Málaga é a grande cidade desta zona da Cuesta del Sol, um local fantástico onde a Andaluzia se torna mais apetecível... são os melhores paladares do Mediterrâneo, é a bonita praia da Malagueta, para onde todos fogem do calor andaluz, são as ruas e praças do centro histórico, com as suas de lojas chiques, são os vestígios de séculos de história, do período romano à ocupação islâmica.
Mas é também um lastro cultural incontornável, com a figura de Picasso, a sua casa, o seu museu, e os locais que frequentava no início da sua vida, como a Praça de Toiros da Malagueta, tão inspiradora para o jovem artista.
Depois de uma visita em 2018, quando encontrámos a cidade desfigurada, devido aos efeitos da Feria local, que arrasaram a tranquilidade do centro histórico transformando-o numa espécie de festival da cerveja, resolvemos voltar a Málaga logo que fosse possível para visitarmos a cidade no seu estado puro. Foi por isso que fizemos uma nova viagem a esta zona da Andaluzia no Verão de 2021, ainda na ressaca da pandemia.
Desta vez estendemos a visita à cidade durante dois dias e resolvemos incluir alguns locais mais emblemáticos, como a Alcazaba ou o Museu Picasso, que não tínhamos visitado em 2018.
Tivemos oportunidade de ficar algum tempo na cidade, percorrendo várias vezes as principais ruas e as praças do centro, aproveitando o seu palpitar contagiante, e seguindo, como guião, os pontos assinalados no seguinte mapa.
Desta vez dividimos a visita à cidade em três percursos distintos:
- A zona da marina e da praia, que inclui o Porto de Recreio e o Bairro da Malagueta;
- Um conjunto de atrações que resolvemos visitar (a Alcazaba, o Teatro Romano, o Museu
Picasso, o Monte de Gibralfaro, a Catedral de la Encarnación e o Mercado de Atarazanas);
- O Centro Histórico, com as ruas e praças do casco velho da cidade.
No conjunto destes três percursos salientam-se os locais e atrações mais relevantes, que passo a descrever, começando pela zona marginal entre o Porto de Recreio e o Bairro da Malagueta:
Porto de Recreio
Resolvemos não entrar logo no centro histórico e, porque queríamos dar um salto à praia, optámos por começar pelo passeio marginal que contorna o porto de recreio.
A zona marginal começa num extenso jardim, o Paseo del Parque, de onde se observam alguns dos edifícios mais emblemáticos da cidade e se enquadra também a paisagem do porto e da marina, com a vista ao longe do grande farol.
O porto de recreio é uma zona bastante bonita, com um belo espelho de água, e de onde são visíveis as imagens dos principais monumentos que se erguem na cidade velha, como a Catedral de la Encarnación, a sua principal igreja católica, ou o Alcazaba, a grande cidadela do período muçulmano.
O nosso percurso começou pelo Paseo del Muelle Uno, um longo passeio pedonal junto ao mar, que é também o terminal de navios de cruzeiro. Por isso, existem ali os edifícios desse terminal, bem como alguns restaurantes com muito bom aspeto e também o edifício do Museu do Mar.
Mas para quem não pretende entrar nos restaurantes e se limita a fazer uma caminhada junto ao mar ao longo deste passeio, aquilo que mais se destaca é a Pérgola Zigzagueante Muelle Uno, com o seu desenho futurista, que acompanha toda a extensão do percurso criando um sombreamento que ajuda a atenuar o calor, por vezes feroz, nesta zona da Andaluzia.
Ao fundo da avenida do porto encontramos outra atração desta parte da cidade, um cubo colorido que alberga o Centre Pompidou Málaga.
O Centro Pompidou de Málaga é uma delegação do Centro Georges Pompidou de Paris e vai exibindo algumas das coleções que vão passando pela casa-mãe francesa, o que faz com que se apresentem neste museu algumas exposições de enorme qualidade.
