sexta-feira, 25 de abril de 2025

Dresden


Dresden é uma cidade do Leste da Alemanha, da antiga RDA, e é a capital do estado da Saxónia. Distingue-se de outras cidades alemãs pela existência de vários museus de arte célebres, mas, sobretudo, pela arquitetura clássica fantástica da sua cidade velha, que foi completamente destruída durante a Segunda Guerra Mundial, e totalmente reconstruída no pós-guerra… e que hoje forma um conjunto extraordinário, que pode ser apreciado quando o observamos a partir da outra margem do rio Elba.
Em abril de 2025 visitámos esta cidade alemã, enquanto fazíamos um inter-rail pela Europa Central, embora tenhamos permanecido apenas um único dia nesta cidade, mas que será suficiente, desde que não se queira explorar detalhadamente os vários museus que ali existem, nesse casso é melhor reservar um segundo dia.

Mas ainda antes de falar da experiência desta visita, terei de fazer uma referência dolorosa ao imenso massacre que aqui se verificou no final da Segunda Guerra, e que faz com que Dresden seja conhecida pelo martírio a que foi sujeita.


Dresden, a Cidade Mártir

É conhecida como a cidade mártir, mas com o registo terrível desse martírio não ter sido infligido pelos Nazis, mas sim pelas tropas aliadas.

Entre 13 e 15 de fevereiro de 1945, já na fase final da Segunda Guerra Mundial, a cidade alemã de Dresden foi alvo de um dos bombardeamentos mais devastadores e controversos do conflito.

Esta cidade sempre foi uma das mais monumentais da Europa Central, conhecida pela sua arquitetura barroca e pelo seu valor cultural. No final da guerra, Dresden encontrava-se superlotada com centenas de milhares de refugiados que fugiam do avanço soviético. Embora possuísse alguma indústria e linhas ferroviárias, o seu papel estratégico era muito limitado, quando comparado com outras cidades alemãs.

Mas mesmo nesse contexto, as forças aéreas britânicas (RAF) e norte-americanas (USAAF) lançaram quatro ataques sucessivos, primeiro durante a noite, com bombas explosivas e incendiárias, e depois durante o dia, destruindo grande parte do centro histórico. As bombas criaram uma tempestade de fogo, provocando um vórtice de calor e vento que consumia o oxigénio, causando morte por asfixia e queimaduras a dezenas de milhares de pessoas. As estimativas mais credíveis apontam para 22 a 25 mil mortos, um massacre gigantesco.

O bombardeamento foi justificado pelos Aliados como forma de quebrar a moral da Alemanha Nazi, destruir infraestruturas e apoiar o avanço soviético, mas é amplamente criticado por ter visado sobretudo civis e património cultural, sendo por isso lembrado como o Martírio de Dresden, que constitui um dos episódios mais sombrios da atuação dos Aliados nesta guerra.

Voltando à atualidade e à nossa viagem, como estamos em regime de inter-rail, chegámos de comboio, pelo que o nosso primeiro contacto com a cidade foi na Dresden Hauptbahnhof, a sua Estação Central.
As estações alemãs são sempre grandiosas, revelando várias fases de evolução dos edifícios, neste caso, com um núcleo mais antigo do hall de entrada e espaço de bilheteiras, e com as imensas coberturas abobadadas, que cobrem as plataformas onde os comboios estacionam para a entrada dos passageiros… e com uma fachada principal que é o reflexo dessa combinação de elementos.

Durante este dia vamos fazer dois trajetos, um deles, o Percurso 1, em torno dos locais mais periféricos, e o Percurso 2, em torno das principais atrações do centro histórico. Estes dois trajetos seguem aproximadamente a localização assinalada neste mapa:
 


Percurso 1

Saindo da estação passámos por algumas ruas de comércio, onde existe o Centrum Galerie, um importante centro comercial, e por uma grande sala de cinema, o Cineplex Rundkino, um edifício com uma modernidade que deve resultar do período de influência soviética, quando a cidade pertencia à RDA, a chamada Alemanha comunista.


Igreja da Santa Cruz

O primeiro monumento que nos apareceu foi a Kreuzkirche Dresden, ou Igreja da Santa Cruz, uma igreja imponente com muitos lugares, sendo mesmo o maior edifício sagrado da Saxónia e acaba por ser também, uma das maiores salas de concertos de Dresden.
Têm ali lugar grandes concertos de música barroca e coral, mas também concertos de orquestra de música clássica, isto para além dos serviços religiosos normais, que são também ali celebrados.

