terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Polónia


Podemos chegar à Polónia como meros turistas e partirmos à descoberta deste país da Europa de Leste sem estabelecermos qualquer conexão com a sua história recente, ou podemos recorrer a uma memória histórica, que identifica este país como um dos principais mártires do nazismo e da Segunda Guerra Mundial… e, na minha viagem até à Polónia no Inverno de 2009, segui simultaneamente pelos dois caminhos, aproveitando o país já modernizado que encontrámos, mas sem nunca perder a memória do que ali se tinha passado.

Começámos pela capital, a cidade de Varsóvia, onde teve início a Segunda Guerra, com a invasão das tropas de Hitler no dia 1 de setembro de 1939, o que veio a provocar que o Reino Unido e a França tivessem declarado guerra à Alemanha.

Foi também na capital polaca que começou de forma massiva a perseguição aos judeus, que haveria de se alargar a todos os territórios que vieram a ser ocupados pelos nazis, destacando-se dois locais que foram palco, primeiro, da perseguição e segregação do povo judeu, com a criação do gueto de Varsóvia e, mais tarde, do seu extermínio em vários campos de concentração, com destaque o campo de Auschwitz – Birkenau.

O gueto de Varsóvia foi o maior de todos os guetos criados pelos alemães durante a Segunda Guerra Mundial, para segregação e humilhação do povo judeu.

Logo depois da ocupação alemã, em 1939, os nazis planearam a utilização de um bairro para isolar toda a população judaica de Varsóvia, criando assim um gueto para onde foram levados à força quase quatrocentos mil judeus, que foram assim separados da restante população, ficando com os seus movimentos condicionados pelos militares que patrulhavam o bairro.
Quando a guerra chegou às portas da cidade de Varsóvia, começou a matança dos judeus, primeiro, no próprio gueto e, mais tarde, através da deportação em massa da população do gueto para campos de extermínio, estimando-se que cerca de 250 mil judeus tenham sido assassinados nessa altura e grande parte das pessoas que ficaram no gueto, acabaram também por ali morrer devido à fome e doenças causadas pelas condições desumanas impostas pelos alemães.
Os efeitos dos bombardeamentos agravaram ainda mais o estado deste bairro, como de toda a cidade, tornando-se praticamente impossível a sobrevivência naquele local.

Em abril de 1943, na véspera do feriado judeu de Pessach, os alemães cercaram o gueto, preparando-se para a total liquidação da população judaica. No dia 19 de abril, a polícia alemã e as forças das SS entraram no gueto para concluir o extermínio, mas os seus habitantes ocuparam todo o tipo de esconderijos e revoltaram-se contra os nazis… algo que não teve qualquer paralelo ao longo da guerra e que ficou conhecido como o Levante de Varsóvia.

Os rebeldes judeus atacaram os alemães com armas de fogo, cocktails molotov e granadas de mão, incendiando veículos alemães e apanhando-os de surpresa.

Face à forte resistência que encontraram, os alemães começaram a queimar os edifícios, transformando as ruas do gueto numa armadilha de fogo. Enquanto decorriam os combates, unidades do exército clandestino polaco, o chamado Exército da Pátria, entraram em ação contra os alemães. Esta revolta manteve-se até ao início de maio, mas os revoltosos acabariam por ser derrotados, terminando com a completa destruição do gueto pelas tropas nazis, incluindo o principal símbolo do bairro, a sua grande Sinagoga.
A Insurreição do Gueto de Varsóvia foi a primeira revolta urbana e também a maior rebelião armada da população judaica durante a ocupação alemã. Atualmente, encontramos apenas alguns fragmentos dos muros do gueto, que se recuperaram das cinzas, e uns símbolos e memoriais, já recentes, que  recordam este bairro e esta revolta.

Mas ao andarmos pelas ruas desta cidade, e embora o foco atual nada nos faça lembrar destes tempos, não deveríamos esquecer o que ali se passou, é uma obrigação de todos nós, manter vivas estas memórias, para que o mundo jamais as possa esquecer.


A nossa viagem incluiu as duas principais cidades polacas, Varsóvia e Cracóvia e, apesar de não termos visitado Auschwitz, por se antever uma experiência perturbante, que não arriscámos viver, vou juntar nesta página a crónica de uma visita a este campo de concentração feita em 2024 pela minha amiga Dulce Cascalheira, a quem agradeço o texto e as fotos publicadas, mas sobretudo a sua partilha das emoções vividas num local tão comovente como este.

Apresento em baixo as três crónicas resultantes destas viagens, localizadas ao longo da Polónia, nos locais assinalados neste mapa:

Nas crónicas seguintes vou descrever cada um dos locais visitados nesta viagem:



Auschwitz-Birkenau
(Text and photos by Dulce Cascalheira)


Deixo aqui um testemunho desta visita à Polónia, onde nos poderíamos limitar a uma postura de viajantes, como se fossemos simples turistas, mas onde ninguém passou ao lado importância que teve a história deste país, e da capacidade deste povo de renascer das cinzas, reerguendo-se da total destruição a que esteve sujeito no período de ocupação alemã durante a Segunda Guerra Mundial.

A todos aqueles que visitem a Polónia, que esta viagem não seja apenas uma mera visita turística, mas seja também uma oportunidade de reflexão sobre a experiência devastadora a que milhões de pessoas sofreram como resultado desta guerra bárbara… para que nenhum de nós alguma vez o possa esquecer.


Carlos Prestes
Dezembro de 2009