Vindos do Luxemburgo, num percurso que fizemos pelo chamado Benelux - Belgic, Nederland e Luxemburg - chegámos à Alemanha junto a um dos seus principais cursos de água, o rio Reno.
Depois de um trajeto de 190 Km entre a capital do Luxemburgo e a fronteira com a Alemanha, entrámos no vale do rio Rhein, ou Reno, como o conhecemos, que percorremos ao longo das suas margens, passando por aldeias pitorescas, por encostas pintadas por um verde vivo, algumas cobertas de vinha, e onde se salientam os vários castelos e palácios que marcam a paisagem do vale.
No final do dia haveríamos de chegar a algumas das grandes cidades alemãs, que são banhadas por este rio, percorrendo, mais ou menos, o seguinte percurso:
O Vale do Reno é a região envolvente deste rio, que se estende desde os Alpes até aos Países Baixos. O rio Reno nasce nos Alpes suíços e percorre a Europa no sentido Sul-Norte, atravessando a Suíça, o Liechtenstein, a Áustria, a França, a Alemanha, e segue depois até à sua foz na costa da Holanda, onde se forma um extenso delta. Neste trajeto o Reno percorre um total de 1.230 km, o que faz
dele um dos rios mais longos de toda a Europa.
Desde a colonização dos países por onde passa, o rio Reno constituiu sempre uma fronteira bem demarcada. No vale e nos terrenos envolventes foram crescendo pequenos burgos, em que alguns deles são ainda hoje pequenas aldeias, mas outros acabaram por se transformar em grandes cidades de cada um dos países atravessados. Foram também construídas diversas fortificações ao longo do curso do rio, que dominam e caracterizam a paisagem do vale. Atualmente, uma das principais atrações do vale são mesmo os numerosos castelos e fortificações visíveis sobre as escarpas, a maioria deles construídos na Idade Média, demarcando cada zona dominada pelos senhores e nobres que controlavam os vales.
E é por isso que a história do Vale do Reno está profundamente ligada aos seus castelos medievais, que serviam como fortalezas e postos de
cobrança de impostos, ao longo de todo o rio, sendo determinantes para as inúmeras batalhas feudais, alianças e intrigas, que ali aconteceram ao durante séculos.
Atualmente este vale tem um enorme potencial agrícola e pastoril, mas também ao nível da produção de energia, eólica e hidroelétrica, pelo que se tornou numa das mais importantes regiões comerciais da Europa. Além disso, este rio constitui também um importante polo turístico, sobretudo na parte alemã do seu percurso. Em 2000, a UNESCO inscreveu uma parte do vale do Reno, numa extensão de 65 km, como património mundial da humanidade.

Castelo de Stahleck
Este castelo foi construído por volta do ano 1100 e fica localizado no alto de uma colina, com vista para a pequena cidade de Bacharach.
O castelo sofreu diversos conflitos ao longo da sua vida e teve se ser reconstruído várias vezes, e só em 1925 foi objeto da reconstrução final, que lhe deu o aspeto que conhecemos atualmente, com umas bonitas fachadas, dominadas pela sua torre central, mas também pela sua envolvente, com campos de vinha a preencherem as encostas da colina.

Castelo Pfalzgrafenstein
Subindo para Norte pela margem esquerda, surge o castelo seguinte, que ocupa uma ilha mais próxima da margem direita, perto de Kaub. O Castelo de Pfalzgrafenstein é famoso pelo seu formato diferenciado da maioria dos castelos tradicionais, e é frequentemente chamado de “navio de pedra”.
A sua história é bastante rica, com origem no ano de 1327, mandado construir pelo rei Luís IV da Baviera, com a função primária de servir como fortaleza, mas também como posto de cobrança de impostos, uma espécie de portagens para quem atravessava estas terras e, neste caso, por estar numa ilha, servia também para facilitar o controle do tráfego fluvial.
Castelo Gutenfels
Muito perto deste castelo surge um outro, que é chamado de Burg Gutenfels, e ocupa o alto de uma colina com extensos campos de vinha, e com o aspeto de uma fortaleza tradicional, com torres e ameias, num conjunto que forma uma paisagem bastante bela.
A imagem é indiscutivelmente bonita, mas já os vinhos que ali se produzem, que provámos durante o almoço, ficam a anos de luz dos nossos e, particularmente, daqueles que se fazem nas encostas do vale do nosso Douro vinhateiro, com algumas semelhanças paisagísticas, com a vinha em socalcos, mas sem o mesmo resultado na qualidade do vinho produzido.
Castelo Katz e Castelo Maus
A pouco mais de 10 km pela margem direita, vamos encontrar na margem oposta mais dois dos castelos deste vale, os Castelos Maus e Katz, o que significa, os castelos do gato e do rato.
O nome destes castelos é curioso, pois foi atribuído o apelido Katz (gato) e Maus (rato) por serem dois castelos vizinhos de famílias rivais, que se opunham constantemente num jogo do gato e do rato.
O Castelo Katz foi construído em1371 pelo Conde Wilhelm II de Katzenelnbogen, ocupando uma posição estratégica, sobre a encosta íngreme, para proteger a cidade de St. Goarshausen e controlar o tráfego no rio.
Durante as guerras napoleónicas, o castelo foi severamente bombardeado e acabou em ruínas. Somente no final do século XIX foi reconstruído, desta vez em estilo romântico, mantendo o visual de conto de fadas que nos encanta quando observamos as suas fachadas.
O Castelo Maus foi construído em 1388 pelo arcebispo de Trier, Boemundo II, para proteger as suas terras e cobrar impostos... andam todos ao mesmo, e até hoje.
O castelo resistiu por séculos, mas sofreu danos profundo durante algumas guerras, tendo sido parcialmente destruído no século XVII. Foi restaurado no final do século XIX e, hoje, é um dos castelos mais pitorescos do vale do Reno. A sua torre alta e as muralhas bem preservadas dão a imagem de um verdadeiro castelo medieval, mas a sua beleza resulta sobretudo da paisagem do rio e das encostas envolventes, com os campos muito verdes, da vegetação natural e da vinha ali plantada.
A paragem seguinte levou-nos a conhecer uma das aldeias do vale, ainda na margem esquerda do rio. Trata-se de Boppard, uma aldeia muito mimosa, localizada entre as encostas cobertas de vinha e o rio, com a presença do habitual castelo no topo da colina e com as chamadas casas de enxaimel, contruídas com ripas de madeira à vista, que parecem quase casas de bonecas.

