domingo, 28 de junho de 2015

Benelux e Vale do Reno

Esta é a primeira viagem em que vou ter a oportunidade de relatar, em tempo real, a experiência que vamos vivendo, usando um livro de notas onde vou apontando as principais informações e registando as sensações mais marcantes ao longo de todo o percurso. 

Tudo começou na madrugada do dia 28 de junho de 2015, quando eu, a Ana e as minhas filhas mais novas, Beatriz e Marta, apanhámos um avião da KLM com destino ao aeroporto de Schiphol em Amsterdão.

Já em plenos Países Baixos alugámos um carro e saímos, estrada fora, à descoberta do chamado Benelux, uma abreviatura para a zona da Europa que integra a Bélgica, os Netherlands e o Luxemburgo. Programámos começar pelo litoral holandês, fazendo algumas paragens, ainda nas proximidades do aeroporto, seguindo depois para Sul até entrarmos na Bélgica. Nos dias seguintes haveríamos de percorrer vários destinos destes quatro países, seguindo mais ou menos os trajetos assinalados neste mapa:
 
Começámos pelas cidades dos países baixos e da Bélgica, algumas delas, autênticas obras primas, com os seus canais e os belíssimos edifícios.


Países Baixos


Madurodam e Scheveningen

Como aterrámos bastante cedo, levantámos o carro alugado e, antes das 10h da manhã, estávamos já a caminho de Haia, ou Den Haag, em holandês, a capital administrativa da Holanda (atualmente Países Baixos), e fizemos a primeira paragem para visitar o parque Madurodam.
O Madurodam foi construído em 1952 com dinheiro doado pela família Maduro em homenagem ao seu filho George Maduro, que tinha morrido em combate durante a ocupação nazi.

Trata-se de um parque localizado perto de Haia, onde se representa em miniatura uma parte das cidades e da paisagem campestre da Holanda. Concebido num modelo a uma escala de 1:25 com uma perfeição impressionante, o Madurodam é composto por alguns dos principais marcos da arquitetura holandesa, as casas típicas e os moinhos ao longo dos canais, o Palácio Real na praça de Dam, o Rijksmuseum, a torre da catedral de Utrecht, alguns dos portos e principais obras hidráulicas do país e o aeroporto de Schiphol, entre outros símbolos do país. Tudo isto se encontra representado com os mais ínfimos pormenores e a fazer lembrar uma cidade real, com os moinhos, os barcos, os carros e comboios, tudo em movimento.

A visita foi interessante, mas já sabíamos que este parque dificilmente nos iria deslumbrar, ainda assim, faz parte dos locais de referência da Holanda e, por isso, não deixa de ser um ponto de visita obrigatória a quem quiser conhecer um pouco deste país. 


Depois da visita ao parque de Madurodam demos um salto à praia vizinha de Scheveningen, onde fomos almoçar. Uma marginal imensa com um calçadão pedonal ladeado por restaurantes e, bem a meio, o imponente Hotel Kurhaus, com uma linha arquitetónica clássica a fazer lembrar os hotéis monumentais de outras épocas. 
Scheveningen é a estância balnear mais popular da Holanda com um enorme píer que, em tempos, terá servido como ponto privilegiado para observar o mar, a praia, o calçadão e o hotel, mas atualmente está em obras e com o acesso fechado.
A praia até pode ser interessante, mas só para os holandeses, e num dia de céu cinzento como este, nada daquilo nos encantou. Aliás, nós, os portugueses, não nos deslumbramos facilmente com zonas de praia, porque vivemos à beira de uma das costas mais fantásticas da Europa, por isso, e como já se esperava, foi apenas uma breve paragem para o almoço sem quaisquer surpresas.


Kinderdijk

Mas, como estávamos na Holanda, quisemos procurar pelas paisagens holandesas mais típicas. Assim, seguimos na direção da cidade de Haia, que atravessámos, e continuámos depois até Roterdão, outra cidade holandesa de referência. A pouco mais de 20 km de Roterdão entrámos na zona rural de Kinderdijk, onde encontramos uma paisagem típica dos Países Baixos, com as imagens bucólicas dos canais com os seus moinhos.
Na verdade, quando imaginamos a Holanda como um país cheio de moinhos por toda parte, estamos completamente enganados, não é nada disso que vamos encontrar... mas, particularmente em Kinderdijk essa imagem torna-se realidade. Aliás, Kinderdijk é mesmo mundialmente conhecida por ser o local com a maior concentração de moinhos em toda a Holanda, o que lhe valeu o título de Património Mundial da UNESCO, juntando um conjunto de 19 moinhos de vento, construídos no século XVIII.

A visita ao local é gratuita, mas terá de ser feita caminhando. A alternativa é ir de barco ou de bicicleta (que é possível alugar no local), porque não podem entrar automóveis nem motos, (mas podem ficar no estacionamento por um preço de 5€ - em 2015). 

Há um museu e um moinho aberto para visita por um preço de 7,50€ (adultos) mas nós preferimos apenas passear entre os moinhos e fazer um percurso de barco nos canais, por 5€ os adultos e 3€ as crianças.
Fizemos uma caminhada demorada pelas margens dos canais junto aos moinhos mais próximos e íamos entrando e saindo da embarcação que escolhemos para este passeio, que nos levou até aos pontos mais afastados do local e pudemos chegar bem perto dos moinhos mais distantes. 

O ambiente é bucólico, as paisagens são encantadoras, autênticos cartões-postal de uma Holanda imaginada. 
Estes moinhos tinham deixado de funcionar em 1927 mas, na Segunda Guerra Mundial, com a dificuldade em conseguir combustível, os moinhos voltaram a ser utilizados, o que se manteve até aos anos 50. A função destes moinhos de vento era bombar as águas dos canais para um reservatório com o objetivo de manter o nível da água dos canais, evitando as cheias que sempre têm assolado a Holanda. 

A última grande cheia registada nesta região é uma história de encantar, que está na origem do próprio nome do local e da aldeia vizinha. Segundo a lenda, em 1421, durante a maior das cheias de que havia memória, o berço de uma criança foi mantido em equilíbrio por um gato até à encosta de um dique, tendo assim sido salva. E foi assim que este local foi batizado como kinderdijk (kinder significa criança e dijk significa dique).
Voltámos à estrada e fizemos um último percurso de 180 km, saindo da Holanda até à cidade belga de Bruges, onde iríamos dormir, fechando assim um dia quase infinito, que começou com a chegada ao aeroporto de Lisboa perto das 3 h da manhã.


Bélgica


Bruges

Acordámos em Bruges, a bonita cidade belga que é capital da Flandres Ocidental, onde se fala a língua flamenga, e que é marcada pela presença de igrejas e dos seus carrilhões e pode ser associada a imagens saídas de contos de fadas. 

Bruges chega a ser chamada a "Veneza do Norte", por causa dos seus canais que a cercam e a atravessam... mas estes chavões em nada engrandecem ou diminuem, uma cidade que vale por si só, pelas suas paisagens e pela sua personalidade, e não precisa de comparações com quaisquer outras cidades.
À chegada a Bruges estávamos à espera de uma terra de sonhos e cheia de imagens de encantar. Mas talvez não tenha sido exatamente assim que a cidade se revelou. Não quer dizer que não achámos a cidade bonita, por que é efetivamente muito bonita, é só que, quando a expetativa é muito alta, a realidade nem sempre consegue lá chegar.

Mas, e repito, Bruges não deixa de ser uma cidade bem bonita, com uma arquitetura que nos situa nas terras de príncipes e princesas e com recantos de uma beleza sublime, que nos fazem apetecer ficar demoradamente naquelas ruas e praças, desfrutando do encanto que se vai descobrindo. Mas uma expetativa muito alta e o facto da cidade se encontrar repleta de turistas, não nos permitiu captar a plenitude dos seus encantos e ficámos com um ligeiro sabor a desilusão.

Assim, a quem decida visitar a cidade de Bruges, deixo apenas o conselho de moderar as expetativas, sabendo contudo que vai encontrar uma cidade com uma arquitetura bonita, cheia de igrejas, com recantos românticos e bucólicos, sobretudo nas margens dos canais, mas que não será fácil apreciar toda essa envolvente sem a presença constante de umas centenas de outros turistas com os mesmos objetivos.

Aqui encontrámos mesmo excursões de jovens onde todos usavam coletes refletores, transformando-os em autênticas manchas andantes, amarelas ou laranjas florescentes, que borravam a paisagem, supostamente medieval.

Mas, assumindo a cidade como ela é, não é difícil percorrer as ruas que nos levam às principais praças e aos monumentos mais relevantes e nos permitem encontrar as mais bonitas margens dos canais, e mesmo que não se goste muito de andar a pé, não são necessárias caminhadas muito exigentes.

O percurso que escolhemos levou-nos aos principais pontos de interesse, começando pela Igreja Nossa Sra. Mariastraat e pelos canais nas proximidades.
As paisagens dos canais são as mais bucólicas e mais encantadoras que podemos imaginar, sobretudo pela arquitetura medieval dos edifícios lindíssimos que se dispõem ao longo das margens, como se emergissem das próprias águas.

A poucos metros do canal principal chega-se à praça Burg, com um conjunto arquitetónico fantástico, que enverga o edifício da Câmara Municipal, o Stadhuis, construído no século XV, num estilo gótico luxuoso, mostrando o poder que Bruges ostentava na Idade Média.
Ainda na praça Burg, fica o santuário Heilig Bloedbasiliek, com uma entrada discreta e pequena que pode até passar despercebida. O acesso é bastante sóbrio, mas o interior da Basílica, cujo nome se traduz como a Basílica do Sangue Sagrado, guarda uma relíquia poderosa, um frasco que, supostamente, guarda o próprio sangue de Cristo. 

A rua Breidelstraat, com apenas 50 m, liga as duas principais praças da cidade, a Burg e a Markt. É uma rua repleta de lojinhas que vendem souvenires, gofres acabados de fazer e as famosas rendas de bilros da cidade (semelhantes às portuguesas), bem como de algumas lojas de chocolates belgas, como os Godiva.

A praça central, o Markt, é o coração de Bruges e ainda preserva boa parte de seu traçado original. Em tempos este local era chamado de fórum, tendo sido palco de muitos episódios da história da Flandres, desde batalhas a festas populares. 
Cada lado da praça é ocupado por edifícios de diferentes estilos e diferentes épocas. De um lado o grandioso Palácio Provincial e o antigo correio ocupam as edificações neogóticas. Num dos topos dispõem-se em sequência um conjunto de casas coloridas de quatro andares, muito bem conservadas, que parecem quase casas de brinquedo, atualmente ocupadas por esplanadas de cafés e restaurantes. 
Ao centro da praça fica a estátua de Jan Breidel e Piet de Konink, feita em 1887, em bronze e pedra, para homenagear o triunfo dos belgas numa batalha contra o rei da França, na revolução de 1302.
É também na praça central que fica o Belford ou Campanário de Bruges, principal símbolo da cidade. 

O Campanário de Bruges foi feito em etapas. Inicialmente, no século XIV, foram construídos o campanário e o corpo do prédio. Alguns anos depois, foi construído um terceiro trecho da torre, com secção octogonal (enquanto o corpo mais antigo é quadrado), levando-a até aos 80 m de altura. Assim a torre podia ser usada como observatório que servia, por exemplo, para evitar a propagação de algum incêndio, o que era bastante comum naquela época. 
Apenas eu e a minha filha Beatriz tivemos a coragem de avançar na escalada pela torre acima, subindo por uma escada em caracol de “apenas” 366 degraus para chegar ao topo e disfrutar de uma vista privilegiada sobre toda a cidade, e também para poder observar de perto o mecanismo do seu carrilhão que faz tocar 47 sinos. 

A Ana e a Martinha optaram por ficar a disfrutar de um gofre magnífico, numa daquelas esplanadas nas casinhas coloridas que se observavam lá do alto... mas logo nos juntaríamos a elas, também merecíamos o nosso gofre.

Depois de deambularmos pelas ruas envolventes à praça central, o Markt, e experimentarmos algumas das iguarias mais típicas, como os gofres, e até comprarmos uns souvenires, seguimos pela principal rua de comércio, a Steenstraat, passando pela Simon Stevinplein, uma praça cheia de esplanadas, totalmente repletas, neste dia de sol e calor, até chegarmos à catedral de Sint-Salvators.

No regresso até à ponte de saída do centro da cidade, para voltarmos ao hotel, passámos ainda pelo principal jardim da cidade, o Minnewaterpark, mais um recanto bucólico desta cidade belíssima.

