domingo, 20 de abril de 2025

Copenhaga


Na terceira visita que fiz à capital da Dinamarca encontrei uma cidade mais moderna e interessante, bem característica do estilo escandinavo, altamente evoluída, não só do ponto de vista arquitetónico e urbanístico, mas também pela vivência da sua população e dos muitos turistas que exploram as suas ruas e praças.

Na Primavera de 2025 encontrámos uma cidade bastante atrativa, integrando a modernidade com os traços rústicos da sua longa história, que remonta ao século X, quando esta região era apenas um pequeno vilarejo de pescadores Vikings.

O seu nome original, de København, que significa "porto dos mercadores", representando a importância do comércio de peixe para a economia da povoação que deu origem à atual Copenhaga.

A cidade desenvolveu-se significativamente a partir do século XII, quando o bispo Absalão, um influente líder dinamarquês, construiu um castelo no local onde está hoje o Palácio de Christiansborg, delimitando uma primeira área fortificada que está na origem da atual cidade.

Durante os séculos seguintes, Copenhaga cresceu como um importante centro comercial, beneficiando da localização estratégica no estreito de Øresund, uma das rotas marítimas mais importantes da Europa. Só em 1443 é que a cidade de Copenhaga foi oficialmente decretada como capital da Dinamarca.

Nos séculos XVI e XVII, sob o reinado de Cristiano IV, Copenhaga expandiu-se significativamente, com a construção de vários edifícios e fortificações, incluindo a famosa Torre Redonda (Rundetårn), que haveríamos de encontrar na cidade velha.

No entanto, a cidade de Copenhaga acabou por enfrentar vários desafios, como incêndios devastadores (particularmente em 1728 e 1795), e as invasões britânicas, durante as Guerras Napoleónicas.

No século XX, Copenhaga transformou-se num centro cultural e económico importante, tornando-se numa referência global do urbanismo sustentável e de qualidade… mas mantendo alguns dos traços arquitetónicos originais da antiga cidade de pescadores Vikings.
Atualmente, Copenhaga é conhecida pela sua arquitetura moderna, as suas políticas ambientais inovadoras e infraestruturas associadas a comportamentos sustentáveis, como o uso generalizado de bicicletas, combinando a sua rica herança histórica com um estilo de vida contemporâneo, que atrai visitantes de todo o mundo, muitos deles pretendendo ali morar e usufruir de uma forma especial de qualidade de vida que a cidade oferece… apesar que não ter os dias de sol nem a qualidade gastronómica que encontramos em terras portuguesas.

A crónica que vou passar a escrever baseia-se sobretudo na visita mais recente a esta cidade, em abril de 2025, pois das vezes anteriores poucas memórias me restam, apenas uma sensação de estar num mundo diferente, por ser o primeiro contacto com um país escandinavo, em meados dos anos 80, quando a nossa visão do mundo era ainda muito limitada.

Hoje já não nos impressionamos com as diferenças, que são cada vez menos, o que é algo bom, pelos benefícios da globalização, mas é também negativo, por alguma perda de identidade que uniformiza cidades tão distantes, e que se esperariam tão diferentes.


Desta vez, como aliás das duas vezes anteriores, cheguei à cidade de comboio e, como vínhamos da Suécia, tínhamos atravessado a famosíssima Øresund Bridge.

A ponte Øresund é uma ligação mista (rodoviária e ferroviária) que liga a cidade de Copenhaga à cidade sueca de Malmö e, para nós, que somos engenheiros civis, esta obra desperta-nos um interesse muito particular, a que a maioria das pessoas não será sensível.

Foi inaugurada no ano 2000 e é composta por uma estrutura combinada por uma ponte atirantada, uma ilha artificial chamada Peberholm e um túnel subaquático. Com cerca de 16 km de comprimento total, esta ligação permite o tráfego rodoviário e ferroviário, tornando possível atravessar o estreito de Øresund em aproximadamente 10 minutos. A ponte foi projetada para suportar condições climáticas adversas e é considerada uma das maiores e mais importantes obras de engenharia da Europa, promovendo a integração económica e social entre os dois países. (Em tempos fiz esta travessia num ferry onde o comboio entrava para ser levado entre a Dinamarca e a Suécia, e hoje tudo acontece em pouco mais de 10 minutos.)

Apesar de, durante a travessia, não nos ser proporcionada uma paisagem integral da ponte, não quero deixar de mostrar aqui a sua bonita imagem, recorrendo, para isso, a uma fotografia aérea retirada da net.
Uma vez que viemos de comboio, cumprindo o primeiro trajeto do inter-rail que iriamos fazer desde a Escandinávia até ao Leste europeu, o nosso primeiro contacto com a capital dinamarquesa foi na Hovedbanegården, a Estação Ferroviária Central de Copenhaga.
Inaugurada em 1911, é a maior estação ferroviária do país e um importante centro de transportes, ligando vários destinos regionais e internacionais, como Malmö (na Suécia), de onde viemos, ou Hamburgo (na Alemanha), para onde iríamos no fim desta visita.

A estação fica próxima de uma das atrações mais procuradas na cidade, o parque de diversões dos Jardins de Tivoli, e tem uma arquitetura com traços históricos muito interessantes, inspirada nas edificações dos vikings, visíveis no interior da sua nave principal e na fachada exterior principal.


Preparados para explorar Copenhaga, a nossa visita é sempre semelhante, seja em que cidade for, saímos caminhando pelas ruas e praças, apreciando o ambiente, parando junto das principais atrações e visitando algumas delas, e tirando sempre muitas fotografias… e aqui, na capital da Dinamarca, não poderia ser diferente, e seguimos, mais ou menos, os percursos assinalados neste mapa:
   

Percurso 1

Começámos assim a primeira caminhada na visita à cidade, entrando logo no coração do seu centro histórico, pela Praça do Município.


Københavns Rådhus e Praça do Município

Estamos no meio de uma praça enorme rodeada por edifícios monumentais, onde se destaca o Københavns Rådhus, o edifício da Câmara Municipal de Copenhaga, o que faz com que todo este espaço seja chamado de Praça do Município.

O edifício da Câmara foi inaugurado em 1905, seguindo uma influência arquitetónica inspirada na história da cidade, todo ele em cor de tijolo. Na fachada encontra-se a figura do fundador de Copenhaga, o bispo e guerreiro Absalão, que surge com vestimentas religiosas, embora noutros lugares da cidade ele possa ser visto como um guerreiro, com uma armadura e montado a cavalo.
Se observarmos o edifício de perto, vamos identificar alguns elementos que são inspirados no território gelado da Groenlândia, uma província dinamarquesa, que é aqui representado por alguns dos seus animais, como medusas, gaivotas, corvos e até ursos polares.

