PRESTES A PARTIR
Crónicas das viagens de uma vida relatadas na primeira pessoa
quarta-feira, 15 de outubro de 2025
Aldeias e vilas da Puglia
No coração do Sul de Itália, a Puglia revela-se como um mosaico de aldeias encantadoras, onde o tempo parece fluir devagar e a autenticidade continua quase intacta. Entre oliveiras centenárias e o azul intenso do Adriático, surgem pequenas localidades que preservam tradições, sabores e marcas arquitetónicas singulares.
Alberobello, com os seus trulli, de pedra branca e telhados cónicos, é o exemplo mais marcante, parecendo saída de um conto antigo. Não muito longe, Locorotondo, de forma circular perfeita, encanta pelas varandas floridas e pelos vinhos aromáticos. E pouco depois surge Ostuni, que se ergue no alto de uma colina, branca e resplandecente, com as suas casas caiadas que refletem o sol do Mediterrâneo.
.jpg)
Durante um dia completo, visitámos estas três aldeias, começando por Alberobello e descendo depois de Norte para Sul, seguindo aproximadamente os trilhos representados neste mapa, até terminarmos o dia na cidade de Lecce.
Alberobello
Localizada na região da Puglia, Alberobello é famosa pelos seus trulli, a casas tradicionais de pedra com telhados cónicos, classificadas como Património Mundial da UNESCO. Esta é a principal atração de toda a Pugia, pelo aspeto diferenciado das suas casas, que nos faz parecer que estamos numa aldeia de um qualquer conto encantado.
Chegámos durante a noite, vindos de Monopoli, depois de uma breve passagem pelo hotel, localizado numa quinta nas imediações da aldeia. Começámos por jantar num dos muitos restaurantes, cujas esplanadas ocupam as principais ruas e praças da zona baixa.
Experimentámos uma das especialidades da Puglia, o orecchiette con cime di rapa e stracciatella, umas massas com forma de pequenas orelhas, com grelos de nabo e creme de queijo stracciatella… apesar de parecer estranho, é bastante bom.
.jpg)
Quando a noite cai, a pequena cidade dos trulli revela um encanto ainda mais profundo. As luzes suaves acariciam os telhados cónicos de pedra, projetando sombras delicadas pelas ruelas estreitas. O silêncio é pontuado pelo murmúrio das conversas dos visitantes, rendidos à magia do lugar. As fachadas brancas, iluminadas pelo brilho dos candeeiros, devolvem uma luz quente que cria um ambiente acolhedor e romântico.
.jpg)
É como se fossemos transportados para um cenário de fantasia, das ruas adornadas com luzes e enfeites, às chaminés que guardam antigos símbolos, talvez portadores de significados misteriosos. Caminhar por Alberobello à noite é como entrar no cenário de um conto, onde a história e a arquitetura se entrelaçam em perfeita harmonia.
No dia seguinte, acordámos em pleno campo, num espaço rural muito acolhedor a fazer lembrar as villas toscanas, embora com a presença, aqui e ali, de alguns aglomerados com as famosas casas dos telhados cónicos.
Já perto da aldeia, mal estacionamos e somos imediatamente envolvidos por um mar de trullis que se espalham por todos os lados. À luz do dia parecem incontáveis, e são mesmo muitos, Alberobello conta com mais de mil destas construções singulares, muitas delas transformadas em lojas, cafés ou pequenas pousadas.
.jpg)
Os trulli de Alberobello são construções tradicionais desta região de Itália, reconhecidas pelas suas paredes de pedra seca e, sobretudo, pelos tetos cónicos característicos. A sua origem remonta à Idade Média, embora estruturas semelhantes já existissem na área desde tempos pré-históricos.
Foi entre os séculos XV e XVII que os trulli ganharam a forma e a função que hoje conhecemos. Nessa época, Alberobello encontrava-se sob o domínio dos Condes de Nápoles, famílias espanholas da Casa de Aragão, que impunham uma política fiscal pesada e opressiva. Para escapar aos impostos cobrados sobre os povoados permanentes, os camponeses começaram a erguer as suas casas sem argamassa, utilizando uma técnica que permitia desmontar rapidamente as construções sempre que fosse necessário. Assim nasceram os trulli, habitações simples, mas engenhosas, adaptadas às condições fiscais e agrícolas da época, e resistentes ao tempo.
No século XVIII, Alberobello recebeu o título de “cidade real”, libertando-se da autoridade feudal. A partir daí, os trulli deixaram de ser construídos por necessidade, mas continuaram a ser erguidos como símbolo da tradição arquitetónica e cultural da região.
Hoje, o centro histórico da aldeia é inteiramente formado por estas peculiares construções. Os seus bairros, uns mais elegantes e outros mais rústicos, estendem-se em ruelas pitorescas ladeadas por estas encantadoras casas de pedra que conferem a Alberobello um charme único.
