segunda-feira, 5 de maio de 2025

Inter-Rail 2025


Ao longo dos anos 1980 aderi à oportunidade de usar um pass de comboio, o famoso Inter-rail, que me permitiu conhecer grande parte da Europa quando era ainda um miúdo... e sobre essas viagens, a minha memória é tão difusa que nem as transcrevi para este blogue.

E agora, 40 anos depois, voltei a embarcar nessa aventura, embora já de cartão-gold, mas com o mesmo espírito de percorrer um conjunto de cidades europeias com um grau de liberdade que não conseguimos ter quando viajamos de avião, que tem de estar reservado meses antes.

E assim foi, com o propósito que chegarmos a Praga, onde a minha filha mais nova, a Martinha, estava a fazer Erasmus, eu e a Ana apanhámos um avião para Estocolmo, com um stop-over em Amesterdão, e depois viemos de comboio explorando todas as cidades que nos apareceram pelo caminho até chegar a Praga, e continuámos ainda para Sul, regressando a casa num avião desde Viena, 20 dias depois de termos saído de Lisboa.

Os percursos que fizemos entre abril e maio de 2025 levaram-nos por dez cidades entre o Norte, o Centro e o Leste da Europa, seguindo mais ou menos esta trajetória: 
 
Quatro décadas depois das minhas primeiras aventuras ferroviárias e, desta vez, foi ainda melhor, desde logo porque não andámos a dormir numa esteira no chão dos comboios, mas também porque ao chegarmos a cada cidade, tínhamos agora condições para usufruir devidamente daquilo que estas têm para oferecer... ou seja, já não era o turista de pé descalço que fui nos anos 80, e confesso que assim é muito melhor.

Tivemos a oportunidade de explorar devidamente dez cidades europeias, cujas crónicas estão nos links que vou apresentar abaixo, pela sequência em que as visitámos:












Viajar de comboio é aprender a ver o tempo de outra forma. As cidades sucederam-se - Amesterdão, Estocolmo, Copenhaga, Hamburgo, Berlim, Dresden, Praga, Bratislava, Budapeste e Viena - cada uma com o seu ritmo, a sua luz, a sua memória. Entre estações e carris, fui percebendo que a verdadeira viagem não está apenas nos lugares onde paramos, mas também no movimento que nos leva até eles. Atravessarmos a Europa sobre trilhos é bem mais do que percorrer distâncias, é também deixarmo-nos levar por um fio invisível que une paisagens, histórias e encontros, guardando em cada chegada a promessa de que o caminho continua sempre.

No fim desta aventura, rendemo-nos por completo, não apenas ao fascínio das cidades que visitámos, mas também à magia de percorrer a Europa de comboio, num ritmo que nos fez sentir a viagem como uma história a desenrolar-se à medida que os quilómetros passavam.

Houve, naturalmente, o cansaço físico de dias a fio a percorrer ruas e avenidas, de cidade em cidade, cada passo a marcar o ritmo da descoberta. Confesso que uma lesão na perna esquerda tornou alguns desses dias mais difíceis, especialmente em Praga, Bratislava e Budapeste. Ainda assim, cada momento carregava a sua própria recompensa, com a beleza de ver o mundo a mudar por entre a janela do comboio, a emoção de atravessar fronteiras, a poesia de viver intensamente cada instante.

No balanço final, a experiência superou tudo. Recomendamos a todos que se deixem levar por uma viagem deste tipo, mesmo que apenas uma vez, e que descubram os destinos que vos esperam. Nós próprios já sonhamos com outras rotas, outras cidades, e com o próximo embarque numa aventura ferroviária… que espero esteja mais perto do que imagino.


Carlos Prestes
Abril e Maio de 2025