segunda-feira, 6 de julho de 2015

Colónia


Saindo de Bona e continuando o trajeto ao longo da descida do rio Reno, iríamos agora visitar a maior das cidades alemãs desta zona, trata-se da cidade de Köln, ou Colónia.

Fizemos o check-in num hotel perto da Estação Central, e da imensa e majestosa catedral, que coincide com a entrada no centro histórico, onde as pessoas enchem as ruas, praças e os espaços verdes junto às margens do rio, num ambiente animadíssimo.

A primeira imagem deste centro histórico foi uma recordação nostálgica da minha primeira paragem nesta cidade, quando ali estive há muitos anos atrás, chegando de comboio à Hauptbahnhof, a grandiosa estação de caminho-de-ferro, localizada junto à praça da catedral. Nessa altura, era ainda madrugada, enquanto o comboio onde vinha, de Munique para Amesterdão, fazia ali uma paragem noturna. Resolvi dar um salto até à porta da estação e fiquei estarrecido com a imponência daquela imensa catedral que ali se erguia totalmente iluminada. Foi uma imagem que guardei como algo quase místico que me tinha aparecido inesperadamente a meio da noite, mal tinha acabado de acordar, quase sem saber se aquilo era realidade ou era a construção de algum sonho. E durante muitos anos guardei essa imagem difusa daquela grande catedral a surgir ali à porta da estação, imaginando se seria mesmo verdade ou se tudo teria sido distorcido, pelo sono e pelas trevas. Mas não, ao fim de todo este tempo pude confirmar que à porta da estação está ali mesmo aquela imensa catedral, quase fantasmagórica, que nos oprime quando a contemplamos dali de baixo.
Colónia é uma cidade que combina um lastro histórico milenar com uma atmosfera animada e descontraída. Situada junto às margens do mítico rio Reno, foi fundada pelos romanos no ano 50 d.C. e, desde então, tornou-se um ponto de encontro de culturas, comércio e tradições. O seu grande símbolo é a sua imponente Catedral, um dos monumentos góticos mais impressionantes da Europa, que levou séculos a ser concluída e hoje encanta milhões de visitantes. Ao longo dos séculos, Colónia sobreviveu a guerras, ocupações e destruições, mas sempre renasceu com energia renovada. Depois da devastação da Segunda Guerra Mundial, a cidade foi reconstruída e transformou-se num centro moderno e acolhedor, onde a herança histórica convive com a vida cosmopolita. Atualmente, Colónia é famosa pela animação que se encontra nas suas ruas, mas também pela sua arquitetura majestosa, bem visível quando apreciamos a silhueta do seu centro histórico a partir da margem direita do Reno.
Voltando ao ano de 2015, começámos a nossa visita à cidade exatamente no mesmo local onde a tinha visto pela primeira vez, na Kölner Hauptbahnhof, a Estação Central de Colónia, que é uma das mais movimentadas estações ferroviárias da Alemanha, por onde passam diariamente mais de 300 mil viajantes… grande parte deles vêm de Sudeste, através da ligação sobre a ponte de Hohenzollern que cruza o rio Reno, também ela um dos principais símbolos da cidade.
O edifício da estação é ainda uma importante obra de engenharia, concebido com várias naves de grandes dimensões, com cúpulas construídas em estrutura metálica, que lhe conferem uma dimensão majestosa.
À saída da estação para o seu pátio principal, estende-se uma escada de nos leva diretamente até à magnífica Catedral de Colónia, e é a partir daí que começa o nosso percurso, passando pelos pontos principais da cidade, que se representam neste mapa:
 
A grande catedral da cidade e o seu principal símbolo, a Kölner Dom, é um monumento considerado pela UNESCO como património da humanidade, e é também a terceira igreja mais alta do mundo. Atualmente atrai mais de seis milhões de turistas por ano, o que lhe dá o estatuto do local turístico mais visitado da Alemanha. A sua principal fachada é algo perfeitamente colossal e merece ser observada detalhadamente, para que seja possível entendermos a preciosidade dos pormenores que ali foram esculpidos.
A construção desta igreja, que é católica e dedicada a São Pedro e à Nossa Senhora, foi feita em estilo gótico e começou no século XIII, tendo demorado mais de 600 anos para ser acabada. A sua nave central tem um comprimento de 144m e uma largura de 86m, e as duas torres têm 157m de altura. Quando foi concluída, em 1880, era o edifício mais alto do mundo.
Na Segunda Guerra Mundial a catedral sofreu 14 ataques de bombardeamentos aéreos por parte dos aliados, mas, ainda assim, nunca caiu completamente, ao contrário da vizinha ponte ferroviária, a Hohenzollernbrücke, que ficou completamente destruída.
    