Nestes concertos é utilizado um órgão Jehmlich, que é o maior instrumento da cidade, e que é sempre tocado pelo Kreuzorganist, o organista oficial da igreja.

Uma das formas de visitar esta igreja será adquirir um ingresso para um concerto, mas nos períodos em que existe apenas o serviço religioso comum, o acesso à igreja é gratuito e podemos visitá-la, só cobram a subida à torre.


Altmarkt

A Altmarkt é uma praça histórica, com referências ao passado medieval de Dresden, mas que é hoje um dos espaços mais importantes para todo o tipo de eventos contemporâneos, como os habituais mercados de rua, com quiosques e bancas de comida, e até com alguns espaços de exposições… para além de um mercado de Natal, que é uma referência da cidade.
Como toda a cidade, esta praça também foi totalmente destruída na guerra, mas foi reconstruída respeitando as referências originais, o que é visível no conjunto de edifícios clássicos que a rodeiam. Encontramos, assim, um contraste entre a arquitetura barroca e o edifício modernista do Kulturpalast, que fica de um dos lados, num diálogo entre tradição e modernidade. Uma outra imagem de referência é a da torre da Igreja de Santa Cruz, que se ergue por detrás dos edifícios, marcando a silhueta da praça.


Landhaus - Dresden City Museum

À saída do Altmarkt percorremos a rua Wilsdruffer até à praça do Museu da Cidade de Dresden, ou Galeria Municipal, que está localizado no histórico edifício Landhaus. Este belo edifício foi construído em 1775, mas o museu que ali funciona só abriu as suas salas de exposição muito recentemente, em 2005. Este é um dos vários museus da cidade, neste caso, trata-se de uma galeria de arte onde se poderão descobrir obras de uma série de artistas da própria cidade de Dresden, o que é algo muito específico, e será adequado aos verdadeiros conhecedores de arte.

Aos comuns turistas que percorrem a cidade sem conhecimentos ou interesses específicos sobre a arte criada nesta cidade alemã, salienta-se sobretudo a bonita fachada do edifício Landhaus.


Kurländer Palais e Albertinum

O Kurländer Palais é um edifício histórico de estilo barroco, construído em 1729. Foi quase completamente destruído durante a Segunda Guerra Mundial, e foi, por muito tempo, a última ruína de guerra na cidade.

Recentemente, no ano de 2008, este palácio foi reconstruído, reproduzindo a sua fachada original, sendo, atualmente, utilizado para a realização de eventos, tirando partido do imenso salão de baile, com 260m² e um pé-direito de 10m, para além de um pátio interno que é contornado por uma varanda de 20m de comprimento.

Sabendo-se que não é fácil poder entrar neste espaço, apreciamos apenas a sua fachada, muito sóbria e bastante bonita.
Logo em frente fica o Albertinum, que é o museu de arte moderna da cidade, e cujo nome recorda o Rei Alberto da Saxónia. É formado por várias galerias e salas de exposições, como a New Masters Galler, a Sculpture Collection e as Dresden State Art Collections.

O museu apresenta pinturas e esculturas desde o Romantismo até ao presente, cobrindo um período de cerca de 200 anos, onde se destacam duas coleções principais, a Galerie Neue Meister (Galeria dos Novos Mestres), com obras de pintura desde o século XIX até à atualidade, incluindo artistas como Monet, Degas, Van Gogh e Gerhard Richter; e a Skulpturensammlung ab 1800 (Coleção de Escultura a partir de 1800), que inclui esculturas desde a antiguidade até o século XXI, com obras de Rodin, Lehmbruck e muitos outros.

O museu tem um conjunto de salas amplas, quer de pintura quer de escultura, que são extraordinárias e merecem ser visitadas.

Além disso, o próprio edifício onde o museu está instalado, é uma belíssima obra renascentista, com fachadas grandiosas revestidas a arenito.


Kunsthalle im Lipsiusbau e Academy of Fine Arts

Ainda nesta mesma zona encontramos um outro museu, o Kunsthalle im Lipsiusbau, que está integrado no conjunto da Academy of Fine Arts, formando um magnífico espaço para exibição de arte que foi construído no século XIX.

O conjunto de edifícios que abrigam estes museus apresentam traços de uma arquitetura clássica, onde se salienta uma cúpula de vidro, que, devido ao seu formato, é apelidada de "Zitronenpresse", o que significa “espremedor de limão”.
Além da Academia de Arte, o edifício apresenta também diversas exposições da Associação de Arte Saxónica. Após a destruição parcial do edifício em 1945, o museu deixou de ser utilizado durante décadas, tendo sido reconstruído e reabilitado apenas em 2005.

