quinta-feira, 2 de julho de 2015

Bruges

Acordámos em Bruges, uma bonita cidade belga que é capital da Flandres Ocidental, onde se fala a língua flamenga, e que é marcada pela presença de igrejas e dos seus carrilhões e pode ser associada a imagens saídas de contos de fadas.

Bruges chega a ser chamada a "Veneza do Norte", por causa dos seus canais que a cercam e a atravessam... mas estes chavões em nada engrandecem ou diminuem, uma cidade que vale por si só, pelas suas paisagens e pela sua personalidade, e não precisa de comparações com quaisquer outras cidades.
À chegada a Bruges estávamos à espera de uma terra de sonhos e cheia de imagens de encantar. Mas talvez não tenha sido exatamente assim que a cidade se revelou. Não quer dizer que não achámos a cidade bonita, por que é efetivamente muito bonita, é só que, quando a expetativa é muito alta, a realidade nem sempre consegue lá chegar.

Mas, e repito, Bruges não deixa de ser uma cidade bem bonita, com uma arquitetura que nos situa nas terras de príncipes e princesas e com recantos de uma beleza sublime, que nos fazem apetecer ficar demoradamente naquelas ruas e praças, desfrutando do encanto que se vai descobrindo. Mas uma expetativa muito alta e o facto da cidade se encontrar repleta de turistas, não nos permitiu captar a plenitude dos seus encantos e ficámos com um ligeiro sabor a desilusão.

Assim, a quem decida visitar a cidade de Bruges, deixo apenas o conselho de moderar as expetativas, sabendo contudo que vai encontrar uma cidade com uma arquitetura bonita, cheia de igrejas, com recantos românticos e bucólicos, sobretudo nas margens dos canais, mas que não será fácil apreciar toda essa envolvente sem a presença constante de umas centenas de outros turistas com os mesmos objetivos.

Aqui encontrámos mesmo excursões de jovens onde todos usavam coletes refletores, transformando-os em autênticas manchas andantes, amarelas ou laranjas florescentes, que borravam a paisagem, supostamente medieval.

Mas, assumindo a cidade como ela é, não é difícil percorrer as ruas que nos levam às principais praças e aos monumentos mais relevantes e nos permitem encontrar as mais bonitas margens dos canais, e mesmo que não se goste muito de andar a pé, não são necessárias caminhadas muito exigentes.

O percurso que escolhemos levou-nos aos principais pontos de interesse, começando pela Igreja Nossa Sra. Mariastraat e pelos canais nas proximidades.
As paisagens dos canais são as mais bucólicas e mais encantadoras que podemos imaginar, sobretudo pela arquitetura medieval dos edifícios lindíssimos que se dispõem ao longo das margens, como se emergissem das próprias águas.

A poucos metros do canal principal chega-se à praça Burg, com um conjunto arquitetónico fantástico, que enverga o edifício da Câmara Municipal, o Stadhuis, construído no século XV, num estilo gótico luxuoso, mostrando o poder que Bruges ostentava na Idade Média.
Ainda na praça Burg, fica o santuário Heilig Bloedbasiliek, com uma entrada discreta e pequena que pode até passar despercebida. O acesso é bastante sóbrio, mas o interior da Basílica, cujo nome se traduz como a Basílica do Sangue Sagrado, guarda uma relíquia poderosa, um frasco que, supostamente, guarda o próprio sangue de Cristo. 

A rua Breidelstraat, com apenas 50 m, liga as duas principais praças da cidade, a Burg e a Markt. É uma rua repleta de lojinhas que vendem souvenires, gofres acabados de fazer e as famosas rendas de bilros da cidade (semelhantes às portuguesas), bem como de algumas lojas de chocolates belgas, como os Godiva.

A praça central, o Markt, é o coração de Bruges e ainda preserva boa parte de seu traçado original. Em tempos este local era chamado de fórum, tendo sido palco de muitos episódios da história da Flandres, desde batalhas a festas populares. 
Cada lado da praça é ocupado por edifícios de diferentes estilos e diferentes épocas. De um lado o grandioso Palácio Provincial e o antigo correio ocupam as edificações neogóticas. Num dos topos dispõem-se em sequência um conjunto de casas coloridas de quatro andares, muito bem conservadas, que parecem quase casas de brinquedo, atualmente ocupadas por esplanadas de cafés e restaurantes. 
Ao centro da praça fica a estátua de Jan Breidel e Piet de Konink, feita em 1887, em bronze e pedra, para homenagear o triunfo dos belgas numa batalha contra o rei da França, na revolução de 1302.
É também na praça central que fica o Belford ou Campanário de Bruges, principal símbolo da cidade. 

O Campanário de Bruges foi feito em etapas. Inicialmente, no século XIV, foram construídos o campanário e o corpo do prédio. Alguns anos depois, foi construído um terceiro trecho da torre, com secção octogonal (enquanto o corpo mais antigo é quadrado), levando-a até aos 80 m de altura. Assim a torre podia ser usada como observatório que servia, por exemplo, para evitar a propagação de algum incêndio, o que era bastante comum naquela época. 
Apenas eu e a minha filha Beatriz tivemos a coragem de avançar na escalada pela torre acima, subindo por uma escada em caracol de “apenas” 366 degraus para chegar ao topo e disfrutar de uma vista privilegiada sobre toda a cidade, e também para poder observar de perto o mecanismo do seu carrilhão que faz tocar 47 sinos. 