Apesar da cidade ser relativamente pequena, este percurso ainda obriga a uma caminhada entre três e quatro quilómetros, mas existem ainda outras alternativas de caminhos que podemos percorrer. Na verdade, caminhamos sempre para além dos trilhos que estão representados no mapa, e vamos assim explorando outros recantos na envolvente das ruas e praças principais, menos notáveis, mas igualmente bonitos e interessantes. 

Mas há ainda uma outra hipótese de explorarmos esta cidade, que será fazermos um passeio de barco nos canais, aumentando a proximidade, e também a nossa entrega, nesta procura da face mais profunda da cidade... embora os canais, ao contrário do que acontece, por exemplo, em Amesterdão, não atravessem os principais pontos de interesse, cercando apenas o centro da cidade velha, mas, ainda assim, vão-nos dando uma perspetiva interessante daquilo que teria sido esta cidade medieval durante os séculos da sua existência.
 
Uma outra opção seria fazer um passeio de charrete o que me pareceu uma alternativa interessante, pelo menos para os mais preguiçosos (embora não tenha sequer sabido os preços, que não devem ser baixos, porque ali tudo é caríssimo). No entanto, esta proliferação de charretes pelas ruas do centro histórico provoca um efeito secundário bastante nefasto, com o cheiro a bosta de cavalo que domina a cidade, em vez daquilo que estaríamos à espera... que seria a mistura dos aromas vindos das casas de gofres e das chocolatarias.

Tivemos ainda a oportunidade de jantar numa das praças preenchidas por mesas e cadeiras das muitas esplanadas que a cidade oferece, e pudemos experimentar um dos pratos mais característicos da cozinha belga, os mules, ou mexilhões, que aqui se cozinham ao natural ou com vários tipos de molhos. O prato é bastante agradável e vale a pena experimentar pelo menos uma vez, embora os preços, como quase tudo nesta cidade, sejam proibitivos. Temíamos que viesse a ser assim em toda a Bélgica e até em toda a viagem mas, na realidade, Bruges foi mesmo a cidade mais cara que encontrámos.

Em jeito de balanço, referia atrás que houve uma pequena dose de desilusão, mas isso não quer dizer que Bruges seja uma cidade desinteressante, nada disso, e se dei essa ideia fui enganador. Foi só o problema de expectativas demasiado elevadas, porque, na realidade, Bruges foi mesmo um dos destinos mais interessantes de toda esta viagem e, claramente, uma das cidades mais bonitas da Bélgica. 

Raramente faço referência aos hotéis onde ficamos porque raramente esses hotéis têm importância relevante na viagem. Mas em Bruges o hotel foi uma agradável surpresa. Situado fora dos limites da cidade velha, que são materializados pelo canal principal, mas apenas a escassas centenas de metros, oferece facilidades de estacionamento, o que se torna impossível nos vários hotéis do centro. O hotel, o Bed&Breakfast Filemon&Baucis é um espaço extremamente acolhedor, numa casa antiga totalmente recuperada com muito bom gosto e com uma decoração de estilo romântico, cheia de peças de grande requinte, tornando os quartos e os espaços comuns muito bem decorados e bastante aprazíveis. A dona do hotel foi uma simpatia e, para completar, o pequeno-almoço foi divinal, o que não é nada habitual por estas paragens. Por isso, recomendo vivamente este hotel pelo deixo aqui o link para acesso à respetiva página de Facebook (apesar de não ter qualquer interesse direto ou indireto):


Gent

Saindo de Bruges a caminho de Bruxelas, encontramos Gent a escassos 40 km. A cidade de Gent, que é também chamada pelo nome de Gante, é mais uma belíssima cidade da parte flamenga da Bélgica,.
Ao contrário de Bruges não tínhamos quaisquer expectativas relativamente a esta visita, o que talvez tenha sido decisivo para que, no final do dia, tivéssemos ficado surpreendentemente maravilhados. 

A cidade é fantástica, com catedrais e igrejas monumentais, e até um castelo, todas muito próximas umas das outras, num centro histórico banhado por um canal que faz com que esta cidade seja muito peculiar, diferente de qualquer outra cidade, na Bélgica como na Europa. 

E essa é uma característica bastante relevante. Na verdade, há uma tendência para que as cidades, em determinadas zonas e, neste caso, no centro da Europa, sejam muito semelhantes. Os centros históricos quase não se distinguem entre si, a menos de pequenos detalhes que resultam, por vezes, de algum monumento que se diferencie do comum. Existem depois as cidades mais do norte, como as holandesas, que são atravessadas por canais e apresentam, também elas, semelhanças entre si. É esse o caso da cidade de Bruges que podia ser uma cidade holandesa. Mas Gent é diferente de todas essas cidades, tem uma personalidade própria e isso constitui, desde logo, um grande atrativo para os visitantes. 

Gent é a capital da província de Flandres Oriental e chegou a ser uma das cidades mais ricas e prósperas do Norte da Europa. Hoje é a terceira maior cidade da Bélgica e tem pouco mais de 200 mil habitantes. Não é uma cidade muito grande, mas o seu esplendor arquitetónico mantém-se bem preservado. Além disso, é uma cidade bem animada por ser uma das cidades universitárias belgas, é muito frequentada por jovens, é alegre e movimentada, servindo de palco a festivais de música e cinema.

O centro histórico não é muito grande e pode-se perfeitamente caminhar passando pelos principais pontos de interesse. Foi isso que fizemos, caminhámos pelas principais ruas e praças, deambulando por entre monumentos e casas que parecem ter saído dos contos de fadas. O percurso passa obrigatoriamente por alguns dos principais monumentos.

Começámos junto ao canal e à rua pedonal, ambos com o nome de Kraanlei, em direção à praça Vrijdagmarkt. A praça fica em torno da estátua de Jacob van Artevelde, um antigo líder da cidade. A maior parte dos edifícios remontam ao século XVIII, mas já desde o século XII que a praça serve de palco a um mercado semanal. Logo à saída da Vrijdagmarkt surge a imponente igreja de Sint-Jacobskerk.


Seguimos depois atravessando uma das principais ruas de comércio, a Hoogpoort, em direção à Pensmarkt e à praça seguinte, a Korenmarkt. Cheia de esplanadas e com centenas pessoas na rua é aqui que o centro desta cidade palpita.


Do outro lado da praça fica o Post Plaza, a antiga sede dos correios, um imponente edifício em estilo neogótico, atualmente em obras para se tornar num shopping grandioso.
Chegados à rua Sint-Michielspleis é possível observar o alinhamento das três principais torres da cidade de Gent, razão pela qual lhe é dado o nome da "cidade das três torres".
A primeira das três torres é a da Igreja de St. Nicholas (Sint Niklaaskerk), construída no século XIII em estilo gótico, dedicada ao padroeiro dos mercadores. 
A torre seguinte é a do campanário (Belford) de Gent, que teve a sua origem do século XIV. O campanário foi construído para servir como torre de vigia, alarme e relógio e é um ponto de referência na cidade com os seus 90 m de altura. 
No final da rua surge a praça de St. Bavo, em torno da qual terá nascido a cidade e é por isso considerada como o coração de Gent. É aí que fica a terceira torre, na Catedral de St. Bavo (Sint Baafskathedraal), em estilo gótico, feita ao longo de vários séculos, entre o Séc. X e o Séc. XVI. 
Regressando no sentido oposto desde a Catedral de St. Bavo até ao canal que atravessa o centro histórico, chega-se à ponte de St. Michael. 

Esta é uma das zonas mais encantadoras da cidade, parece um porto medieval com uma paisagem lindíssima, com a imagem das casas junto às águas calmas do canal, que já serviu como principal ponto de comércio para os mercadores europeus. 




Foi nesta zona que nos demorámos mais tempo, e foi junto a essas margens do canal que escolhemos uma das muitas chocolatarias, a Chocolaterie Cédric Van Hoorebeke, onde comprámos algumas obras de arte da chocolataria belga. 

Os belgas orgulham-se de produzir alguns dos melhores chocolates do mundo. Normalmente são pequenos bombons com recheios delicados e coberturas do mais fino chocolate. As lojas de chocolate são também, elas próprias, dignas de uma visita, pelo modo como expõem os bombons em vitrinas de forma quase preciosa, como se fossem joias e estivéssemos numa ourivesaria. 

Selecionámos alguns exemplares, entre pralinés, gianduias, ganaches e outras pérolas. Escolhemos depois a esplanada de uma cervejaria, ainda junto ao canal, onde se podiam experimentar algumas das cervejas produzidas na Bélgica e onde acompanhámos os bombons comprados anteriormente com cerveja artesanal.

Talvez não seja um hábito gastronómico belga mas está mesmo a pedir que se juntem estas duas especialidades locais, acompanhando chocolates com cerveja... para mim faz todo o sentido e é delicioso.

Continuando ao longo do canal chegámos ao castelo de Gravensteen, uma fortaleza medieval que, inesperadamente, surge em pleno centro histórico da cidade.
Terminámos a visita à cidade em cerca de quatro horas, percorrendo os trilhos assinalados neste mapa e visitando os principais pontos de interesse do centro histórico.
 
Numa época de dias grandes, sobretudo nesta zona Norte da Europa, em que o sol se põe para lá das 10 da noite, permite-nos esticar os dias até nos levar quase à exaustão. Neste dia não será diferente e partimos para Bruxelas onde iríamos ficar duas noites e passar ainda o final deste dia. A viagem era de apenas 50 km de autoestrada mas que se revelaram difíceis de percorrer. 


Faço agora uma referência à rede de estradas que encontramos ao longo deste país, que é um ponto importante para quem viaja de carro. Foi na Bélgica que foram criadas as autoestradas tal como as conhecemos, com os sentidos do tráfego separados. Inclusive, na Bélgica, todas as autoestradas são totalmente iluminadas, e não apenas nos nós de ligação, como acontece em Portugal e na maioria dos outros países (o que não fez diferença nenhuma, porque só fazia noite quase às 23 h). Mas, o melhor é que não se paga qualquer portagem ao longo das muitas centenas de quilómetros de autoestradas belgas. Porém, como não há bela sem senão e, não havendo concessionárias de autoestradas, não há também obrigação em garantir que o tráfego se mantenha com o mínimo de perturbações, o que faz com que as obras de reparação decorram durante as horas do dia e mesmo nas horas de ponta, impondo estrangulamentos por cada local de interrupção... e são muitos. Ora, o resultado é que estamos sempre sujeitos a filas enormes, como foi o caso deste percurso entre Gent e Bruxelas, em que demorámos 1h30m para percorrer apenas 50 km. E uns dias depois, já a caminho de Luxemburgo, voltámos a passar pelo mesmo inferno.


Bruxelas

Chegados a Bruxelas tivemos ainda uma receção semelhante no que se refere ao trânsito. A Av. Anspachlaan, onde ficava o nosso hotel e que é uma das principais artérias de acesso ao centro histórico da cidade, depois de toda uma vida comportando automóveis, foi cortada ao trânsito tendo passado a ser definitivamente uma rua pedonal, tal como outras ruas de ligação a esta avenida principal. E esta alteração, que provocou o caos na circulação automóvel na cidade, tinha que acontecer exatamente no dia em que lá íamos chegar. Assim, o GPS mandava-nos por uma rua e os polícias indicavam-nos outros caminhos. Um autêntico pandemónio com os túneis que cruzam toda a cidade e distribuem depois o tráfego pelas várias saídas para o centro, a ficarem totalmente entupidos. Conclusão, passámos uma hora dentro de um túnel para fazer apenas 6 km. Mais do que um conselho para futuros viajantes, esta referência é só um desabafo... tantas vezes dizemos, a respeito de Portugal, que só neste país é que estas coisas acontecem mas, afinal, acontecem coisas bem piores em países ditos civilizados.

A primeira noite na cidade acabou por ser bem agradável naquele conjunto de ruas que se tornaram pedonais naquele mesmo dia, o que levou centenas de pessoas a sair àquela hora e a permanecerem em pleno asfalto, usando skates ou bicicletas, ou ficando apenas sentados em grupos, bebendo e fumando…provavelmente algumas substâncias menos lícitas.

Mas, a verdade é que, naquela noite, Bruxelas estava uma cidade espantosa, cheia de vida na rua, naquele que foi o primeiro dia de uma cidade nova que ali tinha acabado de nascer.

