O La Alhambra, o grande complexo de palácios e fortificações mouras, é um símbolo de referência do poder muçulmano sobre a península ibérica e a sua imagem obtida a partir do Albayzín, o bairro árabe de Granada, é uma das mais belas paisagens que pode ser imaginada… com o castelo e os palácios em destaque e a Sierra Nevada coberta de neve, ao fundo.
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Visitar o Alhambra é algo imprescindível para se conhecer a história da cidade de Granada e até para melhor se entender o período da presença muçulmana na península, através dos vestígios concentrados num mesmo vale, o vale do Darro, onde se encontram frente-a-frente o antigo bairro árabe do Albayzín e o complexo monumental que forma o Alhambra.
Nas mais de 20 vezes em que fui até à Sierra Nevada fazer ski, em metade delas visitei a cidade de Granada, mas apenas numa dessas vezes reservei a tarde para visitar o complexo de palácios e fortificações do La Alhambra. Quando se está a esquiar não se quer fazer mais nada, mas este conjunto monumental é de uma riqueza incomparável e justifica bem dispensarmos algumas das nossas horas de ski, e não é só a paisagem magnífica que podemos apreciar a partir do bairro árabe de Granada, temos mesmo que visitar os seus palácios e jardins… por isso, pelo menos uma vez na vida, troquem o chip do esquiador por um outro mais virado para a arte e para a cultura e reservem uma tarde para visitar o Alhambra, que não se vão arrepender… foi isso que fizemos neste Inverno de 2010.
O La Alhambra, cujo nome significa "castelo vermelho", fica localizado na colina al-Sabika, em frente ao bairro do Albayzín, e foi construído para demonstrar o poder da dinastia Nasrida numa época em que o Califado de Córdova perdeu o domínio do Al Andaluz, o território da península ocupado pelos mouros. A partir do ano 1031, depois da dissolução do Califado, o território ocupado pelos muçulmanos foi dividido em reinos, que acabaram por sucumbir às tropas cristãs até ao século XII e, nesse período de cerca de 200 anos, o reino de Granada foi o principal símbolo desse poder islâmico na Península Ibérica.
Foi nessa época, entre os anos de 1238 e 1492, no apogeu do sultanado de Granada, que a cidade viveu o seu principal período de influência árabe e também de maior esplendor artístico, depois do fundador da dinastia Nasrida, Mohamed I, ter ordenado a construção do La Alhambra e ter transferido a sua residência real do Albayzín para esse novo local. Mas os edifícios mais importantes do complexo foram construídos mais tarde, entre 1333 e 1354, na época de Yusut I, e do seu filho Mohamed V, depois da sua morte e até 1391.
Atualmente encontramos ainda a muralha e o aqueduto que correspondem à parte mais antiga da cidade, e a Alcazaba, com as suas torres principais, que foram construídas mais tarde. Durante o século XIV, foram ainda construídas as suas principais joias, os palácios Nasridas.
Já depois da Reconquista de 1492, os Reis Católicos realizaram várias reformas e construíram no interior do complexo o convento de São Francisco e, mais tarde, o imperador Carlos V, mandou construir um imenso palácio com seu nome.
Este mapa localiza os principais monumentos que encontrámos ao longo da nossa visita ao riquíssimo complexo do La Alhambra, no ano de 2010:
A Alcazaba
A Alcazaba é uma fortaleza protegida por muralhas que contornam a parte mais alta da colina onde se encontram as principais torres do Alhambra.
É do alto da torre principal do Alcazaba que se conseguem as melhores paisagens, quer da cidade de Granada e do Albayzín quer da Sierra Nevada que se ergue à distância.
Palácios Nasridas
O conjunto de Palácios Nasridas ocupam uma parte da zona muralhada do complexo, formando um denso aglomerado de edifícios, com os seus pátios e jardins, quase amontoados entre si. Mas, mais tarde, cada um deles haveria de se revelar como uma autêntica pérola da história e da arquitetura representativas do poder muçulmano que ocupou esta parte da península.
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Dos diversos Palácios Nasridas selecionámos aqueles que estavam referenciados, e é desses palácios, que são autênticas preciosidades e que não quisemos deixar de visitar, que vos vou agora falar:
Palácio de Comares: foi construído ao redor do Patio de los Arrayanes, que é uma das imagens mais distintas do Alhambra, com a sua piscina central, que é também um depósito de água para utilização no complexo. O Palácio contém várias salas para celebração de festas, mas também o famoso Salão do Trono, dedicado a reuniões e encontros políticos.
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Palácio de los Leones: Encontra-se interligado com o Palácio de Comares e era um espaço privado do Sultão Mohamed V, que ali residia com sua família e também com o seu harém. Com a morte do seu pai, o sultão Yusuf I, Mohamed V iniciou a construção do Palácio dos Leões, que iria ser um dos principais legados da dinastia Nasrid ao complexo do Alhambra.