O edifício do museu, que é chamado de El Cubo, foi projetado pelos arquitetos do Departamento de Urbanismo da cidade e tem este aspeto futurista, na mesma linha do que aconteceu algumas décadas antes com a construção do Centro Pompidou de Paris. A imagem disruptiva deste museu permite um enquadramento adequado à paisagem desta parte da cidade, que foi reabilitada e modernizada, e torna-o apropriado à arte moderna, que ali é exibida preferencialmente, fazendo com que seja apelativo ao público mais jovem.
Um passeio pela avenida marginal é algo bastante agradável, sobretudo pelo enquadramento entre esta zona moderna e bem cuidada, e o mar tranquilo, ali ao lado.
Seguindo junto ao mar até ao aglomerado seguinte, onde começa a praia, vamos passar pelo farol da cidade, La Farola, uma torre cilíndrica, com uma altura de 38 m, construída em 1816, e que assinala a presença da cidade de Málaga para os navegantes.
Playa de La Malagueta
Logo depois do farol encontramos a praia mais famosa de Málaga e o bairro com o mesmo nome, La Malagueta, que está na transição entre a modernidade e o centro histórico, e é das zonas mais interessantes da cidade, ocupando uma faixa de terreno junto à costa que inclui uma mistura entre as torres contemporâneas e outros edifícios mais clássicos, como o Hotel Miramar.
É um excelente local para se viver, escolhido por alguns dos malaguenhos mais abastados, e é também uma das melhores praias e mais frequentadas da cidade… embora, para mim, e lá estou eu outra vez, uma praia de areia escura nunca será uma boa praia.
Ainda assim, e mesmo com esta areia, não deixámos de dar uns mergulhos nas águas límpidas do Mediterrâneo, mas não nos conseguimos deter muito tempo no areal para banhos de sol, apesar das paisagens envolventes, que são bastante bonitas.
A paisagem mais interessante da praia da Malagueta é aquela que enquadra o conjunto formado pela imagem do mar e do areal cheio de banhistas e, ao fundo, os edifícios da primeira linha que se desenvolve ao longo da avenida marginal.
Os Chiringuitos
Ao longo da costa toda a avenida marginal é acompanhada por um calçadão com ligações a vários pontos do areal, onde encontramos algumas esplanadas, que fazem parte de quiosques que ali são chamados de chiringuitos, nome de uma aguardente de cana de qualidade inferior, e que são uma das atrações da cidade, onde se podem provar algumas especialidades locais.
Não deixámos de parar para um almoço tardio, disfrutando dos petiscos que ali são servidos, sempre acompanhados de umas cañas refrescantes.
Um dos pratos típicos que quisemos experimentar foi a sardinha no espeto, um tipo de sardinha mais pequena (como as petingas) que é colocada num espeto metálico, ou feito em cana, e é assada nas brasas… não deixa de ser um bom petisco, mas fica a anos de luz da nossa sardinha de Portimão ou de Matosinhos.
Mas o prato local mais apetecível, e difícil de reproduzir noutras regiões, é uma fritura de pescado, que saboreámos até lamber os dedos, com uma certa sensação de culpa, tal a carga calórica que se fazia notar à distância.
Barrio de La Malagueta
Percorremos depois a envolvente do bairro da Malagueta, onde os edifícios de grande porte que ali se erguem, escondem um dos seus segredos mais preciosos, a Plaza de Toros de La Malagueta, que é bem mais do que um simples recinto para espetáculos de tauromaquia, é um símbolo da cidade e da tradição das suas gentes.
Este é o mesmo local onde o jovem Pablo Picasso se apaixonou por uma arte, que pode ser contestada por muitos de nós, mas que a ele o fascinou e tanto influenciou o seu trabalho. A praça de touros continua a homenagear a figura maior da cidade, com a chamada Tourada de Picasso, que ocorre todos os meses de agosto, durante a Feria de Málaga, e que aconteceu exatamente no momento em que visitámos o bairro no ano de 2018… não fomos à corrida de touros, não só por não sermos apreciadores deste tipo de espetáculos, mas porque a lotação estava completamente esgotada, mas acompanhámos toda aquela envolvente à hora da entrada de milhares de aficionados animadíssimos - e foi quando percebemos que a cidade estava demasiado frenética e que algo de especial estava a acontecer - era a Feira de Málaga a bombar de uma forma incrível. Três anos mais tarde encontrámos esta mesma zona bastante mais tranquila, mas também menos entusiasmante.