A imagem do edifício é uma das marcas de referência da cidade de Dresden, com traços distintos que resultam do formato da sua cúpula, que lembra realmente um espremedor de citrinos… e a sua imagem revela-se ainda mais imponente quando observamos este conjunto a partir da margem oposta do rio.


Brühl's Terrace

Junto a este conjunto da Academia da Artes começa uma plataforma que percorre as fachadas dos edifícios ali existente e que é conhecida como Brühl´s Terrace.

Este imenso terraço foi aberto ao público em 1814, ocupando a parte superior da Fortaleza de Dresden, que passa ao longo do belíssimo edifício da Academy of Fine Arts e está posicionado paralelamente ao rio e a uma altitude que faz deste espaço uma longa varanda sobre o rio Elba, de onde podemos desfrutar das paisagens da sua margem oposta e das suas pontes.

Na margem esquerda deste rio, o Elba, que já tínhamos encontrado há uns dias quando estivemos em Hamburgo, conseguimos ver alguns monumentos de referência, como é o caso do Palácio dos Ministérios das Finanças e da Cultura da Saxónia.
Bem perto deste imenso palácio surge um outro de proporção semelhante, a Chancelaria do Estado da Saxónia. Mas a imagem deste último edifício, um enorme palácio que fica junto ao rio, é intercetada por uma figura invulgar e totalmente inesperada. Trata-se de uma ponte, a chamada Carola Bridge (Carolabrücke) que colapsou durante a noite de 11 de setembro de 2024, num troço de tabuleiro de cerca de 100 metros. A ponte, era utilizada exclusivamente por peões e tráfego de Tram, mas desabou durante a noite e sem que quaisquer pessoas ou composições estivessem a passar naquele momento, e felizmente que assim foi, pois não se registaram quaisquer mortos ou feridos.

Os turistas convencionais ficam-se por esta informação, mas os que forem mais curiosos, ou mesmo os que são engenheiros civis, como eu, certamente terão interesse em saber quais as causas do acidente. Estudos preliminares apontam para a corrosão causada por cloretos (como sais) como fator provável da degradação dos elementos, principalmente o betão e armaduras de aço. Sabe-se ainda que uma avaliação que foi feita em 2021 já tinha classificado o estado desta ponte como "não suficiente", identificando danos nas armaduras e sugerindo uma obra de reabilitação e reforço, que foi agendada para 2025… se fosse cá em Portugal diríamos, isto só neste país, mas, pelos vistos, estas coisas também acontecem na Alemanha.

E quase um ano depois encontramos o resultado deste colapso, embora já com trabalhos em curso, num cenário que faz ofuscar a imagem do deslumbrante palácio que fica lá atrás.
Voltando ao terraço, além de nos permitir apreciar as paisagens sobre o rio, serve também como um espaço agradável para caminhadas e paragens de descanso, como acontece em qualquer outro calçadão ou promenade junto ao mar por este mundo fora. Mas neste caso, estamos junto a um mostruário de monumentos, que mais parece um museu ao ar livre.
Há ainda uma outra atração que podemos contemplar a partir deste tarraço, que é a principal ponte da cidade de Dresden.


Ponte de Augusto

Já existia uma travessia nesta zona do rio Elba pelo menos desde o século XII, mas a primeira passagem a ter o nome de Ponte Augusto, foi uma obra formada por 12 arcos feitos em arenito, que foi construída em 1731, por decisão do Rei Augusto II.

Mais recentemente, esta ponte foi substituída pela atual, também feita em arenito, mas com nove arcos, para poder criar uma abertura mais ampla para o tráfego fluvial… e é essa a imagem que nos é oferecida atualmente, enquanto percorremos o Brühl's Terrace.
A ponte está reservada ao tráfego pedonal e às composições de Tram, e foi por ali que fizemos a travessia do rio, atingindo a margem esquerda, de onde iriamos ter uma perspetiva diferente, quer da cidade quer da própria ponte.
De cada vez que atravessamos esta bonita ponte vamos aproveitá-la como miradouro sobre a cidade, desfrutando das imagens do próprio rio Elba, com os barcos de excursão que ali se encontram estacionados depois dos passeios diários, e das suas belas margens, com o contorno dos edifícios clássicos que existem na parte antiga e monumental da cidade, como a Academy of Fine Arts e o Zitronenpresse, a cúpula da Catedral Protestante e o Tribunal Superior Regional de Dresden… principalmente num final de tarde tranquilo, quando as águas do rio se tornam calmas e a cidade fica ainda mais bonita.


