Ao entrar na zona balnear de Nerja vamos ansiosamente à procura de alguns traços que nos levem às memórias de infância ou juventude da série que animou as televisões portuguesas no início dos anos 80, o Verano Azul.
Foi naquelas ruas, naquelas praias, por aqueles terrenos ao longo da encosta que desce até ao mar, que a série foi rodada, semana após semana. Por isso a expetativa era grande, não tanto para mim, que já era crescidinho na altura, mas muito mais para a Ana… havia a esperança de poder encontrar ali alguns fragmentos que fizessem relembrar aqueles tempos de uma infância de tantos sonhos e tanta ingenuidade.
Mas a verdade é uma tremenda desilusão, a cidade vende a marca Verão Azul, mas não tem nada que faça recordar esta série em que as aventuras de meia dúzia de catraios encantavam e inspiravam a miudagem por esta Europa fora… minto, na verdade foi criado um parque Verano Azul onde a série é homenageada, mas também aí a desilusão é total, nem uma réstia dos sonhos de infância. Fica num pequeno jardim localizado numa zona urbana feia e já afastada do centro, com algumas referências aos protagonistas e onde a principal atração é o La Dorada, o barco original da série, ou o Barco de Chanquete, o velho marinheiro que fazia parte das aventuras da pequenada.
Por isso, e com maior ou menor sentimento de desilusão, lá seguimos viagem até à Nerja atual, já sem Verão Azul… mas ainda assim é inevitável nós próprios ensaiarmos um assobio entoando a banda sonora da série, que nos fica no ouvido e já não conseguimos tirar da cabeça.
A cidade de hoje é mais um aglomerado turístico moderno da costa espanhola, onde as urbanizações de veraneio substituíram ou ocultaram as casas simples e rústicas do local na época do Verão Azul.
Como de costume, programámos seguir um percurso passando pelas praias principais da zona e pelo centro histórico, sempre muito animado e bastante preenchido por turistas. Os locais escolhidos levaram-nos a percorrer os trilhos assinalados neste mapa, que fomos seguindo ao longo deste dia:
Mas antes de chegarmos ao pueblo de Nerja, ainda perto da saída da autoestrada, fizemos uma primeira paragem para observar o Acueducto del Águila. Trata-se de um aqueduto bastante bonito, com múltiplos arcos, construído no século XIX para transportar água até aos engenhos de uma antiga fábrica de açúcar, e que encontramos hoje devidamente reabilitado e com um belo enquadramento na paisagem.
Chegando depois junto ao mar, começámos pela Playa de Burriana, uma das principais praias desta zona, que ocupa toda baía que se forma na base da colina, atualmente ocupada por diversos aldeamentos turísticos.
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É uma praia ampla e espaçosa, com diversos restaurantes, bares e gelatarias nos apoios de praia, e com uma paisagem envolvente bastante bonita. Mas, e estas praias têm sempre um mas, a areia negra tira-lhe a graça toda… ou se calhar sou só eu que sou um preconceituoso em relação à cor da areia.
Depois de um passeio pela marginal e de uma paragem num dos bares de praia, resolvemos procurar outro local para uns mergulhos, e que tivesse um areal mais pequeno para que o efeito da areia escura fosse menos perturbador.
E assim resolvemos ficar logo na pequena baía do lado, a Playa Carabeillo, que já tínhamos espreitado a partir do Mirador Del Bendito, e que nos pareceu interessante, com uma paisagem bastante bonita, apesar da areia escura. Ficámos por lá algum tempo e aproveitámos a excelente temperatura daquelas águas azuis e calmas.
Mais retemperados por uns ótimos banhos de mar fomos andando até ao centro histórico do pueblo, totalmente adaptado às dinâmicas dos turistas que percorrem as ruas, com lojas e esplanadas por todo o lado, e com vários toldos de sombreamento para nos refrescar.
Numa das ruas principais deste centro histórico, a Calle Puerta del Mar, encontramos uma verdadeira porta para o mar, o Boquete de Calahonda, uma passagem em arco, entre os edifícios, que serve de acesso até à beira-mar e à Playa de la Calahonda.
A zona mais central de Nerja fica num promontório que avança sobre o mar, no topo do qual se encontra uma plataforma cheia de palmeiras, chamada de Plaza Balcón de Europa.
O seu nome de balcão faz justiça a um local com uma vista infinita como esta, sobre os dois lados da costa, mostrando as várias praias da região.
Num dos extremos da Plaza Balcón de Europa fica uma pequena capela, a Parroquia El Salvador, e é aí que começam as casas brancas do puleblo, ainda as marcas dos pueblos blancos da Andaluzia.
Percorremos ainda mais algumas vezes as várias ruas do centro histórico, com a animação habitual das terras junto às praias andaluzas, até escolhermos uma barra de tapas onde parámos para umas raciones e umas cañas de final de tarde.
A visita estava terminada, Nerja não nos encantou particularmente, é mais um local de veraneio da costa espanhola do Sul, sempre muito concorrido e com aquelas praias de areia preta, que tanto me desagradam.
Mas, a principal desilusão desta visita ao pueblo de Nerja, é mesmo a ausência de sinais genuínos do imaginário criado por um grupo de miúdos que viviam intensamente cada dia daquele Verão Azul, fazendo sonhar quem seguia com paixão as suas aventuras.