E a caminho da praia iriamos agora percorrer de novo alguns dos recantos mais belos desta vila, que escondem verdadeiras preciosidades.
Para terminar o dia em beleza, quer na primeira vez quer depois em 2025, faltava ainda aproveitar o prazer das águas tépidas e transparentes do mar que banha toda esta costa.
Amalfi
Tendo estado antes em Positano, Amalfi já não nos deslumbra da mesma forma. É algo muito injusto para certos locais que acabam por perder algum do seu brilho, porque são ofuscados pela proximidade de outros lugares ainda mais especiais e deslumbrantes. Talvez devesse ter invertido a ordem, deixando Positano para o fim, mas, a verdade, é que não sabia que isto poderia acontecer.
Porque, à primeira vista, Amalfi tem tudo para nos encantar… uma bonita vila junto ao mar, com uma belíssima baía rodeada por penhascos íngremes, onde nascem construções históricas dispostas de forma prodigiosa e em perfeita harmonia. O resultado é uma paisagem extraordinária - maldito Positano, que não nos deixa apreciar toda a dimensão desta beleza.
Apesar de ter um certo aspeto de aldeia histórica, Amalfi não deixa de ser um centro de veraneio, visitado por quem procura o mar, para um dia de praia ou para a prática de um dos desportos náuticos que por aqui se podem experimentar. E lá encontramos de novo as praias da areia preta e calhau, mas com aquelas águas quentinhas que o Mediterrâneo nos oferece.
Mas, de qualquer forma, são sempre bonitas estas praias italianas, pelo enquadramento, claro, que é lindíssimo, mas também pelo jogo de cores criado pelos chapéus de sol que cobrem o areal.
E todas estas zonas costeiras parecem-nos ainda mais bonitas quando são vistas do mar, a partir de um barco, e aí torna-se mais evidente o enquadramento da paisagem, com os habituais contrastes entre as encostas e o mar, e a forma rara com que esta aldeia se dispôs, meio encavalitada nos rochedos, como que posando para que um pintor consiga fazer uma aguarela perfeita.
Mas, mesmo quando regressamos a terra, Amalfi surge-nos como uma vila simpática, cheia de gente que anda entre lojas e esplanadas, apreciando o ambiente, que é bastante agradável e tem um toque de glamour… mas não tanto como o “maldito” Positano, claro.
Esta terra cresce sobretudo ao longo das encostas, sobrando apenas uma pequena zona ao nível do mar, por detrás da marginal que faz o contorno da praia e do porto. É nessa zona que encontramos a praça central da vila, a Piazza Duomo, conhecida pela Fontana Sant'Andrea, onde todos aproveitam para se refrescar e encher as garrafas de água, que ali é bastante fresca.
Mas aquilo que mais impressiona nesta praça é a presença da imponente Catedral de Amalfi e da sua escadaria colossal.
Ninguém esperaria encontrar uma catedral tão exuberante em plena costa amalfitana. O Duomo di Amalfi, também chamado de Duomo de Sant'Andrea, é uma igreja católica romana medieval, com uma fachada bizantina listada, muito bonita e em ótimo estado de conservação. A catedral é dedicada ao apóstolo Santo André, cujas relíquias estão guardadas na sua cripta.
Atrani
Saindo de Amalfi a pé, estamos a cerca de 500 m até chegarmos a Atrani, uma pequena vila desta costa. Fomos apreciando o próprio caminho, onde vamos passando por algumas zonas de estrada com apontamentos bastante bonitos, e vamos também desfrutando da paisagem que é marcada pelo azul forte das águas deste mar.
Escondida entre as falésias e o mar, surge então Atrani, que conserva ainda uma atmosfera autêntica e tranquila, distante do turismo em massa que invade as vilas vizinhas de Amalfi ou Positano, mas poupa esta pequena terriola.
As ruelas estreitas com algumas passagens em arco e as suas casas onde o branco é dominante, criam um cenário quase medieval. No coração da vila está a Piazza Umberto I, pequena e charmosa, onde a vida parece correr num ritmo próprio, rodeada de cafés e restaurantes familiares, em torno da icónica escadaria da torre do relógio da Chiesa di San Salvatore de' Birecto.