Archive of the Avantgarde e o Cavaleiro de Ouro

Na margem esquerda do rio começamos por entrar numa praça com duas referências, um edifício e uma estátua.

O Archive of the Avantgarde está no Blockhaus, um bonito edifício criado para guardar a doação da coleção de Egidio Marzona à cidade de Dresden.

O Blockhaus é do século XVIII e passou por múltiplas transformações ao longo do tempo, nomeadamente após a 2ª Guerra Mundial, e é hoje um edifício restaurado e muito bonito.

A coleção Marzona, que aqui se encontra exposta, inclui obras de arte, objetos, desenhos e móveis que representam o legado valioso e de alguns movimentos artísticos do século XX, como o Futurismo ou o Surrealismo, por meio de várias instituições, com destaque para a Bauhaus.
Em frente ao Blockhaus fica a Neustädter Markt, a Praça do Mercado da Cidade Nova, onde se salienta a presença da Estátua de Augusto, o Forte, pai de Augusto II, o criador da ponte.

O monumento é de 1736 e é chamado de Cavaleiro de Ouro, pois está totalmente folheado a ouro, mostrando esta figura da Saxónia com uma armadura romana na sua fuga para o Reino da Polónia, algo significativo da história da região.


Palácio dos Ministérios das Finanças e da Cultura da Saxónia

Este é o mesmo edifício que já tínhamos apreciado do outro lado do rio, o majestoso palácio dos Ministérios das Finanças e da Cultura da região da Saxónia.

O edifício foi construído junto às margens do rio Elba entre 1890 e 1896, em estilo neorrenascentista, para ser o Ministério Real das Finanças, sob as ordens do rei Alberto da Saxónia.

Além da degradação natural do edifício, durante os bombardeamentos de Dresden em 1945 este foi seriamente danificado, tendo sido depois reconstruído e recuperado na década de 1950.

Mais recentemente, foi criado o Ministério da Cultura da Saxónia, o qual partilha este espaço com o Ministério das Finanças, ocupando a ala Oeste do edifício, desde que o Estado Livre da Saxónia foi fundado, em 1990, após a queda do muro de Berlim e a reunificação da Alemanha.

A fachada do lado do rio ostenta uma imagem feita de azulejos decorativos que mostra a Saxónia cercada, e que é a principal referência do edifício.
Em frente deste palácio fica um imenso talude relvado até à margem do Elba, por onde fizemos uma pequena caminhada, apreciando sempre as belíssimas paisagens da margem direita, com destaque para a silhueta dos edifícios históricos, que formam quase um mostruário de belos monumentos que ocupam todo aquele lado do rio.


Percurso 2 – Centro Histórico

Ao atravessarmos de volta a Ponte Augusto vamos entrar no Centro Histórico da cidade, onde fica o tal mostruário de palácios, igrejas e outros monumentos, que nos surgem a cada esquina, e que tenho vindo a referir. Logo em frente da saída da ponte salientam-se duas grandes torres, o campanário da catedral da cidade e, logo ao lado, a chamada Torre Hausmann.


Torre Hausmann e Kathedrale Sanctissimae Trinitatis

A Torre Hausmann corresponde à parte mais antiga do Castelo ainda existente, que foi iniciada por volta do ano de 1400, com a construção da sua zona mais baixa. A estrutura da torre é octogonal, e está coroada por uma cúpula revestida de cobre, com várias aberturas acessíveis. Com cerca de 100 metros de altura, a torre é um dos edifícios mais impressionantes de Dresden e é utilizada como um miradouro, para quem tiver a coragem de subir a imensa escadaria.
Do lado direito da torre ergue-se a Catedral de Dresden, ou Kathedrale Sanctissimae Trinitatis, o edifício barroco mais jovem da cidade, com uma área de implantação de 4.800 metros quadrados, que faz dele a maior igreja da Saxónia.
Trata-se de uma catedral católica, cujo interior inclui a cripta da "Sanctissimae Trinitatis", que contém 49 sarcófagos dos príncipes e reis da Saxónia, e é também o local de repouso do coração de Augusto, o Forte.
As balaustradas e nichos da Catedral são adornados com 78 figuras de pedra, medindo três metros e meio de altura, e que representam os apóstolos e alguns santos e dignitários da igreja.
À esquerda da Catedral fica mais um edifício clássico, o Oberlandesgericht, o Tribunal Regional Superior de Dresden, que é o tribunal de jurisdição mais elevada na Saxónia.