Mas a principal marca deste edifício é a imensa torre do relógio, conhecida como relógio de Jeans Olsen, o relojoeiro dinamarquês que concebeu este mecanismo, que ali está a funcionar desde 1955, quando o rei Frederico IX lhe deu corda pela primeira vez.

Esta torre tem mais de 100 metros de altura e é visitável, para quem quiser subir os 300 degraus que levam a um miradouro, de onde é possível contemplar grande parte da cidade.
Existem também duas estátuas emblemáticas nesta praça, a fonte do dragão, que se encontra ao centro, e a estátua dos vikings tocadores de lure, umas trompetas típicas da Escandinávia, que está na rua lateral, perto da torre.
    
Na Praça do Município encontramos ainda outro tipo de atrações, como dois edifícios típicos e grandiosos, também eles revestidos a tijolo e ambos com uma torre central… sendo um dele um espaço designado por Hans Christian Andersen Experience, e o outro ocupado pelo Hard Rock Café da cidade.
A avenida que passa junto à Praça do Município é chamada de H. C. Andersens Blvd., onde encontramos uma estátua de Hans Christian Andersen, um famoso escritor dinamarquês, conhecido principalmente pelos seus contos de fadas, que se tornaram clássicos da literatura infantil mundial, como O Patinho Feio ou A Pequena Sereia.


Gliptoteca Ny Carlsberg

Ao caminharmos por esta avenida, vamos passar ao longo do muro de vedação do parque de diversões Tivoli, mas que deixámos para mais tarde, continuando até à Glyptoteket, um museu de arte que funciona num belo edifício, projetado em estilo neoclássico, e que inclui um bonito jardim de Inverno coberto por uma cúpula de vidro, que é a coqueluche do espaço.

Aqui encontra-se uma importante coleção de pinturas impressionistas e pós-impressionistas, com obras de artistas como Monet, Cézanne e Van Gogh… um estilo que costumo apreciar bastante, mas há também alguma arte ancestral, da Grécia, Roma e do Antigo Egito, para a qual não tenho muita paciência.


Museu Nacional da Dinamarca

Este museu está instalado no Palácio do Príncipe e inclui um tipo de arte que não é muito apelativa… trata-se de uma Coleção Viking que forma a exposição chamada de Múmias dos Pântanos, com objetos da Idade do Bronze e da Idade do Ferro, e há também exposições sobre Roma e o Antigo Egito, e ainda um espaço dedicado à cultura dinamarquesa… tudo temas que não são nada da minha preferência. Por isso, não gastámos tempo a visitar o museu e ficámos apenas a apreciar a sua fachada principal, que fica junto a um dos canais da cidade, o Frederiksholms Kanal, e tem a imagem de um edifício clássico que se assemelha a um palácio real.
Desta zona conseguimos ver uma paisagem do centro da cidade, ali bem próximo, desta vez dominada pela silhueta de uma das torres da cidade, que faz parte da Nikolaj Art Gallery.


Palácio de Christiansborg e Museu Thorvaldsen

O impressionante Palácio de Christiansborg foi a residência da monarquia dinamarquesa até 1794, quando esta se mudou para o Palácio de Amalienborg.

A origem deste Palácio remonta ao século XII, quando o bispo guerreiro Absalão, fundador de Copenhaga, ordenou a construção de um enorme palácio para estabelecer a sua residência e, a partir daí, a família real dinamarquesa passou a viver em Christiansborg​ durante séculos, até que, em 1794, um terrível incêndio obrigou a uma mudança forçada para o Palácio de Amalienborg.

Em 1884 um segundo incêndio destruiu grande parte de Christiansborg e, após a terceira reconstrução, os arquitetos decidiram colocar três coroas no pináculo da torre, para simbolizar as diferentes fases de reconstrução a que o palácio esteve sujeito.

Hoje o Palácio de Christiansborg é um dos monumentos mais visitados de Copenhaga e está ainda ao serviço do Estado, com funções de sede do Parlamento da Dinamarca e dos poderes judicial e executivo, concentrando assim, no mesmo edifício, as três potências do Estado.

Quem não quiser entrar, que, certamente, será algo demorado, pode ficar ao longo do terreiro e apreciar a belíssima arquitetura do palácio, e já não dará por mal empregue o tempo despendido. O edifício atual foi concluído em 1928, em estilo neobarroco, tem dois corpos distintos formando um U e, ao centro, ergue-se uma bela torre com 106 metros de altura, a mais alta de toda a cidade.

Quem quiser explorar o interior do palácio vai encontrar as ruínas das antigas construções, como o palácio de Absalão de 1167 e o palácio de 1794, que foi erguido após o incêndio.

A parte mais interessante da visita ao Palácio é a que nos leva a visitar os aposentos reais e os salões do castelo, decorados com retratos da família real, o que nos pode fazer imaginar como é que era a vida da realeza há séculos atrás.
Logo ao lado do Palácio de Christiansborg encontra-se um dos mais importantes museus da capital dinamarquesa, o Museu Thorvaldsen.

É o mais antigo museu de Copenhaga e é totalmente dedicado ao escultor dinamarquês Bertel Thorvaldsen, contendo uma valiosa coleção de esculturas e pinturas do artista.

A origem deste museu ocorre em meados do século XIX, quando o famoso escultor dinamarquês ofereceu-se ao rei Frederico VI para doar todas as suas obras à cidade de Copenhaga, se a cidade lhe desse em troca um museu em sua homenagem.

Esse seu desejo tornou-se realidade no ano de 1848, quando o Museu Thorvaldsen abriu portas pela primeira vez. O edifício construído para o efeito, tanto o interior como no exterior, foi inspirado na arquitetura do Antigo Egito, com palmeiras e esculturas de animais. O design do edifício agradou ao próprio Thorvaldsen, e este pediu para ser ali enterrado, no jardim interior do museu, onde permanece a sua sepultura.

Apesar da importância deste espaço para os dinamarqueses, acho que um visitante estrangeiro, pelo menos um português, sem grandes conhecimentos da arte dinamarquesa, não terá um interesse especial no conteúdo deste museu e, por isso, no nosso caso, não fomos além de uma visita em torno do edifício, que apresenta várias fachadas interessante.

Uma dessas fachadas fica virada para um espelho de água que é composto por diversos elementos lineares de betão, dispostos em ziguezague, e criando um padrão repetitivo e angular. As linhas parecem flutuar sobre a água, formando corredores estreitos entre si, e o conjunto que esta instalação forma com a fachada do museu, constitui uma das suas imagens de referência.


Igreja de Holmen, Børsen e C.F. Tietgens Hus

De seguida vamos percorrer as margens do Frederiksholms Kanal, passando pela fachada posterior do Palácio de Christiansborg, até chegarmos a Igreja de Holmen.

Esta igreja é a única com um interior renascentista com 350 anos, ainda totalmente intacto. Originalmente, o edifício servia de oficina de ferragem para fabrico e reparação de âncoras, e foi depois transformado por ordem do Rei Christian IV, numa igreja para marinheiros… e daí o navio que se encontra pendurado no teto da nave principal.

