Ao viajarmos para o Norte da Europa durante o Inverno, e nesta altura estávamos a meio de dezembro de 2009, corremos o risco de apanhar condições climatéricas menos favoráveis, com chuva, nevoeiro ou até neve, e vamos sempre encontrar uns dias muito pequenos, em que a noite chega muito próximo das 16h, o que é algo bastante condicionante para quem viaja.
Desta vez, nas poucas horas de luz solar que apanhámos, os dias estavam maioritariamente carregados de uma imensa neblina, deixando a cidade de Varsóvia ainda mais triste, talvez para nos fazer recordar a história dramática que ali foi vivida oito décadas antes.
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No mapa que apresento abaixo assinalam-se os percursos feitos a pé ao longo dos três dias em que visitámos a capital polaca, levando-nos a passar nas proximidades daquelas que são as suas principais atrações.
Mas, desta vez, irei escrever sobre cada tipo de atração seguindo os conjuntos que agrupei em Monumentos e Jardins, Cidade Velha, Igrejas e Memoriais de Guerra e, pelo caminho, vou também falando sobre as ruas e as praças desta cidade… marcados neste mapa com cores distintas:
Monumentos e Jardins da cidade
Ao percorrermos a cidade de Varsóvia apreciando os seus monumentos e as suas igrejas, é impossível não admirarmos a capacidade deste povo de renascer das cinzas, reerguendo-se da total destruição a que a cidade esteve sujeita devido à presença alemã e às batalhas que enfrentou.
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A todos aqueles que visitem a Polónia, que esta viagem não fique apenas como uma simples visita turística, mas seja também uma oportunidade de reflexão sobre este e muitos outros povos que viveram a experiência devastadora de uma guerra tão bárbara com esta, sofrendo na pele as consequências do pior lado do ser humano… para que nenhum de nós alguma vez o possa esquecer.
Voltando à época da nossa viagem, dezembro de 2009, saindo do hotel onde ficámos, o Sofitel, que é uma referência do centro da cidade, começámos pelo bairro Śródmieście, apreciando a imagem imponente de um dos principais símbolos da cidade, o Palácio da Cultura e Ciência.
Trata-se de uma torre construída em 1955, com 42 andares e 237 metros de altura, o que faz com que seja o edifício mais alto de Varsóvia. Foi um presente do povo russo que Estaline quis dar à cidade, e a sua imagem de inspiração soviética é bem notória e, talvez por isso mesmo, muitas vozes têm apelado à sua demolição, como forma simbólica de contestar os anos de opressão russa.
Além de ser um ponto de referência na capital polaca e o símbolo da Varsóvia moderna, o Palácio da Cultura e Ciência contém teatros, museus, cafés, um cinema, e possui ainda várias salas de reunião e conferências e as duas salas de espetáculos mais importantes do país.
Mas além de tudo isso, é também um miradouro muito procurado pelos turistas, permitindo o acesso ao trigésimo andar, de onde se pode desfrutar de paisagens amplas sobre toda a cidade.
Mas aquilo que mais se salienta neste edifício, é mesmo a sua fachada claramente inspirada nos tempos de influência soviética, e as suas semelhanças com o edifício da Universidade Estadual de Moscovo, mas que também chega a fazer lembrar o Empire State Building de Nova York… o que não deixa de ser desconcertante, considerando que a ideia deste edifício partiu da cabeça de Estaline.
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Fizemos de seguida um longo percurso até ao Parque Łazienki, um jardim que é um dos lugares de visita obrigatória na cidade de Varsóvia. Na verdade, trata-se de um jardim bastante bonito, com lagos e palácios, como o Pałac na Wyspie, ou Palácio na Ilha, mandado construir numa pequena ilha que emerge de um dos lagos, pelo Príncipe Stanisław Herakliusz Lubomirski, no final do século XVII. Cerca de um século depois, o Rei polaco à época, Stanisław August, resolveu adaptar o palácio para a sua residência de verão, transformando-o assim num dos palácios reais da Polónia.