Para o dia seguinte tínhamos planeado fazer uma caminhada passando pelos principais pontos de interesse da cidade, seguindo mais ou menos os pontos representados neste mapa:
 
Apesar do centro principal da cidade ser a Grand Place, para onde convergem todos os caminhos, acabámos por fazer um percurso ao longo das atrações mais periféricas, localizadas na envolvente, de forma a acabar depois o dia mais perto do centro histórico.

Fizemos um percurso passando por alguns dos locais mais interessantes, tendo começado pela Catedral de St. Michael, uma igreja católica romana do Séc. XVI localizada no monte Treurenberg.
Passámos depois pelas estátuas de bronze de Don Quichotte e do seu servo Sancho Panza, próximas da estação ferroviária da cidade, a Gare Central, que muitos anos atrás me tinha acolhido na minha primeira chegada à cidade de Bruxelas.
Continuando na mesma rua, bem na proximidade da Grand Place que, propositadamente, quisemos deixar para mais tarde, chegámos ao Mont des Arts. Uma zona elevada que oferece uma das melhores vistas da cidade. Na paisagem destaca-se a famosa torre da câmara municipal de Bruxelas, na Grand Place, que é sempre bem visível. Num dia com boa visibilidade, como acontecia neste dia, consegue-se ver ao longe a basílica Koekelberg e até mesmo o Atomium.
Mais à frente chegámos ao Parque de Bruxelas, também designado por Quartier Royal, um imenso jardim que termina, num dos lados, no Palais Royale, o palácio oficial do rei da Bélgica na cidade de Bruxelas.

Passámos algum tempo no parque, aproveitando a aragem e o fresco das zonas sombreadas, que nos ajudaram a carregar baterias, num dia tão inesperadamente quente com que Bruxelas nos recebeu. Mais tarde, observámos o imponente Palais Royale onde observámos alguns movimentos com a saída de membros da família real, e com a expectável azáfama por parte dos seguranças do palácio. 
Seguimos depois pela Place Royal, uma praça construída no local do antigo mercado da cidade, junto ao palácio de Coudenberg. O palácio sofreu um grande incêndio em 1731, tendo destruído grande parte dos edifícios daquele complexo. A praça foi entretanto reconstruída até 1780, com novos edifícios e monumentos, em que o palácio original foi reconstruído e é utilizado atualmente a Igreja Saint Jacques-sur-Coudenberg.
Ainda nesta mesma praça encontramos os Musées Royaux des Beaux-Arts de Belgique e, localizado bem ao centro, está a estátua equestre de Godfrey of Bouillon, um dos líderes da primeira Cruzada no século XI.
Continuámos pela Rue de La Régence e passámos até à Église Notre-Dame du Sablon, om bonita catedral, e chegámos depois à Place Poelaert, onde se destaca o imponente edifício do Palais de Justice.

É o edifício do tribunal mais importante na Bélgica e um dos maiores tribunais do mundo. Foi construído entre 1866 e 1883, em estilo eclético pelo arquiteto Joseph Poelaert, que dá o seu nome à praça. O palácio terá sido o maior edifício construído no século XIX e constitui um marco notável de Bruxelas.

No percurso seguinte fomos entrando gradualmente no centro histórico e fizemos uma paragem na junto à pequena estátua, quase ridícula de tão pequena, mas que tem o peso de ser o principal ex-líbris desta cidade, o Manneken Pis.

Trata-se de uma fonte constituída por uma pequena estátua em bronze de um menino a urinar. As fotografias de primeiro plano tiradas à estátua, que surgem em postais ou folhetos turísticos, dão uma sensação errada da sua verdadeira estatura, parecendo muito maior do que é na realidade, uma vez que a estátua apresenta a dimensão real de um bebé... o que deixa os turistas desapontados.
Entrámos depois no centro da cidade, a caminho da Grand Place, através da Rue de l'Etuve, onde as lojas de souvenires para turistas se misturam com as montras decoradas por gofres com as mais variadas e coloridas coberturas, dispostos de forma apelativa para fazer babar quem vai passando e que acaba quase sempre por ceder à tentação, como aconteceu connosco.
Quaisquer que sejam as ruas escolhidas nesta zona do centro encontraremos as ditas casas de gofres, as esplanadas dos inúmeros restaurantes, ou as sofisticadas chocolatarias belgas, por onde se vão atropelando centenas de turistas, seguindo por trajetos diferentes mas que acabam sempre por convergir no coração da cidade, a Grand Place.

A Grand Place é o centro geográfico, histórico e comercial de Bruxelas e o local mais visitado por todos os turistas. Uma praça empedrada, sempre movimentada, onde se mantém em funcionamento o centro político da cidade, passados séculos da sua criação. Trata-se do melhor exemplo da arquitetura barroca do século XVII, mas a sua origem remonta ao século XI, quando se realizavam mercados ao ar livre naquele local. No entanto, o seu edifício principal, o Hotel de Ville, só foi construído no final do século XIV. Em 1695, dois dias de intensos bombardeamentos franceses, destruíram todos os edifícios à exceção do Hotel de Ville. A praça foi então reconstruída com a imposição do estilo arquitetónico por parte do conselho municipal, originando assim a harmoniosa unidade de edifícios da renascença flamenga que se vêm ainda hoje.

A arquitetura na Grand Place é única e grandiosa e como não se trata de uma praça muito grande, com cerca de 110 x 60 m2, a concentração de monumentos com aquela impressionante riqueza arquitetónica, dá-nos a sensação de que aquele local é quase um museu de arquitetura, onde se observam lado a lado, e sem qualquer vestígio de arquitetura mais moderna, palácios, palacetes, um conjunto de edifícios adornados com fachadas artísticas, e sobretudo o majestoso edifício do Hotel de Ville, a Câmara Municipal da cidade. Com a sua fachada gótica, ocupa toda a zona sudoeste da praça e é esplendoroso com as suas inúmeras colunas decoradas, torreões, arcadas e estátuas, como a de São Miguel (padroeiro da cidade) colocada no cimo da sua maior torre. Atualmente, como outrora, funciona ainda como edifício oficial da Câmara Municipal da Bruxelas.
Nos outros alçados da praça dispõem-se os restantes edifícios, não tão altos como a torre da Câmara Municipal, todos eles com uma arquitetura sofisticada e sublime, como a Maison du Roi, uma antiga residência de monarcas que é hoje o Musée de la Ville, onde estão expostos vários quadros e tapeçarias do século XVI, ou o Le Pigeon, outrora a residência do escritor Victor Hugo. 

Contudo, a probabilidade de encontrarmos alguns destes edifícios com obras de recuperação é muito grande. E foi o que aconteceu nesta altura em que um dos lados da praça estava tapado por uma tela enorme reproduzindo as fachadas que encobria, onde estariam a decorrer trabalhos de restauro. 

Outra das perturbações que podemos encontrar é a utilização da praça como arena de espetáculos. Sendo este o local mais central da cidade é natural que ali se realizem alguns eventos que poderão descaracterizar, mais ou menos, os aspeto original da praça. Nesta altura existiam dois grandes blocos de bancadas e, numa das noites, o local transformou-se numa imensa festa medieval, com centenas de atores e figurantes, reproduzindo todo o tipo de acontecimentos medievais, num festival de luzes e som. Embora se tratasse de um evento apropriado à época a que a praça nos transporta, e as cores das luzes tivessem dado uma dimensão grandiosa àqueles edifícios, talvez tivesse sido mais conveniente poder ver a praça tal como ela é, sem adereços e sem bancadas, sem atores e sem cenários.

Demorámo-nos naquela zona envolvente à Grand Place, onde acabámos por almoçar as famosas frites de Bruxelas, batatas fritas aos palitos que são vendidas em cartuchos, como as castanhas assadas, e que pingam gordura e colesterol por todo o lado, mas que ainda molhamos na maionese, para que a overdose se complete… de qualquer maneira, tínhamos que provar este clássico da cidade e que acabaram por nos saber bastante bem, devidamente acompanhadas por uma das típicas cervejas belgas. Mas para que a glicémia não ficasse desequilibrada em relação aos picos de colesterol, já tínhamos ido aos gofres e, mais à noite, iremos aos chocolates artesanais e aos macarons, sempre com uma cervejinha bem fresquinha, que vai bem com tudo.

Ainda nas proximidades existem alguns locais interessantes, como é o caso das Galeries Royales Saint-Hubert, com entrada pela Rue du Marché aux Herbes. As galerias são compostas por dois edifícios principais, cada um mais de 100 metros, a Galerie du Roi e a Galerie de la Reine, separadas pela Rue des Bouchers, e por uma galeria menor, perpendicular às outras, chamada Galerie des Princes. Desde a sua abertura, a meio do século XIX que estas galerias, que albergam lojas, cafés, restaurantes e auditórios, constituem um polo fundamental da moda e da cultura da cidade. Os visitantes são atraídos sobretudo pelas marcas de luxo, pelos elegantes cafés e pelos espaços culturais, onde se incluíram o Théâtre du Vaudeville, o Cinéma des Galeries e o antigo Café des Arts, que, até à última década do século XIX, serviu de ponto de encontro para pintores e escritores da época, incluindo a comunidade de refugiados franceses ilustres, como Victor Hugo, Alexandre Dumas e outros. Uma placa comemorativa recorda a primeira exibição da câmara de cinema dos irmãos Lumière em 1896. 
Saímos pela Rue des Bouchers, a rua que separa as duas galerias principais, uma rua pedonal com enorme frequência turística que concentra um grande número de restaurantes com esplanadas. Caminhámos até à Place de la Monnaie onde se situa o teatro La Monnaie de Munt, que é atualmente a Ópera Nacional da Bélgica. Entrámos depois pela Rue Neuve, uma rua pedonal que funciona como um centro comercial, com lojas de um lado e do outro. Quando atingimos a Av. Anspachlaan, aquela que passou a ser exclusivamente pedonal no dia anterior e onde ficava o nosso hotel, fizemos o percurso de volta até à Place de la Bourse, com o imponente edifício do Palácio da Bolsa de Bruxelles. A envolvente do Palácio da Bolsa é uma das zonas mais frequentadas pelos habitantes locais, que deixam a Grand Place para os turistas, apesar da proximidade entre estas duas praças, nota-se bem a diferença no tipo de frequência. 
Estávamos no final da tarde, de um dia que seria enorme como os anteriores, com um pôr-do-sol que se esperava para depois das 22h30. Foi tempo para uma pequena pausa no hotel e para uma nova saída, desta vez de carro. 

Assim, depois da árdua tarefa de sair de carro do centro de Bruxelas, chegámos à zona do Atomium.
Trata-se de um monumento feito em aço inox, construído propositadamente para a exposição mundial de 1958, e que é atualmente um dos símbolos mais emblemáticos e representativos da cidade. O Atomium representa a estrutura de uma molécula de ferro, ampliada 165 biliões de vezes e cada uma das nove esferas tem 18 metros de diâmetro e estão ligadas umas às outras por tubos onde foram instaladas escadas rolantes, permitindo assim visitar o seu interior. Também optámos por não ir, os bilhetes eram caros demais para o interesse proporcionado. 
A zona do Atomium é também ocupada por um parque temático, o Little Europe, com miniaturas dos vários países da Europa, incluindo, por exemplo, a nossa Torre de Belém. Não entrámos, desde logo porque tinha fechado às 17h, mas também não entraríamos… não nos pareceu nada interessante.


Mas neste complexo existe ainda um outro local importante, um dos estádios mais marcantes de toda a história do futebol, e pelas piores razões… o estádio do Heysel que, durante décadas, foi o mais importante estádio de Bruxelas e da equipa principal da cidade, o Anderlecht.

Em 1985, numa final da taça dos campeões europeus entre o Liverpool e a Juventus, as claques dos dois clubes envolveram-se em confrontos, provocando a fuga do público em massa, o que originou que as pessoas dos lugares junto às grades que separavam os vários setores das bancadas, tivessem começado a ficar desesperadamente comprimidas. Morreram 39 pessoas na bancada de adeptos da Juventus esmagados pela pressão da grande massa de adeptos que se deslocava fugindo dos conflitos. Foi uma das mais negras páginas da história do futebol mundial, que contribuiu para que a Inglaterra estivesse vários anos sem acesso às competições europeias, tendo, a partir dessa data, implementado um conjunto de medidas severas contra o holiganismo, o que veio a ter efeitos perfeitamente visíveis, sendo hoje justamente a Inglaterra, um dos locais em que o futebol se tornou menos violento, com a presença constante das famílias nos estádios.