Encontram-se também no interior as sepulturas de dois dos maiores navegadores da Dinamarca (Tordenskjold e Niels Juel), que a nós não nos dizem absolutamente nada, mas para os dinamarqueses serão uma referência histórica.

Não consegui ter a informação sobre os horários de abertura desta igreja, mas na nossa visita estava fechada e sem quaisquer sinais de vida.
 
Logo em frente da Igreja de Holmen encontram-se dois edifícios de estilos semelhantes, o Břrsen e o C.F. Tietgens Hus, ambos contruídos nas cores do tijolo, numa imagem típica da arquitetura clássica local.

O Børsen, que é o edifício da Bolsa (que é o que significa a palavra Børsen), sofreu recentemente um incêndio devastador, quando se encontrava em obras de reabilitação e, na madrugada de 16 de abril de 2024, um foco de incêndio deflagrou pela cobertura, destruindo grande parte do edifício e o emblemático espírito de dragão, uma torre com 56 metros de altura, que entrou em colapso. Apesar da dimensão do incêndio não se verificaram quaisquer vítimas pessoais e mesmo o recheio acabou por ser salvo em grande parte, pois cerca de 90% das obras de arte e objetos históricos foram evacuadas por funcionários e bombeiros, embora uma das peças de referência, um busto de Christian IV, com cerca de duas toneladas, não tenha sobrevivido.

Assim, este bonito edifício é hoje um imenso tapume, pelo que deixo aqui uma imagem da antiga fachada, que as obras de reconstrução irão devolver à cidade.
O C.F. Tietgens Hus homenageia Carl Frederik Tietgen, um industrial e homem de finanças conceituado, que desempenhou um papel importante na industrialização da Dinamarca como fundador de várias empresas dinamarquesas, muitas das quais estão ainda hoje em operação.


Praça Kongens Nytorv e Teatro Real Dinamarquês

Vamos continuar o nosso percurso até à praça Kongens Nytorv, uma praça enorme, com uma forma oval, e cujo nome significa Praça Nova do Rei, que se refere ao rei Cristiano V, cuja estátua equestre se encontra no centro.
Na envolvente desta praça salientam-se vários edifícios clássicos importantes. Um deles é atualmente utilizado como um centro comercial, chamado de Magasin du Nord, e um outro é o imenso Det Kongelige Teater, o Teatro Real Dinamarquês.

É o teatro nacional da Dinamarca, desde a sua fundação, em 1748, por iniciativa do Rei Frederico V e, desde a sua criação, destacou-se por ser um espaço polivalente, apresentando peças de teatro, ópera, ballet e concertos de música clássica.

Passou por diversas reformas e até demolições parciais, principalmente entre 1857 e 1874, quando foi feito um concurso de ideias no qual participaram os melhores arquitetos da Dinamarca, tendo sido vencedor o projeto de Ove Petersen, uma referência da arquitetura nórdica.

O Teatro Real é também uma instituição nacional que dependente do Ministério da Cultura dinamarquês, e é ainda a Casa da Ópera de Copenhaga. Em frente à sua fachada principal, encontram-se as estátuas de bronze de Adam Oehlenschläger e Ludvig Holberg, um dramaturgo do século XVIII e um escritor do século XVII.
Esta praça é mais um dos espaços monumentais da capital dinamarquesa, e destaca-se pela beleza dos edifícios que a contornam, que criam um belíssimo efeito, tanto durante o dia, como depois de escurecer, devido a uma iluminação pública bem posicionada.


Nyhavn

A poucos metros do Teatro Real chegamos ao canal mais famoso da cidade, o Nyhavn. Esta área de Copenhaga representa a imagem típica dos cartões-postais da capital dinamarquesa, com as suas casas coloridas nas margens do Canal e os seus barcos ancorados, formando um conjunto belíssimo e um dos lugares mais encantadores de toda a cidade.
Em meados do século XVII o rei Christian V ordenou a construção do Canal Nyhavn para servir como principal porta de entrada para o mar. Logo nessa altura esta área ficou famosa pelas suas cervejarias e pelos antros de prostituição, embora, hoje em dia, a sua essência tenha mudado radicalmente, e encontramos um lugar muito apelativo, sem quaisquer vestígios da antiga zona boémia, de concentração de marinheiros encharcados em vodka e cerveja.

A poucos metros do Canal Nyhavn encontra-se uma das esculturas mais importantes de Copenhaga, o Memorial a Âncora (ou Mindeankeret). Esta escultura é uma homenagem aos marinheiros abatidos na Segunda Guerra Mundial defendendo Copenhaga dos ataques e bombardeamentos alemães, e é por isso que este Memorial amanhece muitas vezes com flores e velas em homenagem aos mais de 1.700 militares dinamarqueses que perderam a vida num dos piores episódios da história da cidade.
Atualmente, visitamos o Canal Nyhavn usufruindo dos restaurantes e esplanadas que ocupam as suas margens, alguns deles são os mesmos que ali estão há vários séculos.

Ficamos por ali, ou apenas passeando, ou ocupando uma das mesas, só para uma cerveja, ou para almoçar ou jantar… que foi aquilo que fizemos, enquanto desfrutávamos do excelente ambiente da zona e de uma das mais bonitas paisagens desta cidade.

Esta é, sem dúvida, a mais bonita zona de toda a cidade de Copenhaga, por isso não nos cansámos de a revisitar, passando por ali sempre que os nossos trajetos andavam por perto. E mesmo à noite, claro que não poderíamos deixar de aproveitar o ambiente noturno deste canal maravilhoso, embora o escuro atenuasse o contraste das cores que encontramos durante o dia, agora podíamos apreciar o fantástico efeito da imagem dos vários edifícios, refletida nas águas calmas do canal… uma preciosidade que nos chega a arrepiar.



Rua Strøget

Saindo da zona pitoresca de Nyhavn, regressámos ao centro da cidade percorrendo a rua Strøget, uma das grandes ruas pedonais da Europa, com cerca de 1,1 km, ligando a Praça de Kongens Nytorv à Praça do Município.

A rua está repleta de lojas, restaurantes, artistas de rua, e é sempre muito movimentada e, pelo caminho, vamos ainda passando por alguns marcos históricos que podemos ir visitando.

Encontramos também algumas praças importantes, como a Amagertorv, onde está uma fonte icónica, a Stork Fountain.
Nesta praça voltamos a encontrar a bonita torre do Nikolaj Kunsthal (também conhecido como Nikolaj Art Gallery), que fica por detrás da primeira linha de edifícios. Trata-se de uma instituição de arte contemporânea que foi instalada na histórica igreja de São Nicolau, construída no século XIII e que mantém a aparência religiosa, embora seja um espaço dedicado a exposições de arte moderna, performances, concertos e debates culturais… e que exibe a sua fantástica torre, visível de vários locais do centro da cidade.