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O bairro termina no Paseo de Reding, que nos leva até ao Jardines de Pedro Luis Alonso um imenso e bonito jardim que se estende ao longo da avenida do Paseo del Parque, onde se encontra o sumptuoso palácio do Ayuntamiento de Málaga.
Além deste palácio que alberga a Câmara Municipal da cidade, surgem nesta zona outros edifícios clássicos, como o Banco de Espanha, um edifício da Universidade de Málaga ou a Real Academia de Bellas Artes, onde funciona o museu da cidade.
Na colina por detrás destes edifícios ergue-se a Alcazaba, a antiga fortificação do período de ocupação muçulmana, no sopé do qual se estende a atual cidade velha.
A Alcazaba e o Teatro Romano
No centro antigo da cidade de Málaga encontramos vestígios dos vários períodos de ocupação, desde os romanos, aos mouros e aos católicos, e é essa a mistura de influências que se vai notando, com testemunhos da presença destes povos que nos vão aparecendo em cada recanto desta cidade.
Quisemos conhecer de perto a Alcazaba e resolvermos fazer a visita a este monumento, que incluía também a visita ao Castelo de Castelo de Gibralfaro, mas que deixámos para depois, optando por subir a montanha de carro, em vez de fazermos a pé toda a colina até ao castelo.
Já no interior temos acesso a todos os recantos deste palácio fortificado com vários edifícios da época da ocupação islâmica, construído pela dinastia Hammudid no início do século XI. Todo o complexo contido no interior das muralhas, tal como os seus jardins e fontes, seguem as características típicas da arquitetura dos palácios árabes, e aqui podemos visitá-lo seguindo as indicações do áudio-guia que nos é disponibilizado no smartphone.
Durante o seu período áureo, a Alcazaba ocupava mais do dobro do espaço que ocupa atualmente, mas aquilo que encontramos hoje em dia, está ainda em boas condições de conservação, principalmente as muralhas, que contornam todo o perímetro do palácio e mantêm a antiga geometria e robustez... e existem também outras zonas do palácio que nos pareceram estar ainda perto das condições originais, apesar dos seus séculos de história.
No sopé da colina do Monte Gibralfaro, onde se ergue a Alcazaba, localiza-se o Teatro Romano, com o que resta do antigo teatro de Malaca, e que constitui o principal vestígio arqueológico da presença romana na cidade de Málaga.
O local onde esta diversidade nos surge de forma mais clara é na Calle Alcazabilla, que é um mostruário de influências com um lastro histórico riquíssimo, incluindo o Teatro Romano, cá em baixo, e a Alcazaba Muçulmana, no topo da colina.
O teatro tem um tamanho médio e preserva ainda toda a zona da bancada e o piso do palco, também em pedra, que atualmente se encontra coberto por uma plataforma de madeira, que permite a realização de espetáculos em condições de segurança para quem tem de pisar o palco. Esta zona do palco teria sido fechada, na parte posterior, por uma fachada ornamental com vãos e colunas, mas que já não existem atualmente.
O teatro romano é classificado como Monumento Artístico e pode ser visitado, juntamente com outras relíquias arqueológicas desta zona da cidade.
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Museu Picasso
Saindo da praça junto ao teatro romano entrámos nas ruas mais típicas e apertadas da cidade velha e chegámos ao museu mais importante da cidade de Málaga, em honra daquele que é a sua principal figura, o enormíssimo Pablo Picasso, um dos artistas mais influentes de toda as história da arte mundial.
No entanto, e já seria de esperar, este museu não contém, nem de perto nem de longe, as mais importantes obras do artista, que se encontram distribuídas por outros museus mais emblemáticos de Paris, Nova York ou Madrid, como é o caso do Museu Reina Sofía, onde está o Guernica, o mais brilhante de todos os trabalhos feitos por Pablo Picasso.