Não visitámos aquele estádio, não é sequer visitável, mas reavivei a memória daquele dia negro em que, pela televisão e em direto, segui aquela tragédia, que me marcou durante anos e mudou a minha forma de encarar os espetáculos de futebol.

No caminho de volta ao centro passámos ainda pela maior catedral da cidade, a basílica Koekelberg ou Basilique Nationale du Sacré-Coeur, uma das dez maiores igrejas católicas romanas do mundo. Feita em betão armado e revestida a tijolo maciço, a igreja apresenta duas torres finas e uma cúpula na nave central que atinge 89 m de altura e está revestida a chapa de cobre de cor verde, dominando o horizonte noroeste da cidade de Bruxelas. A igreja foi dedicada ao Sagrado Coração, inspirada no Sacré-Coeur de Paris, e a sua primeira pedra foi lançada simbolicamente pelo Rei Leopoldo II em 1905. A construção foi interrompida pelas duas guerras mundiais atrasando a conclusão da basílica, que aconteceu apenas em 1969. 
À noite voltámos ao centro, à mesma praça e às mesmas ruas, igual ao dia e igual à noite anterior. Percorremos a envolvente da Grand Place onde existem ruas com esplanadas de restaurantes que são quase ruas temáticas, restaurantes belgas, italianos, gregos... cada especialidade em sua rua… como a Rue des Bouchers ou a Rue des Brasseurs. Optámos pela comida italiana, que é sempre uma garantia de qualidade seja em que país for.

Depois voltámos às lojas da arte do chocolate, por exemplo, na Rue au Beurre, com montras que nos prendem o olhar e a gula, com macarons de todas as cores e paladares e chocolates de fabrico artesanal, alguns deles são pequenas esculturas de sabor e glicémia, ou de fabrico mais industrial, mas de marcas top, como a Godiva.
E finalizámos o dia e esta visita a Bruxelas, no local em torno do qual toda cidade gravita, a Grand Place. Desta vez transformada num cenário medieval numa profusão de luz e cor que deixava a praça com um aspeto ainda mais sofisticado.


É sempre assim em Bruxelas, pelo menos para nós, turistas, que não conhecemos outros locais de interesse mais reservados… tudo gira à volta do centro de gravidade que é a Grand Place


A minha memória, de há quase 30 anos, na minha única visita à cidade, já era quase exclusiva da Grand Place e das ruas vizinhas. Mas mesmo a Ana, que esteve 6 meses em Bruxelas a fazer Erasmus, há 20 anos, tinha exatamente a mesma memória… sempre aquele centro histórico, sempre aquela praça, sempre uma enorme concentração de turistas.

E assim, a Bélgica fica vista para mais 20 anos…

Antes da saída de Bruxelas fizemos ainda dois desvios dentro da cidade. Primeiro junto das instalações da Comunidade Europeia, com um acesso muito condicionado e o trânsito entupido e com dificuldades em chegar aos estacionamentos devido a obras. Esta zona pareceu-nos pouco interessante do ponto de vista turístico, porque, embora lá estejam os grandes edifícios da CEE, não se torna nada fácil chegar lá perto, pelas dificuldades no trânsito, mas também devido aos perímetros de segurança que são garantidos, sobretudo em ocasiões das principais reuniões e cimeiras. Mas a zona não nos traz nada mais que não seja a possibilidade de reconhecer algum edifício que tenhamos visto nos telejornais. 

O outro desvio foi uma breve paragem na faculdade de engenharia onde a Ana tinha estado a fazer Erasmus, 20 anos atrás, apenas para avivar memórias.



Luxemburgo


Partimos então para mais um dia de viagem e mais um país, o nosso próximo destino seria o Gran Ducado do Luxemburgo.
O Luxemburgo é daqueles países que não tem razão aparente para existir. Entalado entre a Bélgica, a França, e a Alemanha, parece ser um bocado de terreno que ninguém quis. Mas a realidade é diferente. O Luxemburgo desempenhou sempre um papel geoestratégico naquela zona da europa, funcionando muitas vezes como fiel da balança nas várias disputas de poder que envolveram alguns dos poderosos países vizinhos, ao longo dos séculos.

Mas ainda hoje parece-nos que o país não faz sentido. Tão pequeno e nem uma língua materna consegue ter, com o francês, o alemão e o próprio luxemburguês, como línguas oficiais, e admito que, com a quantidade de portugueses que lá vivem, a língua portuguesa será também quase uma língua oficial alternativa. 

Mas apesar desta falta de personalidade, a verdade é que o Luxemburgo tem hoje, como no passado, uma posição na Europa perfeitamente definida, com um papel ativo nos processos da governação europeia.

E é um país que permite um bom nível de qualidade de vida, embora a grande quantidade de emigrantes portugueses que lá vivem, e são muitos, privilegiem sobretudo o acumular das poupanças e não tanto a qualidade de vida no dia-a-dia. Mas há indicadores interessantes, como o salário mínimo de 1.900 €/mês, que é o mais elevado de toda a Europa. O custo de vida é caro, mas não mais que nas vizinhas Bélgica, França ou Alemanha… mas também não parece que a comunidade portuguesa frequente assim tanto restaurantes e hotéis, ou lojas de roupa, por exemplo… por isso deve dar para amealhar um bom dinheiro. 


Como polo turístico a cidade do Luxemburgo não é particularmente interessante. Não é contudo mais uma cidade do centro da Europa. Tem um formato diferente do habitual por se localizar em torno de um vale cavado, que é ligado por várias pontes que nos permitem contemplar os dois lados da cidade e a parte mais baixa da cidade, que ocupa o próprio vale ao longo do rio.

Fizemos um percurso que nos levou ao longo da zona histórica da cidade que, apesar de não ter sido muito extenso, foi penoso, devido aos 30 e muitos graus com que a cidade nos aguardava.


Começámos pela travessia da Pont Adolphe ou Adolphe-Brücke, no sentido oposto ao centro histórico. Com um vão central de 90 m, a Pont Adolphe era a maior ponte em arco de alvenaria de pedra, quando foi construída no início do século XX. O seu nome vem do Grão-Duque Adolphe que reinou no Luxemburgo entre 1890-1917 e a sua finalidade era garantir a travessia do Vale Pétrusse, ligando assim os dois lados da cidade. 

A ponte tornou-se um símbolo nacional não oficial por representar a independência do Luxemburgo, e tornou-se uma das atrações turísticas da cidade. 

Mas não tivemos sorte e apanhámos a ponte em trabalhos de reforço e reabilitação estrutural e alargamento do tabuleiro. Para garantir as condições de segurança para a população, a ponte foi totalmente coberta por uma tela de proteção que a ocultava completamente. 

Do lado oposto da ponte passámos pelo edifício da Alta Autoridade da Communauté Européenne du Charbon et de l'Acier, isto é, a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA).
Entrámos depois na Avenue de la Liberte, uma avenida a fazer lembrar os boulevards parisienses, até à Place des Martyrs, onde fizemos uma pausa, até regressarmos de novo ao vale, para o voltar a atravessar, desta vez no sentido do centro histórico da cidade.
A ponte utilizada nesta nova travessia foi a Passerelle. Um viaduto construído entre 1859 e 1861 para ligar o centro da cidade à nova estação ferroviária do Luxemburgo, que foi localizada na margem sul do vale Pétrusse. É feita em alvenaria, com 24 arcos e tem 290 m de comprimento e uma altura de 45 m. É também conhecida como a ponte velha, sendo que a nova ponte, nessa comparação, será a ponte Adolphe. 

Do lado norte do vale, no centro histórico da cidade, parámos na Catedral de Notre-Dame. É a igreja mais importante do país e a catedral da Arquidiocese do Luxemburgo. Trata-se de um edifício gótico do séc. XVII, que tem uma estátua da Virgem no portão principal, cercada pelos apóstolos Pedro e Paulo, e pelos jesuítas Inácio de Loyola e Francisco Xavier. Posteriormente, uma estátua de São Nicolau completa o conjunto.
Mais à frente, em pleno centro histórico, passámos pelo Palais Grand-Ducal, o palácio da residência oficial do Grão-Duque do Luxemburgo para o exercício das suas funções como Chefe de Estado. 
Durante a ocupação alemã, na Segunda Guerra Mundial, o Palácio Grão-Ducal foi usado como estalagem e salão de concerto pelos nazis. Nesse período várias mobílias e obras de arte do palácio foram destruídas ou pilhadas. Com o fim da guerra, no ano de 1945, e com o regresso da grã-duquesa Charlotte, o palácio tornou-se novamente a sede da corte. Entretanto, e ainda sob a supervisão de Charlotte, o palácio foi redecorado durante a década de 1960. Desde então, o seu interior, que não se encontra aberto ao público, tem sido regularmente renovado para ficar compatível com os padrões modernos de conforto.

Seguimos depois até à fortaleza do Bock, um miradouro privilegiado sobre o bairro do Grund, onde se situam as Casemates du Bock, que foram as antigas muralhas da cidade de Luxemburgo, da época da sua fundação, por volta do ano 1000 e que, em 1994, foram declaradas pela UNESCO como património da humanidade. Atualmente estão abertas ao público durante a primavera e o verão. A visita a este lugar pode ser interessante, embora não seja recomendável para claustrofóbicos, cheia de passagens e cavernas ocultas. 
A partir da fortaleza podem contemplar-se diferentes paisagens da cidade, com destaque para a vista sobre o Grund, um bairro que foi considerado património da humanidade e que fica lá em baixo no fundo do vale. É um bairro típico e muito calmo, que se desenvolve ao longo das margens do rio, de onde se salienta a igreja de St. Jean du Grund.

Voltámos até ao centro passando desta vez pela Rue du Cure, uma rua pedonal de comércio com imensas lojas e que é a única rua onde se regista alguma azáfama. 

Da Rue du Cure descemos até à Place Guillaume II que fica a situada no coração do centro histórico da cidade, no bairro Ville Haute. A praça é dominada pelo edifício da Câmara Municipal e pela estátua equestre do antigo Grão-Duque Guilherme II, que dá o nome à praça. 
Antes de terminarmos o dia passámos pela Place d'Armes onde jantámos. Estava uma grande animação com o som da música que saía de um palco, onde decorria uma festa popular que fazia lembrar as festas de verão das nossas aldeias... seria só coincidência ou haveria dedo de portugueses por detrás daquele evento... acredito bem que sim.

No caminho de volta o hotel, eram já quase 22 h, apesar do sol estar ainda visível, voltámos à Place de la Constitution, onde surge a estátua dourada, iluminada pelo sol que começava a alaranjar, do Monument du Souvenir. 
A Place de la Constitution, mais que uma praça é sobretudo um miradouro, com uma vista ampla sobre o vale Pétrusse, entre as pontes Adolphe e Passerelle. 

Foi naquele local que permanecemos o tempo que faltava para que o dia acabasse, observando o verde intenso do vale e os monumentos de tons amarelados pela luz do pôr-do-sol que se começava a desenhar.
E foi desta forma que conhecemos uma nova cidade e um novo país que, como era esperado, não nos prendeu o suficiente para termos vontade de querer voltar. 



Alemanha

Vale do Reno

Depois de um trajeto de 190 Km entre a capital do Luxemburgo e a fronteira com a Alemanha, entrámos no vale do rio Rhein, ou Reno, como o conhecemos, que percorremos ao longo das suas margens, passando por aldeias pitorescas, por encostas pintadas por um verde vivo, algumas cobertas de vinha, e onde se salientam os vários castelos e palácios que marcam a paisagem do vale. 

No final do dia haveríamos de chegar a algumas das grandes cidades alemãs, que são banhadas por este rio, percorrendo, mais ou menos, o seguinte percurso:
  

O Vale do Reno é a região envolvente deste rio, que se estende desde os Alpes até aos Países Baixos. O rio Reno nasce nos Alpes suíços e percorre a Europa no sentido Sul-Norte, atravessando a Suíça, o Liechtenstein, a Áustria, a França, a Alemanha, e segue depois até à sua foz na costa da Holanda, onde se forma um extenso delta. Neste trajeto o Reno percorre um total de 1.230 km, o que faz dele um dos rios mais longos de toda a Europa.

Desde a colonização dos países por onde passa, o rio Reno constituiu sempre uma fronteira bem demarcada. No vale e nos terrenos envolventes foram crescendo pequenos burgos, em que alguns deles são ainda hoje pequenas aldeias, mas outros acabaram por se transformar em grandes cidades de cada um dos países atravessados. Foram também construídas diversas fortificações ao longo do curso do rio, que dominam e caracterizam a paisagem do vale. Atualmente, uma das principais atrações do vale são mesmo os numerosos castelos e fortificações visíveis sobre as escarpas, a maioria deles construídos na Idade Média, demarcando cada zona dominada pelos senhores e nobres que controlavam os vales.

