Vale do Reno
Fizemos um percurso de 190 Km atravessando a fronteira com a Alemanha, entrando no vale do rio Rhein ou Reno, como o conhecemos, que iremos percorrer ao longo das suas margens, passando por aldeias pitorescas, por encostas de um verde vivo, algumas cobertas de vinha, e onde se salientam os vários castelos e palácios que marcam a paisagem do vale. No final do dia chegaremos a algumas das grandes cidades alemãs que são banhadas pelo rio Reno.

Desde a colonização dos países por onde passa, o rio Reno constituiu sempre uma fronteira bem demarcada. No vale e nos terrenos envolventes foram crescendo pequenos burgos, alguns deles que são ainda hoje pequenas aldeias, mas outros acabaram por se transformar em grandes cidades de cada um dos países atravessados. Foram também construídas diversas fortificações ao longo do curso do rio, que dominam e caracterizam a paisagem do vale. Atualmente, uma das principais atrações do vale são mesmo os numerosos castelos e fortificações visíveis sobre as escarpas, a maioria deles construídos entre a idade média e o barroco, demarcando cada zona dominada pelos senhores e nobres que controlavam o vale.
Com o seu potencial agrícola, pastoril, piscatório, eólico e hidroelétrico, o vale do Reno tornou-se numa das mais importantes regiões comerciais da Europa, desde a Idade Média até aos dias de hoje.
Em 2000, a UNESCO inscreveu uma parte do vale do Reno, numa extensão de 65 km, como património mundial da humanidade.
Começámos a nossa viagem ao vale do Reno pela aldeia de Boppard. Uma aldeia muito mimosa, entre as encostas cobertas de vinha e o rio, com a presença do habitual castelo no topo da colina e com edifícios que parecem quase casas de bonecas.
Percorremos cada uma das ruas da aldeia até chegarmos à beira do rio, até ao cais onde chegam e partem barcos que fazem os passeios, subindo ou descendo o rio, o que constitui um dos programas turísticos mais procurados em toda a Alemanha. E assim entrámos no próprio vale e na típica paisagem, com um rio largo que corre para Norte entre colinas, maioritariamente cobertas por vinha, onde vão surgindo, como se estivéssemos em pleno conto de fadas, castelos e palácios de épocas, tipos e tamanhos diversos.
Por isso, a quem queira visitar a Alemanha ou o centro da Europa, deixo o conselho para não perder a visita a este vale… seja de carro ou de barco, este deverá ser um local obrigatório.
A paisagem é indiscutivelmente muito bonita, mas já os vinhos, ficam a anos de luz dos nossos e particularmente daqueles que se fazem nas encostas do nosso vale do Douro.
Bona
Ao fim de cerca de 90 km pelo Vale do Reno, acompanhando o rio na sua descida até ao mar, chegámos a Bona, a antiga capital da República Federal Alemã, antes da reunificação que se verificou após a queda do muro de Berlim em 1989.
Percorremos o centro histórico da cidade, que não é mais que um conjunto de meia dúzia de praças e as ruas que as ligam, semelhantes às da maioria das cidades alemãs, embora neste caso sejam visíveis várias alusões à sua figura maior, o compositor Ludwig van Beethoven.
Resolvemos percorrer a pequena teia de ruas e praças da cidade, começando pelo seu centro, a Münsterplatz, com a estátua de Beethoven, como anfitrião de quem ali chega.
E logo depois continuámos até à Beethoven-Haus, a casa-museu do compositor, onde visitámos algumas das relíquias do espólio de um dos criadores mais marcantes na história da música. Beethoven ficou conhecido, tanto pela sua magnífica obra, como pela sua surdez, aparentemente incompatível com a criação musical mas que, neste caso, não o impediu de continuar a compor. Registo por exemplo que, na sua última década de vida, numa fase em que já estaria completamente surdo, conseguiu ainda compor 44 obras musicais. Ao morrer, em 1827, estava a trabalhar numa nova sinfonia e projetava escrever ainda um Requiem.
Mas a visita ao museu não nos leva à dimensão do compositor, aliás, nada nos poderá transportar até à grandeza de tal figura a não ser a sua própria música. Por isso, nada será melhor para nos aproximarmos de Ludwig van Beethoven do que escutar atentamente alguma das suas composições, só assim conseguiremos um conhecimento mais profundo sobre o autor de obras-primas como o Hino à Alegria, que faz parte da 9ª sinfonia, ou o concerto para piano Für Elise. Mas o museu não nos transmite essa magia que só a música nos pode dar. E sendo assim, acabámos por comprar algum merchandising… que é o que se costuma fazer neste tipo de museus.



Foi uma paragem curta mas suficiente para aquilo que a cidade tem para oferecer. O centro é interessante, embora muito semelhante a outras cidades alemãs, mas com a particular presença da sua figura mais ilustre, o compositor Ludwig van Beethoven. Impressionaram-nos também alguns bairros com vivendas clássicas, quase apalaçadas, que terão sido ocupadas pelos diversos membros do corpo diplomático, na época em que Bona era a capital administrativa da chamada Alemanha Ocidental.
Ainda ao longo do Reno, mas agora já por autoestrada, fizemos mais 30 Km e chegámos à maior das cidades alemãs desta zona, Köln, ou Colónia. Fizemos o check-in num hotel bem perto da imensa e majestosa catedral e saímos para uma cidade animadíssima onde as pessoas enchiam as ruas, praças e os espaços verdes junto às margens do Reno. Jantámos numa das muitas esplanadas e, desta vez, quisemos escolher comida alemã, como as típicas salsichas, e para beber, umas weizenbiers, a cerveja de trigo alemã que foi sempre a minha escolha preferida nas várias visitas que tenho feito à Alemanha.
Desta vez deixámo-nos ficar até depois da meia-noite para conseguirmos assistir a um pôr-do-sol verdadeiro, de modo a que a escuridão da noite se instalasse, fazendo realçar algumas imagens lindíssimas que a noite de Colónia nos oferece, com os principais monumentos iluminados, sobretudo a Catedral, a igreja de Sankt Martin e a ponte metálica Hohenzollernbrücke, proporcionando uma paisagem magnífica.