Rundetarn e Trinitatis Kirke

Com um pequeno desvio a partir da Strøget, chegamos à Rundetaarn de Copenhaga, o edifício da Torre Redonda, que é uma das construções mais curiosas da cidade.

Esta torre foi construída em 1642 por ordem do rei Christian IV, com o objetivo de criar o primeiro observatório astronómico de Copenhaga, que constitui o observatório mais antigo da Europa ainda em funcionamento… atualmente, utilizando um “novo” telescópio, ali instalado em 1929.

Durante séculos, a Torre Redonda foi o epicentro da astronomia na Dinamarca, permitindo observar o céu e desenhar os mapas das constelações mais evoluídos à época.

Hoje em dia, podemos subir à Torre Redonda através da sua rampa em espiral, algo semelhante ao que encontramos na Giralda, da catedral de Sevilha, e com o mesmo propósito, permitindo que o rei Christian IV pudesse subir ao topo do observatório montado no seu cavalo.

A torre atinge quase 35 m de altura e a vista do topo é uma referência turística desta cidade.

Neste complexo encontram-se ainda uma antiga biblioteca (agora convertida numa sala de exposições), o sótão dos sinos, uma plataforma de vidro onde podemos espreitar do alto de 25 metros de altura… e há também uma igreja, a Trinitatis Kirke, colada ao edifício da torre fazendo assim parte do mesmo conjunto.


Praça Gråbrødretorv e Church of the Holy Spirit

Ao regressarmos à Strøget encontramos a Praça Gråbrødretorv, uma das praças históricas do centro da cidade, característica pelas suas casas coloridas, ocupadas por muitos restaurantes e cafés.

O nome da praça significa "Praça dos Frades Cinzentos" e refere-se a um mosteiro franciscano que ali existiu na Idade Média, e que foi destruído no grande incêndio em 1728, que arrasou grande parte das construções do centro, cuja reconstrução alterou o estilo original de influência medieval, que foi substituído por um estilo de arquitetura clássica dinamarquesa, que encontramos hoje na cidade velha.
Um pouco depois e estamos junto à Igreja do Espírito Santo, que foi originalmente construída como parte de um mosteiro e hospital, transformada, entretanto, apenas numa igreja.

Começou por ser uma igreja católica, como todas as outras nesta cidade, mas, com a Reforma Protestante, em 1530, passou a ser luterana, como aconteceu também com a maioria das outras igrejas dinamarquesas.

O seu interior é bastante simples, mas com belos vitrais e uma torre que é o seu principal destaque. A igreja é aberta ao público e recebe frequentemente concertos e eventos.


Catedral de Nossa Senhora

Mais uma igreja do centro, desta vez é a própria catedral da cidade, ou Catedral de Nossa Senhora em Copenhaga (em dinamarquês: Vor Frue Kirke).

Construída no início do século XIX, em estilo neoclássico, esta igreja tem uma aparência um pouco diferente da maioria das outras igrejas locais, com um aspeto modesto e com uma torre quadrangular.

Esta catedral, atualmente protestante luterana, resulta de uma antiga igreja católica medieval do século XII, que sofreu vários episódios de destruição e reconstrução ao longo dos séculos, sendo a versão atual datada de 1829.

Destaca-se ainda, no seu interior, um conjunto de esculturas de Cristo e dos Doze Apóstolos.
Continuando a explorar as ruas que se dispõem na cidade velha fomos encontrando alguns traços distintos desta zona, marcados pela presença de bastantes casas coloridas, que dão um toque muito especial a este centro histórico.
No fim deste percurso voltamos à Rua Strøget, na parte final, em que esta vai chegar à Praça do Município, regressando ao mesmo ponto onde tínhamos começado a nossa caminhada esta manhã, e onde voltámos mais tarde, para jantar e aproveitar o ambiente noturno deste local que é um dos pontos mais importantes da capital dinamarquesa.



Jardins de Tivoli

Ao final da tarde dos dias em que ficamos a dormir em Copenhaga, num deles, podemos aproveitar para visitar o parque de diversões que funciona nos Jardins do Tivoli, ou podemos também fazer essa visita ao parque durante o dia, mas isso seria uma perda de tempo, se quisermos conhecer convenientemente esta cidade.

No final do século XIX o diplomata dinamarquês Georg Carstensen convenceu o rei Christian VIII a construir um parque de diversões em Copenhaga para que as pessoas se pudessem divertir e não pensassem nos problemas políticos que atormentavam a coroa.

Desde a sua construção, em 1843, os Jardins do Tivoli tornaram-se num dos lugares favoritos dos dinamarqueses. É assim que o Tivoli se tornou no segundo parque de diversões mais antigo do mundo (e, curiosamente, o mais antigo fica também na Dinamarca, a escassos 15 km de Copenhaga, é o parque Dyrehavsbakken).

A localização do Tivoli serviu para que alguns monumentos de referência tivessem sido instalados posteriormente nas imediações deste parque, como toda a praça do município ou a Estação Central Ferroviária.

O parque foi sofrendo diversas melhorias e modernizações, nomeadamente ao nível das atrações, mas, a entrada principal do Tivoli permanece ainda intacta desde a sua construção.
Os Jardins de Tivoli são uma bela atração turística, especialmente para quem viajar em família e com crianças, aproveitando as atrações que ali estão disponíveis. Mas também podemos apenas passear pelo parque apreciando o ambiente, mesmo sem experimentar qualquer diversão.

Para quem quiser sentir a adrenalina em pleno, vai encontrar um conjunto de atrações que são uma referência do parque:

O Vertigo, que não é recomendada a quem tenha medo das alturas, vai transportar os mais destemidos, por uma montanha-russa a mais de 100 quilómetros por hora, e com loops de 360 ​​graus.

O Demon é uma montanha-russa ambientada ao Império Chinês, com loopings e descidas que farão a adrenalina disparar.

A Fatamorgana e a Golden Tower, duas torres, uma de 45 metros e outra de 60, que oferecem a emoção de uma queda com três níveis de velocidade, do mais controlado à queda-livre.

O Star Flyer, que é um dos melhores miradouros de Copenhaga, uma espécie de carrossel nas alturas que se eleva a mais de 80 metros de altura.
O preço das atrações não é nada barato. O acesso ao parque, mesmo sem direito a qualquer diversão, custa kr170 (€23). Uma vez dentro dos Jardins do Tivoli, o preço de cada atração é pago separadamente (e o valor é de cerca de kr90 (€12)). Também se pode comprar um bilhete para o dia inteiro utilizando todas as atrações, que custa kr259 (€35)… nesse caso, somando os 23€ da entrada, fica a 58€, com direito a andar em tudo, um preço adequado quando comparamos com outros parques de diversões europeus.