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Mas não será pela possibilidade de visitarmos os palácios que aqui se encontram, que faz com que consideremos este jardim como um lugar imperdível. Aquilo que nos leva a todos a este local, é o Monumento a Frédéric Chopin, que aqui vamos encontrar.
Num pequeno jardim com um lago ao centro, ergue-se uma estátua dedicada a Chopin, um dos mais destacados compositores da era romântica, que nasceu e viveu na Polónia na primeira metade do século XIX.
O monumento, em estilo Art Nouveau, é feito de bronze e fica sobre um pedestal de arenito vermelho, com um total de 6,40 m de altura, retratando o compositor sentado sob um salgueiro-chorão estilizado, enquanto ouve o barulho do vento sobre as árvores e, inspirado, estica a mão direita sobre o teclado de um piano invisível.
Esta estátua foi apreendida pelos alemães em maio de 1940 e reerguida em outubro de 1946, como símbolo da reconstrução da nação… tal como se encontra inscrito no seu pedestal.
Aproveitando a proximidade desta estátua dedicada a Chopin, faço aqui referência às figuras mais ilustres da cidade de Varsóvia e da Polónia, para além do compositor aqui retratado.
Há uma imensa lista de celebridades nascidas no território que corresponde à atual Polónia, de onde se podem destacar Copérnico, o Papa João Paulo II, os escritores Joseph Conrad e Czeslaw Milosz, que foi Nobel da Literatura, e os cineastas Andrzei Wajda e Roman Polanski.
Mas para além de Frédéric Chopin, a figura mais destacada da cidade de Varsóvia será mesmo a de Marie Curie. A casa onde nasceu, na Rua Freta 16, é atualmente uma casa-museu, e representa um pouco da vida e obra desta extraordinária cientista, com dois prémios Nobel, da física e da química, com a criação das bases que levariam ao estudo do fenómeno da radioatividade. Tal como Chopin, também Marie Curie haveria de rumar até França, onde se tornou na primeira mulher a lecionar na Sorbonne, e onde viveu até à sua morte, em 1934, sob o efeito da exposição constante às radiações.
Para além do seu museu, bem no centro da cidade, encontra-se ainda uma Estátua de Marie Curie, mas essa já mais afastada e que dificilmente será incluída num percurso pedonal pela cidade.
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Voltando de novo ao nosso percurso, desta vez um longo caminho até ao centro histórico, vamos entrar na rua Krakowskie Przedmieście, talvez a principal rua da cidade, e onde existe um monumento que homenageia uma das figuras anteriormente referidas, o astrónomo e matemático Nicolau Copérnico.
Copérnico, que nasceu e morreu na Polónia, fez grande parte da sua carreira científica em Itália, e pode ser chamado de “pai” da astronomia moderna, pois foi ele que, através dos seus estudos e cálculos, percebeu e defendeu a tese de que a Terra, assim como os demais planetas, gira em torno do Sol, numa teoria que é chamada de Heliocentrismo.
O Monumento a Copérnico é uma estátua de bronze do século XIX, onde o cientista se encontra sentado com uma bússola e uma esfera armilar na mão, formando o sistema solar, com os seus planetas, o sol e a lua.
De forma simbólica este monumento encontra-se junto ao Palácio de Staszic, a sede da Academia de Ciências da Polónia, um palácio belíssimo que foi construído em estilo neoclássico no século XIX.
Um pouco mais à frente, ainda na rua Krakowskie Przedmieście, passamos junto aos portões do campus da Universidade de Varsóvia e, ao entrarmos, encontramos em frente o edifício clássico da biblioteca da Universidade.
A paragem seguinte foi em frente ao Palácio Presidencial, conhecido como Pałac Prezydencki, um edifício do século XVII, que é atualmente a residência oficial do presidente polaco. Depois da devastação que sofreu durante a Segunda Guerra Mundial, o palácio foi meticulosamente restaurado, preservando a sua fachada neoclássica e toda a sua grandeza. Atualmente, este palácio é um importante símbolo do poder político da Polónia.