De qualquer forma, esta igreja foi sujeita a obras de reconstrução profundas no pós-guerra, que foram acabadas apenas em 1956, quando a Catedral adquiriu o aspeto que apresenta nos dias de hoje, embora seja frequentemente sujeita a trabalhos de restauro, o que acaba por perturbar a sua imagem com os sempre inconvenientes andaimes que forram os monumentos mais emblemáticos das grandes cidades por essa Europa fora.

O interior da Catedral impressiona tanto quanto a sua grandiosa fachada. Ao entrarmos somos imediatamente envolvidos pela dimensão daquele espaço, com as naves altíssimas e as colunas esbeltas que se parecem elevar até ao céu. A luz que atravessa os magníficos vitrais, alguns deles medievais e outros modernos, cria um ambiente místico e colorido.

Segundo uma lenda que envolve esta Catedral, no seu interior estará guardado o relicário de ouro com os restos mortais dos Três Reis Magos - Baltazar, Belchior e Gaspar. Conta a história que, em 1164, foram trazidas de Milão as supostas ossadas dos Três Reis Magos e que as mesmas estarão guardadas atrás do altar, numa arca de ouro e prata, ornamentada com pedras preciosas. A arca está lá, as ossadas talvez também lá estejam, agora se são ou não dos Reis Magos, isso já dependerá da fé de cada um.
No pátio de entrada da Catedral destacam-se duas obras de arte relevantes. O chamado Kreuzblume, que é uma reprodução à escala natural do pináculo de cada uma das duas torres; e a magnífica porta gótica da entrada da igreja.
    
Saindo da catedral atravessámos a Praça Domplatte e entrámos no posto oficial de vendas da Água-de-colónia 4711, embora o edifício original da perfumaria desta marca fique na rua Glockengasse, justamente no nº 4711, a apenas 600m da Domplatte. Comprámos um frasquinho desta famosa água-de-colónia, um tipo de perfume mais suave, composto por uma solução de óleos de perfume, entre 2% e 4%, diluídos em etanol. Quando foram testados pela primeira vez, estes novos aromas eram bastante inovadores, pois tratavam-se de fragrâncias muito frescas, em comparação com os aromas bastante mais fortes dos perfumes que se usavam à época. A criação deste líquido de aroma suave aconteceu exatamente na cidade de Colónia, o que lhe deu o nome que ainda hoje se mantém de água-de-colónia.

A marca da flagrância Nº 4711, a água-de-colónia da empresa alemã Mäurer & Wirtz GmbH & Co, obteve a denominação da empresa e respetiva marca devido à morada do edifício da sua loja original, na Rua Glockengasse nº 4711, bem no centro da cidade de Colónia.
Saímos da Domplatte na direção do rio, passando pelo complexo que inclui o Museum Ludwig e a Cologne Philharmonie, dois dos grandes marcos culturais de Colónia, localizados lado a lado.

O Museum Ludwig é um dos mais importantes museus de arte moderna e contemporânea da Europa. A sua coleção é especialmente famosa pelo vasto conjunto de obras de Pablo Picasso, um dos maiores fora de Espanha. O museu acolhe também exposições temporárias de grande relevância, além de obras de mestres como Dalí, Miró e Kandinsky, tornando-se um ponto de encontro essencial para os amantes da arte moderna.

Logo ao lado, encontra-se a Cologne Philharmonie, uma sala de concertos inaugurada em 1986, com arquitetura moderna e uma acústica de excelência. O seu programa é diversificado, desde grandes concertos de música clássica até ao jazz.
Atravessámos o rio através da Hohenzollernbrücke, a ponte ferroviária mais utilizada em toda a Alemanha, que cruza o rio Reno junto à estação e que é também um dos principais símbolos da cidade de Colónia, funcionando num conjunto harmonioso com a catedral, pelo enquadramento paisagístico e porque o alinhamento central da ponte coincide exatamente com o eixo central da nave da catedral.
Originalmente, a ponte era já ferroviária, mas também rodoviária, no entanto, após a sua destruição em 1945, durante a Segunda Guerra Mundial, e após a posterior reconstrução, passou a ser exclusiva para o transporte ferroviário e tráfego pedonal. A ponte foi construída em 1911 e é formada por três vãos em arcos formados por treliças metálicas, de onde se suspendem as lajes dos tabuleiros, que acomodam quatro vias férreas e dois passadiços pedonais.
Os passadiços pedonais são caracterizados pelos muitos milhares de cadeados que estão presos aos guarda-corpos interiores de cada um deles, num gesto que muitos casais de namorados escolheram para selar o seu amor, prendendo à ponte um cadeado que simboliza a ligação entre eles e deitando a chave ao rio e, dessa forma, garantindo que essa ligação jamais se irá romper… mas é bom que não confiem apenas nos cadeados e façam mais alguma coisa no dia-a-dia para manter a relação forte e unida… digo eu.
Depois de atravessar o rio percorremos a margem Sul onde se destaca, sobretudo, o chamado Boulevoir do Reno, ou Rheinboulevard.