Percurso 2

Neste segundo dia de visita a Copenhaga, começámos pela zona mais a Norte da capital dinamarquesa, iniciando o nosso passeio nm dos parques da cidade.


Parque de Ørstedsparken e Mercado TorvehallerneKBH

Atravessámos o bonito Parque de Ørstedsparken, um dos espaços verdes de Copenhaga, que costuma ser muito frequentado pelos dinamarqueses, mas não nesta manhã nublada, em que o parque estava vazio e ainda muito tranquilo.
Um pouco mais à frente chegámos à Praça Israels Plads, junto à qual se encontra o mercado de TorvehallerneKBH. Trata-se de um mercado gastronómico constituído por dois edifícios, com várias tendas de comida, vegetais, floriculturas e muitos outros produtos, incluindo cafetarias onde podemos provar algumas comidas ou tomar um café.
Algumas das tendas vendem artigos de alta qualidade, com base em produtos frescos, doces e bebidas, e sempre com alguma tendência para a comida sustentável e orgânica. Há alguma variedade de gastronomia internacional, mas encontramos também comida dinamarquesa, como é o caso do Smørrebrød, cujo nome significa literalmente "pão com manteiga", mas é algo diferente, uma espécie de umas tapas sobre fatias de um pão local.

Ao entrarmos nos edifícios do mercado, e nas esplanadas exteriores, dependendo se estamos próximos das horas de almoço ou de jantar, podemos encontrar um ambiente cativante e frenético, com cores e aromas que nos levam a produtos dos vários cantos do mundo… mas à hora em que fomos, ainda de manhã, estava tudo um bocado mortiço e não encontrámos qualquer agitação, o que foi pena.


Jardim Botânico

A próxima paragem foi no Jardim Botânico, um imenso espaço florido e relvado que possui a maior coleção de plantas vivas da Dinamarca, algumas nativas, outras trazidas do exterior.

O jardim possui um impressionante sistema de estufas que criam, no seu interior, diferentes condições climáticas, que permitem o desenvolvimento de espécies durante todo o ano. As estufas têm o aspeto dos jardins clássicos que se encontram nas principais cidades da Europa e, além do seu interior, valem também pelas fachadas envidraçadas, com uma imagem bastante marcante.

A entrada no jardim é gratuita, mas as estufas nem sempre estão abertas, só abrem algumas horas em torno do meio-dia.


Castelo Rosenborg e The King's Garden

Em frente do jardim botânico fica o imenso jardim do palácio real, o chamado King's Garden. A entrada no jardim é grátis, mas se quisermos visitar o Castelo Rosemborg, onde funciona o museu do Tesouro Real, já teremos de pagar.

Não tendo particular interesse em ver os tesouros alheios, fizemos apenas um passeio pelo jardim e apreciámos as bonitas fachadas do castelo… de qualquer forma, ficam aqui algumas informações sobre este Castelo de Rosenborg.

As suas origens remontam a 1606, quando o rei dinamarquês Christian IV ordenou a construção de um majestoso castelo, onde iria residir durante o Verão, e que incluía também um belo jardim e uma horta para abastecer a corte.

Este palácio real tornou-se o preferido do rei, tanto assim, que quis ser levado para aqui para passar os seus últimos dias antes de morrer.

O castelo ainda serviu como residência real até 1710, quando o rei Frederico IV resolveu mudar a sua casa de Verão para um palácio mais moderno. Desde essa altura que o Castelo Rosenborg passou servir de museu, expondo a coleção de joias e outros objetos de valor da coroa dinamarquesa, que estão ainda hoje em exibição nas mesmas salas, que se mantêm intactas desde o século XVIII.
As fachadas do castelo são muito bonitas e formam um belo conjunto com os jardins que ficam na envolvente, como é o caso do jardim de estilo francês, que fica ali bem perto, e que, nesta altura, se encontra bastante florido.


Galeria Nacional de Arte da Dinamarca (SMK)

À saída dos Jardins do Rei encontramos a SMK (Statens Museum for Kunst), a Galeria Nacional da Dinamarca, que apresenta a coleção de arte mais importante do país.

O museu é composto por dois edifícios ligados entre si, um deles, que forma a fachada principal, é um bonito prédio criado em estilo renascentista, e outro, que ocupa o alçado de tardoz, é moderno e muito austero, feito em betão à vista. Estas duas alas do museu estão ligadas por um corredor com o teto envidraçado, que está repleto de esculturas.

Quanto ao interior deste espaço, cujo acesso custa kr120 (cerca de €16), tem uma coleção que inclui mais de 9.000 pinturas e esculturas, muitas delas, foram adquiridas e cedidas pela monarquia dinamarquesa ao longo dos últimos séculos. Desta forma, na SMK é possível apreciar a arte dinamarquesa desde o Renascimento até a era contemporânea.

A coleção inclui ainda obras de arte de alguns artistas europeus de referência, como Rembrandt e Rubens, ou dos meus favoritos, Matisse e Picasso. Mas é dado especial destaque à arte dinamarquesa e nórdica, da qual nada conheço. 

Da arte dinamarquesa e internacional de 1900 em diante, inclui-se uma coleção bastante completa das obras de alguns artistas, como é o caso de Jorn Kirkeby… do qual, nunca tinha ouvido falar (que me perdoem a ignorância), mas já fui espreitar e achei muito interessante.

Para além da sua função de museu a galeria SMK tem também um teatro onde organiza concertos e apresentações de dança.


Palácio de Amalienborg

Neste palácio, os apreciadores da história das famílias reais europeias, terão a oportunidade de viajar por mais de 150 anos de história da Casa Real da Dinamarca... não é o meu caso, que nem nunca quis ver o The Crown.

Em Amalienborg encontramos um complexo formado por quatro palácios onde reside a família real dinamarquesa durante o Inverno. Estes quatro palácios estão construídos ao redor de uma praça, no centro da qual se ergue a estátua equestre do monarca que ordenou a sua construção, o rei Frederico V.

Foram construídos em meados do século XVIII em estilo rococó, cada um deles com as suas características particulares: o Palácio de Frederico VIII, é a residência real do príncipe herdeiro da Dinamarca, Frederico, e da sua família; o Palácio de Christian, que não se encontra habitado e é usado apenas para a celebração de eventos oficiais e receção de convidados de honra da rainha; O Palácio de Christian VIII, que é o único palácio aberto ao público e onde funciona o Museu Amalienborg; o Palácio de Christian I, que é onde reside a rainha Margarida II da Dinamarca… se a bandeira estiver hasteada, significa que a rainha está em casa.
Uma das principais atrações nesta praça é podermos assistir ao Render da Guarda Real. Esta troca dos guardas de serviço ocorre todos os dias a meio da manhã e é um verdadeiro espetáculo. Os soldados reais começam o seu trajeto saindo do Castelo de Rosenborg às 11h30 e desfilam até ao Palácio de Amalienborg para fazer a troca da guarda.