Percorremos cada uma das ruas desta aldeia até chegarmos à beira do rio, junto ao cais onde chegam e partem os barcos que fazem os passeios, subindo e descendo o rio, o que constitui um dos programas turísticos mais procurados nesta zona da Alemanha... e aqui poderíamos ter escolhido fazer uma passeio de barco, em vez de continuarmos pela estrada.
Não sei qual será a melhor solução para visitar este vale, e isso dependerá, naturalmente, daquilo que cada pessoa mais aprecia. Por um lado temos a alternativa mais imersiva de entramos num barco que vai parando em cada uma das atrações ao longo do rio; ou podemos ir de carro, seguindo pela margem e parando onde e quando quisermos, sempre sozinhos e não entre uma multidão de turistas numa espécie de aquário de vidro... que é o que nos faz lembrar este tipo de barcos.
Percebe-se qual é a minha escolha natural. E foi assim que fizemos, saindo de Boppard para Norte, continuando a descida do rio sempre de carro pela estrada marginal, parando nas aldeias mais típicas e nos vários miradouros que vão aparecendo ao longo das margens e que nos permitem contemplar as bonitas paisagens do vale.
E lá seguimos de carro, mas sem deixarmos de nos aproximar de alguns pontos onde é possível contemplar as belas paisagens que este rio vai proporcionando.
E além das belas paisagens do rio, vão voltando a aparecer novos castelos e palácios de épocas, tipos e tamanhos diversos... como se estivéssemos em pleno conto de fadas.
O próximo surge no alto da colina que se ergue na margem direita, junto à povoação de Braubach... trata-se do imponente castelo de Marksburg,
É uma fortaleza autêntica do século XII, e é um dos exemplos mais bem preservados daquilo que é um castelo medieval do Vale do Reno. Este é o único dos castelos deste vale que nunca foi destruído e reconstruído, talvez pela sua localização, quase empoleirado no alto de um rochedo, certamente de difícil acesso para as forças inimigas.
Quem viajar pela margem direita do rio, ou vier de barco e parar em Braubach, pode fazer a visita ao Castelo, que oferece um belo exemplo de uma construção medieval bastante bem preservada. Mas a alternativa mais comum será apreciarmos à distancia a silhueta deste bonito castelo.

Stolzenfels e Castelo de Stolzenfels
Das aldeias por onde fomos passando escolhemos Stolzenfels para uma paragem mais demorada para almoçar. Fizemos questão de acompanhar a refeição com um vinho branco feito das uvas daquelas encostas, que não apreciámos particularmente, como já tinha referido.
Trata-se de uma pequena aldeia que serve de base para quem pretende visitar o seu castelo, este localizado na margem direita, o que permite que o possamos visitar sem ter de procurar um ponte para cruzar o rio, que são muito poucas ao longo de toda esta zona.
O Castelo de Stolzenfels foi restaurado no século XIX, durante o período romântico, e é um belo exemplo da influência do Romantismo na arquitetura, com uns belos jardins e os interiores com uma decoração rica.
Originalmente, o castelo foi construído no século XIII como um posto de cobrança de impostos e para proteção contra os ataques inimigos, mas chegou a ser destruído pelas tropas francesas em 1689 durante a Guerra dos Nove Anos, tendo permanecido em ruínas até o século XIX. Nessa altura o Rei Frederico Guilherme IV da Prússia adquiriu as ruínas e encomendou os trabalhos de restauração e ampliação, seguindo a tendência do estilo neogótico, transformando-o assim numa residência de verão real.
Hoje o castelo pode ser visitado, mas mesmo a imagem exterior das suas fachadas já é um atrativo suficientemente interessante para quem visita esta região do Vale do Reno.

Mais à frente iriamos sair da zona encantada do vale e iríamos mesmo encontrar as principais cidades que são banhadas por este rio, começando pela antiga capital alemã, durante todo o período da Guerra Fria, a cidade de Bona.
E pensando um pouco nesta viagem, e embora os castelos que vamos encontrando não tenham o encanto dos da Baviera, nem as colinas cobertas de vinha têm a beleza do nosso vale do Douro, mas em conjunto, o que aqui se encontra oferece algumas das mais encantadoras paisagens que já tive oportunidade de conhecer.
Por isso, a quem queira visitar a Alemanha ou o centro da Europa, deixo o conselho para não perder a visita a este vale… seja de carro ou de barco, este terá de ser um local obrigatório.
Carlos Prestes
Julho de 2015