A paisagem formada por este conjunto de edifícios, contemplada a partir da outra margem do rio, é uma das imagens de referência desta cidade.


Ópera Semper

Por detrás da catedral estende-se a maior praça da cidade, a Theaterplatz, onde encontramos mais dois dos principais edifícios do centro histórico, a Ópera e o Palácio Zwinger.

A casa da ópera de Dresden, chamada de Ópera Semper, foi o Teatro da Corte da cidade e a antiga Ópera Real, desde 1818 e até à atualidade.

O edifício original foi inaugurado em 1841, mas teve de ser reerguido duas vezes, primeiro quando foi consumido pelo fogo em 1869 e, mais recentemente, foi totalmente destruído pelos bombardeamentos do final da Segunda Guerra, tendo permanecido em ruínas até 1977, quando começaram as obras de reconstrução, que culminaram na reabertura desta Ópera em 1985.

O projeto foi criado por dois arquitetos, Gottfried Semper e Manfred Semper, pai e filho, e daí o nome de Ópera Semper (Semperoper).

Atualmente esta sala de espetáculos acomoda 1.323 lugares e é uma das grandes salas de ópera em toda a Europa, pela sua dimensão, mas também devido à sua acústica excecional, rivalizando com outras grandes salas, como o Scala de Milão ou a Ópera de Budapeste, oferecendo uma experiência sonora classificada pelos especialistas como inesquecível.


Palácio Zwinger

O palácio Zwinger é inspirado em Versalhes e alberga alguns museus importantes, incluindo o Gemäldegalerie Alte Meister, que exibe algumas obras-primas como a "Madona Sistina" de Rafael.

O sonho de uma noite de Verão em estilo Versalhes foi o nome dado ao Palácio Zwinger pelo estudioso literário Hermann Hettner. O Zwinger foi criado no ano de 1709, originalmente como uma praça cercada por construções de madeira e destinada a festas, torneios e outros eventos da corte e da nobreza saxónica.

A construção do palácio decorreu nos anos seguintes, de 1710 a 1719, sob a regência do príncipe-eleitor Augusto, o Forte… sempre o mesmo.

A fachada principal fica na Theaterplatz, junto à estátua equestre do Rei João da Saxónia, e tem um portão central em arco por onde entramos para o pátio, que fica entre o contorno dos edifícios do palácio, e que ostenta um belo jardim de estilo francês.
Já do lado de dentro, podemos subir ao topo destes edifícios onde existe um terraço, de acesso livre, que nos permite observar as paisagens sobre o pátio interior, apreciando a arquitetura trabalhada das fachadas e as decorações do jardim.
Se voltarmos a sair do palácio, vamos poder contornar o edifício, onde existe um canal e um espaço verde, que criam um belíssimo enquadramento em conjunto com as fachadas exteriores.
Para quem quiser visitar as exibições que ocupam os museus deste complexo, irá poder apreciar as várias coleções que ali estão expostas, onde se destacam a Coleção de Porcelanas da Saxónica, também fundada por Augusto, o Forte, em 1708, e o conteúdo do Edifício Semper, onde está a Galeria de Pintura dos Grandes Mestres ou Pinacoteca dos Antigos Mestres, com cerca de 750 pinturas dos séculos XV a XVIII, entre as quais, a Vénus Adormecida, de Giorgione, a Rapariga Lendo uma Carta à Janela, de Vermeer e a famosa Madonna Sistina, de Rafael.
Uma última nota sobre a história mais recente deste espaço, durante a Segunda Guerra Mundial, o museu começou por ser fechado, mas quando ocorreram os bombardeamentos do ataque a Dresden, em 1945, todas as salas de exposição foram danificadas, mas, nessa altura, já toda a coleção tinha sido transferida para a fortaleza de Königstein. Só que, com o fim da Guerra, todas as obras foram confiscadas pelo Exército Vermelho e transferidas para a União Soviética. Foi apenas entre 1958 e 1963, quando Dresden pertencia à RDA, que estas coleções voltaram para Dresden, e para o Palácio Zwinger, que, entretanto, já tinha já sido restaurado. No entanto, a Galeria Semperbau, ou Pinacoteca dos Antigos Mestres, só reabriu em 1992, depois da queda do muro de Berlim e da reunificação da Alemanha.