Já no final da rua Krakowskie Przedmieście, junto à entrada da Cidade Velha, encontramos a Praça do Castelo, um imenso empedrado que representa o centro desta cidade, com a fachada principal do Castelo Real de Varsóvia, nos seus tons avermelhados vivos, e com a Coluna de Sigismundo, em plena praça.
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Além destes dois monumentos principais, a praça é rodeada por um conjunto de bonitos edifícios, com fachadas coloridas e com uma traça que é característica comum em toda a cidade velha.
A Coluna de Zygmunt, que encontramos ao centro da praça, é um dos marcos icónicos da cidade. Este monumento foi erguido no século XVII por decisão do Rei Władysław IV Vasa em homenagem ao seu pai, o Rei Sigismundo III Vasa, e simboliza a história e a resiliência da capital polaca.
Mas o grande monumento desta praça é o histórico Castelo Real de Varsóvia, um imenso edifício que foi a antiga residência real, e que é hoje um dos principais símbolos de toda a Polónia.
As origens deste majestoso palácio barroco datam do século XIV, quando a Torre Real foi construída. Ao longo da sua história atravessou o período mais negro da cidade, com a ocupação nazi e a guerra que ali implodiu, e que levou à sua completa destruição. Porém, com o fim da guerra, e como quase toda a cidade de Varsóvia, o palácio veio a ser reconstruído a partir dos escombros, mantendo ainda a sua fachada distinta, com a tonalidade avermelhada dominante, que ainda hoje encontramos.
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Mas a beleza arquitetónica deste palácio não se fica só por esta fachada principal, também vamos encontrar uma outra fachada bastante interessante, no tardoz do edifício, do lado das Arcadas Kubicki.
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Deixando a Cidade Velha para depois, seguimos para o próximo monumento, o Palácio Krasiński, localizado no jardim com o mesmo nome, mais um dos grandes parques municipais da cidade.
O palácio foi construído no século XVII e é considerado um dos exemplos mais notáveis da arquitetura moderna na Polónia e, atualmente, expõe várias coleções artísticas, como gravuras antigas, manuscritos, gráficos, cartografia e itens musicais, que são propriedade da Biblioteca Nacional. Mas o interior do palácio não está diariamente aberto ao público, embora sejam organizadas algumas visitas com guia, que serão a oportunidade para quem o quiser visitar.
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Terminámos esta visita aos monumentos da cidade, na Plac Teatralny, ou Praça do Teatro, junto a mais dois importantes palácios, o Jabłonowski Palace e o Teatro Wielki.
O Jabłonowski Palace é um bonito palácio histórico do século XVIII que chegou a servir de Câmara Municipal da cidade... e não há muito mais que possa acrescentar.
O Teatr Wielki - Polish National Opera é a casa da Ópera Nacional, do Ballet Nacional, da Galeria de Ópera e do Museu do Teatro. Passam por ali apresentações de ópera, dança, concertos, exposições, e diversos tipos de workshops. É também é utilizado para eventos especiais, como estreias de filmes, conferências ou galas.
O teatro Wielki é um edifício bastante grande e com uma imagem austera, que resulta de uma obra original que foi construída na primeira metade do século XIX e, como quase toda a cidade de Varsóvia, sucumbiu às forças alemãs no início da Segunda Guerra Mundial. Depois veio a ser reerguido dos escombros, seguindo a influência dos estilos dominantes do bloco de Leste, tendo sido inaugurado em 1965, em plena época de guerra fria, onde o poder soviético era determinante.
Atualmente, e depois da queda da União Soviética e da influência russa sobre a Polónia, este teatro tem vindo a tornar-se numa instituição completamente moderna, que mantém a sua função de casa de espetáculos de ópera, música e ballet, mas seguindo novas ideias e novas aspirações de um país que se mantém em reconstrução há várias décadas.
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Cidade Velha
Ao chegarmos à praça do Castelo, a que me referi ainda há pouco, estamos às portas da Stare Miastro, ou Cidade Velha, a parte antiga de Varsóvia que se encontra rodeada por muralhas.
