segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Zadar


Viemos dos lagos de Plitvice de forma a chegar a Zadar a meio da tarde para podermos assistir ao famoso pôr-do-sol que se pode observar a partir do passeio marginal.

O centro histórico de Zadar localiza-se numa pequena península colada às águas do Adriático, onde se encontra um imenso paredão, a Riva Zadar, famoso pelas imagens icónicas do pôr-do-sol… que observámos algumas horas mais tarde, num momento que constitui uma das principais atrações desta cidade.
De todos os locais da marginal, escolhemos aquele que é definido como o principal spot para observar o pôr-do-sol, onde encontramos também o Órgão do Mar e a Saudação ao Sol, duas instalações artísticas da autoria do arquiteto e artista plástico croata, Nikola Basic, que ganharam recentemente destaque internacional, tornando Zadar como um destino mais apelativo.

Ao final da tarde acumula-se uma multidão, sobretudo de turistas, junto ao extremo Norte da península que alberga o centro histórico desta cidade, por ser esse o lugar privilegiado para observarmos as cores do entardecer.
Enquanto esperamos que o sol se ponha vamos ouvindo os sons do chamado Órgão do Mar, que está localizado sob a escadaria onde nos sentamos. Trata-se de um conjunto de tubos e caixas de ar que reverberam com o marulhar das ondas emitindo sons, que vão saindo pelas aberturas que se encontram ao longo da escadaria, e que lembram um órgão que vai tocando ao sabor do mar… na verdade, o som assemelha-se mais aos tons graves de uma imensa flauta-de-pan.

A música que vai ecoando não é particularmente bonita e até chega a ser irritante, mas isso não tira a boa disposição a todos aqueles que ali vão observando o céu e o mar, enquanto se vão tingindo com as cores avermelhadas do sol que vai caindo.
Já a alusão à Saudação ao Sol é como uma pista circular com 22 m de diâmetro, que é alimentada a energia solar, absorvendo os raios solares durante o dia, para deslumbrar as pessoas com padrões coloridos de luz quando anoitece.
E nessa altura, quando a noite cai, esta plataforma circular faz-nos lembrar uma pista de dança iluminada, chegando a ser utilizada por alguns espontâneos como se fosse mesmo a pista de uma discoteca.

Para além deste ponto de paragem obrigatório e de toda a dinâmica que se vive em torno da observação do pôr-do-sol, aproveitámos também para percorrer o centro histórico, tão pequeno que mais parece que estamos a visitar uma aldeia, em vez de uma cidade.

A cidade de Zadar pertence à costa da Dalmácia e o seu centro histórico encontra-se rodeado por muralhas e está localizado numa pequena península, que quase parece uma ilha, por estar quase completamente envolvida pelo mar Adriático. Esta fotografia aérea, que não fui eu que tirei, permite perceber com mais clareza como é que a cidade se dispõe, e pode ver-se também a localização das duas instalações mencionadas, o Órgão do Mar e a Saudação ao Sol.
Mas Zadar é bem mais do que esta zona do centro histórico, contendo também outras áreas marginais de maior dimensão, com praias e marinas, que começam logo que saímos das muralhas e estendem-se depois ao longo de vários quilómetros de costa, o que faz desta região uma atração turística de veraneio.
Mas a nossa opção foi conhecer apenas a parte velha e mais típica da cidade, pois é isso que a diferencia de outros polos turísticos da costa adriática. Como ficámos num hotel no centro, deixámos o carro num dos parques periféricos dessa zona, e passámos a andar livremente pelas ruelas da cidade velha, tentando observar os principais pontos de interesse histórico e arquitetónico, e fazendo um percurso semelhante ao assinalado neste mapa:
 
Começámos pela zona mais a Sul, próximo dos limites das antigas muralhas da cidade, que se encontram registadas como Património da UNESCO, e que faziam parte do sistema defensivo medieval, tendo permitido manter a independência da cidade, sobretudo face às invasões turcas.

Iniciámos o nosso percurso perto do mar, na marginal, junto ao edifício da Universidade de Zadar, seguindo depois por um carreiro estreito encostado ao mar, que nos levou até à pequena enseada onde se forma a Marina de Foša, a única marina que fica no centro e que  está encostada a uma das muralhas.