A praia, protegida pelas encostas, é pequena e desimpedida, ideal para quem quiser experimentar um mergulho nas águas calmas e tépidas, fora da confusão das outras praias desta costa, que sofrem a pressão de um turismo massivo.
Mas a imagem de marca desta baía é a da torre da Igreja de San Salvatore de’ Birecto, uma obra do século X, ligada à história da República Marítima de Amalfi.
Em suma, Atrani é um lugar para quem busca a essência da Costa Amalfitana na sua forma mais genuína, com simplicidade, beleza e uma atmosfera intimista, difícil de encontrar noutros destinos da região.
Além disso, podemos ainda encontrar um outro atrativo... é que foram ali rodadas várias cenas de uma série recente da Netflix, chamada de Ripley (baseada na mesma novela da escritora Patrícia Highsmith, que deu origem ao filme O Talentoso Mr Ripley, de 1999). Atrani surge nesta série como um dos cenários mais marcantes e contribui decisivamente para a atmosfera visual da narrativa. Esta pequena vila aparece a preto e branco com as suas casas encaixadas nas encostas que descem até ao mar, criando um pano de fundo pitoresco e, ao mesmo tempo, claustrofóbico, com as ruas estreitas, os seus arcos e as longas escadarias labirínticas, que reforçam a sensação de isolamento e de comunidade fechada, onde cada movimento parece ser observado… e as imagens da série tiram partido dessa estética de uma forma perfeitamente extraordinária.
Apesar de filmada a preto e branco, as imagens potenciam o contraste entre luz e sombra que caracteriza Atrani... com as fachadas iluminadas pela luz mediterrânica e as suas sombras, destacando as passagens escuras e as vielas sombreadas, acentuando uma atmosfera de film noir, que reforça o tom psicológico e ambíguo da história.
Mas com a minha máquina fotográfica pouco sofisticada, e os meus parcos conhecimentos de fotografia, não fui capaz de ir além daquilo que os olhos veem, sem conseguir potenciar o clima quase obsessivo pelas escadas desta povoação, que é retratado na narrativa desta série... mas não deixei de fixar algumas imagens semelhantes ao que tínhamos encontrado, como a belíssima escada da torre do relógio, localizada em plena Piazza Umberto I.
Ao regressarmos a Amalfi o dia aproximava-se do fim… um dia fantástico, sobretudo pela beleza e glamour de Positano, mas também pela bonita cidade de Amalfi, e dos momentos de reflexão na vila de Atrani, para além das paisagens encantadoras ao longo de toda a costa, vistas do mar ou pela estrada tortuosa que percorremos.
É daqueles locais que abandonamos com a ideia de que goraríamos de regressar, e já com um aperto nostálgico da despedida… era já a tal saudade, algo tão nosso, tão português, mas que vamos sentindo por onde as nossas viagens nos vão levando.
Mas aqui, em plena Amalfi, tão de repente e tão inesperadamente, enquanto pensava neste sentimento bem português, já no regresso ao carro para terminar o dia, deparei-me com uma bela referência portuguesa que jamais imaginava poder encontrar ali, a poucos metros da praia da Amalfi… um imenso mural de azulejos do nosso Cargaleiro.
Estes pequenos apontamentos lusitanos que encontramos pelo mundo fora, fazem-nos sempre sentir um orgulho, talvez meio patético, de ser português, e foi dessa forma que terminámos este grande dia.
Cava de'Tirreni
Foi escolhida Cava de'Tirreni apenas por estar perto da Costa Amalfitana e ter uma oferta de alojamento a preços mais normais, sem o disparate que se encontra nas povoações costeiras, que pedem fortunas por um quarto de hotel.
Além disso, ao contrário do que acontece nos locais mais turísticos, aqui é mais fácil estacionar (mas atenção, que desta segunda visita a este local, em 2025, os estacionamentos na rua passaram a ter uma tarifa de 2,5€/hora a partir das 22h, o que torna caríssimo passar o serão e toda a noite nas proximidades do centro histórico. A solução será encontrar uma garagem que presta este serviço de parqueamento a preços mais razoáveis e, normalmente, os alojamentos dão-nos essa indicação)
Como a nossa escolha foi feita apenas para conseguir hotel a um preço que não fosse um assalto à carteira, não contávamos com nada mais deste local, mas, na realidade, acabou por ser uma agradável surpresa.