Quando a rainha está no palácio a cerimónia do Render da Guarda ocorre sempre ao som da orquestra real dinamarquesa, e foi essa a situação que presenciámos, uma imensa orquestra a acompanhar uma parte da cerimónia.

Como o render da guarda se repete por todos os edifícios do complexo, este evento demora bastante tempo, o que aumenta a probabilidade de o podermos encontrar... embora não seja algo que me desperte particular interesse.



Igreja de Mármore

Na proximidade do Palácio de Amalienborg encontra-se a Igreja de Mármore, famosa pela sua cúpula com 50 metros de altura, que foi inspirada na da Basílica de São Pedro, do Vaticano.

A Igreja de Mármore, cujo nome oficial é Frederiks Kirke (Igreja de Frederico), é o melhor exemplo da arquitetura barroca da capital dinamarquesa, e uma das mais importantes igrejas evangélica-luteranas da Dinamarca.

Começou a ser construída em 1749, por ordem do rei Frederico V, pelo arquiteto nacional Nicolai Eigtved, que concebeu a igreja em estilo rococó, mas, no final, porque as obras demoraram uma eternidade, o templo acabou por ser construído em estilo genuinamente barroco… repare-se que entre o período de construção e as várias paragens a que a obra esteve sujeita, a sua inauguração só aconteceu cerca de 150 anos após o seu início. Mas no final tudo terá valido a pena, porque a igreja é grandiosa e mesmo muito bonita.
No seu interior, todo em mármore, tal como as suas fachadas, a cúpula está decorada com pinturas dos 12 apóstolos, intercaladas com medalhões que representam os sacramentos católicos. Além disso, pode valer a pena subir à cúpula e desfrutar da vista sobre o Palácio de Amalienborg e o centro da capital dinamarquesa.
Mas o mais marcante da Igreja de Mármore é, claramente, a sua bela cúpula, que se destaca em relação ao resto dos monumentos de Copenhaga, com os seus 31 metros de diâmetro e 50 metros de altura, que faz dela a maior cobertura em abóbada de todos os monumentos que se encontram nos países escandinavos.

O revestimento da cúpula é feito de cobre envelhecido e apresenta uma tonalidade verde-esmeralda, típica da oxidação natural desse metal ao longo do tempo. A decoração da cobertura é criada através de nervuras verticais e frisos em dourado, que lhe conferem brilho e sofisticação. Também o pórtico de entrada de um dos alçados, que assenta em colunas coríntias, se encontra decorado com uma inscrição dourada, em harmonia com todo o conjunto.


Medicinsk Museion e Design Museum

Nas ruas por onde seguimos encontram-se alguns edifícios notáveis, como é o caso do Medicinsk Museion, um museu onde são exibidas algumas exposições permanentes e outras temporárias, sob a temática da medicina, com coleções de instrumentos médicos antigos, utensílios cirúrgicos, material de laboratório,e muitas outras coisas… que, naturalmente, não quisemos visitar.

Será um lugar imperdível para quem se interessa pela história da medicina e das ciências, mas para dois engenheiros civis portugueses, o interesse é reduzido e ficámo-nos apenas pelas fachadas do edifício.
Um outro edifício importante desta zona é o Museu do Design da Dinamarca, que ocupa o antigo hospital do Rei Frederico (tinha de ser, aqui os reis ou são Fredericos ou são Cristianos).

Este museu contém a melhor coleção de objetos e cartazes que representam a história dos dinamarqueses em matéria de design e inovação. Encontram-se ali trabalhos de alguns dos principais nomes de designers dinamarqueses… que eu não conheço.

A maior parte da coleção do museu é dedicada a cadeiras, permitindo conhecer a evolução desta peça de mobiliário ao longo do último século, mas estão também expostos objetos que marcaram o design escandinavo nos últimos 400 anos, incluindo também o design de moda, fotografia, design gráfico e brinquedos.

Para quem quiser visitar este museu, fica a dica... o preço de adulto é de kr130 (mais ou menos €17), e fecha às segundas-feiras.


Kastellet, St Alban's Church e Fonte de Gefion

Dirigirmos de seguida para a antiga instalação militar de Kastellet, que significa Cidadela e fica numa ilha artificial em forma de um pentágono, contornada por um talude relvado e um canal. 

A entrada, que é de acesso livre, faz-se por uma guarita militar verdadeira, por estarmos a entrar numa espécie de quartel, mas muito estiloso. 

Este complexo é uma das fortalezas mais bem preservadas do Norte da Europa e inclui ainda vários edifícios da antiga Cidadela, como uma igreja e um moinho de vento, para além de uma série de outros edifícios militares.

Próximo do acesso ao Kastellet, mas já fora do complexo, existe uma igreja anglicana, a St Alban's Church, que foi erguida em 1887 num estilo gótico britânico. A sua bela fachada, marcada pela presença de uma torre pontiaguda, encontra-se envolvida pelo canal que contorna o Kastellet, formando um conjunto lindíssimo que nos apareceu enquanto caminhávamos por entre os canais.
Esta igreja constitui um belo exemplo da arquitetura vitoriana, devido às suas conexões reais com o príncipe de Gales, que mais tarde foi o Rei Eduardo VII, e que foi casado com uma princesa dinamarquesa.

A igreja abre ao público entre a Páscoa e o mês de setembro, mas a sua bonita silhueta estará sempre disponível para a podermos observar.
Junto à St Alban's Church fica a Fonte de Gefion, uma imensa fonte que é uma referência nesta zona junto ao porto de Copenhaga.

A fonte foi construída em 1908 e possui um grupo de figuras de bois, numa escala natural, conduzidos pela deusa nórdica Gefjun. Segundo a lenda, a deusa transformou os seus quatro filhos em bois e usou-os para lavrar o máximo de terra possível, durante um único dia. A terra que conseguisse arar ser-lhe-ia entregue pelo rei Gylfi, da Suécia, transformando-se, depois, na ilha da Zelândia, onde fica a atual Copenhaga.

A fonte foi doada à cidade pela Fundação Carlsberg na ocasião do aniversário de 50 anos da conhecida fábrica de cerveja.
Junto à fonte, será ainda possível apreciar a imagem que enquadra igreja e a própria fonte, que formam um conjunto bastante interessante.


A Pequena Sereia

Continuando o nosso percurso, desta vez mesmo junto ao mar, vamos chegar perto de um ícone indiscutível da cidade de Copenhaga, a Pequena Sereia (Den Lille Havfrue, em dinamarquês), uma estátua de bronze apoiada numa rocha à superfície das águas do Mar Báltico, com 1,25 m de altura e um peso de 180 kg.
Desde que ali foi colocada, em 1913, esta estátua curiosa despertou a criação de várias lendas, mas esteve também sujeita a algumas piadas curiosas e a atos de vandalismo.

