O nosso destino de viagem neste dia de julho de 2015 foi a cidade belga de Bruges, um lugar lindíssimo que desempenha o papel de capital da Flandres Ocidental, onde se fala a língua flamenga, uma espécie de holandês, totalmente indecifrável, e que é marcada pela presença de belas igrejas e dos seus carrilhões, e que pode ser associada a imagens saídas de autênticos contos de fadas.
Bruges chega a ser chamada a "Veneza do Norte", por causa dos seus canais que a cercam e a atravessam... mas estes chavões em nada engrandecem ou diminuem uma cidade que vale por si só, pelas suas paisagens e pela sua personalidade, e não precisa de comparações com quaisquer outras cidades.

Bruges é uma cidade extraordinariamente bonita, com uma arquitetura que nos situa nas terras de príncipes e princesas e com recantos de uma beleza sublime, que nos fazem apetecer ficar demoradamente naquelas ruas e praças, desfrutando do encanto que se vai descobrindo. Mas como não há bela sem senão... encontrámos a cidade repleta de turistas, mas isso já vem sendo habitual, e temos que aceitar, afinal nós não somos diferentes, mas turistas a mais, distorcem uma paisagem que, supostamente, deveria ser medieval.
Mas, assumindo a cidade como ela é e não descartando os turistas, que dela fazem parte, vamos encontrar uma arquitetura prodigiosa, com ruas e praças dignas de bilhetes-postais, e muito marcada pela presença dos canais, que lhe dão ainda uma beleza mais requintada. Não é difícil percorrer as ruas que nos levam às principais praças e aos monumentos mais relevantes, e que nos permitem encontrar as mais bonitas margens dos canais, pois é tudo muito próximo, e mesmo que não se goste muito de andar a pé, não são necessárias caminhadas muito exigentes.
Deixo aqui o mapa da cidade, onde se assinalam os roteiros que fizemos sempre caminhando, e também a localização das principais atrações que visitámos:
O percurso que escolhemos levou-nos aos principais pontos de interesse, começando pela Igreja Nossa Sra. Mariastraat e pelos canais nas proximidades.

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A praça central, o Markt, é o coração de Bruges e ainda preserva boa parte de seu traçado original. Em tempos este local era chamado de fórum, tendo sido palco de muitos episódios da história da Flandres, desde batalhas a festas populares.
Cada lado da praça é ocupado por edifícios de diferentes estilos e diferentes épocas. De um lado ergue-se o grandioso Palácio Provincial e o antigo correio, que ocupam edificações neogóticas, e ao centro, fica a estátua de Jan Breidel e Piet de Konink, feita em 1887, em bronze e pedra, para homenagear o triunfo dos belgas numa batalha contra o rei da França, na revolução de 1302.
Num dos topos dispõem-se em sequência um conjunto de casas coloridas de quatro andares, muito bem conservadas, que parecem quase casas de brinquedo, atualmente ocupadas por esplanadas de cafés e restaurantes.
É também na praça central que fica o Belford ou Campanário de Bruges, principal símbolo da cidade.
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O Campanário de Bruges foi feito em etapas. Inicialmente, no século XIV, foram construídos o campanário e o corpo do prédio. Alguns anos depois, foi construído um terceiro trecho da torre, com secção octogonal (enquanto o corpo mais antigo é quadrado), levando-a até aos 80 m de altura. Assim a torre podia ser usada como observatório que servia, por exemplo, para evitar a propagação de algum incêndio, o que era bastante comum naquela época.
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Apenas eu e a minha filha Beatriz tivemos a coragem de avançar na escalada pela torre acima, subindo por uma escada em caracol de “apenas” 366 degraus para chegar ao topo e disfrutar de uma vista privilegiada sobre toda a cidade, e também para poder observar de perto o mecanismo do seu carrilhão que faz tocar 47 sinos.
A Ana e a Martinha optaram por ficar a disfrutar de um gofre magnífico, numa daquelas esplanadas nas casinhas coloridas que se observavam lá do alto... mas logo nos juntaríamos a elas, também merecíamos o nosso gofre.