Colónia
Reservámos toda a manhã para uma visita à cidade de Colónia. Voltámos à Kölner Hauptbahnhof, a Estação Central de Colónia, que é uma das mais movimentadas estações ferroviárias da Alemanha, com uma estimativa de 280 mil viajantes diários. A estação está umbilicalmente conectada à via-férrea proveniente de Sudeste, através da ligação sobre a ponte de Hohenzollern que cruza o rio Reno. A estação, para além ser um polo ferroviário determinante para aquela zona do país, é também o interface principal de ligação a todos os transportes públicos que operam na cidade.
O edifício da estação é ainda uma importante obra de engenharia, concebido com várias naves de grandes dimensões, com cúpulas construídas em estrutura metálica, que lhe conferem uma dimensão majestosa.
Chegámos assim à grande catedral, a Kölner Dom, um monumento considerado pela UNESCO como património da humanidade, é a terceira igreja mais alta do mundo e é indiscutivelmente o símbolo desta cidade. Atrai mais de seis milhões de turistas por ano, o que lhe dá o estatuto do local turístico mais visitado da Alemanha.
A construção da igreja de estilo gótico começou no século XIII e levou mais de 600 anos para ser acabada. A sua nave central tem um comprimento de 144 m e uma largura de 86 m, e as duas torres têm 157 m de altura. Quando foi concluída, em 1880, era o edifício mais alto do mundo. A catedral é dedicada a São Pedro e à Nossa Senhora.

Segundo a lenda que envolve esta Catedral, no seu interior estará guardado o relicário de ouro com os restos mortais dos Três Reis Magos, Baltazar, Belchior e Gaspar. Conta a história que, em 1164, foram trazidas de Milão as supostas ossadas dos Três Reis Magos e que as mesmas estarão guardadas atrás do altar, numa arca de ouro e prata, ornamentada com pedras preciosas. A arca está lá, as ossadas talvez também lá estejam, agora se são ou não dos Reis Magos, isso já dependerá da fé de cada um.

A marca da flagrância Nº 4711, a água-de-colónia da empresa alemã Mäurer & Wirtz GmbH & Co, obteve a denominação da empresa e respetiva marca devido à morada do edifício da sua loja original, na Rua Glockengasse nº 4711, bem no centro da cidade de Colónia.
Chegados à margem Norte entramos no coração da Cidade Velha, com as suas casas típicas e os espaços verdes junto ao rio, a zona do Fischmarkt. Mais atrás fica o Alter Markt e a praça da câmara municipal da cidade, o Historisches Rathaus. E bem no meio destes aglomerados que formam a cidade velha, sobressai a Gross Sankt Martin, a grande Igreja de Saint Martin, uma igreja românica católica cuja origem dos atuais edifícios remonta ao século XII. A igreja foi muito danificada na Segunda Guerra Mundial tendo sido sujeita a trabalhos de restauração profundos que foram concluídos em 1985.
A envolvente à cidade velha é uma zona ocupada por restaurantes, bares e esplanadas, onde se misturam habitantes e turistas.
Neste dia preparava-se uma festa de orgulho gay e por isso as ruas estavam preenchidas de uma forma um bocadinho peculiar… com muita gente, digamos que, “orgulhosa”.
Saímos do centro pela Hohe Straße, a principal rua comercial de Colónia, constituída pelo trajeto pedonal entre a Praça Wallraf e a Rua Porte. Na extremidade desta rua chegámos de novo a praça Domplatte junto à Catedral, onde terminámos a visita à cidade.

Düsseldorf
Seguimos viagem mais 40 km até Düsseldorf, o último destino nas margens do Reno.
Durante alguns anos, no início da década de 2000 fiz várias viagens a esta cidade sempre em trabalho e, por isso, sem grandes memórias. Tal como a maioria das cidades alemãs não deslumbra mas tem sempre algum interesse. Düsseldorf é marcada pela forma como os seus habitantes utilizam as ruas que se transformam em autênticos bares e cervejarias através de esplanadas contínuas, quer seja verão ou inverno, onde eles bebem as suas cervejas de final de tarde, nos dias de semana, ou ao longo de todo o dia, nos sábados.
Algumas mangueiras deixavam sair esguichos de água que pulverizavam as ruas para refrescar quem passava, fazendo lembrar o hábito andaluz nas tórridas “calles” de Sevilha.


Daquilo que vimos deste Benelux ficam alguns lugares interessantes como Bruges e Bruxelas e outros mesmo encantadores, sobretudo Kinderdijk, Gent, ou o Vale do Reno, incluindo a cidade de Colónia mas, no global, foi uma viagem muito interessante mas não arrebatadora, embora falte ainda acrescentar a parte de Amesterdão.
Registo ainda que se trata de uma das zonas mais caras, tanto em hotéis como em restaurantes, por onde viajámos nos últimos anos, pior do que, por exemplo, Itália, França e mesmo Inglaterra, e este facto também condiciona alguns graus de liberdade.
Carlos Prestes
Julho de 2015