A construção da Pequena Sereia foi paga por Carl Jacobsen, filho do fundador da marca de cerveja dinamarquesa Carslberg, que quis presentear a cidade com uma escultura que fosse marcante, e escolheu o escultor dinamarquês Edvard Eriksen para concretizar o seu desejo.

O objetivo de Jacobsen era homenagear o escritor de contos Hans Christian Andersen e a sua obra-prima, a Pequena Sereia, que conta a história de uma jovem sereia que renunciou à sua vida de princesa no mar para estar com seu amado, um rapaz do mundo dos humanos… e a sua tristeza surge bem evidente no rosto da escultura, com o seu olhar melancólico.
Esta pequena estátua já foi decapitada por duas ocasiões, pintada de várias cores muitas vezes e até arremessada ao mar e, atualmente, a sua cabeça já é uma réplica da original, que nunca foi recuperada, quando foi roubada pela primeira vez.

Mas ainda assim, não deixa de ser o principal símbolo da cidade de Copenhaga, e continua a atrair todos os turistas que visitam a capital dinamarquesa… e eu próprio, já por ali estive três vezes, desde a primeira visita em 1985, e voltei agora, quarenta anos mais tarde, como mostram estas fotografias:
  
 (1985)                                                                                                  (2025… 40 anos depois)


Percurso 3

Este terceiro percurso leva-nos deste a Pequena Sereia, localizada a Norte, até à ilha de Holmen, que fica em frente, incluindo o estranho, mas icónico, bairro de Christiania.


The Playhouse e Ponte de Inderhavnsbroen

A primeira paragem foi feita no Playhouse, ou Det Kongelige Teater, que significa o Teatro Real, e que é o centro nacional de arte dramática da Dinamarca, e está adaptado para produções teatrais de alto nível.

O Playhouse tem uma capacidade para 1000 pessoas e fica num bonito edifício moderno, localizado à beira do canal. Quer tenhamos ou não um ingresso para uma qualquer apresentação, podemos espiar por dentro do bonito foyer, entrar no café ou passear pela passarela de carvalho que circunda o Playhouse sobre as águas do canal.

A melhor maneira de apreciarmos as fachadas do edifício será a partir da Ponte de Inderhavnsbroen, que permite a travessia do canal para peões e bicicletas.
Para chegarmos à Ponte de Inderhavnsbroen vamos voltar a atravessar o canal do Nyhavn, e nunca nos cansamos, é claramente o mais bonito spot da cidade. 

Passamos depois pela ponte que atravessa o canal de Inderhavnen, que liga o bairro de Nyhavn à ilha de Holmen, criando uma travessia pedonal e de ciclovia, e que é muitas vezes chamada informalmente de "Kissing Bridge" devido ao seu design articulado que abre e fecha para permitir a passagem de barcos… mas achar que isso faz lembrar um beijo, já será preciso alguma imaginação e muito boa vontade.
Ainda sobre a ponte pudemos apreciar a envolvente do canal de Inderhavnen, com várias construções com impacto na paisagem, como é o caso do conjunto designado por Papirøen. Trata-se de um bairro residencial, mas com algum comércio e restauração, composto por vários edifícios de formato disruptivo, dominando aquela margem do canal.

O nome Papirøen significa literalmente "Ilha do Papel", devido ao facto de ali, durante décadas, os armazéns locais terem sido usados para armazenar papel para os jornais dinamarqueses.
À saída da ponte aproveitámos para almoçar num espaço animado de comida de rua, o Broens Street Food, onde se pode saborear a gastronomia local e internacional, numa zona do canal que é bastante interessante.



Casa de Ópera de Copenhaga

A partir desta margem do canal podemos observar à distância a Operaen, que está localizada na ilha de Holmen e onde fica a sede da ópera nacional da Dinamarca, uma das casas destinadas à música mais moderna em todo o mundo.

Se além de observarmos a silhueta deste edifício, quisermos lá chegar, basta fazer uma caminhada de cerca de 800 m desde a saída da ponte.

O edifício, que pertence ao governo dinamarquês, foi implantado propositadamente no alinhamento do Palácio de Amalienborg e da Igreja de Mármore, o principal eixo do poder da realeza dinamarquesa.

A sua inauguração oficial aconteceu a 15 de janeiro de 2005, e a obra teve um custo total de mais de 500 milhões de dólares, o que faz com que seja o edifício de espetáculos de ópera mais caro, alguma vez construído em todo o mundo.

A imagem colossal desta sala de espetáculos, é visível ao longo do canal que separa o centro da cidade da ilha de Holmen, pelo que a sua silhueta nos acompanha sempre que percorremos esta parte da cidade, impressionando-nos com a sua imponência e beleza arquitetónica.


Christiania

No coração da ilha de Holmen encontra-se o bairro mais estranho de Copenhaga, Christiania. Este bairro hippie tem uma longa história, bem como uma atmosfera e estilo de vida muito peculiares, que são difíceis de encontrar em qualquer outro lugar do mundo.

No início dos anos 70, uma zona do bairro de Christianshavn, que era usada para fins militares, ficou abandonada e, nessa altura, algumas famílias decidiram estabelecer-se nessa área e viver aleados das normas estabelecidas pela sociedade. Isto numa altura em que o movimento hippie se tornou popular, tanto na Europa como nos Estados Unidos, e logo começaram a chegar mais famílias atraídas por esta ideia de liberdade. Foi-se assim formando uma espécie de “Bairro do Amor” (como o do Jorge Palma), crescendo, dessa forma, uma autêntica comunidade hippie, que se regia pelas suas próprias normas, alheias aos standards sociais... e nascia a Cidade Livre de Christiania.

Hoje em dia, pouco mais de mil pessoas vivem nesta comunidade muito especial, e sentimos bem essa diferença assim que atravessamos o pórtico que marca a entrada no bairro.
Ao longo de mais de cinquenta anos de existência, Christiania continua a ser um bairro gerido pelas suas próprias regras, algumas baseadas em princípios que hoje até já são comuns, como a reciclagem, a compostagem, as artes de rua ou a colaboração estreita entre vizinhos. Depois há um uso e abuso de drogas, eventualmente, das mais leves, o que também não deixa de ser comum mesmo fora do bairro. Aquilo que que não é minimamente comum nas nossas cidades é que os habitantes de Christiania não pagam impostos e, por isso, os produtos que ali são vendidos talvez até sejam muito mais baratos, pelo que, se quisermos, podemos fazer algumas compras, como souvenirs artesanais ou roupas em segunda mão… e talvez uns charros.