Trata-se de uma pequena cidade, bastante simpática, com um ambiente histórico e monumental, e muito interessante.
Aquilo que mais caracteriza esta terra é a existência de uma rua, o Corso Umberto I, que nos seus primeiros 500 m é acompanhada por fachadas em arcos de ambos os lados, o que dá um total de 1 km de arcadas, ocupadas por todo o tipo de comércio e por bastantes restaurantes e esplanadas. É esta imagem de marca da cidade que a torna especial, e foi isso que mais nos agradou na nossa visita.
Pelo caminho vamos passando por algumas piazzas, bem ao estilo das cidades italianas de província, como é o caso da Piazza Vittorio Emanuele III, onde fica uma das principais igrejas da terra, a Concattedrale S. Maria della Visitazione.
Mas do que mais gostei nesta cidade foi o facto de ser também um espaço bastante agradável durante a noite, pois, quem aqui se aloja para visitar a Costa Amalfitana, só cá regressa ao final da tarde. E, na verdade, quando saímos à noite para jantar, encontramos uma cidade movimentada, bastante bonita, com as suas arcadas iluminadas, e com vários restaurantes bem acolhedores.
Para jantar experimentámos alguns restaurantes bastante bons, como a Braceria Scacciaventi, um restaurante com uma decoração interessante, muito ao estilo wine-house, que se estende pelo exterior numa esplanada sob as arcadas. Tem uma ótima garrafeira, com todo o tipo de vinhos italianos, e um menu variado, muito para além das habituais pastas... uma ótima escolha, tanto o restaurante como a cidade.
Ravello
Começámos o dia contornando toda a montanha pelo lado Norte, descendo depois até a meio da encosta onde fica mais uma das pérolas da Costa Amalfitana, a vila de Ravello.
Esta volta enorme, como se assinala no mapa, segue por estradas tortosas de montanha, mas, ainda assim, é mais rápida do que vir pelo Sul e percorrer uma parte da estrada da costa.
Ravello é frequentemente descrita como um refúgio empoleirado nas colinas, a cerca de 350 metros acima do nível das águas do mar Tirreno, ao contrário da maior parte dos polos turísticos desta costa, que ficam mesmo junto ao mar.
Trata-se de uma vila tranquila e refinada, com uma atmosfera muito mais calma do que outras localidades mais movimentadas da costa, como Positano ou Amalfi.
Chegando a esta pequena povoação estacionámos no Parcheggio Piazza Duomo (um parque relativamente grande e que, surpreendentemente, nem foi assim tão caro), e começámos justamente pela Piazza Duomo, onde encontramos o Duomo di Ravello, a catedral românica dedicada a São Pantaleão.
Fomos depois percorrendo os trilhos nos levaram até aos principais miradouros, com vistas panorâmicas espetaculares sobre o mar Tirreno, sobretudo aquelas que podemos desfrutar a partir dos terraços dos principais jardins que ocupam as encostas de Ravello, como o caso dos luxuosos jardins da Villa Rufolo e da Villa Cimbrone, com uma beleza que nos transmite uma sensação intemporal de romantismo.
Estes dois jardins constituem a principal oferta paisagística de Ravello, pelo que será conveniente fazermos as respetivas visitas (por um preço de 8€ na Villa Rufolo e de 10€ na Villa Cimbrone), ou perderemos os atrativos essenciais desta vila.
E em pleno centro histórico, ainda no próprio terreiro da Piazza Duomo, surge a Torre-Museo Antiquario, que é também o portão de acesso à Villa Rufolo.
A Villa Rufolo foi construída no século XIII pela família Rufolo, e foi mais tarde restaurada pelo escocês Sir Francis Neville Reid. A sua base arquitetónica remonta à época medieval, preservando ainda os traços árabes, e integra também igrejas românicas e construções senhoriais com destaque para o claustro ornamentado e a Torre Maggiore, hoje museu e miradouro com vistas sobre a Costa Amalfitana.