As Muralhas da Cidade têm uma marca muito especial, que as diferenciam da grande maioria das outras cidades muralhadas que encontramos pela Europa, e que é a sua cor, de um tijolo avermelhado vivo, que se ostenta como uma marca deste centro histórico.
Ao longo desta muralha surge a chamada Barbacã de Varsóvia, que é a porta que liga a Cidade Velha com a parte nova da capital polaca, e que servia também como torre de vigilância.
O conjunto das muralhas e torres de Varsóvia começou a ser construído no século XV, com o objetivo de proteger a antiga cidade dos ataques externos.
Em 1540, um arquiteto renascentista italiano projetou a porta a que se chama Barbacã, com de 30 metros de comprimento, e que constitui o principal ponto de referência ao longo de todo o perímetro muralhado.
Durante a Segunda Guerra Mundial, e como seria de esperar, também a Barbacã foi totalmente destruída pelos nazis. Mas na sua reconstrução foram usados os tijolos originais que puderam ser recuperados dos escombros, contribuindo assim para a semelhança das atuais muralhas com a obra original.
Hoje em dia a Barbacã é um dos lugares mais visitado de Varsóvia, servindo ainda como ponto de ligação entre a Cidade Velha e a sua zona mais moderna.
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O centro muralhado é constituído com um conjunto de ruas com o mesmo tipo de edifícios, sempre coloridos e muito distintos.
Por entre o emaranhado de ruas existem algumas igrejas, de que falarei mais à frente, e algumas praças, como é o caso da pequena praça do Dzwon na Kanonii, que significa Sino dos Desejos, que encontramos em plena praça.
Esta relíquia, com origem no século XVII, está associada a uma lenda com um final trágico. Conta-se que dois apaixonados por uma bela donzela, filha do fabricante de sinos, depois de uma trama complexa e associada a este sino, acabariam por morrer, enquanto ela, completamente desolada, haveria de entrar para um convento.
No final desta história dramática o sino foi colocado na praça para que nunca mais fosse tocado, e diz-se que qualquer oração feita na sua direção irá direto para o céu.
Mas para além desta lenda, há ainda uma outra crença, segundo o que diz o povo, e que os guias turísticos repetem… quem fizer um pedido enquanto anda ao redor do sino, tocando depois nele no final da volta, então os seus sonhos haverão de se tornar realidade… e quem quiser acreditar, pode ensaiar uma voltinha.
Se existe um lugar que melhor reflete a história de Varsóvia, é a Praça do Mercado, que vamos encontrar no coração da Cidade Velha.
Originalmente, essa praça era um local de encontro, troca de mercadorias, julgamentos e outros eventos públicos. Ao longo dos séculos esta praça sofreu graves danos, como alguns incêndios, e acabou por ser completamente destruída pelos nazis, o que faz com que a atual praça seja ainda bastante recente, com menos de um século… como acontece com toda a cidade.
Atualmente, as casas coloridas da praça são reconstruções que replicam os edifícios existentes antes da guerra, restando apenas três construções originais.
A praça é o epicentro de Varsóvia e a sua área mais animada, onde encontramos lojas e bares, e nesta altura, em dezembro, está totalmente preenchida de mercadinhos de Natal, com vários quiosques, com venda de artesanato, quadros, comida e bebida… onde aproveitámos para experimentar o vinho quente local, que nos aqueceu a alma nas noites mais frias.
No centro da praça encontra-se a Sereia de Varsóvia, que representa o símbolo da cidade, uma estátua de uma sereia com uma espada e um escudo, que faz parte de uma lenda tão antiga quanto a origem da própria cidade de Varsóvia. Duas sereias irmãs, ansiosas por conhecer o mundo, entraram no mar Báltico vindas do Oceano Atlântico. Uma delas ficou em Copenhague, e por lá se mantém, e a outra continuou a sua jornada até chegar a Dansk, onde nadou ao longo do rio Vístula até chegar à Varsóvia. Já na cidade foi capturada por um comerciante maléfico e rico, até que um pescador polaco se apaixonou pelo seu choro e a salvou. A sereia prometeu que, como recompensa, defenderia a cidade de Varsóvia sempre que fosse necessário, com a sua espada e o seu escudo. Os habitantes da cidade uniram os nomes do pescador (War) e da sereia (Szawa) e batizaram a cidade de Warszawa… Varsóvia.