Mas como não quisemos procurar nada para comprar, limitámo-nos a percorrer as ruas e praças, e observar os edifícios decorados com pinturas e graffitis de artistas locais, numa arte meio psicadélica… que surge talvez mais por via dos fumos do que pela criatividade dos pintores, digo eu.
Desde o aparecimento do bairro, em 1971, a Cidade Livre de Christiania tornou-se famosa pela legalização da venda e consumo de drogas. Devido à controvérsia que isso gerou nos últimos anos, a polícia de Copenhaga aumentou a vigilância na área e o governo proibiu a venda de drogas.

No entanto, em Christiania será fácil adquirir drogas leves, à base de canábis, por exemplo, na Rua Pusher, a sua avenida principal, que concentra alguns postos de venda onde estas drogas podem ser adquiridas, e onde existem lojas especializadas em artigos para fumantes… cachimbos e outras coisas do género.

Nesta cidade livre havia uma única restrição na Pusher Street, que era a proibição de tirar fotos, e vê-se bem na sinalética que encontramos, mas pareceu-me que hoje em dia já não estará a ser aplicada, pois toda a gente ali tira fotografias à vontade.
Uns turistas, como nós, que visitem o bairro de Christiania e que não queiram comprar charros, vão apenas observando este lugar icónico, famoso desde os tempos da geração hippie, cujo ambiente ainda é ali devidamente representado, não sei se de uma forma completamente natural, ou se será mais para turista ver.

E andando por ali, vamos encontrando várias alusões ao peace & love, algumas delas em forma de pinturas ou graffitis que decoram os muros e as paredes das casas… e encontramos também todo o pessoal que por lá ainda vive e que continuam com o seu “cachimbo a rodar, de mão em mão”, neste lugar “onde não há prisões nem hospitais, e onde cada um tem de tratar, das suas nódoas negras sentimentais”.



Igreja do Nosso Salvador

No fim do bairro de Christiania encontra-se a imponente Igreja do Nosso Salvador (a Vor Frelsers Kirke), um exemplo da arquitetura barroca local.

Desde a inauguração da sua torre, em 1752, feita em madeira e descrevendo uma espiral, esta igreja tornou-se num dos edifícios de referência da capital dinamarquesa.

Aberta para visitas públicas, permite a subida dos seus 400 degraus em caracol até ao mítico miradouro com uma visita extraordinária sobre a cidade… e reza a lenda, que o arquiteto desta torre se teria suicidado saltando do seu topo, porque a agulha da torre teria ficado ligeiramente inclinada.

Ainda que a atração principal da igreja seja a sua torre, pode valer a pena visitar o interior, onde pode ser apreciado o seu órgão, com de mais de três séculos, e o carrilhão, que é o mais antigo do Norte da Europa.
   
 

Biblioteca Real da Dinamarca

Esta imensa biblioteca ocupa um conjunto de dois edifícios, com uma parte histórica e uma ala moderna, que é conhecida como O Diamante Negro, por ser completamente revestida a vidro e granito negros.

A Biblioteca Real original, que corresponde ao edifício histórico que faz parte deste conjunto arquitetónico, foi fundada em 1648 pelo rei Frederico III, enquanto a ala modernista, foi inaugurada em 1999.

Nesta biblioteca encontram-se milhões de livros de todo o tipo e de todas as épocas, e o edifício inclui ainda um auditório para diversos tipos de espetáculos.

Para melhor observarmos o Diamante Negro, devemos passar pela margem oposta do canal, onde a silhueta da sua fachada será visível de uma forma impressionante, para além de, nesta zona, podermos também apreciar toda a margem Norte do canal de Inderhavnen, com vários edifícios bastante interessantes.



Percurso 4

Quem tiver tempo para mais meio dia de visita à cidade, pode apanhar um transporte público e visitar as atrações existentes a Oeste da capital dinamarquesa, onde se encontra mais um palácio real e os seus jardins, e a fábrica da principal marca de cerveja dinamarquesa.


Palácio de Frederiksberg e Frederiksberg Gardens

O Palácio de Frederiksberg é conhecido pela sua arquitetura barroca e pela sua história, mas também pelos belos jardins que o envolvem.

Foi construído no século XVII para servir como residência de Verão da família real dinamarquesa e, desde então, o palácio tem sido usado para vários fins, não só como residência da realeza, mas também como sede do governo e até como local para alguns eventos culturais importantes, incluindo concertos, peças de teatro e exposições. 

Além disso, o palácio também alberga vários museus e galerias, incluindo a Galeria Nacional de Arte, que exibe uma ampla coleção de obras de arte dinamarquesas e europeias.

O palácio está rodeado por amplos jardins, que são, por si só, uma bonita atração, e que, em conjunto, oferecem aos visitantes uma vista deslumbrante da fachada principal. 


Home of Carlsberg

A cerca de 1 km deste palácio, chegamos ao Home of Carlsberg, o museu da famosa cerveja dinamarquesa, mas que é mais do que apenas um museu, é uma experiência e uma atração localizada na primeira cervejaria de Jacobsen em Valby Bakke. 

A atração revela o passado, o presente e o futuro da família Carlsberg, por meio de uma grande exposição interativa, que permite que os visitantes vejam, ouçam e experimentem a história da família de Jacobsen. A exposição é o habitual neste tipo de espaços, vêm-se os ingredientes, o processo de fabrico, e depois acaba-se a provar cerveja.

Neste caso existem também algumas atrações audiovisuais, mas o mais interessante nas visitas guiadas será podermos conhecer algumas referências históricas, como os edifícios originais, os estábulos com os majestosos cavalos da cervejaria e as antigas adegas, que revelarão alguns segredos da produção desta marca de cervejas… mas depois desse banho de história, o mais interessante será quando chegamos ao espaço das degustações e vamos finalmente provar a cerveja que ali se produz. A Carlsberg era muito popular em Portugal nos anos 80, quando visitei este espaço, mas agora já não é assim tão consumida por cá e, para muita gente, esta marca pouco ou nada dirá.

A capital dinamarquesa é, sem dúvida, uma das cidades europeias mais distintas, construída sobre um conjunto de ilhas e criada num estilo que mistura as influências nórdicas com traços semelhantes a algumas das capitais mais clássicas da Europa.

Atualmente, Copenhaga mistura a arquitetura moderna com a imagem clássica da antiga cidade criada sob o poder de vários reis, ora Cristianos, ora Fredericos, e destaca-se por uma vivência em que as políticas ambientais inovadoras e os comportamentos sustentáveis, são bastante relevantes.

Combinando a sua herança histórica com um estilo de vida contemporâneo, a cidade atraiu-nos de uma forma singular, diferente da maioria das cidades que conhecemos, criando uma ligação que é facilmente estabelecida, com pessoas e espaços, sobretudo naquele que é o lugar mais encantador da cidade, o canal de Nyhavn... quarenta anos depois e a capital dinamarquesa ainda não deixou de me fascinar.


Abril de 2025
Carlos Prestes



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