Os jardins da Villa Rufolo são o grande atrativo da propriedade. São constituídos por alamedas e distribuem-se em diferentes terraços que descem em direção ao mar e oferecem vistas deslumbrantes sobre o mar. Foram redesenhados no século XIX por Sir Francis Neville Reid, que acrescentou espécies exóticas, mantendo o carácter romântico do espaço, que é hoje uma das principais imagens de marca de Ravello, quando juntamos alguns dos seus recantos deste jardim, com as paisagens infinitas do mar Tirreno.
Em 1880, Richard Wagner inspirou-se nestes jardins para a ópera Parsifal e, atualmente, a villa acolhe o Ravello Festival de música clássica.
As ruas por onde passámos, que fazem a ligação entre a Villa Rufolo e a Villa Cimbrone, estão preenchidas por turistas e têm todas um belíssimo ambiente, com as lojas de souvenires, com produtos muito associados os limões e tudo o que se fabrica à base do aroma do limão siciliano e da imagem destes citrinos. Mas passámos também por umas ruelas mais estreitas e íngremes, que nos oferecem vistas magníficas das encostas da montanha que envolve a povoação de Ravello.
Chegando agora à Villa Cimbrone, que tem também origens medievais, mas ganhou o esplendor atual no início do século XX, quando foi transformada por Lord Grimthorpe num refúgio aristocrático em estilo romântico.
Os jardins sofreram influências de jardineiros e botânicos ingleses, que combinaram o estilo de jardim inglês com as referências mais habituais dos jardins italianos, resultando num conjunto de espaços repletos de pérgulas cobertas de glicínias, estátuas, templos e recantos floridos.
O palácio da Villa Cimbrone, tem uma base da época medieval, mas foi transformado no início do século XX por Lord Grimthorpe num elegante edifício neogótico-romântico. Hoje funciona como hotel de luxo, mas mantém ainda alguns espaços históricos, como o claustro e a cripta, além de interiores decorados com lareiras, afrescos e mobiliário de época. Ao longo do tempo recebeu personalidades importantes, como é o caso de Winston Churchill ou Greta Garbo, reforçando assim a sua fama como um dos palácios mais charmosos da Costa Amalfitana.
O ponto de maior destaque desta villa é a famosa Terrazza dell’Infinito, um miradouro adornado com bustos de mármore a mais de 350 metros acima do mar, que oferece uma das vistas mais impressionantes da Costa Amalfitana… e é claramente um dos lugares mais belos e emblemáticos de Ravello.
O acesso a este terraço faz-se pelo Viale dell’Immenso, uma alameda ladeada de árvores e pérgulas cobertas de glicínias que nos conduz até à entrada deste magnífico miradouro, que é materializada por um pequeno templo neoclássico, o Tempio di Cerere, que é dedicado simbolicamente à deusa romana da agricultura e da fertilidade, Ceres (ou Deméter na mitologia grega), cuja estátua ali se encontra.
Já no terraço, a balaustrada é adornada com bustos clássicos de mármore alinhados, criando um cenário teatral que se tornou mum dos cartões-postais de Ravello.
Este espaço está quase sempre preenchido por turistas, e até é difícil conseguirmos fazer uma fotografia limpa, sem aparecer ninguém… estas fotos que aqui mostro, são uma raridade, porque logo depois e já me apareceu um dos habituais intrusos.
Mas para além da imagem singular dos bustos que ornamentam a balaustrada, o mais extraordinário neste terraço é a vista infinita que é considerada como uma das mais espetaculares de Itália, sobretudo ao entardecer, quando o horizonte parece fundir-se com o mar, e daí o nome de Terrazza dell’Infinito.
Mas a qualquer hora do dia, podemos sempre contemplar as magnificas paisagens que de ali se alcançam, com as encostas muito verdes que parecem mergulhar sobre o mar Tirreno, fazendo deste local de contemplação, um dos espaços mais fotografados de toda a Costa Amalfitana… como é nestas belíssimas fotografias.
De seguida descemos a estrada até Atrani, começando mais uma aventura que é sempre a experiência de conduzir nas estradas da Costa Amalfitana. Depois da descida, também ela aflitiva, continuámos pela estrada marginal entre Amalfi e Sorrento, ao longo de 32 km, mas numa velocidade de pára-arranca que nos fez demorar cerca de uma hora e meia, passando por todas as povoações e praias da costa.