A estátua da sereia que está na Praça do Mercado não é a original, mas sim uma cópia moderna em zinco. A sereia de bronze original, criada por Konstanty Hegel em 1855, pode ser vista no Museu Histórico de Varsóvia.
Saindo agora um pouco da Cidade Velha, destaco aqui uma das mais importantes ruas da envolvente do centro histórico, Rua Krakowskie Przedmieście, que termina na Praça do Castelo, e onde encontramos vários monumentos e igrejas, as principais lojas da cidade, e alguns hotéis, com destaque para o edifício clássico do Hotel Bristol.
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Destaco ainda a Praça Marszałka Józefa Piłsudskiego, uma das maiores praças da cidade, onde fica o monumento ao soldado desconhecido, qua ainda iremos visitar, e o Hotel onde ficámos, o Sofitel.
Igrejas de Varsóvia
Começando junto à cidade velha vamos encontrando várias igrejas, por se tratar de uma cidade fortemente católica. Para não tornar este texto demasiado maçudo, vou falar apenas sobre as igrejas que estão no meu arquivo fotográfico, e sem fazer grandes referências à sua história nem ao interior de cada uma delas, mesmo daquelas que visitámos, algumas delas bastante bonitas… e também não vou voltar a dizer que uma determinada igreja foi arrasada durante o período da invasão nazi, e que foi reerguida posteriormente, porque isso é algo que aconteceu com todas elas, sem exceção.
Começando no centro histórico vou-me referindo a cada igreja à medida que me surgem pelo caminho, sendo a primeira a Field Cathedral of the Polish Army, ou Catedral de Campo do Exército Polaco, que fica ainda do lado de fora das muralhas da cidade velha. Trata-se de uma igreja católica construída originalmente no século XVII, em estilo barroco, e está associada ao exército da Polónia, tal como o nome indica.
Ainda do lado de fora das muralhas, mas, deste vez, muito próximo da Barbacã de Varsóvia, fica a Igreja do Espírito Santo, que foi originalmente construída em estilo gótico e está ao lado de um antigo hospital, com origem no século XIV.
Um pouco depois, se seguirmos pelo caminho paralelo às margens do rio, surge a Igreja de São Casimiro, que tem um formato algo diferenciado, com uma cúpula esverdeada, fazendo até lembrar os templos ortodoxos, apesar de se tratar de uma igreja católica romana.
Continuando na direção do rio Vístula, vamos chegar a uma igreja diferente das anteriores, por ser feita em tijolo avermelhado, a Igreja da Visitação da Santíssima Virgem Maria.
Construída inicialmente no século XV, este bonito edifício feito de tijolos é formado por dois corpos, o da igreja e uma torre de vigia.
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Voltando agora ao interior da cidade velha, vamos encontrar a Basílica Arquicatedral de São João Batista, com a sua fachada singular, com a cobertura em forma de triangulo.
A igreja remonta ao século XIV, o que faz dela a mais antiga igreja de Varsóvia, e é considerada uma das mais ilustres de toda a cidade. A sua importância histórica decorre da sua origem e também por ter sido o local de coroações reais e outras celebrações nacionais, e de ser atualmente reconhecida como Património Mundial, pela sua beleza arquitetónica e a sua conexão, bastante dolorosa, com alguns dos eventos mais devastadores que aconteceram durante a Segunda Guerra Mundial.
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Saímos agora do centro da cidade, atravessando o rio pela Ponte Śląsko-Dąbrowski, até chegarmos à Catedral de Varsóvia, chamada de Catedral de São Miguel Arcanjo e São Floriano o Mártir.
Foi consagrada em 1901 como Catedral e é formada por um corpo central construído em tijolo, com três naves e duas torres principais. É bem maior do que todas as outras igrejas da cidade e é considerada como um modelo da arquitetura sacra polaca.