Uma vez que Zadar foi totalmente rodeada por muralhas, existem ainda alguns dos seus antigos portões venezianos. Nesta muralha onde a Marina de Foša está encaixada, encontramos logo a principal porta da cidade, o chamado Portão da Terra, ou Porta do Leão, decorado com representações esculpidas na pedra, onde se salienta o leão veneziano, num conjunto feito para impressionar quem chegava pelo mar.
Foi por este portão que fizemos a entrada no centro da cidade, virando logo de seguida à direita até à Praça dos Cinco Poços, um pequeno largo construído em 1574, no local de um antigo fosso, onde foi criada uma cisterna e onde encontramos cinco poços que forneceram água a Zadar até ao século XIX.

Mas existem por aqui alguns vestígios ainda mais antigos, como uma coluna romana e algumas ruínas da mesma época, que atualmente estão visíveis debaixo de um pavimento envidraçado.

Esta praça tem ainda outras atrações históricas, para além das cinco fontes e dos vestígios romanos, como a própria muralha e as suas portas, e uma torre medieval chamada Torre do Capitão, que é o monumento dominante em toda a envolvente.

É também aqui que vamos encontrar as escadas de acesso ao Parque Rainha Jelena Madijevka, um pequeno jardim, mas que é o maior de todo o centro histórico e permite um passeio refrescante sob as sombras das árvores, e oferece ainda bonitas paisagens das muralhas e da marina.
Seguindo depois pouco mais de 100 m pelas ruas apertadas do centro histórico, chegamos à Praça do Povo, ou Narodni trg, em croata.

Durante vários séculos esta praça foi o principal centro da vida pública de Zadar e podemos dizer que, atualmente, continua a ser o coração desta cidade, sempre movimentado e cheio de esplanadas, mas também com alguns edifícios de referência, como o edifício renascentista da atual Câmara Municipal e que liga com o edifício mais bonito, a Torre do Relógio.
Um outro edifício histórico da Praça do Povo é o City Lodge, construído no século XVI, já foi o tribunal da cidade, a sua biblioteca e a câmara municipal, e hoje é um museu com uma exibição algo bizarra de aranhas e escorpiões.
Mas o grande monumento desta praça é a Torre do Relógio, uma bonita torre sineira construída nos finais do século XVIII que faz parte do edifício da Guarda Municipal. A torre tem dois sinos, um maior, que toca as horas, e um menor, que toca em cada quarto de hora. E, claro, tem um relógio, uma preciosidade que foi fabricado e instalado pelo relojoeiro municipal.
Saindo depois da Praça do Povo para Este podemos chegar ao Mercado de Zadar, mas que só funciona em pleno da parte da manhã, à tarde só encontramos as bancas vazias. Como todos os mercados da Croácia é sempre interessante fazer uma visita e até comprar alguma coisa, principalmente fruta, que dá jeito a quem está de viagem.
Ainda do mesmo lado, podemos atravessar as muralhas e sair do centro histórico pelo portão do lado Este, encontrando a Gradski Most, ou Ponte da Cidade, uma ponte pedonal que atravessa o braço de mar que separa a zona histórica da cidade nova.

Voltando para o centro e chegando de novo à Praça do Povo, virámos à direita e entrámos na principal rua de comércio da cidade, a Rua Široka.

Nesta rua empedrada e cheia de comércio, vamos observando ao fundo a torre da Catedral de Santa Anastácia.
A Catedral de Santa Anastasia adquiriu a aparência atual nos séculos XII e XIII, quando foi construída como uma basílica com três naves em estilo românico. É uma das catedrais mais antigas da Croácia, o que é indicador da importância de Zadar durante a Idade Média, quando todos os principais poderes europeus queriam governar esta cidade, incluindo a República de Veneza ou o Reino da Hungria.

