Durante alguns anos, no fim do século XX, visitei a cidade de Dusseldorf para participar em reuniões de trabalho, e foi na companhia dos colegas alemães com quem trabalhava naquela época, que fui conhecendo o centro desta cidade. Na altura, o que mais me impressionou foi a vivência dos seus habitantes, que saem diariamente dos seus escritórios pouco depois das 16h, e enchem a Altstadt, a cidade velha, junto às mesas das esplanadas que preenchem, quase por completo, algumas das ruas deste bairro.
Para quem quiser viver essa experiência sugiro que apareça ao final da tarde para tomar uma cerveja numa esplanada, por exemplo, na Bolkerstraße, uma das ruas mais frequentadas e repleta de bares, restaurantes e cervejarias com mesas ao ar livre, sempre animadas e cheias de vida. Esta é uma das ruas pedonais que faz parte de um núcleo que é designado por “längste Theke der Welt” - que significa, “a maior bancada de bar do mundo”.

Mas Dusseldorf não é só cerveja e bares de ruas, é uma cidade com uma história rica e que desempenha um papel importante na atual Alemanha.
Düsseldorf nasceu à beira do seu rio, o Reno, a partir de um pequeno povoado de pescadores. Em 1288, após a Batalha de Worringen, recebeu oficialmente o estatuto de cidade, marcando o início da sua história urbana. Durante toda a Idade Média, cresceu como centro comercial e administrativo, beneficiando da sua posição estratégica junto ao rio.
No século XVII, sob o governo do príncipe-eleitor Johann Wilhelm II, Düsseldorf viveu um período de grande esplendor, atraindo artistas e arquitetos e foi assim que se consolidou como centro cultural.
No século XIX, já integrada no Reino da Prússia, ganhou força como polo industrial ligado às siderurgias e indústria química. Ao mesmo tempo, consolidou a sua vocação como cidade de feiras e exposições internacionais.
A Segunda Guerra Mundial trouxe a destruição provocada pelos bombardeamentos aliados, mas, no pós-guerra, Düsseldorf foi rapidamente reconstruída e transformada numa cidade moderna, mas sem perder alguns dos seus marcos históricos.
Hoje, a cidade é a capital do estado da Renânia do Norte-Vestfália, a região mais populosa e economicamente poderosa da Alemanha, e reconhecida como centro financeiro e de negócios.
De vila medieval à beira do Reno, Düsseldorf representa hoje uma metrópole internacional e um dos motores económicos e culturais da Alemanha contemporânea.
Em 2015 voltei à cidade quando descia o rio Reno, numa viagem pelo Benelux e o Vale do Reno e, desta vez, tive oportunidade para seguir um roteiro mais organizado, passando pelas principais atrações da cidade, e não ficando apenas no centro, aproveitando o tal bar de rua que é o maior do mundo. E foi este o roteiro que seguimos enquanto visitávamos a cidade de Dusseldorf:
Desta vez, deixámos o carro numa das extremidades da cidade, perto da ponte de Rheinknie, e começámos a nossa caminhada pela marginal que se forma ao longo da margem direita do Reno.
Começámos o passeio pelo Rheinturm e a Rheinkniebrücke, uma torre de telecomunicações e uma ponte, que, em conjunto, formam um dos cartões-postais mais reconhecidos da cidade.
A Rheinturm é uma torre de telecomunicações com 240m de altura, que funciona também como miradouro panorâmico, de onde se alcança uma vista incrível sobre o Reno, chegando até à cidade vizinha de Colónia nos dias mais claros.
Quanto à ponte, a Rheinkniebrücke, é uma das duas pontes que atravessam o Reno na zona da cidade, mas esta tem uma imagem diferenciada, com o seu mastro central e os tirantes que fixam o tabuleiro.

Seguimos depois pela marginal, a Rheinuferpromenade, que é um dos espaços mais agradáveis da cidade para passear, relaxar e sentir o ritmo local. Trata-se de uma longa avenida junto ao Reno, reservada a peões e bicicletas, construída nos anos 1990 quando parte da autoestrada que cortava a zona foi desviada para um túnel, devolvendo a frente ribeirinha às pessoas.
Ao caminharmos por esta marginal, temos sempre o rio Reno de um lado e, do outro, cafés, bares e restaurantes com esplanadas convidativas. O ambiente é descontraído, com famílias, turistas, ciclistas e artistas de rua.
Quando por aqui andei, algumas vezes era até Inverno, as esplanadas exibiam enormes aquecedores a gás para atenuar o frio, mas não deixavam de estar sempre cheias de alemães, que queriam usufruir deste estilo de vida ao ar livre que aqui é tão aproveitado.
Mas neste dia de julho, inesperadamente quente, com temperaturas acima dos 35ºC, este passeio pedonal estava quase transformado numa zona de praia. Para além dos espaços relvados, que estavam cheios de gente a apanhar banhos de sol, havia algumas zonas junto às esplanadas com areia branca e mesmo recipientes de água onde alguns clientes se deixavam ficar com os pés de molho. Nas esplanadas, várias mangueiras deixavam sair esguichos de água que pulverizavam o ar para refrescar quem passava, fazendo lembrar o hábito andaluz nas tórridas “calles” de Sevilha.

Ao final da tarde, quando o calor começa a abrandar, esta marginal continua atrativa para quem quiser contemplar as cores do entardecer, nestas bonitas paisagens.

De seguida fizemos um pequeno desvio na direção do coração histórico da cidade, até chegarmos à praça do município, a Marktplatz, onde está o edifício da Rathaus, a Câmara Municipal da cidade.
No centro da praça encontra-se a estátua de Jan Wellem, o príncipe-eleitor que transformou Düsseldorf num importante centro cultural e político no final do século XVII, e um dos símbolos da cidade.
À volta dispõe-se o belo edifício do Rathaus, que foi erguido em 1573 em estilo renascentista e que foi sendo ampliado e remodelado ao longo dos anos, mantendo ainda hoje um aspeto clássico, todo em tijolo à vista, que contrasta com a Düsseldorf mais moderna.