Esta igreja foi destruída por uma grande explosão acionada pelos alemães durante a sua retirada de Varsóvia. Apenas sobreviveram algumas partes do edifício e das paredes, e fragmentos das estátuas dos santos padroeiros, tendo sido miraculosamente preservada a pintura de Nossa Senhora de Częstochowa.
Depois da sua reconstrução, e já em 1992, tornou-se na recém-criada catedral da Diocese de Varsóvia, por decisão do Papa João Paulo II e, em 1997, foi elevada ao estatuto de basílica.
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Ao voltarmos de novo à Praça do Castelo aproximamo-nos de mais uma igreja católica romana, a Igreja de Santa Ana.
Este templo é formado pelo edifício principal e por uma torre e, ao contrário das igrejas forradas a tijolo e com coloração avermelhada, esta surge ornamentada com elementos em pedra, o que faz com que as suas fachadas sejam em tons claros.
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Esta igreja já está localizada na principal rua da cidade, a Rua Krakowskie Przedmieście, ao longo da qual vamos encontrar as restantes igrejas a que me vou referir.
Começando pela Igreja Carmelita, junto à estátua de Adam Mickiewicz, um poeta e dramaturgo polaco, seguida da chamada Igreja Católica Romana, e da Igreja da Santa Cruz, todas elas ao longo da mesma rua.
E só mais uma última igreja, também ela católica, localizada ainda na mesma rua, a Igreja de Santo Alexandre, projetada em estilo neoclássico e remodelada mais tarde como uma igreja neorrenascentista, com uma cúpula central e ornamentada por um conjunto de seis colunas no pórtico da sua entrada principal.
Ainda existem muitas outras igrejas ao longo da cidade de Varsóvia, mas ficam apenas as referências àquelas que visitámos durante a nossa estadia na capital polaca.
Memoriais de Guerra
A história de Varsóvia está indissociavelmente ligada à da sua comunidade judaica. Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, a capital era habitada por mais de 350 mil judeus, representando um terço da população total da cidade. Em outubro de 1940, os muros de três metros de altura do gueto dividiram a capital, num ato determinado pela política antissemita do Terceiro Reich.
Ao longo da cidade vamos encontrando diversos locais onde se assinalam várias homenagens aos protagonistas dos eventos mais dolorosos que foram vividos durante a guerra.
Memoriais do Muro do Gueto de Varsóvia
São os diversos vestígios desses muros e as lápides que ali foram colocadas depois da guerra, que formam um conjunto de monumentos notáveis que assinalam a barbárie que ali foi vivida, e que melhor retratam esta página negra da cidade de Varsóvia.
Os fragmentos de muro que se encontram por vários locais da cidade, num conjunto de 22 placas indicativas que relembram os limites do gueto, nos distritos de Wola e Śródmieście, constituem os Memoriais do Muro do Gueto de Varsóvia.
Estes pedaços originais do muro que separou a população judia do resto da cidade de Varsóvia, naquele que foi o maior gueto de judeus criado pelos nazis em todas as cidades invadidas, e as placas que recordam o que ali se passou, são um importante testemunho, que nos arrepia e nos faz sentir incomodados, só de imaginar o que ali aconteceu... ainda assim, e para que a memória perdure e não nos deixe cair em esquecimento, devemo-nos sujeitar a essa sensação de desconforto.
Monumento aos Heróis de Varsóvia
Trata-se de uma estátua que é também chamada de monumento Nike, pela semelhança da figura representada com a imagem da deusa grega da vitória, conhecida pelo nome de Nike, que deu origem à famosa marca de artigos desportivos.
Esta estátua representa todos aqueles que morreram na cidade durante a segunda guerra, entre 1939 e 1945, incluindo os participantes da defesa de Varsóvia em setembro de 1939, os participantes da Revolta do Gueto de Varsóvia e todas as vítimas do terror alemão na capital ocupada.
No alto de um pedestal de granito representa-se a escultura de uma mulher inclinada, com uma espada na mão direita erguida acima da cabeça, numa alusão à capacidade de resistência do povo polaco ao ser invadido e humilhado.