Esta catedral surge meio escondida, já que a sua fachada principal está confinada a uma pequena praça, a Praça Sveta Stošija, e quase parece estar virada para as traseiras.
Mas o seu alçado posterior, embora com uma fachada quase insignificante, acaba por oferecer o melhor enquadramento paisagístico, pois é desse lado, na zona do Fórum Romano, que se tornam visíveis as referências históricas mais importantes, como a própria torre da Catedral e a Igreja de São Donato, que se alinham em conjunto, como se fizessem parte do mesmo monumento.

A Igreja de São Donato foi construída sobre as ruínas do antigo fórum e destaca-se pela originalidade da sua geometria em forma circular. Foi batizada com o nome do Bispo Donato que, segundo a lenda, a terá mandado construir no início do século IX. Os restos mortais de São Donato foram ali depositados, mas, após séculos de história e vários conflitos a que a igreja esteve sujeita, como a revolução francesa, os restos mortais do Santo foram saqueados e só anos mais tarde voltaram a ser recuperados, mas desta vez foram guardados na Catedral de Stª Anastasia, onde se encontram ainda hoje… reforçando assim ainda mais a ligação entre estas duas igrejas.
Ainda nesta zona do Fórum Romano, encontram-se também a Igreja de Stª Maria, o Museu Arqueológico e as próprias Ruínas do Fórum.

Começando pela Igreja de Santa Maria, ou Crkva Svete Marije, um edifício construído no século XI, onde, para além das suas três naves, destaca-se a Torre Sineira românica. Esta igreja faz parte do Convento Beneditino de Santa Maria que acolhe atualmente o Museu de Arte Sacra com uma impressionante coleção de relicários e pinturas de mestres venezianos.
Ao lado da igreja ergue-se um edifício mais moderno, e não particularmente bonito, onde se encontra o Museu Arqueológico de Zadar, o segundo mais antigo de toda a Croácia, com uma coleção que engloba artefactos que vão desde o Paleolítico ao século XI.

Por fim, chegamos às Ruínas do Fórum, comprovando que esta praça, que hoje nos parece claramente o centro histórico da cidade, já o era desde a sua fundação na época da presença romana. A praça funciona como uma espécie de museu a céu-aberto, com vários artefactos da cidade romana que ali existiu.

Ao percorrermos as ruas interiores da cidade, na verdade, nunca deixámos de estar próximos da marginal e sempre a escassos metros do mar. Mas ao sairmos da praça do Fórum chegamos mesmo à chamada Riva Zadar, o nome que se dá ao passeio pedonal que percorre toda a marginal, banhado pelas águas cristalinas e de azuis fortes do Mar Adriático.

Enquanto aqui estamos vamos percorrendo esta marginal várias vezes, apreciando a variação das tonalidades do céu e do mar que vão ocorrendo à medida que o sol se movimenta, até a noite cair.

A Riva Zadar é a principal marca desta cidade que vive quase literalmente no meio do mar, ao sabor dos ventos e marés, e é neste imenso passeio marítimo que conseguimos sentir essa ligação entre a cidade e o Adriático, quer seja apenas percorrendo o calçadão vezes sem conta quer se decida ficar sentado a contemplar um horizonte recortado pelas ilhas que envolvem a baía e, sobretudo, ficando a aguardar pacientemente pela chegada do pôr do sol, que aqui nos surge de uma forma sedutora.

Além da Riva Zadar e do conjunto monumental do centro histórico, a cidade velha tem muito mais para oferecer, sem sequer precisarmos de qualquer orientação, basta nos deixarmos vaguear sem destino pelas ruas apertadas com traços medievais, apreciando a sua animação, que vai crescendo com o final de cada dia.

         

Por entre lojas, cafés e restaurantes, que se espalham pelas ruas e praças através das suas esplanadas, vamos entrando na palpitação da cidade e vamos gostando muito de ali estar.

E com o anoitecer as ruas vão ficando mais cheias e a cidade torna-se ainda mais encantadora, e até os monumentos nos parecem mais bonitos.



Terminámos a visita à pequena cidade de Zadar onde chegámos depois da hora de almoço e ficámos até à manhã do dia seguinte, com oportunidade para repetirmos todos os locais mais atrativos da cidade velha ao longo das várias horas do dia... podendo assim observar o reflexo das diferentes tonalidades, desde o amanhecer até ao cair da noite.

Carlos Prestes