Ao chegarmos a Alberobello, seguimos pela estrada que atravessa o vale onde a aldeia se estende, até virarmos para a encosta do lado esquerdo, ocupada pelo bairro do Rione Monti, o mais emblemático de toda a povoação e o maior aglomerado de trulli do mundo, e que hoje se destaca sobretudo pelas suas ruas principais, a Via Monte San Michele ou a Via Monte Nero, que estão entre as mais pitorescas de Alberobello.
As ruas deste bairro formam um cenário encantador onde os telhados cónicos, os pináculos de pedra e os símbolos pintados se misturam com flores, varandas e pequenos becos, criando uma harmonia visual única. Com o passar do tempo, muitas destas antigas habitações rurais foram adaptadas e transformadas em lojas de artesanato e iguarias locais, restaurantes e pequenos alojamentos, tornando o Rione Monti o centro mais turístico e animado desta povoação.
No ponto mais alto do bairro ergue-se a Igreja de Sant'Antonio di Padova, construída em 1927, um raro exemplo de templo religioso em forma de trullo, que reforça a identidade singular e o carácter fascinante deste lugar único.
.jpg)
Descendo a encosta, chegamos ao Largo Martellotta, o principal ponto de encontro de Alberobello e o centro da sua vida quotidiana e turística. Localizado na parte baixa da aldeia, entre os bairros do Rione Monti e do Rione Aia Piccola, este largo marca a transição entre a zona comercial e as áreas históricas dos trulli.
Rodeado por restaurantes, cafés, gelatarias e lojas de produtos típicos, o Largo Martellotta é o local ideal para fazer uma pausa, saborear a gastronomia local ou simplesmente apreciar o movimento da aldeia. Foi ali que jantámos na noite anterior, num ambiente particularmente agradável, que ganha ainda mais encanto ao entardecer, quando o espaço se enche de visitantes e o ar se enche de uma energia acolhedora e descontraída.
.jpg)
Em pleno Largo Martellotta é visível a torre de uma igreja, a Chiesetta Rettoria SS. Sacramento e Santa Lucia, que é um dos templos mais importantes de Alberobello, apesar das suas dimensões modestas.
Do adro em frente à igreja, abre-se uma das vistas mais fotogénicas da aldeia, com os telhados cónicos do Rione Monti a perder de vista. É um ponto de paragem obrigatório para quem deseja apreciar o encanto tranquilo desta aldeia única.
.jpg)
Prosseguindo pela encosta junto à igreja, entramos no outro grande bairro de trulli, o Rione Aia Piccola. Menos turístico do que o seu vizinho, que ocupa a colina oposta, este bairro destaca-se pela sua autenticidade e tranquilidade. Longe das lojas e do movimento intenso, é o lugar ideal para apreciar algo mais próximo do ambiente original dos antigos habitantes.
Com cerca de 400 trulli, o Rione Aia Piccola conserva a estrutura e o espírito tradicional de Alberobello, preservando as casas em pedra seca que ainda hoje são habitadas por residentes locais. As suas ruelas estreitas e silenciosas convidam a um passeio sem pressa, onde cada recanto revela o charme simples da arquitetura popular e o quotidiano sereno dos seus moradores.
Foi esta a última etapa da nossa visita a esta aldeia tão singular, que impressiona não pela grandiosidade, mas pela autenticidade, e talvez seja precisamente isso que a torna tão especial. Terminar a visita a Alberobello é concluir uma experiência verdadeiramente única, e uma das mais marcantes de toda a Puglia.
Esta pequena aldeia, com os seus mais de mil trulli de pedra branca e telhados cónicos, é um exemplo notável de engenho e tradição popular italiana. Entre o charme das ruelas do Rione Monti, a autenticidade do Rione Aia Piccola e a vida animada do Largo Martellotta, Alberobello revela um equilíbrio perfeito entre história, cultura e quotidiano.
Cada recanto convida à descoberta, a uma nova fotografia ou a uma pausa merecida - seja para admirar a arquitetura, saborear a gastronomia local ou simplesmente observar o ritmo sereno da vila, enquanto se desfruta de um copo de vinho da região.
Junho de 2025
Carlos Prestes
Prestes a Partir – Blogue de Viagens
Este Blogue surgiu pela sugestão, quase persistente, de vários amigos, que foram também companheiros de algumas das viagens que aqui vou relatar, e constitui, sobretudo, um veículo para fazer perdurar as memórias e emoções vividas ao longo de mais de três décadas, por quase 40 países e 300 locais, que aqui vou tentar recordar.
Aqui encontraremos crónicas detalhadas de cada viagem, sendo o acesso a cada uma dessas crónicas feito através dos links ativos que surgem ao longo do índice representado nas páginas que organizei por continentes, sendo que, até agora, a grande maioria dos locais visitados e aqui descritos, ficam no continente europeu, esperando gradualmente vir a visitar outros destinos mais longínquos, cujas crónicas irei trazendo a este espaço.
Complementando ainda a narrativa exibida na forma de crónicas detalhadas, mostro-vos um breve registo feito em vídeo, com algumas das viagens relatadas, apresentando as principais fotos que foram utilizadas.