E é por isso que a história do Vale do Reno está profundamente ligada aos seus castelos medievais, que serviam como fortalezas e postos de cobrança de impostos, ao longo de todo o rio, sendo determinantes para as inúmeras batalhas feudais, alianças e intrigas, que ali aconteceram ao durante séculos.

Atualmente este vale tem um enorme potencial agrícola e pastoril, mas também ao nível da produção de energia, eólica e hidroelétrica, pelo que se tornou numa das mais importantes regiões comerciais da Europa. Além disso, este rio constitui também um importante polo turístico, sobretudo na parte alemã do seu percurso. Em 2000, a UNESCO inscreveu uma parte do vale do Reno, numa extensão de 65 km, como património mundial da humanidade.

Fizemos o trajeto de carro diretamente entre o Luxemburgo e as margens do rio, onde começámos a nossa viagem pelo Vale do Reno, passando por alguns dos seus castelos.


Castelo de Stahleck

Este castelo foi construído por volta do ano 1100 e fica localizado no alto de uma colina, com vista para a pequena cidade de Bacharach. 
O castelo sofreu diversos conflitos ao longo da sua vida e teve se ser reconstruído várias vezes, e só em 1925 foi objeto da reconstrução final, que lhe deu o aspeto que conhecemos atualmente, com umas bonitas fachadas, dominadas pela sua torre central, mas também pela sua envolvente, com campos de vinha a preencherem as encostas da colina.


Castelo Pfalzgrafenstein

Subindo para Norte pela margem esquerda, surge o castelo seguinte, que ocupa uma ilha mais próxima da margem direita, perto de Kaub. O Castelo de Pfalzgrafenstein é famoso pelo seu formato diferenciado da maioria dos castelos tradicionais, e é frequentemente chamado de “navio de pedra”.

A sua história é bastante rica, com origem no ano de 1327, mandado construir pelo rei Luís IV da Baviera, com a função primária de servir como fortaleza, mas também como posto de cobrança de impostos, uma espécie de portagens para quem atravessava estas terras e, neste caso, por estar numa ilha, servia também para facilitar o controle do tráfego fluvial.



Castelo Gutenfels

Muito perto deste castelo surge um outro, que é chamado de Burg Gutenfels, e ocupa o alto de uma colina com extensos campos de vinha, e com o aspeto de uma fortaleza tradicional, com torres e ameias, num conjunto que forma uma paisagem  bastante bela. 

A imagem é indiscutivelmente bonita, mas já os vinhos que ali se produzem, que provámos durante o almoço, ficam a anos de luz dos nossos e, particularmente, daqueles que se fazem nas encostas do vale do nosso Douro vinhateiro, com algumas semelhanças paisagísticas, com a vinha em socalcos, mas sem o mesmo resultado na qualidade do vinho produzido.


Castelo Katz e Castelo Maus

A pouco mais de 10 km pela margem direita, vamos encontrar na margem oposta mais dois dos castelos deste vale, os Castelos Maus e Katz, o que significa, os castelos do gato e do rato.

O nome destes castelos é curioso, pois foi atribuído o apelido Katz (gato) e Maus (rato) por serem dois castelos vizinhos de famílias rivais, que se opunham constantemente num jogo do gato e do rato.

O Castelo Katz foi construído em1371 pelo Conde Wilhelm II de Katzenelnbogen, ocupando uma posição estratégica, sobre a encosta íngreme, para proteger a cidade de St. Goarshausen e controlar o tráfego no rio.

Durante as guerras napoleónicas, o castelo foi severamente bombardeado e acabou em ruínas. Somente no final do século XIX foi reconstruído, desta vez em estilo romântico, mantendo o visual de conto de fadas que nos encanta quando observamos as suas fachadas.
O Castelo Maus foi construído em 1388 pelo arcebispo de Trier, Boemundo II, para proteger as suas terras e cobrar impostos... andam todos ao mesmo, e até hoje.

O castelo resistiu por séculos, mas sofreu danos profundo durante algumas guerras, tendo sido parcialmente destruído no século XVII. Foi restaurado no final do século XIX e, hoje, é um dos castelos mais pitorescos do vale do Reno. A sua torre alta e as muralhas bem preservadas dão a imagem de um verdadeiro castelo medieval, mas a sua beleza resulta sobretudo da paisagem do rio e das encostas envolventes, com os campos muito verdes, da vegetação natural e da vinha ali plantada.



Boppard

A paragem seguinte levou-nos a conhecer uma das aldeias do vale, ainda na margem esquerda do rio. Trata-se de Boppard, uma aldeia muito mimosa, localizada entre as encostas cobertas de vinha e o rio, com a presença do habitual castelo no topo da colina e com as chamadas casas de enxaimel, contruídas com ripas de madeira à vista, que parecem quase casas de bonecas.

Percorremos cada uma das ruas desta aldeia até chegarmos à beira do rio, junto ao cais onde chegam e partem os barcos que fazem os passeios, subindo e descendo o rio, o que constitui um dos programas turísticos mais procurados nesta zona da Alemanha... e aqui poderíamos ter escolhido fazer uma passeio de barco, em vez de continuarmos pela estrada. 

Não sei qual será a melhor solução para visitar este vale, e isso dependerá, naturalmente, daquilo que cada pessoa mais aprecia. Por um lado temos a alternativa mais imersiva de entramos num barco que vai parando em cada uma das atrações ao longo do rio; ou podemos ir de carro, seguindo pela margem e parando onde e quando quisermos, sempre sozinhos e não entre uma multidão de turistas numa espécie de aquário de vidro... que é o que nos faz lembrar este tipo de barcos.

Percebe-se qual é a minha escolha natural. E foi assim que fizemos, saindo de Boppard para Norte, continuando a descida do rio sempre de carro pela estrada marginal, parando nas aldeias mais típicas e nos vários miradouros que vão aparecendo ao longo das margens e que nos permitem contemplar as bonitas paisagens do vale.

Toda a estrada que percorre o vale é bastante calma e pouco concorrida, embora o Reno seja um polo turístico muito movimentado, a verdade é que os turistas preferem fazer o percurso de barco e não havia assim tanta gente na estrada.

E lá seguimos de carro, mas sem deixarmos de nos aproximar de alguns pontos onde é possível contemplar as belas paisagens que este rio vai proporcionando.


Castelo Marksburg

E além das belas paisagens do rio, vão voltando a aparecer novos castelos e palácios de épocas, tipos e tamanhos diversos... como se estivéssemos em pleno conto de fadas. 

O próximo surge no alto da colina que se ergue na margem direita, junto à povoação de Braubach... trata-se do imponente castelo de Marksburg,
 
É uma fortaleza autêntica do século XII, e é um dos exemplos mais bem preservados daquilo que é um castelo medieval do Vale do Reno. Este é o único dos castelos deste vale que nunca foi destruído e reconstruído, talvez pela sua localização, quase empoleirado no alto de um rochedo, certamente de difícil acesso para as forças inimigas. 

Quem viajar pela margem direita do rio, ou vier de barco e parar em Braubach, pode fazer a visita ao Castelo, que oferece um belo exemplo de uma construção medieval bastante bem preservada. Mas a alternativa mais comum será apreciarmos à distancia a silhueta deste bonito castelo.


Stolzenfels e Castelo de Stolzenfels

Das aldeias por onde fomos passando escolhemos Stolzenfels para uma paragem mais demorada para almoçar. Fizemos questão de acompanhar a refeição com um vinho branco feito das uvas daquelas encostas, que não apreciámos particularmente, como já tinha referido.

Trata-se de uma pequena aldeia que serve de base para quem pretende visitar o seu castelo, este localizado na margem direita, o que permite que o possamos visitar sem ter de procurar um ponte para cruzar o rio, que são muito poucas ao longo de toda esta zona.

O Castelo de Stolzenfels foi restaurado no século XIX, durante o período romântico, e é um belo exemplo da influência do Romantismo na arquitetura, com uns belos jardins e os interiores com uma decoração rica.

Originalmente, o castelo foi construído no século XIII como um posto de cobrança de impostos e para  proteção contra os ataques inimigos, mas chegou a ser destruído pelas tropas francesas em 1689 durante a Guerra dos Nove Anos, tendo permanecido em ruínas até o século XIX. Nessa altura o Rei Frederico Guilherme IV da Prússia adquiriu as ruínas e encomendou os trabalhos de restauração e ampliação, seguindo a tendência do estilo neogótico, transformando-o assim numa residência de verão real.

Hoje o castelo pode ser visitado, mas mesmo a imagem exterior das suas fachadas já é um atrativo suficientemente interessante para quem visita esta região do Vale do Reno.

Mais à frente iriamos sair da zona encantada do vale e iríamos mesmo encontrar as principais cidades que são banhadas por este rio, começando pela antiga capital alemã, durante todo o período da Guerra Fria, a cidade de Bona.

E pensando um pouco nesta viagem, e embora os castelos que vamos encontrando não tenham o encanto dos da Baviera, nem as colinas cobertas de vinha têm a beleza do nosso vale do Douro, mas em conjunto, o que aqui se encontra oferece algumas das mais encantadoras paisagens que já tive oportunidade de conhecer.

Por isso, a quem queira visitar a Alemanha ou o centro da Europa, deixo o conselho para não perder a visita a este vale… seja de carro ou de barco, este terá de ser um local obrigatório. 



Bona

Ao fim de cerca de 90 km pelo Vale do Reno, acompanhando o rio na sua descida até ao mar, chegámos à cidade de Bona, a antiga capital da República Federal Alemã, antes da reunificação que se verificou após a queda do muro de Berlim em 1989.

Percorremos o centro histórico da cidade, que não é mais do que um conjunto de edifícios monumentais, dispostos em meia dúzia de praças e ruas bastante bonitas, mas semelhantes às da maioria das cidades alemãs... embora, neste caso, sejam visíveis várias alusões à sua figura maior, o compositor Ludwig van Beethoven.

Resolvemos percorrer a pequena teia de ruas e praças da cidade, com destaque para o seu centro histórico e para a Münsterplatz, onde encontramos a estátua de Beethoven… que nos recebe como anfitrião de quem ali chega.
O percurso que fomos fazendo durante esta tarde começou justamente nas margens do Reno, que tínhamos vindo a seguir de Sul para Norte. Entrámos depois no centro da cidade e seguimos aproximadamente os trajetos representados neste mapa:
  

Mas ainda antes de começar a descrição daquilo que encontrámos nesta cidade, vou recordar um pouco da sua história.

Bona é uma cidade encantadora às margens do Reno, com mais de dois mil anos de história. A sua origem remonta ao tempo dos romanos, que fundaram aqui um acampamento militar por volta do século 11 a.C. Mais tarde, durante a Idade Média, Bona tornou-se residência dos príncipes-eleitores de Colónia e ganhou destaque com a construção do Bonner Münster, uma das catedrais mais antigas da Alemanha.

Nos séculos seguintes floresceu como cidade barroca, enriquecida pelos seus palácios elegantes como o Kurfürstliches Schloss e o Poppelsdorfer Schloss.

No entanto, o nome de Bona ficou especialmente ligado à música, por ter ali nascido, em 1770, o compositor Ludwig van Beethoven, tornando a cidade num destino imperdível para os amantes da cultura.

No século XIX, a cidade reforçou o seu papel académico com a fundação da Universidade, que ainda hoje lhe dá vida e juventude.

Depois da Segunda Guerra Mundial, Bona teve um papel inesperado na história moderna, quando, entre 1949 e 1990, foi decretada como capital da República Federal da Alemanha. Mesmo após a reunificação, e quando Berlim recuperou esse estatuto, Bona manteve-se como “cidade federal”, acolhendo ministérios e organismos internacionais, incluindo agências da ONU.

Hoje, Bona é uma mistura única de passado e presente, combinando ruínas romanas, igrejas medievais e palácios barrocos, com a atmosfera de uma cidade universitária e cosmopolita… mas é sobretudo um lugar onde a música de Beethoven se encontra com a política, a ciência e a vida tranquila que se aprecia junto às margens do seu belo rio, o Reno… por onde começámos o nosso percurso, junto à Ponte Kennedy.
Ainda nas margens do rio o passeio começa junto ao Teatro de Ópera de Bona - Opera House, um dos marcos culturais da cidade, conhecido pelas produções de ópera, concertos e espetáculos de ballet. Uma breve passagem pela praça em frente ao edifício permite admirar a sua arquitetura moderna.