É um dos espaços mais agradáveis e animados de Colónia para se passear à beira-rio, ou permanecer nos degraus da imensa bancada que ali foi construída, observando as pontes que cruzam o Reno e as paisagens do centro histórico, com as suas torres góticas.

Esta infraestrutura tinha sido inaugurado em 2015, o ano em que visitámos a cidade, disponibilizando zonas ajardinadas, ciclovias, cafés e os tais degraus de pedra que descem em direção à água, criando um autêntico anfiteatro urbano. Nos dias de sol, o local enche-se de moradores e turistas que relaxam, conversam, fazem piqueniques ou simplesmente apreciam o pôr-do-sol sobre a cidade.

Junto a esta marginal fica uma bonita igreja ortodoxa, a Alt St. Heribert. Foi construída no início do século XI como parte de um mosteiro beneditino, erguido em honra de São Heriberto, arcebispo de Colónia e chanceler do Sacro Império Romano-Germânico, que faleceu em 1021 e foi canonizado pouco depois.
Voltámos de novo para a margem esquerda, onde fica o centro histórico, cruzando dessa vez a Deutzer Brücke, uma ponte rodoviária que atravessa o Reno. Ao longo deste percurso somos acompanhados permanentemente pelas mais belas paisagens que podem ser contempladas em Colónia, que enquadram as maiores atrações arquitetónicas desta cidade.

Para além da ponte ferroviária, são visíveis os contornos da Cidade Velha, de onde se destaca a igreja de Sankt Martin e, claro, a imponente Catedral de Colónia.
Chegados à margem Norte entramos no coração da Cidade Velha, com as suas casas típicas e os espaços verdes junto ao rio, na zona do Fischmarkt. Mais atrás fica o Alter Markt e a praça da Câmara Municipal da cidade, o Historisches Rathaus.

Bem no meio do aglomerado de casas que formam a cidade velha, sobressai a Gross Sankt Martin, a grande Igreja de Saint Martin, uma igreja românica católica cuja origem dos atuais edifícios remonta ao século XII. A igreja foi muito danificada na Segunda Guerra Mundial tendo sido sujeita a trabalhos de restauração profundos que foram concluídos em 1985.
Toda esta envolvente da cidade velha é uma zona bastante animada, cheia de restaurantes, bares e esplanadas, onde se misturam habitantes e turistas, e onde se destacam algumas casas coloridas, que são uma marca desta parte do centro histórico que é conhecida como o Old Fish Market.
Por detrás da cidade velha, surgem uma série de ruas mais modernas que são atualmente uma espécie de centro comercial contínuo, estando quase totalmente preenchidas por lojas, principalmente das grandes marcas de roupa.

De todas essas ruas destacam-se a Schildergasse e a Hohe Straße, a principal rua comercial de Colónia, que constitui o trajeto pedonal entre o centro de comércio e a zona da catedral.

No meio destas ruas do centro encontrámos agora o Nº 4711 da Rua Glockengasse, onde fica o edifício original da perfumaria da Água-de-Colónia 4711, um belo edifício de uma referência local, e uma fragrância que foi associada ao nome da própria cidade.
Neste dia a cidade estava diferente do habitual, preparava-se uma festa do orgulho-gay e, por isso, as ruas estavam muito animadas e preenchidas de uma forma um bocadinho peculiar, com muita cor, muitas bandeiras arco-íris e com muita gente… digamos que, “orgulhosa”.
Saímos de novo do centro até à praça Domplatte, junto à Catedral, onde terminámos a visita à cidade.

Voltámos ainda durante a noite e jantámos numa das cervejarias locais, onde experimentámos a típica comida alemã, como as salsichas ou os schnitzels. Quanto às cervejas, aqui na Alemanha costumo escolher a weizenbier, uma cerveja de trigo que foi sempre a minha escolha preferida, mas aqui em Colónia há uma especialidade local que devemos experimentar, a kölsch, uma cerveja local que será a escolha natural para que visite a cidade, e é também a preferência dos seus habitantes.

Depois disso, e porque aqui em julho a noite demora a chegar, deixámo-nos ficar até perto da meia-noite para conseguirmos assistir a um pôr-do-sol verdadeiro, de modo a que a escuridão da noite se instalasse, fazendo realçar algumas imagens lindíssimas que a noite de Colónia nos oferece, com os principais monumentos iluminados, sobretudo a igreja de Sankt Martin, e o conjunto formado pela Catedral e pela ponte metálica­­ Hohenzollernbrücke, proporcionando uma paisagem magnífica.


Feita uma avaliação à posteriori desta viagem pelo Vale do Reno, considero que Colónia é claramente a cidade mais interessante deste percurso ao longo do rio e aquela que nos oferece um conjunto mais rico de atrações, desde logo a sua magnífica catedral, mas é também a cidade mais animada e mais acolhedora.


Carlos Prestes
Julho de 2015