A Ana e a Martinha optaram por ficar a disfrutar de um gofre magnífico, numa daquelas esplanadas nas casinhas coloridas que se observavam lá do alto... mas logo nos juntaríamos a elas, também merecíamos o nosso gofre.

Depois de deambularmos pelas ruas envolventes à praça central, o Markt, e experimentarmos algumas das iguarias mais típicas, como os gofres, e até comprarmos uns souvenires, seguimos pela principal rua de comércio, a Steenstraat, passando pela Simon Stevinplein, uma praça cheia de esplanadas, totalmente repletas, neste dia de sol e calor, até chegarmos à catedral de Sint-Salvators.

No regresso até à ponte de saída do centro da cidade, para voltarmos ao hotel, passámos ainda pelo principal jardim da cidade, o Minnewaterpark, mais um recanto bucólico desta cidade belíssima.
Deixo aqui também o mapa da cidade, onde se assinalam os roteiros que fizemos, sempre caminhando, e também a localização das principais atrações da cidade:
Apesar da cidade ser relativamente pequena, este percurso ainda obriga a uma caminhada entre três e quatro quilómetros, mas existem ainda outras alternativas de caminhos que podemos percorrer. Na verdade, caminhamos sempre para além dos trilhos que estão representados no mapa, e vamos assim explorando outros recantos na envolvente das ruas e praças principais, menos notáveis, mas igualmente bonitos e interessantes. 

Mas há ainda uma outra hipótese de explorarmos esta cidade, que será fazermos um passeio de barco nos canais, aumentando a proximidade, e também a nossa entrega, nesta procura da face mais profunda da cidade... embora os canais, ao contrário do que acontece, por exemplo, em Amesterdão, não atravessem os principais pontos de interesse, cercando apenas o centro da cidade velha, mas, ainda assim, vão-nos dando uma perspetiva interessante daquilo que teria sido esta cidade medieval durante os séculos da sua existência.
 
Uma outra opção seria fazer um passeio de charrete o que me pareceu uma alternativa interessante, pelo menos para os mais preguiçosos (embora não tenha sequer sabido os preços, que não devem ser baixos, porque ali tudo é caríssimo). No entanto, esta proliferação de charretes pelas ruas do centro histórico provoca um efeito secundário bastante nefasto, com o cheiro a bosta de cavalo que domina a cidade, em vez daquilo que estaríamos à espera... que seria a mistura dos aromas vindos das casas de gofres e das chocolatarias.

Tivemos ainda a oportunidade de jantar numa das praças preenchidas por mesas e cadeiras das muitas esplanadas que a cidade oferece, e pudemos experimentar um dos pratos mais característicos da cozinha belga, os mules, ou mexilhões, que aqui se cozinham ao natural ou com vários tipos de molhos. O prato é bastante agradável e vale a pena experimentar pelo menos uma vez, embora os preços, como quase tudo nesta cidade, sejam proibitivos. Temíamos que viesse a ser assim em toda a Bélgica e até em toda a viagem mas, na realidade, Bruges foi mesmo a cidade mais cara que encontrámos.

Raramente faço referência aos hotéis onde ficamos porque raramente esses hotéis têm importância relevante na viagem. Mas em Bruges o hotel foi uma agradável surpresa. Situado fora dos limites da cidade velha, que são materializados pelo canal principal, mas apenas a escassas centenas de metros, oferece facilidades de estacionamento, o que se torna impossível nos vários hotéis do centro. O hotel, o Bed&Breakfast Filemon&Baucis é um espaço extremamente acolhedor, numa casa antiga totalmente recuperada com muito bom gosto e com uma decoração de estilo romântico, cheia de peças de grande requinte, tornando os quartos e os espaços comuns muito bem decorados e bastante aprazíveis. A dona do hotel foi uma simpatia e, para completar, o pequeno-almoço foi divinal, o que não é nada habitual por estas paragens. Por isso, recomendo vivamente este hotel pelo deixo aqui o link para acesso à respetiva página de Facebook (apesar de não ter qualquer interesse direto ou indireto):


Em jeito de balanço, referia atrás que houve uma pequena dose de desilusão, mas isso não quer dizer que Bruges seja uma cidade desinteressante, nada disso, e se dei essa ideia fui enganador. Foi só o problema de expectativas demasiado elevadas, porque, na realidade, Bruges foi mesmo um destino bastante interessante e mesmo muito encantador.

Bruges não se visita apenas com os olhos, também se percorre com a alma, e ao partir, fica sempre a sensação de que deixamos um pedaço de nós entre os seus canais silenciosos e as ruas, praças e palácios, que continuam a contar as suas histórias de muitos séculos.


Julho 2015
Carlos Prestes