quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Cadiz - La Habana Andaluza

É habitual entre os espanhóis identificar a cidade de Cádis como a Havana da Andaluzia, e existem mesmo textos e canções que fazem essa analogia - como na Habaneras de Cádiz, onde se canta “La Habana es Cádiz con más negritos, Cádiz, La Habana con más salero” - mas, na verdade, esta comparação é muito ténue e surge apenas pela semelhança entre as duas avenidas marginais, ambas dominantes nas respetivas cidades, com o famoso Malecon, na Havana cubana, e com a Av. Campo del Sur, em Cádis, que é uma marca predominante na imagem da cidade, sobretudo ao entardecer, quando é mais frequentada, mostrando o azul infinito do mar, na junção das águas do Mediterrânio e do Atlântico, e embelezada pela silhueta da magnífica Catedral, como um farol que anuncia a presença da cidade.

Fizemos duas visitas a esta cidade, primeiro no ano de 2013 e depois em 2021, em qualquer dos casos a visita durou apenas um dia, a caminho de outros destinos da Andaluzia… mas um dia é bem razoável para uma cidade como esta, que não é muito grande.

Assim, e como é habitual, escolhemos um estacionamento central e fizemos depois todos os percursos a pé… mas com o cuidado de fazermos uma paragem durante o período de mais calor, a hora da siesta andaluza, retornando depois à cidade já na hora em que tudo desperta, para um final de tarde mais fresco e uma noite longa percorrendo as ruas e parando nas esplanadas para umas copas e umas tapas, sempre tão apetecíveis. 

Dividimos a cidade em dois trajetos que se ligam entre si e que seguem, mais ou menos, os trilhos assinalados. A verde estão marcados os pontos visitados em todo o contorno marginal da cidade e a vermelho estão representados os locais do centro histórico:
Cádis é praticamente uma ilha, apenas com uma estreita língua de areia, do lado Sul, por onde passa a estrada que une a cidade ao continente. Mas a principal ligação da cidade é assegurada por duas pontes de grande dimensão do lado da baía, que é também um dos principais portos espanhóis, já desde há vários séculos.


Plaza de San Antonio 

Foi no imenso estacionamento subterrâneo que ocupa todo o espaço quadrangular desta praça, que resolvemos deixar o carro, e foi assim que começámos o nosso passeio pelas ruas labirínticas desta cidade a partir da Plaza de San António.

Durante séculos existia ali um poço que abastecia a cidade com água potável. Mais tarde, já no século XVII e sem a mesma necessidade de explorar as águas daquele poço, foi erguida uma igreja dedicada a Santo António, e a praça passou a ter o seu nome atual. A praça de San Antonio é bastante bonita, os edifícios ao longo do seu contorno têm uma arquitetura uniforme, quer nas proporções quer na sua traça, apenas com o contraste da fachada da igreja de Santo António, alta e alongada, que melhora ainda o aspeto global da praça, tornando-a mais monumental.



Jardines de Alameda Apodaca

Seguimos até ao lado Norte, onde se começa a desenhar a baía, e continuámos o nosso trajeto, percorrendo o passeio pedonal dos Jardines de Alameda Apodaca, numa caminhada interessante, junto ao mar, com a possibilidade de observar um conjunto de árvores muito especiais que o jardim contém, como esta ficus de aspeto assombroso.


Gran Teatro Falla

O ponto de paragem seguinte foi na Plaza Fragela, onde encontramos o Gran Teatro Falla, um edifício magnífico, construído no final do século XIX seguindo o projeto do arquiteto Adolfo Morales de los Ríos. O aspeto exterior do teatro é grandioso, com as bonitas fachadas avermelhadas e com uma influência bem evidente da arquitetura árabe. 

Não visitámos o seu interior, embora seja possível fazer essa visita, obrigando a uma marcação prévia, ou então, o que será ainda melhor, podemos assistir a um dos espetáculos que por lá passam, como a temporada de ópera da cidade, ou algumas peças de teatro. Mas foi uma pena não termos feito essa visita porque é no interior que se esconde a sua principal preciosidade. Trata-se de uma imensa pintura da abóbada da sala de espetáculos, executada pelos pintores Felipe Abarzuza e Julio Moisés, representando cenas alegóricas das artes cénicas.