Nos vários detalhes que formam este palácio a arte Nasrid atinge o seu esplendor máximo, devido a uma decoração primorosa e de grande sensibilidade, e pela harmonia entre a luz, a água e a cor, formando um conjunto com uma beleza incomparável.
Mas a atração principal do palácio é o famoso Pátio de los Leones, uma das joias incontornáveis do Alhambra. O pátio tem uma forma retangular e está rodeado por uma galeria de claustros com 124 colunas e pórticos em mármore, revestidos com gesso rendilhado, num resultado magnífico.
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O nome do palácio vem dos doze leões sobre os quais repousa uma grande taça onde se forma a fonte que ocupa o centro do pátio principal.
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Ainda neste mesmo palácio, seguindo por uma das portas laterais do Pátio dos Leões, entramos na Sala de los Abencerrajes, um salão que era a alcova do rei, mas que se destaca sobretudo pela sua cúpula e pelas paredes revestidas magnificamente em gesso trabalhado, com uma decoração incrível, que faz lembrar um imenso suspiro.
Uma lenda sangrenta conta um episódio que se terá verificado neste salão, e que terá estado na origem do fim da linhagem dos abencerrages. Reza a estória que um cavalheiro abencerrage foi acusado de adultério com a favorita do sultão, e que este, cheio de ira e desconhecendo de quem se tratava, convocou para esta sala todos os 32 cavalheiros abencerrages da cidade. À entrada de cada um deles, o sultão foi decapitando um atrás do outro, sempre sobre a fonte que existe ao centro da sala, para que a água levasse o sangue e aqueles que esperavam pela sua vez, nada suspeitassem.
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Palácio del Partal: Partal vem da palavra árabe que significa "pórtico" e é o nome dado ao palácio que foi residência do Sultão Yusuf III. O palácio está encostado a uma grande piscina ao centro do jardim e tem uma torre que é conhecida como Las Damas, mas o seu nome está relacionado com a sua configuração, por ser formado por um pórtico de cinco arcos.
No interior do pórtico abrem-se vários arcos mais pequenos sobre o Vale do Darro, que nos permitem contemplar o bairro árabe lá em baixo, na sua azáfama diária, talvez indiferente às preciosidades arquitetónicas que se erguem ao longo da colina.
Toda a área em frente do palácio é ocupada pelos Jardins Partal, mais um espaço arborizado e bem cuidado, de onde se salienta a Parroquia de Santa María de la Encarnación, com a sua torre bem visível.
Parroquia de Santa María de la Encarnación
Trata-se de uma igreja católica que foi instalada sobre o local da antiga mesquita principal do complexo do Alhambra, com a sua torre como um sinal de que o poder cristão se sobrepôs à presença muçulmana.
Foi construída no século XVI, já em pleno domínio católico, numa estrutura gótica com uma única nave bastante ampla, e com alguns elementos de estilo renascentista que foram posteriormente adicionados.
Palácio de Generalife
Localizado a menos de um quilómetro do centro do Alhambra, o palácio de Generalife era utilizado como residência de descanso do sultão e da sua família. É um edifício bastante sóbrio e muito bonito, com o seu pátio principal e as suas fontes, formando uma imagem que representa o conceito muçulmano do paraíso.
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O Palácio encontra-se numa posição de onde é possível contemplar toda a envolvente do vale do Darro, com o Alhambra, num dos lados, e o Albayzín, no lado oposto.
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O pequeno Palácio de Generalife encontra-se rodeado pelos seus bonitos jardins, que eram hortas e pomares na época da ocupação árabe, e são mais uma atração imperdível para os visitantes.
Palácio de Carlos V
Foi construído após a queda do poder islâmico para melhor vincar a supremacia católica na cidade de Granada, mas também, para representar a força da presença dos mouros e dos seus sultões. O Palácio de Carlos V é uma das obras mais destacadas do período do Renascimento em toda a Espanha e salienta-se sobretudo pelas suas fachadas grandiosas, e pelo seu pátio circular porticado com colunas ao estilo romano.
Para além do simbolismo que constituiu a construção de um monumento representativo do poder católico em pleno Alhambra, que era anteriormente o grande símbolo do islão na península, o imperador Carlos V decidiu construir este palácio também para seu uso pessoal, tendo sido usado como residência de lazer para si próprio e para a sua família.
Atualmente o palácio é sede do Museu de Belas Artes e do Museu do La Alhambra.
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Haveria ainda muito mais por visitar e por relatar no interior deste complexo magnífico, com uma concentração preciosíssima de vestígios da era de ouro do poder árabe, mas também do período da reconquista cristã, mas, para isso, seria necessário reservar um dia completo… mas isso é algo bem mais difícil, tendo em conta esta estranha combinação, que nos leva até ao Alhambra depois de uma manhã inteira de ski, num profundo contraste entre a adrenalina de uma descida vertiginosa, e a tranquilidade que nos assola ao mergulharmos neste enigmático mundo dos sultões.