e, na outra, o Mosteiro Católico de São Jorge.

Terminámos assim este dia apreciando uma vez mais a bonita imagem desta magnífica baía…
Faltava-nos agora apenas 80 km até Dubrovnik, mas com a necessidade de atravessar a fronteira com a Croácia, e com a configuração sinuosa da estrada, iríamos demorar quase duas horas.

Foi mais uma experiência vivida neste mundo dos Balcãs, sendo este país a experiência menos interessante. Tem praias, mas não tão espetaculares como as da Croácia, tem uma cidade histórica, mas que fica muito aquém das cidades que visitámos na Croácia e até na Bósnia, e depois o Montenegro está claramente atrás dos principais países balcânicos, como a Eslovénia ou a Croácia, que atualmente pertencem à União Europeia, ou mesmo a Sérvia, antiga capital da república da Jugoslávia.

Apesar disso não deixou de ser uma boa escolha, pois num único dia ficámos com uma ideia panorâmica deste país, e ficou visto…


Carlos Prestes