Apenas uma referência ao nome do teatro, até 1926 era apenas o Gran Teatro de Cádiz, só então passou a ser o Gran Teatro Falla, em homenagem ao famoso músico e filho predileto da cidade, Manuel de Falla.



Parque Genovés 

Seguimos depois de novo em direção ao mar, até ao Parque Genovés. É um parque bastante grande onde se pode desfrutar da proximidade do mar e das mais de 100 espécies exóticas de árvores e arbustos que fazem deste parque um jardim botânico, e onde se encontra também uma bonita cascata, que é o seu ex-líbris.



Castillo de Santa Catalina Cádiz 

Logo depois do parque surge o Castillo de Santa Catalina Cádiz, um forte militar construído sobre o mar que foi convertido num espaço cultural e recreativo, com salas de exposições temporárias, com lojas e oficinas de arte e artesanato, também utilizado para a realização de concertos e outras atividades de Verão.
Numa maré mais vazia a baía adquire uma imagem distinta e até estranha, fazendo-nos lembrar que a cidade é também uma terra de pescadores que ganham a vida nas suas pequenas embarcações que aqui descansam.


Playa La Caleta

E pouco depois chegamos à principal praia da cidade, a Playa La Caleta, com cerca de 500 m de areia, mais ou menos branca, formando um conjunto que, reconheço, não é nada apetecível para quem queira apanhar banhos de sol e dar uns mergulhos.

Em pleno areal ergue-se um edifício branco que surge como imagem de marca da praia. Trata-se da sede do Centro de Arqueologia Subaquática, que foi ali instalado porque é justamente naquela praia que se encontra a maior concentração de sítios arqueológicos subaquáticos da costa Sul de Espanha.

Uma panorâmica sobre a praia La Caleta, permite confirmar que não se trata de um local acolhedor, sobretudo assim, atafulhado de banhistas, e totalmente fora dos nossos conceitos daquilo que é uma boa praia aqui em Portugal. Por isso, trocámos um possível banho de mar por uma pausa junto à piscina do hotel, que é algo que eu jamais faria se a praia cumprisse os requisitos mínimos… mas não era o caso.



Castillo de San Sebastian

Mais tarde voltámos de novo à Playa La Caleta, mas, desta vez, seguimos pela extensa língua de areia, o chamado Paseo Fernando Quiñones, que liga a praia ao Castillo de San Sebastian, uma fortificação militar que remonta à época muçulmana. O Forte ocupa a ilhota que se forma a quase um quilómetro da costa e, entre outras utilizações, tem um farol que é fundamental para assinalar aquele obstáculo à navegação.
No regresso voltámos a apreciar toda a envolvente da praia e da própria cidade, numa paisagem que é muito característica, fazendo, de facto, lembrar a vista da cidade de Havana a partir do Castillo del Morro… confirmando as tais semelhanças entre as duas cidades.
Já mais tarde, com o sol a descer sobre o mar, encontrámos uma silhueta difusa do Castillo de San Sebastian, formando uma paisagem muito bonita que apreciámos até que o pôr-do-sol se consumasse.


Calle Virgen de la Palma 

Logo junto à praia encontramos um dos bairros da cidade velha, o Barrio de la Viña, com algumas ruas bem típicas, como a Calle Virgen de la Palma (ou Calle de la Palma). É um bairro muito animado, com muita ligação ao mar, com restaurantes de rua de onde nos cheira aos aromas do mar que ali são servidos. 

Ao longo desta rua, com as esplanadas ligadas entre si, como se tratasse de um único restaurante contínuo pela rua fora, vamos encontrando várias palmeiras, ou palmas, e no final surge a igreja padroeira do bairro, a Parroquia de Nuestra Señora de la Palma.


Catedral de Cádis 

Ao sairmos do Barrio de la Viña chegámos à grande marginal - El Malecon de Cadiz - a Av. Campo del Sur, e seguimos por um dos passeios desta marginal inspirando o vento salgado que nos envolve e, pouco tempo depois, surge na paisagem a grande Catedral de Cádis, a principal igreja da cidade.