Monumento aos Heróis do Levante do Gueto
Este monumento é um símbolo comovente de resistência e lembrança, que foi erguido em 1948, e homenageia a bravura e a resiliência dos combatentes judeus durante o Levante do Gueto de Varsóvia de 1943.
A sua construção utilizou granito sueco que, originalmente, era destinado a um monumento nazi, já programado, e que aqui forma um imenso bloco, com uma caixa ao centro de onde saem as imagens esculpidas em bronze dos heróis que protagonizaram esta rebelião contra os nazis.
O monumento, que fica localizado junto ao Museu Polin, onde se representa a história dos judeus polacos, não é apenas um tributo àqueles que lutaram naquele dia de insurreição, mas também uma memória pungente sobre o destino trágico dos habitantes do gueto durante todo o período da ocupação alemã.
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Túmulo do Soldado Desconhecido
No imenso jardim de Saxon Garden, no centro da capital polaca, fica um pequeno mausoléu com três arcos centrais, que assinala a morte de heróis sem nome que lutaram pela independência polaca, ao longo de toda a sua história.
O monumento foi erguido inicialmente em 1925, e é uma forma de homenagem aos soldados não identificados que morreram na defesa de sua pátria.
Durante a ocupação nazi este monumento foi abandonado, e a chama que ali ardia foi apagada. Mas depois do fim da guerra, em maio de 1946, a chama eterna foi novamente acesa e foram colocadas no seu interior do pequeno mausoléu, várias urnas com o solo recolhido de 24 campos de batalha, e foi assim reaberto o Túmulo do Soldado Desconhecido.
A troca cerimonial da guarda e a colocação de coroas de flores por representantes das autoridades, acontecem aqui durante os feriados nacionais, mas a Guarda de Honra ao túmulo funciona 24 horas por dia e é realizada por soldados do exército polaco.
Monumento à Revolta de Varsóvia
Este monumento representa e homenageia os heróis da Insurreição do Gueto de Varsóvia, a revolta da população judaica juntamente com o Exército da Pátria durante a ocupação alemã.
Durante esta batalha morreram cerca de 20 mil revoltosos e mais de 180 mil civis e, com a derrota esperada desta rebelião, os alemães expulsaram os habitantes que sobreviveram e iniciaram a planeada demolição e incêndio de toda a cidade de Varsóvia.
O monumento foi inaugurado em 1989 e é formado por uma escultura de bronze que retrata um grupo de lutadores em combate, sob as ruínas de um prédio em colapso.
Uma estrutura menor mostra alguns revoltosos entrando numa caixa de esgoto, sabendo-se que o sistema de esgotos foi usado, para acesso e fuga, durante esta revolta.
Termino com esta imagem que relembra um dos últimos momentos do martírio dos habitantes de Varsóvia, principalmente do povo judeu, numa altura em que já poucos sobreviviam neste inferno que os alemães ali criaram. Para agravar ainda mais a existência de um povo completamente destroçado, as tropas nazis iriam ainda destruir e queimar tudo o que ainda restava, deixando a cidade totalmente arrasada.
A Varsóvia moderna que hoje encontramos, e que recupera a sua identidade original, foi o resultado de um esforço colossal de reconstrução de uma cidade em escombros, de todo um povo, mas também dos sucessivos governos, que, naquela altura, eram fortemente suportados pelo bloco soviético, e esse mérito não pode deixar de ser assinalado.
Ao percorrermos as ruas de Varsóvia e ao apreciarmos os seus monumentos e igrejas, e a arquitetura pitoresca que se encontra por todo o lado, e principalmente na Cidade Velha, não deveríamos deixar de refletir, olhando para esta cidade como um imenso memorial ao sofrimento dos seus habitantes e ao esforço necessário para se reerguerem das cinzas, recriando a bonita cidade que hoje encontramos… e com essa reflexão profunda, é impossível não nos deixarmos emocionar.
Dezembro de 2009
Carlos Prestes