Depois de deambularmos pelas ruas envolventes à praça central, o Markt, e experimentarmos algumas das iguarias mais típicas, como os gofres, e até comprarmos uns souvenires, seguimos pela principal rua de comércio, a Steenstraat, passando pela Simon Stevinplein, uma praça cheia de esplanadas, totalmente repletas, neste dia de sol e calor, até chegarmos à catedral de Sint-Salvators.
No regresso até à ponte de saída do centro da cidade, para voltarmos ao hotel, passámos ainda pelo principal jardim da cidade, o Minnewaterpark, mais um recanto bucólico desta cidade belíssima.
Apesar da cidade ser relativamente pequena, este percurso ainda obriga a uma caminhada entre três e quatro quilómetros, mas existem ainda outras alternativas de caminhos que podemos percorrer. Na verdade, caminhamos sempre para além dos trilhos que estão representados no mapa, e vamos assim explorando outros recantos na envolvente das ruas e praças principais, menos notáveis, mas igualmente bonitos e interessantes.
Mas há ainda uma outra hipótese de explorarmos esta cidade, que será fazermos um passeio de barco nos canais, aumentando a proximidade, e também a nossa entrega, nesta procura da face mais profunda da cidade... embora os canais, ao contrário do que acontece, por exemplo, em Amesterdão, não atravessem os principais pontos de interesse, cercando apenas o centro da cidade velha, mas, ainda assim, vão-nos dando uma perspetiva interessante daquilo que teria sido esta cidade medieval durante os séculos da sua existência.
Uma outra opção seria fazer um passeio de charrete o que me pareceu uma alternativa interessante, pelo menos para os mais preguiçosos (embora não tenha sequer sabido os preços, que não devem ser baixos, porque ali tudo é caríssimo). No entanto, esta proliferação de charretes pelas ruas do centro histórico provoca um efeito secundário bastante nefasto, com o cheiro a bosta de cavalo que domina a cidade, em vez daquilo que estaríamos à espera... que seria a mistura dos aromas vindos das casas de gofres e das chocolatarias.
Tivemos ainda a oportunidade de jantar numa das praças preenchidas por mesas e cadeiras das muitas esplanadas que a cidade oferece, e pudemos experimentar um dos pratos mais característicos da cozinha belga, os mules, ou mexilhões, que aqui se cozinham ao natural ou com vários tipos de molhos. O prato é bastante agradável e vale a pena experimentar pelo menos uma vez, embora os preços sejam proibitivos. Temíamos que viesse a ser assim em toda a Bélgica e até em toda a viagem mas, na realidade, Bruges foi mesmo a cidade mais cara que encontrámos.
Raramente faço referência aos hotéis onde ficamos porque raramente esses hotéis têm importância relevante na viagem. Mas em Bruges o hotel foi uma agradável surpresa. Situado fora dos limites da cidade velha, que são materializados pelo canal principal, mas apenas a escassas centenas de metros, oferece facilidades de estacionamento, o que se torna impossível nos vários hotéis do centro. O hotel, o Bed&Breakfast Filemon&Baucis é um espaço extremamente acolhedor, numa casa antiga totalmente recuperada com muito bom gosto e com uma decoração de estilo romântico, cheia de peças de grande requinte, tornando os quartos e os espaços comuns muito bem decorados e bastante aprazíveis. A dona do hotel foi uma simpatia e, para completar, o pequeno-almoço foi divinal, o que não é nada habitual por estas paragens. Por isso, recomendo vivamente este hotel pelo deixo aqui o link para acesso à respetiva página de Facebook (apesar de não ter qualquer interesse direto ou indireto):
Em jeito de balanço, Bruges é mesmo um destino interessante e encantador, apesar dos turistas. É uma cidade que não se visita apenas com os olhos, também se percorre com a alma, e ao partir, fica uma sensação nostálgica de abandonarmos um lugar apaixonante... entre os seus canais silenciosos e as ruas, praças e palácios, que, apesar das multidões, continuam ainda a transmitir as suas histórias de muitos séculos.
Julho 2015
Carlos Prestes