Estas crónicas não são um espaço de escrita apenas pessoal, porque as viagens aqui descritas foram muitas vezes uma partilha de experiência e emoções com aqueles que me acompanharam. Desde logo a minha companheira de todas as aventuras de uma vida e cúmplice desta paixão de viajar, a minha mulher Ana Lúcia, a quem vou dedicar cada um dos textos e imagens que aqui venha a registar. Às minhas quatro filhas, nem sempre companheiras de viagem, mas sempre as principais fontes de inspiração, dedico também cada uma das memórias que aqui vou relatar.
Estas crónicas não são um espaço de escrita apenas pessoal, porque as viagens aqui descritas foram muitas vezes uma partilha de experiência e emoções com aqueles que me acompanharam. Desde logo a minha companheira de todas as aventuras de uma vida e cúmplice desta paixão de viajar, a minha mulher Ana Lúcia, a quem vou dedicar cada um dos textos e imagens que aqui venha a registar. Às minhas quatro filhas, nem sempre companheiras de viagem, mas sempre as principais fontes de inspiração, dedico também cada uma das memórias que aqui vou relatar.
Vou também escrever para quem me queira ler, quem queira conhecer os meus relatos, não apenas pela curiosidade mas também pela informação que vou tentar transmitir, tornando este Blogue numa espécie de guia de viagens. Não terei a preocupação de ser consensual nas escolhas que aqui vou relatar, pelo contrário, tentarei ser sempre fiel às viagens que fiz, tal como as fiz, sem quaisquer filtros, ainda que, em várias situações, um determinado destino ou uma determinada escolha não se tenham revelado como os mais favoráveis. O registo de viagens que aqui vou referir será necessariamente o meu, com a minha busca daquilo que mais gosto, da forma e no ritmo que entendi ser o mais adequado a cada situação e em cada local. Não existem fórmulas para que uma viagem cumpra o seu objetivo de nos encher a alma e nos fazer sentir vivos, por isso, cada um de vós, leitores, terá de seguir o seu próprio caminho e escolher o seu próprio ritmo, tal como eu e os meus parceiros de viagem, seguimos e escolhemos os nossos.
Antes de iniciar a escrita senti necessidade de organizar a forma de apresentação dos relatos de cada viagem, sabendo que algumas estão ainda bastante presentes e outras estão já muito distantes. Mas, para que esse efeito de memória, mais viva ou mais vaga, não se torne evidente na escrita, decidi recordar cada uma das viagens de forma totalmente aleatória. E será desta forma que serão publicados, pela ordem em que os vou escrevendo e não pela sua ordem cronológica.
Termino com a ligação a uma outra página, para quem pretenda uma visão mais instantânea de alguns lugares, sem entrar no detalhe que o formato da crónica impõe, recomendo também a ligação ao Blogue que criei recentemente com esse conceito mais light. Neste caso, e como o nome indica, a cada foto corresponderá apenas uma breve história ou descrição:
(site em construção)
Carlos Prestes
Abril de 2015
José Carlos Prestes
Email
Canal Youtube
Instagram
Facebook
Engenheiro Civil e Professor no Instituto Superior de Engenharia de Lisboa
Canal Youtube
Engenheiro Civil e Professor no Instituto Superior de Engenharia de Lisboa
Local:
Portugal
quinta-feira, 28 de agosto de 2025
Prestes a Partir - EUROPA
A grande maioria das viagens que realizei ao longo de cerca de quarenta anos foram feitas pelo continente europeu, que percorri de Norte a Sul, visitando mais de trinta países, como se representa no mapa seguinte. Nestas viagens visitei várias vezes alguns destes países, cujas crónicas podem ser consultadas nos links que apresento na lista abaixo (embora, alguns deles estejam inativos, por estarem ainda por escrever).
Itália
França
- Paris
- Disneyland
- Córsega
Espanha
- Barcelona
- Menorca
- Ibiza
- Maiorca
- Pirenéus
- Andorra - Valldnort - País Basco, Cantábria, Navarra e La Rioja
- Outras Cidades do Norte (Aragão e Castela-Leon)
Ilhas Britânicas
- Londres
- República da Irlanda
- Escócia
Europa Central
- Alemanha
- Áustria
- Bélgica
Europa de Leste
- Praga
- Polónia
Escandinávia
- Helsínquia
- Noruega, dos fiordes ao sol da meia-noite
Grécia
- Atenas
- Ilhas Gregas
Portugal
- Minho
- Alentejo
quarta-feira, 27 de agosto de 2025
Prestes a Partir - AMÉRICA
Estados Unidos
- New York
- Florida
- Costa Leste
México
- Cidade do México
- Riviera Maia
Brasil
- Natal
- Pernambuco e Alagoas
Caraíbas
- Cuba
- Bahamas
- República Dominicana
Voltar à página inicial do Blog
Subscrever:
Comentários (Atom)
.jpg)
.jpg)
.jpg)
.jpg)
.jpg)
.jpg)
.jpg)
.jpg)
.jpg)
.jpg)