Seguimos depois até à Friedensplatz, uma das praças mais movimentadas e conhecidas da cidade, com espaços pedonais cheios de lojas e preenchidos por esplanadas de cafés e restaurantes. O nome significa “Praça da Paz” e remete à reconstrução da cidade após os difíceis anos da Segunda Guerra. Hoje, é sobretudo um espaço de encontro e de vida quotidiana, e funciona como ponto de passagem para quem circula pelo centro histórico.
A praça também recebe feiras, mercados sazonais e eventos culturais, o que a torna um lugar dinâmico e agradável, tanto para moradores como para visitantes.

Na envolvente deste espaço, que está sempre animado e cheio de comércio de rua, encontramos uma pequena fortaleza, que é chamada de Sterntor Bonn Innenstadt. O Sterntor é um portão histórico construído originalmente em 1244 como parte das muralhas medievais da cidade.
O próximo trajeto é feito pelo Dreieck Bonn, que inclui as ruas comerciais mais animadas do centro da cidade, e fica localizado em torno da Friedensplatz e da Münsterplatz, fazendo parte do coração pedonal de Bona, e onde se concentram várias lojas, cafés e restaurantes.
Na verdade, o nome Dreieck, que significa literalmente “triângulo”, não é o nome oficial de uma rua única, mas sim de um quarteirão de comércio de forma triangular.

Neste conjunto de ruas encontra-se uma mistura de estilos arquitetónicos, entre os prédios modernos, edifícios clássicos e até uma casa de enxaimel, aquelas casas medievais com ripas de madeira nas fachadas.
Saindo deste conjunto de ruas entramos na Münsterplatz, uma das praças centrais mais movimentadas de toda a cidade.

No centro da praça destaca-se a famosa estátua de Beethoven, inaugurada em 1845 por ocasião do 75.º aniversário do nascimento do compositor. Foi um evento histórico, celebrado com a presença de figuras ilustres da época, incluindo a Rainha Vitória do Reino Unido e o compositor Franz Liszt, que apoiou financeiramente a iniciativa.

Por detrás da estátua do mais famoso compositor alemão fica o Altes Postamt Bonn, um edifício amarelo que é o antigo prédio dos correios de Bona. Foi construído em meados do século XVIII, em estilo barroco e foi usado inicialmente como residência de um oficial da corte, mas, mais tarde, foi adquirido pelos serviços postais da cidade.
O nome desta praça vem do Bonner Münster, a imponente catedral românica que se ergue ali perto e que marca fortemente a identidade da cidade.

A catedral Bonn Minster, ou Bonner Münster, é a catedral da cidade e a sua principal igreja católica. Foi construída entre os séculos XI e XIII e é uma das mais antigas igrejas da Alemanha, considerada como um exemplo da arquitetura românica alemã.

Trata-se de um dos monumentos mais importantes e impressionantes de Bona e, mais do que um local religioso, representa um símbolo da cidade, testemunhando mais de 900 anos de história, e tendo sobrevivido a guerras e reconstruções, continuando a ser um espaço de espiritualidade, cultura e identidade para os habitantes locais.

No interior desta igreja, os visitantes encontram um ambiente solene, com belos vitrais, esculturas medievais e a cripta, que guarda relíquias e memórias da sua história.

Mas o seu exterior é muito mais impressionante, sobretudo quando o observamos do lado da Martinsplatz, com as suas torres altas e as fachadas sólidas em pedra, que lhe conferem um ar imponente e austero.
A praça que envolve a igreja, a Münsterplatz, é um ponto de encontro muito animado e um dos principais espaços da vida urbana de Bona… juntando ainda a belíssima imagem desta catedral.
Saímos pela Martinsplatz, seguindo na direção de uma outra praça da cidade, a Remigiusplatz. Esta pequena praça é conhecida sobretudo pela escultura que ali se ergue, chamada de "Mean Average", um monumento de bronze com seis metros de altura, que foi criado pelo escultor britânico Tony Cragg, em 2014.
Pouco depois entramos em mais uma das praças históricas da cidade, a Markt. Desde a Idade Média que esta praça funciona como ponto de encontro e espaço de comércio, onde se realizavam feiras e mercados que animavam a vida da cidade. Ainda hoje mantém essa tradição e, de manhã, a praça enche-se de bancas de frutas, flores, queijos e produtos regionais, criando uma atmosfera típica.

Além das bancas que ocupam o centro da praça, nos edifícios qua a contornam encontram-se cafés, restaurantes e lojas, tornando este espaço num lugar ideal para fazer uma pausa e observar o movimento.

Numa das suas extremidades fica o edifício mais emblemático da Markt, o Altes Rathaus (antiga Câmara Municipal), construído no século XVIII em estilo barroco, com a sua elegante fachada branca e dourada e a escadaria onde já foram recebidas várias personalidades históricas.
Saindo da Markt estamos muito próximo de um dos principais jardins do centro de Bona, o Hofgarten. Trata-se de um espaço amplo ajardinado, que fica localizado entre dois edifícios clássicos e uma igreja.

No lado superior fica o Kurfürstliches Schloss, um imenso palácio de estilo barroco do século XVIII que hoje é utilizado pela Universidade de Bona. A sua fachada imponente e a localização, junto ao relvado do jardim, central fazem dele um dos cartões-postais da cidade.
Do lado oposto do amplo relvado fica o edifício do Instituto de Arqueologia e Museu Académico de Arte da Universidade de Bona.

Numa das laterais deste jardim ergue-se a Evangelische Kreuzkirche Bonn. Foi inaugurada em 1871 e é a maior igreja protestante da cidade, com capacidade para 1.200 pessoas. Foi construída em estilo neogótico com tijolos vermelhos, contendo três naves e uma torre frontal. Foi severamente danificada durante a Segunda Guerra Mundial, mas foi depois reconstruída, já na década de 1950.

Além de espaço de culto, esta igreja tornou-se numa referência cultural e comunitária, conhecida pelos concertos de órgão, música sacra e outros eventos, como o Festival de Beethoven, que ali têm lugar. 
O percurso seguinte foi bastante mais longo, até chegarmos ao Poppelsdorf Palace. Este elegante palácio é hoje um centro de investigação universitária e encontra-se rodeado por um jardim botânico, formando um conjunto bastante bonito.

Trata-se de um edifício barroco construído entre 1715 e 1740 por ordem do príncipe-eleitor Joseph Clemens, da Baviera, que desejava uma residência de Verão fora das muralhas da cidade. A partir do século XIX, o edifício deixou de ter funções residenciais e passou a ser utilizado para fins académicos, contendo várias coleções científicas como minerais, fósseis e exemplares zoológicos.
O nosso percurso continuou depois até ao LVR-LandesMuseum Bonn, o Museu Regional de Bona, onde se encontram exposições de arqueologia, arte e história cultural, desde a pré-história até à atualidade.

A origem deste museu é das mais antigas da Alemanha, tendo sido fundado em 1820 com uma coleção que abrange mais de 400.000 anos de história cultural, desde a pré-história até à atualidade. Entre os destaques encontram-se vestígios arqueológicos da Idade da Pedra, do período romano e da Idade Média, bem como obras de arte desde o Renascimento até ao século XXI.

O museu é especialmente conhecido por peças únicas como o esqueleto do Neandertal de Oberkassel, considerado um dos mais antigos achados de Homo Neanderthalensis na Europa, datado há cerca de 14.000 anos atrás.

Além dos conteúdos deste riquíssimo museu, destacam-se também as belas fachadas, modernistas e envidraçadas, do atual edifício.
Voltámos agora de novo ao Centro Histórico e seguimos depois até à Beethoven-Haus, a casa-museu do compositor, onde pudemos visitar algumas das relíquias do espólio de um dos criadores mais marcantes da história da música.

Ludwig van Beethoven nasceu em Bona em 1770 e desde cedo revelou o seu talento musical. Filho de uma família modesta, recebeu as primeiras lições de piano e violino ainda em criança e, rapidamente, destacou-se como um prodígio. Na juventude trabalhou como músico na corte dos príncipes-eleitores de Colónia, mas foi em Viena que desenvolveu a sua carreira brilhante, tornando-se num dos maiores compositores da história da música. Apesar de enfrentar a surdez progressiva a partir dos 30 anos, criou ainda, depois disso, algumas das obras mais célebres da tradição clássica, como a Nona Sinfonia e a Missa Solemnis.

Beethoven morreu em 1827, mas a sua música continua a ser símbolo universal de genialidade e emoção.
O museu da Beethoven-Haus reúne uma das maiores coleções do mundo dedicadas ao compositor, incluindo instrumentos originais, manuscritos, cartas e objetos pessoais que permitem conhecer de perto a sua vida e obra. Além da exposição permanente, a Beethoven-Haus conta também com uma sala de concertos e um centro de pesquisa, mantendo viva a ligação entre a cidade e o seu filho mais ilustre.

Beethoven ficou conhecido, tanto pela sua magnífica obra, como pela sua surdez, aparentemente incompatível com a criação musical, mas que, neste caso, não o impediu de continuar a compor. Registo, por exemplo, que, na sua última década de vida, numa fase em que já estaria completamente surdo, conseguiu ainda compor 44 obras musicais.

Mas a visita ao museu não nos leva à dimensão do compositor, aliás, nada nos poderia transportar até à grandeza de tal figura a não ser a sua própria música. Por isso, nada será melhor para nos aproximarmos de Ludwig van Beethoven do que escutar atentamente alguma das suas composições, só assim conseguiremos um conhecimento mais profundo sobre o autor de obras-primas como o Hino à Alegria, que faz parte da 9ª sinfonia, ou o concerto para piano Für Elise.
Antes de voltarmos à ponte que atravessa o Reno, junto à qual tínhamos deixado o carro, passámos ainda por mais uma igreja, a Stiftskirche de Bona, uma das igrejas católicas mais antigas e importantes da cidade. O nome significa literalmente “Igreja do Colégio (ou Colegiada)”, porque esteve ligada durante séculos a um capítulo de uma comunidade religiosa formada por cónegos.

O edifício foi construído no período do chamado gótico tardio, entre os séculos XIV e XV, no local de uma antiga capela medieval. Originalmente a igreja era dedicada a São João Evangelista e São João Batista. Ao longo dos séculos a igreja passou por várias transformações, incluindo ampliações e reformas barrocas, mas preservando sempre a sua estrutura gótica e os suas nbelas torres.

Foi assim que terminámos a nossa visita à antiga capital administrativa da chamada República Federal Alemã, ou Alemanha Ocidental. Foi uma paragem curta, estivemos apenas durante uma tarde completa, mas pareceu-me ser o suficiente para conhecer um pouco daquilo que a cidade tem para oferecer. 

O seu centro histórico é bastante interessante, embora muito semelhante a outras cidades alemãs… mas aqui destaca-se particularmente presença da sua figura mais ilustre, o compositor Ludwig van Beethoven, que é a alma omnipresente desta cidade.


Colónia

Saindo de Bona e continuando o trajeto ao longo da descida do rio Reno, iríamos agora visitar a maior das cidades alemãs desta zona, trata-se da cidade de Köln, ou Colónia.

Fizemos o check-in num hotel perto da Estação Central, e da imensa e majestosa catedral, que coincide com a entrada no centro histórico, onde as pessoas enchem as ruas, praças e os espaços verdes junto às margens do rio, num ambiente animadíssimo.