Mas não se pode dizer que o museu não esteja bem concebido, com exemplos dos trabalhos realizados ao longo dos várias períodos da vida do mestre, sobretudo da fase do cubismo.
Porém, nota-se a falta de algumas das peças mais emblemáticas... encontramos apenas a tapeçaria com uma réplica de um dos quadros mais importantes de Picasso, o Les Demoiselles d'Avignon, cujo original se encontra no MoMA, em Nova York.
A Catedral de la Encarnación
Em plena cidade velha, em torno do emaranhado de ruelas estreitas, ainda próximo do Museu Picasso, ergue-se a principal igreja católica da cidade e um dos templos renascentistas mais relevantes da Andaluzia, a imensa Catedral de Málaga.
A Catedral de la Encarnación é um dos monumentos mais importantes da cidade, onde é popularmente conhecida como La Manquita. Este termo resulta do facto da catedral ser manca, ou coxa, uma vez que a torre Sul da fachada principal ficou inacabada, enquanto a torre Norte se forma até ao topo, criando assim um aspeto de desequilíbrio, de um edifício coxo.
A Catedral foi construída durante mais de dois séculos desde que os Reis Católicos ordenaram a sua execução, em meados do século XVI. Foi projetada segundo a influência do estilo gótico e foi terminada no ano de 1782, à exceção da referida torre Sul que ficou por erguer. No seu interior, encontram-se influências renascentistas e barrocas, e as capelas têm também um interesse particular, nomeadamente a Capela da Encarnação, que dá o nome à Catedral.
A fachada mais bonita da Catedral fica localizada junto à Plaza del Obispo, uma pequena praça monumental, onde acorrem sempre muitos turistas que dali apreciam a fachada principal da Catedral.
Mas a própria Plaza del Obispo é também, por si só, bastante interessante, principalmente pela presença do edifício de cores vivas do Palacio Episcopal.
Mercado Central de Atarazanas
Afastámo-nos um pouco da zona mais monumental e chegámos a um dos pontos de referência deste centro histórico, o Mercado Central de Atarazanas, um local que justifica uma visita, mesmo que não se queira comprar nada, o mercado vale por si mesmo… mas deve ser escolhida a parte da manhã, para podermos assistir a toda a dinâmica daquele espaço, aproveitando depois os bares de tapas em torno do mercado para um almoço rápido.
O mercado revela profundas influências histórias dos tempos da ocupação muçulmana, claramente visíveis numa das fachadas principais, feita num pórtico árabe forrado a mármore, e até o próprio nome de Atarazanas, que significa em árabe “o lugar onde os barcos são reparados”, numa alusão à antiga utilização do local como estaleiro naval, durante o período de ocupação dos Mouros.
Mas o mais interessante que ali encontramos é mesmo o próprio edifício, construído num misto de alvenaria de pedra forrada a tijolo, com uma extraordinária estrutura metálica trabalhada, proveniente das antigas fundições e, o mais espetacular, a grande janela composta por 108 painéis de vitrais, que representam diversos monumentos da cidade.
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Desta vez tivemos oportunidade de visitar apropriadamente este mercado e até de fazer algumas compras. Ficámo-nos pela fruta, que era de excelente qualidade e variedade, mas tivemos pena de não ter podido levar também algum do marisco que ali se vendia e que tinha um aspeto divinal.
Castelo e Mirador de Gibralfaro
Ao adquirirmos o ingresso para a Alcazaba incluímos também a entrada no Castelo de Gibralfaro. Supostamente contávamos percorrer a pé a rampa que liga estas duas fortalezas, mas acabámos por constatar que a subida seria demasiado penosa, sobretudo debaixo do calor que nesta altura se fazia sentir na Andaluzia. Por isso decidimos fazer essa subida mais tarde e de carro, e disfrutar assim das paisagens que podem ser contempladas, quer do castelo quer do miradouro.