No século XVIII Cádis chegou a ser uma grande potência económica devido ao monopólio do comércio americano, por ser o principal porto de onde partiam e chegavam as embarcações que atravessavam o Atlântico rumo ao Novo-Mundo. Assim, nessa fase, tornava-se necessário criar um ambiente adequado aos níveis de riqueza da cidade, e foi assim que, com a ajuda económica dos descobrimentos da corte espanhola, foi construída a grande catedral da cidade, projetada pelo arquiteto Vicente Acero no ano 1722.

A igreja segue a tradição arquitetónica espanhola, influenciada pelas formas barrocas das catedrais italianas, com uma planta em cruz latina, com três naves e capelas laterais. 

A sua fachada é muito bonita, adornada pelo portal principal, em mármore branco e, sobretudo, pelas duas grandes torres que conferem a este monumento a silhueta que marca a imagem da cidade junto ao mar e à sua marginal.
A Plaza de la Catedral é um das principais centros da cidade, e aquela que mais turistas atrai, não só pela magnifica imagem desta igreja grandiosa, mas também pela arquitetura da sua envolvente, a sua utilização dos espaços com esplanadas de restaurantes e gelatarias e, ainda, pela presença de uma outra capela, também ela relevante, a Iglesia de Santiago Apóstol.


Centro Histórico

Esta praça marca também uma das ligações ao casco antigo, onde encontramos diversas ruas pedonais com edifícios históricos, igrejas e alguns edifícios públicos, como o mercado local ou a sede dos correios.

Este centro histórico é formado por diversas ruas sem trânsito, cheias de montras dos variados tipos de lojas que ali se encontram, e que, quando estão abertas, fazem deste bairro um autentico centro comercial de rua. Torna-se por isso conveniente que a visita a este bairro seja feita no horário em que as lojas estão abertas, devendo-se evitar aquelas horas mortas da siesta andaluza, que ocupa quase toda a tarde.

Algumas das ruas fizeram-me, de facto, lembrar as ruas do casco antiguo de La Habana... só faltavam os charutos nas mãos de los habaneros com a imagem o fumo à sua volta.

De um dos lados este emaranhado de ruelas da zona do casco velho acaba por desembocar na Plaza de San António, enquanto que, do lado oposto, liga numa das principais praças da cidade, a Plaza de San Juan de Dios.


Plaza de San Juan de Dios 

É uma praça com uma configuração diferente das outras praças, quer de Cádis quer de toda a Andaluzia, e temos a sensação de que se trata do centro desta cidade. Além do seu nome principal, em honra ao San Juan de Dios, é também chamada de Plaza Mayor da cidade, por conter o edifício da sede do município. 

A praça está cheia de palmeiras e tem uma extensa fonte e vários toldos de sombreamento, e encontram-se também diversos dispositivos de pulverização de água, tudo isso para se conseguir refrescar o ambiente, porque o calor é sempre o eterno problema da Andaluzia, mesmo numa cidade que está completamente rodeada por mar.

Bem ao centro da praça ergue-se o Monumento a Moret, numa homenagem a Segismundo Moret, um político, orador e jurista nascido na cidade em 1838, e que é uma das figuras mais importantes desta terra.
A praça é bastante bonita, quer pelo seu exterior, que torna apetecível um passeio ou uma pausa numa das muitas esplanadas, quer pelos edifícios que a envolvem, sempre bem cuidados, onde se destacam a Igreja de San Juan de Dios, a Casa de los Pazos Miranda e, sobretudo, o Ayuntamiento de Cádiz, o bonito edifício da Câmara Municipal.

Depois de um dia tranquilo e sem grande stress, a noite foi caindo e a cidade adquiriu um novo brilho, tornando-se mais fresca e ainda mais bonita e mais acolhedora.


Voltámos a percorrer os locais mais animados, agora bem mais apetecíveis, e não deixámos de aproveitar algumas das muitas esplanadas que a cidade oferece, e apreciar as iguarias locais, como as afamadas frituras de peixes e calamares, ou as paellas, sempre devidamente acompanhadas pelas inevitáveis cañas.