A primeira imagem deste centro histórico foi uma recordação nostálgica da minha primeira paragem nesta cidade, quando ali estive há muitos anos atrás, chegando de comboio à Hauptbahnhof, a grandiosa estação de caminho-de-ferro, localizada junto à praça da catedral. Nessa altura, era ainda madrugada, enquanto o comboio onde vinha, de Munique para Amesterdão, fazia ali uma paragem noturna. Resolvi dar um salto até à porta da estação e fiquei estarrecido com a imponência daquela imensa catedral que ali se erguia totalmente iluminada. Foi uma imagem que guardei como algo quase místico que me tinha aparecido inesperadamente a meio da noite, mal tinha acabado de acordar, quase sem saber se aquilo era realidade ou era a construção de algum sonho. E durante muitos anos guardei essa imagem difusa daquela grande catedral a surgir ali à porta da estação, imaginando se seria mesmo verdade ou se tudo teria sido distorcido, pelo sono e pelas trevas. Mas não, ao fim de todo este tempo pude confirmar que à porta da estação está ali mesmo aquela imensa catedral, quase fantasmagórica, que nos oprime quando a contemplamos dali de baixo.
Colónia é uma cidade que combina um lastro histórico milenar com uma atmosfera animada e descontraída. Situada junto às margens do mítico rio Reno, foi fundada pelos romanos no ano 50 d.C. e, desde então, tornou-se um ponto de encontro de culturas, comércio e tradições. O seu grande símbolo é a sua imponente Catedral, um dos monumentos góticos mais impressionantes da Europa, que levou séculos a ser concluída e hoje encanta milhões de visitantes. Ao longo dos séculos, Colónia sobreviveu a guerras, ocupações e destruições, mas sempre renasceu com energia renovada. Depois da devastação da Segunda Guerra Mundial, a cidade foi reconstruída e transformou-se num centro moderno e acolhedor, onde a herança histórica convive com a vida cosmopolita. Atualmente, Colónia é famosa pela animação que se encontra nas suas ruas, mas também pela sua arquitetura majestosa, bem visível quando apreciamos a silhueta do seu centro histórico a partir da margem direita do Reno.
Voltando ao ano de 2015, começámos a nossa visita à cidade exatamente no mesmo local onde a tinha visto pela primeira vez, na Kölner Hauptbahnhof, a Estação Central de Colónia, que é uma das mais movimentadas estações ferroviárias da Alemanha, por onde passam diariamente mais de 300 mil viajantes… grande parte deles vêm de Sudeste, através da ligação sobre a ponte de Hohenzollern que cruza o rio Reno, também ela um dos principais símbolos da cidade.
O edifício da estação é ainda uma importante obra de engenharia, concebido com várias naves de grandes dimensões, com cúpulas construídas em estrutura metálica, que lhe conferem uma dimensão majestosa.
À saída da estação para o seu pátio principal, estende-se uma escada de nos leva diretamente até à magnífica Catedral de Colónia, e é a partir daí que começa o nosso percurso, passando pelos pontos principais da cidade, que se representam neste mapa:
  
A grande catedral da cidade e o seu principal símbolo, a Kölner Dom, é um monumento considerado pela UNESCO como património da humanidade, e é também a terceira igreja mais alta do mundo. Atualmente atrai mais de seis milhões de turistas por ano, o que lhe dá o estatuto do local turístico mais visitado da Alemanha. A sua principal fachada é algo perfeitamente colossal e merece ser observada detalhadamente, para que seja possível entendermos a preciosidade dos pormenores que ali foram esculpidos.
A construção desta igreja, que é católica e dedicada a São Pedro e à Nossa Senhora, foi feita em estilo gótico e começou no século XIII, tendo demorado mais de 600 anos para ser acabada. A sua nave central tem um comprimento de 144m e uma largura de 86m, e as duas torres têm 157m de altura. Quando foi concluída, em 1880, era o edifício mais alto do mundo.
Na Segunda Guerra Mundial a catedral sofreu 14 ataques de bombardeamentos aéreos por parte dos aliados, mas, ainda assim, nunca caiu completamente, ao contrário da vizinha ponte ferroviária, a Hohenzollernbrücke, que ficou completamente destruída.
    
De qualquer forma, esta igreja foi sujeita a obras de reconstrução profundas no pós-guerra, que foram acabadas apenas em 1956, quando a Catedral adquiriu o aspeto que apresenta nos dias de hoje, embora seja frequentemente sujeita a trabalhos de restauro, o que acaba por perturbar a sua imagem com os sempre inconvenientes andaimes que forram os monumentos mais emblemáticos das grandes cidades por essa Europa fora.

O interior da Catedral impressiona tanto quanto a sua grandiosa fachada. Ao entrarmos somos imediatamente envolvidos pela dimensão daquele espaço, com as naves altíssimas e as colunas esbeltas que se parecem elevar até ao céu. A luz que atravessa os magníficos vitrais, alguns deles medievais e outros modernos, cria um ambiente místico e colorido.

Segundo uma lenda que envolve esta Catedral, no seu interior estará guardado o relicário de ouro com os restos mortais dos Três Reis Magos - Baltazar, Belchior e Gaspar. Conta a história que, em 1164, foram trazidas de Milão as supostas ossadas dos Três Reis Magos e que as mesmas estarão guardadas atrás do altar, numa arca de ouro e prata, ornamentada com pedras preciosas. A arca está lá, as ossadas talvez também lá estejam, agora se são ou não dos Reis Magos, isso já dependerá da fé de cada um.
No pátio de entrada da Catedral destacam-se duas obras de arte relevantes. O chamado Kreuzblume, que é uma reprodução à escala natural do pináculo de cada uma das duas torres; e a magnífica porta gótica da entrada da igreja.
    
Saindo da catedral atravessámos a Praça Domplatte e entrámos no posto oficial de vendas da Água-de-colónia 4711, embora o edifício original da perfumaria desta marca fique na rua Glockengasse, justamente no nº 4711, a apenas 600m da Domplatte. Comprámos um frasquinho desta famosa água-de-colónia, um tipo de perfume mais suave, composto por uma solução de óleos de perfume, entre 2% e 4%, diluídos em etanol. Quando foram testados pela primeira vez, estes novos aromas eram bastante inovadores, pois tratavam-se de fragrâncias muito frescas, em comparação com os aromas bastante mais fortes dos perfumes que se usavam à época. A criação deste líquido de aroma suave aconteceu exatamente na cidade de Colónia, o que lhe deu o nome que ainda hoje se mantém de água-de-colónia.

A marca da flagrância Nº 4711, a água-de-colónia da empresa alemã Mäurer & Wirtz GmbH & Co, obteve a denominação da empresa e respetiva marca devido à morada do edifício da sua loja original, na Rua Glockengasse nº 4711, bem no centro da cidade de Colónia.
Saímos da Domplatte na direção do rio, passando pelo complexo que inclui o Museum Ludwig e a Cologne Philharmonie, dois dos grandes marcos culturais de Colónia, localizados lado a lado.

Museum Ludwig é um dos mais importantes museus de arte moderna e contemporânea da Europa. A sua coleção é especialmente famosa pelo vasto conjunto de obras de Pablo Picasso, um dos maiores fora de Espanha. O museu acolhe também exposições temporárias de grande relevância, além de obras de mestres como Dalí, Miró e Kandinsky, tornando-se um ponto de encontro essencial para os amantes da arte moderna.

Logo ao lado, encontra-se a Cologne Philharmonie, uma sala de concertos inaugurada em 1986, com arquitetura moderna e uma acústica de excelência. O seu programa é diversificado, desde grandes concertos de música clássica até ao jazz.
Atravessámos o rio através da Hohenzollernbrücke, a ponte ferroviária mais utilizada em toda a Alemanha, que cruza o rio Reno junto à estação e que é também um dos principais símbolos da cidade de Colónia, funcionando num conjunto harmonioso com a catedral, pelo enquadramento paisagístico e porque o alinhamento central da ponte coincide exatamente com o eixo central da nave da catedral.
Originalmente, a ponte era já ferroviária, mas também rodoviária, no entanto, após a sua destruição em 1945, durante a Segunda Guerra Mundial, e após a posterior reconstrução, passou a ser exclusiva para o transporte ferroviário e tráfego pedonal. A ponte foi construída em 1911 e é formada por três vãos em arcos formados por treliças metálicas, de onde se suspendem as lajes dos tabuleiros, que acomodam quatro vias férreas e dois passadiços pedonais.
Os passadiços pedonais são caracterizados pelos muitos milhares de cadeados que estão presos aos guarda-corpos interiores de cada um deles, num gesto que muitos casais de namorados escolheram para selar o seu amor, prendendo à ponte um cadeado que simboliza a ligação entre eles e deitando a chave ao rio e, dessa forma, garantindo que essa ligação jamais se irá romper… mas é bom que não confiem apenas nos cadeados e façam mais alguma coisa no dia-a-dia para manter a relação forte e unida… digo eu.
Depois de atravessar o rio percorremos a margem Sul onde se destaca, sobretudo, o chamado Boulevoir do Reno, ou Rheinboulevard.

É um dos espaços mais agradáveis e animados de Colónia para se passear à beira-rio, ou permanecer nos degraus da imensa bancada que ali foi construída, observando as pontes que cruzam o Reno e as paisagens do centro histórico, com as suas torres góticas.

Esta infraestrutura tinha sido inaugurado em 2015, o ano em que visitámos a cidade, disponibilizando zonas ajardinadas, ciclovias, cafés e os tais degraus de pedra que descem em direção à água, criando um autêntico anfiteatro urbano. Nos dias de sol, o local enche-se de moradores e turistas que relaxam, conversam, fazem piqueniques ou simplesmente apreciam o pôr-do-sol sobre a cidade.

Junto a esta marginal fica uma bonita igreja ortodoxa, a Alt St. Heribert. Foi construída no início do século XI como parte de um mosteiro beneditino, erguido em honra de São Heriberto, arcebispo de Colónia e chanceler do Sacro Império Romano-Germânico, que faleceu em 1021 e foi canonizado pouco depois.
Voltámos de novo para a margem esquerda, onde fica o centro histórico, cruzando dessa vez a Deutzer Brücke, uma ponte rodoviária que atravessa o Reno. Ao longo deste percurso somos acompanhados permanentemente pelas mais belas paisagens que podem ser contempladas em Colónia, que enquadram as maiores atrações arquitetónicas desta cidade.

Para além da ponte ferroviária, são visíveis os contornos da Cidade Velha, de onde se destaca a igreja de Sankt Martin e, claro, a imponente Catedral de Colónia.
Chegados à margem Norte entramos no coração da Cidade Velha, com as suas casas típicas e os espaços verdes junto ao rio, na zona do Fischmarkt. Mais atrás fica o Alter Markt e a praça da Câmara Municipal da cidade, o Historisches Rathaus.

Bem no meio do aglomerado de casas que formam a cidade velha, sobressai a Gross Sankt Martin, a grande Igreja de Saint Martin, uma igreja românica católica cuja origem dos atuais edifícios remonta ao século XII. A igreja foi muito danificada na Segunda Guerra Mundial tendo sido sujeita a trabalhos de restauração profundos que foram concluídos em 1985.
Toda esta envolvente da cidade velha é uma zona bastante animada, cheia de restaurantes, bares e esplanadas, onde se misturam habitantes e turistas, e onde se destacam algumas casas coloridas, que são uma marca desta parte do centro histórico que é conhecida como o Old Fish Market.
Por detrás da cidade velha, surgem uma série de ruas mais modernas que são atualmente uma espécie de centro comercial contínuo, estando quase totalmente preenchidas por lojas, principalmente das grandes marcas de roupa.

De todas essas ruas destacam-se a Schildergasse e a Hohe Straße, a principal rua comercial de Colónia, que constitui o trajeto pedonal entre o centro de comércio e a zona da catedral.

No meio destas ruas do centro encontrámos agora o Nº 4711 da Rua Glockengasse, onde fica o edifício original da perfumaria da Água-de-Colónia 4711, um belo edifício de uma referência local, e uma fragrância que foi associada ao nome da própria cidade.
Neste dia a cidade estava diferente do habitual, preparava-se uma festa do orgulho-gay e, por isso, as ruas estavam muito animadas e preenchidas de uma forma um bocadinho peculiar, com muita cor, muitas bandeiras arco-íris e com muita gente… digamos que, “orgulhosa”.
Saímos de novo do centro até à praça Domplatte, junto à Catedral, onde terminámos a visita à cidade.

Voltámos ainda durante a noite e jantámos numa das cervejarias locais, onde experimentámos a típica comida alemã, como as salsichas ou os schnitzels. Quanto às cervejas, aqui na Alemanha costumo escolher a weizenbier, uma cerveja de trigo que foi sempre a minha escolha preferida, mas aqui em Colónia há uma especialidade local que devemos experimentar, a kölsch, uma cerveja local que será a escolha natural para que visite a cidade, e é também a preferência dos seus habitantes.

Depois disso, e porque aqui em julho a noite demora a chegar, deixámo-nos ficar até perto da meia-noite para conseguirmos assistir a um pôr-do-sol verdadeiro, de modo a que a escuridão da noite se instalasse, fazendo realçar algumas imagens lindíssimas que a noite de Colónia nos oferece, com os principais monumentos iluminados, sobretudo a igreja de Sankt Martin, e o conjunto formado pela Catedral e pela ponte metálica­­ Hohenzollernbrücke, proporcionando uma paisagem magnífica.