O Castelo de Gibralfaro é uma fortificação muçulmana construída no século XIV para garantir a proteção da Alcazaba face a eventuais ataques inimigos. Mas não é esse papel de defesa militar que mais nos atrai numa visita ao Castelo, aquilo que realmente nos vai fascinar é a qualidade das paisagens grandiosas sobre a cidade que nos são oferecidas lá de cima, de onde podemos contemplar a própria Alcazaba e o centro histórico da cidade, onde se ergue a Catedral de la Encarnación.
Quer o Castelo quer o Miradouro têm uma vista imperdível, por isso, se estiver um dia bonito, torna-se obrigatório pegar no carro, subir ao Monte Gibralfaro e escolher um dos locais que nos oferecem as melhores paisagens, o Mirador de Gibralfaro, o jardim do Parador ou o próprio Castelo. Qualquer um destes lugares oferece as mais bonitas paisagens sobre a cidade, como estas do bairro da Malagueta e da zona do porto.
O Centro Histórico
O centro de Málaga é um lugar eufórico com a animação habitual das cidades espanholas, sempre cheias de salero, com as ruas de comércio muito concorridas e, sobretudo, com o conjunto infinito de esplanadas que preenchem as ruas e ocupam as praças, tornando-as em focos de animação... como neste caso, onde se ensaiavam espontaneamente umas danças sevilhanas em plena esplanada.
Descobrimos depois uma teia de ruas que formam este centro histórico, sempre pedonais e sem acesso a automóveis, algumas são autênticos restaurantes de rua, com as esplanadas a ocuparem os passeios, enquanto outras, constituem o grande centro comercial que ocupa toda esta zona histórica da cidade.
No final de algumas ruelas mais apertadas atravessámos a chamada Pasaje Chinitas e entrámos na praça que materializa o centro da cidade velha, a Plaza de la Constitución.
A Plaza de la Constitución é o centro nevrálgico da vida em Málaga desde os tempos da reconquista aos mouros, quando a praça era chamada de Plaza de las Cuatro Calles e, mais tarde, de Plaza Mayor, até que no século XIX foi rebatizada com o nome atual de Plaza de la Constitución.
Estão ali localizados alguns dos edifícios públicos mais importantes da cidade, como o Ayuntamento, ou Câmara Municipal, a Casa del Corregidor, a Prisão, a Audiencia, o convento Agustinas e também a emblemática Fuente de Génova.
É desta praça que sai a principal rua pedonal da cidade, a Calle Marquês de Larios, onde se encontram as lojas mais importantes da zona histórica de Málaga. Esta rua foi inaugurada em 1891 e é uma das mais emblemáticas da cidade, tanto pela arquitetura requintada dos seus edifícios, como por ser o grande centro comercial a céu aberto da cidade... e é também considerada das mais importantes ruas de comércio de toda a Espanha.
Durante a Feria de Málaga, em 2018, esta rua, tal como a praça, constituíam o centro de gravidade dos festejos e encontravam-se bastante animadas... aliás, demasiado animadas, onde os pés patinhavam num pavimento pegajoso, que julgámos ser da cerveja derramada, mas temendo que fosse algo pior.
Mas toda aquela loucura que ali se vivia durante a nossa visita em 2018, e as próprias decorações feitas por causa da Feria, davam a esta parte da cidade uma imagem festiva que tornavam esta rua ainda mais extraordinária.
Além deste centro nevrálgico da cidade velha, percorremos também as restante ruelas, das mais calmas às mais animadas, onde continuámos a encontrar, ora zonas de comércio, mais recatadas, ora espaços de restaurantes e bares, com esplanadas, mais ou menos animadas.
Mas em todo o centro histórico também se faz notar a influência da igreja católica na arquitetura local, como são exemplos as Iglesias del Sagrado Corazón e da Hermandad de los Remedios, ou a Iglesia de San Juan Bautista, que encontramos quase encavalitadas sobre os restantes edifícios que ocupam as ruelas envolventes.