Votando de novo até à margem do rio, encontramos o Schifffahrt Museum, que está instalado numa antiga torre da cidade, a Schlossturm.
O Schifffahrt Museum é o Museu da Navegação de Düsseldorf, e é dedicado à história do Reno e à importância da navegação fluvial para a cidade e para a região.
O museu está instalado no Schlossturm, a antiga torre do palácio dos condes de Berg, e foi construída no século XIII, mantendo ainda alguns elementos medievais.
No interior, o museu apresenta exposições sobre a evolução da navegação ao longo dos séculos, desde barcos medievais, comércio e transporte no Reno, até à tecnologia moderna e o impacto económico da navegação. Há também modelos de navios, instrumentos de navegação e recursos multimédia interativos.

Bem pertinho desta torre ergue-se a Basílica de St. Lambertus, uma igreja que foi construída no século XIII em estilo gótico, e que é famosa pela sua torre torcida, um dos símbolos da cidade.
A torre ganhou essa forma peculiar após um incêndio no século XIX, e durante a reconstrução, com a madeira ainda húmida, a estrutura acabou por entortar com o tempo, criando a silhueta retorcida que hoje distingue a igreja e alimenta várias lendas locais… uma das lendas mais conhecidas diz que a torre se endireitará no dia em que uma noiva virgem se casar nesta igreja, algo que, segundo os locais, ainda não aconteceu.

O interior da igreja é sóbrio e ao mesmo tempo imponente, com elementos góticos e barrocos, destacando-se o altar-mor e os túmulos dos duques de Berg.
Embora a torre da Basílica de St. Lambertus seja visível do lado da marginal direita do rio, se quisermos apreciar devidamente a sua imagem, será melhor atravessarmos o rio até à margem esquerda, de onde podemos ter uma panorâmica completa desta zona da igreja.

Na proximidade da basílica encontramos o Stadterhebungs Monument, uma escultura moderna que conta a história da fundação da cidade em 1288.
Trata-se de um monumento artístico, inaugurado em 1988, ano em que a cidade celebrou os 700 anos da sua fundação oficial, ocorrida em 1288. A escultura foi criada pelo artista Bert Gerresheim e é um verdadeiro “quadro em bronze” que narra, de forma dramática e expressiva, a história da Batalha de Worringen, uma batalha que ocorreu em 1288 e foi decisiva para a fundação da cidade, após a vitória do conde de Berg e dos cidadãos aliados, o que resultou na fundação de Düsseldorf com o estatuto de cidade.
O monumento apresenta figuras em movimento, cenas de combate, personagens históricos e símbolos religiosos, criando uma composição densa e cheia de detalhes que podemos explorar. É ao mesmo tempo uma obra de arte contemporânea e um memorial histórico, lembrando como uma pequena povoação de pescadores se tornou numa cidade livre e com identidade própria.

Continuámos pela Mühlenstraße, uma rua que liga a zona velha do Altstadt ao Reno, onde se sente o ritmo local, com as suas e lojas e cafés.
Nesta rua encontra-se a fachada principal de um dos hotéis de referência da cidade, o The Wellem. Trata-se de um hotel de luxo instalado no edifício de um antigo tribunal. Mesmo não ficando ali hospedados, a arquitetura é impressionante e é uma boa desculpa para entrarmos e tomarmos um café num dos seus espaços elegantes… se quisermos ser assaltados pelo que nos vão cobrar por um café. Se não nos quisermos arriscar, podemos ficar apenas pelo exterior, apreciando a fachada principal, imponente e clássica, com grandes colunas e um portal majestoso, refletindo o antigo edifício do tribunal.

Continuando um pouco mais para o interior vamos chegar ao German Oper am Rhein, a casa de ópera da cidade, que tem todos os anos uma programação de renome. Se não formos assistir a um espetáculo, pelo menos devemos passar por ali para admirar o edifício modernista e o ambiente cultural ao seu redor.

Daqui, rumamos à Galeria Düsseldorf Königsallee, um enorme e sofisticado centro comercial, que fica na avenida mais famosa da cidade, a Heinrich-Heine-Allee.

Muito perto deste shopping entramos na Königsallee, a rua das lojas de luxo e dos cafés chiques, e do canal arborizado, o Stadtgraben, por onde passeámos sem pressa, entre as vitrines das ruas e as pontes elegantes que cruzam o canal.

Voltámos de novo à cidade velha, o Altstadt, e chegámos à Carlsplatz Market, um mercado histórico cheio de bancas de flores, queijos, vinhos e pratos típicos, que é um ótimo lugar para almoçar ou petiscar.

E para terminar voltámos às principais ruas de comércio, como a Mittelstraße, e às ruas de bares e restaurantes, que formam o já mencionado “maior bar do mundo”, de que faz parte a Berger Straße, ou a Bolkerstraße, esta última com cerca de 300m pedonais ocupados por mais de 50 bares, restaurantes e esplanadas, ligados continuamente como se fosse sempre o mesmo bar… o tal que é apelidado do maior do mundo.
Acabámos aqui este dia de visita à cidade de Dusseldorf, e terminámos também a viagem que fizemos ao longo do vale do Reno. Faltava agora percorrer os 230km até chegarmos a Amesterdão, primeiro ao aeroporto para entregarmos o carro alugado, e depois, já de transportes públicos, com destino à capital dos Países Baixos, onde iríamos passar os próximos três dias que nos restavam desta viagem.
Carlos Prestes
Julho de 2015