Feita uma avaliação à posteriori desta viagem pelo Vale do Reno, considero que Colónia é claramente a cidade mais interessante deste percurso ao longo do rio e aquela que nos oferece um conjunto mais rico de atrações, desde logo a sua magnífica catedral, mas é também a cidade mais animada e mais acolhedora.


Düsseldorf

Durante alguns anos, no fim do século XX, visitei a cidade de Dusseldorf para participar em reuniões de trabalho, e foi na companhia dos colegas alemães com quem trabalhava naquela época, que fui conhecendo o centro desta cidade. Na altura, o que mais me impressionou foi a vivência dos seus habitantes, que saem diariamente dos seus escritórios pouco depois das 16h, e enchem a Altstadt, a cidade velha, junto às mesas das esplanadas que preenchem, quase por completo, algumas das ruas deste bairro.

Para quem quiser viver essa experiência sugiro que apareça ao final da tarde para tomar uma cerveja numa esplanada, por exemplo, na Bolkerstraße, uma das ruas mais frequentadas e repleta de bares, restaurantes e cervejarias com mesas ao ar livre, sempre animadas e cheias de vida. Esta é uma das ruas pedonais que faz parte de um núcleo que é designado por “längste Theke der Welt” - que significa, “a maior bancada de bar do mundo”.
Mas Dusseldorf não é só cerveja e bares de ruas, é uma cidade com uma história rica e que desempenha um papel importante na atual Alemanha.

Düsseldorf nasceu à beira do seu rio, o Reno, a partir de um pequeno povoado de pescadores. Em 1288, após a Batalha de Worringen, recebeu oficialmente o estatuto de cidade, marcando o início da sua história urbana. Durante toda a Idade Média, cresceu como centro comercial e administrativo, beneficiando da sua posição estratégica junto ao rio.

No século XVII, sob o governo do príncipe-eleitor Johann Wilhelm II, Düsseldorf viveu um período de grande esplendor, atraindo artistas e arquitetos e foi assim que se consolidou como centro cultural.

No século XIX, já integrada no Reino da Prússia, ganhou força como polo industrial ligado às siderurgias e indústria química. Ao mesmo tempo, consolidou a sua vocação como cidade de feiras e exposições internacionais.

A Segunda Guerra Mundial trouxe a destruição provocada pelos bombardeamentos aliados, mas, no pós-guerra, Düsseldorf foi rapidamente reconstruída e transformada numa cidade moderna, mas sem perder alguns dos seus marcos históricos.

Hoje, a cidade é a capital do estado da Renânia do Norte-Vestfália, a região mais populosa e economicamente poderosa da Alemanha, e reconhecida como centro financeiro e de negócios.

De vila medieval à beira do Reno, Düsseldorf representa hoje uma metrópole internacional e um dos motores económicos e culturais da Alemanha contemporânea.

Em 2015 voltei à cidade quando descia o rio Reno, numa viagem pelo Benelux e o Vale do Reno e, desta vez, tive oportunidade para seguir um roteiro mais organizado, passando pelas principais atrações da cidade, e não ficando apenas no centro, aproveitando o tal bar de rua que é o maior do mundo. E foi este o roteiro que seguimos enquanto visitávamos a cidade de Dusseldorf:
  
Desta vez, deixámos o carro numa das extremidades da cidade, perto da ponte de Rheinknie, e começámos a nossa caminhada pela marginal que se forma ao longo da margem direita do Reno.

Começámos o passeio pelo Rheinturm e a Rheinkniebrücke, uma torre de telecomunicações e uma ponte, que, em conjunto, formam um dos cartões-postais mais reconhecidos da cidade.

A Rheinturm é uma torre de telecomunicações com 240m de altura, que funciona também como miradouro panorâmico, de onde se alcança uma vista incrível sobre o Reno, chegando até à cidade vizinha de Colónia nos dias mais claros.

Quanto à ponte, a Rheinkniebrücke, é uma das duas pontes que atravessam o Reno na zona da cidade, mas esta tem uma imagem diferenciada, com o seu mastro central e os tirantes que fixam o tabuleiro.
Seguimos depois pela marginal, a Rheinuferpromenade, que é um dos espaços mais agradáveis da cidade para passear, relaxar e sentir o ritmo local. Trata-se de uma longa avenida junto ao Reno, reservada a peões e bicicletas, construída nos anos 1990 quando parte da autoestrada que cortava a zona foi desviada para um túnel, devolvendo a frente ribeirinha às pessoas.

Ao caminharmos por esta marginal, temos sempre o rio Reno de um lado e, do outro, cafés, bares e restaurantes com esplanadas convidativas. O ambiente é descontraído, com famílias, turistas, ciclistas e artistas de rua.
Quando por aqui andei, algumas vezes era até Inverno, as esplanadas exibiam enormes aquecedores a gás para atenuar o frio, mas não deixavam de estar sempre cheias de alemães, que queriam usufruir deste estilo de vida ao ar livre que aqui é tão aproveitado.

Mas neste dia de julho, inesperadamente quente, com temperaturas acima dos 35ºC, este passeio pedonal estava quase transformado numa zona de praia. Para além dos espaços relvados, que estavam cheios de gente a apanhar banhos de sol, havia algumas zonas junto às esplanadas com areia branca  e mesmo recipientes de água onde alguns clientes se deixavam ficar com os pés de molho. Nas esplanadas, várias mangueiras deixavam sair esguichos de água que pulverizavam o ar para refrescar quem passava, fazendo lembrar o hábito andaluz nas tórridas “calles” de Sevilha.
Ao final da tarde, quando o calor começa a abrandar, esta marginal continua atrativa para quem quiser contemplar as cores do entardecer, nestas bonitas paisagens.
De seguida fizemos um pequeno desvio na direção do coração histórico da cidade, até chegarmos à praça do município, a Marktplatz, onde está o edifício da Rathaus, a Câmara Municipal da cidade.

No centro da praça encontra-se a estátua de Jan Wellem, o príncipe-eleitor que transformou Düsseldorf num importante centro cultural e político no final do século XVII, e um dos símbolos da cidade.

À volta dispõe-se o belo edifício do Rathaus, que foi erguido em 1573 em estilo renascentista e que foi sendo ampliado e remodelado ao longo dos anos, mantendo ainda hoje um aspeto clássico, todo em tijolo à vista, que contrasta com a Düsseldorf mais moderna.
Votando de novo até à margem do rio, encontramos o Schifffahrt Museum, que está instalado numa antiga torre da cidade, a Schlossturm.

O Schifffahrt Museum é o Museu da Navegação de Düsseldorf, e é dedicado à história do Reno e à importância da navegação fluvial para a cidade e para a região.

O museu está instalado no Schlossturm, a antiga torre do palácio dos condes de Berg, e foi construída no século XIII, mantendo ainda alguns elementos medievais.

No interior, o museu apresenta exposições sobre a evolução da navegação ao longo dos séculos, desde barcos medievais, comércio e transporte no Reno, até à tecnologia moderna e o impacto económico da navegação. Há também modelos de navios, instrumentos de navegação e recursos multimédia interativos.
Bem pertinho desta torre ergue-se a Basílica de St. Lambertus, uma igreja que foi construída no século XIII em estilo gótico, e que é famosa pela sua torre torcida, um dos símbolos da cidade.

A torre ganhou essa forma peculiar após um incêndio no século XIX, e durante a reconstrução, com a madeira ainda húmida, a estrutura acabou por entortar com o tempo, criando a silhueta retorcida que hoje distingue a igreja e alimenta várias lendas locais… uma das lendas mais conhecidas diz que a torre se endireitará no dia em que uma noiva virgem se casar nesta igreja, algo que, segundo os locais, ainda não aconteceu.
O interior da igreja é sóbrio e ao mesmo tempo imponente, com elementos góticos e barrocos, destacando-se o altar-mor e os túmulos dos duques de Berg.

Embora a torre da Basílica de St. Lambertus seja visível do lado da marginal direita do rio, se quisermos apreciar devidamente a sua imagem, será melhor atravessarmos o rio até à margem esquerda, de onde podemos ter uma panorâmica completa desta zona da igreja.
Na proximidade da basílica encontramos o Stadterhebungs Monument, uma escultura moderna que conta a história da fundação da cidade em 1288.

Trata-se de um monumento artístico, inaugurado em 1988, ano em que a cidade celebrou os 700 anos da sua fundação oficial, ocorrida em 1288. A escultura foi criada pelo artista Bert Gerresheim e é um verdadeiro “quadro em bronze” que narra, de forma dramática e expressiva, a história da Batalha de Worringen, uma batalha que ocorreu em 1288 e foi decisiva para a fundação da cidade, após a vitória do conde de Berg e dos cidadãos aliados, o que resultou na fundação de Düsseldorf com o estatuto de cidade.

O monumento apresenta figuras em movimento, cenas de combate, personagens históricos e símbolos religiosos, criando uma composição densa e cheia de detalhes que podemos explorar. É ao mesmo tempo uma obra de arte contemporânea e um memorial histórico, lembrando como uma pequena povoação de pescadores se tornou numa cidade livre e com identidade própria.
Continuámos pela Mühlenstraße, uma rua que liga a zona velha do Altstadt ao Reno, onde se sente o ritmo local, com as suas e lojas e cafés.

Nesta rua encontra-se a fachada principal de um dos hotéis de referência da cidade, o The Wellem. Trata-se de um hotel de luxo instalado no edifício de um antigo tribunal. Mesmo não ficando ali hospedados, a arquitetura é impressionante e é uma boa desculpa para entrarmos e tomarmos um café num dos seus espaços elegantes… se quisermos ser assaltados pelo que nos vão cobrar por um café. Se não nos quisermos arriscar, podemos ficar apenas pelo exterior, apreciando a fachada principal, imponente e clássica, com grandes colunas e um portal majestoso, refletindo o antigo edifício do tribunal.
Continuando um pouco mais para o interior vamos chegar ao German Oper am Rhein, a casa de ópera da cidade, que tem todos os anos uma programação de renome. Se não formos assistir a um espetáculo, pelo menos devemos passar por ali para admirar o edifício modernista e o ambiente cultural ao seu redor.
Daqui, rumamos à Galeria Düsseldorf Königsallee, um enorme e sofisticado centro comercial, que fica na avenida mais famosa da cidade, a Heinrich-Heine-Allee.
Muito perto deste shopping entramos na Königsallee, a rua das lojas de luxo e dos cafés chiques, e do canal arborizado, o Stadtgraben, por onde passeámos sem pressa, entre as vitrines das ruas e as pontes elegantes que cruzam o canal.
Voltámos de novo à cidade velha, o Altstadt, e chegámos à Carlsplatz Market, um mercado histórico cheio de bancas de flores, queijos, vinhos e pratos típicos, que é um ótimo lugar para almoçar ou petiscar.
E para terminar voltámos às principais ruas de comércio, como a Mittelstraße, e às ruas de bares e restaurantes, que formam o já mencionado “maior bar do mundo”, de que faz parte a Berger Straße, ou a Bolkerstraße, esta última com cerca de 300m pedonais ocupados por mais de 50 bares, restaurantes e esplanadas, ligados continuamente como se fosse sempre o mesmo bar… o tal que é apelidado do maior do mundo.


Acabámos aqui este dia de visita à cidade de Dusseldorf, e terminámos também a viagem que fizemos ao longo do Benelux e do vale do Reno. Faltava agora percorrer os 230km até chegarmos a Amesterdão, primeiro ao aeroporto para entregarmos o carro alugado, e depois, já de transportes públicos, com destino à capital dos Países Baixos, onde iríamos passar os próximos três dias que nos restavam desta viagem e cuja crónica pode ser aqui consultada:


Daquilo que vimos deste Benelux e Vale do Reno, ficam alguns lugares interessantes, como Bruxelas, Colónia ou a cidade do Luxemburgo, e outros mesmo tremendamente encantadores, sobretudo Kinderdijk, Bruges, Gent ou as margens do Reno... no global, foi uma viagem muito interessante, e quando acrescentamos ainda a cidade de Amesterdão, atingimos um nível realmente excecional. 

Só uma nota menos positiva, esta é uma zona bastante cara, tanto em hotéis como em restaurantes, muito pior do que, por exemplo, Itália, França e mesmo Inglaterra, e este facto também condiciona alguns graus de liberdade a quem viaja.


Carlos Prestes
Junho de 2015