Registo ainda outras duas zonas já mais periféricas do centro histórico, a Plaza de la Merced, onde encontramos vários restaurantes com as suas esplanadas e, logo na praça ao lado, o Teatro Cervantes, o principal teatro da cidade.
Bodega El Pimpi
Não é muito habitual falar neste blogue sobre restaurantes, a menos que sejam algo muito especial, quer pela positiva quer também nos casos em que são tremendas desilusões.
A bodega El Pimpi, na minha opinião, faz parte do conjunto de locais imperdíveis na cidade de Málaga e, por isso, não posso deixar de mencionar aqui a nossa experiência, mesmo sem entrar em pormenores gastronómicos, sobre o que comemos ou o que bebemos, bastou aquele ambiente tão andaluz e aquela decoração tradicional do Sul de Espanha, e toda a dinâmica que ali se vive, para nos deixar totalmente rendidos a este lugar. Foi por isso que fizemos questão de voltar a este restaurante no regresso a Málaga em 2021, como se fosse uma atração maior desta cidade.
O El Pimpi funciona quase em sessão contínua e consegue servir simultaneamente mais de mil pessoas sentadas, e onde o ritmo do serviço jamais vacila de forma a que os clientes nem têm consciência de toda aquela grandeza… com várias esplanadas nos pátios vizinhos e algumas cantinas e tabernas no interior, instaladas em salas, corredores, sótãos e caves.
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O restaurante foi fundado em 1971 num antigo casarão do século XVIII, que costumava ser um convento, e rapidamente se tornou num marco cultural da cidade.
Um dos seus frequentadores habituais, que considerava o El Pimpi o melhor restaurante de Málaga, era o ator António Banderas que, após uns anos em Hollywood, regressou à sua cidade e comprou o seu restaurante preferido… facto que ainda atrai mais gente a este espaço, mas que, apesar de ser assim tão procurado, não se tornou muito confuso nem ganhou tiques de restaurante vedeta híper-exclusivo (como aconteceria certamente em Portugal), e é ainda um local popular onde nos sentimos perfeitamente bem.
Atualmente os traços populares andaluzes continuam bem vincados, com a mistura entre o típico e o artístico, por entre barricas de vinho, cartazes taurinos, fotografias de algumas figuras ilustres e salas dedicadas a pintores e escritores, como a sala do inevitável Pablo Picasso.
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Não menciono em particular os pratos que escolhemos porque ficaram muitos outros, também de aspeto deslumbrante, que não conseguimos provar. Por isso, digo apenas que tudo o que experimentámos era perfeitamente fantástico e que, também pelo ambiente extraordinário ali vivido, saímos com a certeza de que não deixaremos de regressar a Málaga, nem que seja apenas para voltar a repetir esta experiência que o restaurante El Pimpi nos proporciona.
As noites da Andaluzia
As noites nas cidades Andaluzas são sempre os momentos mais apetecíveis, quando o calor acalma e as ruas se enchem de gente, nesse hábito de vivir en la calle dos espanhóis, e que faz das cidade um espaço de festa permanente, na qual gostamos sempre de entrar e fazer parte.
Mas além dessa vivência tão espanhola que surge ao cair da noite, as cidades adquirem também uma beleza especial, quando os seus principais monumentos são devidamente iluminados e exibidos como obras de arte em exposição.
Terminámos a noite na praça mais bonita da cidade, onde se sente de forma mais evidente toda a carga histórica deixada por Romanos e Muçulmanos há vários séculos atrás... e deixámo-nos por ali ficar algum tempo, apreciando aquele espaço magnífico.
Acabava assim a nossa visita à cidade de Málaga onde pudemos desfrutar deste local riquíssimo, tanto pela sua beleza como pela sua história, e como espaço cultural e artístico bem vincado, onde a figura de Picasso surge como grande referência.
Mas também, e acima de tudo, desfrutámos um pouco do fascínio que resulta da vivência dos malaguenhos, sempre na rua, sempre cheios de salero, ocupando as praças e calçadas e fazendo desta cidade um local sempre em festa.