Castelo de Dresden e Green Vault

O Dresdner Residenzschloss é um dos edifícios históricos mais importantes da cidade de Dresden, com um passado que remonta a mais de 800 anos, tendo servido como residência dos príncipes eleitores e dos reis da Saxónia.

Trata-se do mesmo conjunto onde já tínhamos estado ao chegarmos ao centro histórico, onde se ergue a torre de Hausmann, mas no lado oposto.

Foi construído no século XIII como uma fortaleza medieval, mas foi depois expandido e remodelado ao longo dos séculos, tornando-se num palácio renascentista e barroco.

Como toda a cidade, foi severamente danificado durante os bombardeamentos no final da Segunda Guerra Mundial, o que obrigou à sua reconstrução que começou na década de 1980 e que, na verdade, está ainda em andamento. Atualmente, este conjunto monumental foi convertido num espaço com diversos museus e coleções de arte, que inclui várias atrações, e forma uma silhueta muito bonita, que é marcante no centro histórico da cidade.
Neste conjunto, ainda no exterior, encontra-se também uma outra marca da cidade, o Arco de Dresden. Trata-se de uma ponte-passagem de pedra, construída em 1901, que foi destruída durante os bombardeamentos de 1945 e só foi reconstruída em 1986.

O arco cria uma passagem elegante sobre a rua Taschenberg, entre os palácios de Taschenbergpalais e o de Residenzschloss, o primeiro é um hotel de luxo e o segundo é um importante museu.
O Residenzschloss é um complexo museológico que remonta ao século XIII e que contém diversos museus, como a Abóbada Rüstkammer (Arsenal) – armas, armaduras e trajes cerimoniais; o Kupferstich-Kabinett – coleção de gravuras, desenhos e fotografias; o Münzkabinett – coleção de moedas e medalhas históricas; e o Grünes Gewölbe – coleção de tesouros e joias reais.

Entre todas estas atrações que ocupam o espaço do castelo, destaca-se o Grünes Gewölbe, ou Cofre Verde, que constitui uma das mais ricas coleções de tesouros do mundo.

O Cofre Verde foi fundado no século XVIII pelo suspeito do costume, Augusto, o Forte, príncipe-eleitor da Saxónia e rei da Polónia, e constitui um museu que guarda uma das coleções de ourivesaria e joalheria mais ricas do mundo. O seu nome vem da decoração original das salas, que tinham colunas pintadas em verde e a sua coleção inclui peças de ourivesaria feitas de ouro, prata, marfim e pedras preciosas, com destaque para o famoso Diamante Verde de Dresden, uma das joias mais valiosas do mundo, com os seus 41 quilates.

O museu foi severamente danificado durante a Segunda Guerra Mundial, mas muitas peças foram resgatadas e, após a reunificação alemã, o Grünes Gewölbe foi restaurado e reaberto ao público. Em 2019, foi alvo de um dos maiores roubos de arte da história, com o furto de várias joias de valor inestimável.
Neste complexo entramos num espaço central com uma abóbada translúcida, que permite a luz natural, a partir do qual temos acesso aos vários museus, e também nos permite chegar ao Pátio Interior do Castelo, que é uma boa surpresa.
Este pátio está rodeado pelas belas fachadas internas dos edifícios do castelo, onde se inclui também a fachada posterior da Torre Hausmann, que é ainda mais bonita. Estes edifícios encontram-se decorados de uma forma muito interessante, pelo que a visita a este pátio se torna imprescindível.



Stallhof e Fürstenzug

O Stallhof é o mais antigo recinto de feiras de Dresden e chegou a ser um terreiro para torneios de cavaleiros da época medieval.

Quem vem da margem Norte do Elba, através da ponte de Augustus, vai encontrar o Portão de São Jorge, que foi construído entre 1530 e 1535 e é o primeiro edifício renascentista de Dresden, e que, nesta altura, substituiu a anterior porta das muralhas da cidade.

Ao passarmos sob o arco deste portão, podemos atravessar uma porta do lado esquerdo e descobrimos o antigo terreiro do Stallhof, o pátio interior deste edifício, que fica um pouco na sombra dos edifícios mais famosos de Dresden. Foi construído em 1591 como um importante exemplo do Renascimento, e serviu como local para torneios, caçadas e lutas de ringue.
O Fürstenzug, que significa, a Procissão dos Príncipes, é o nome de um painel que representa numa única imagem, toda família dos Príncipes que governaram a Saxónia, formado por 23.000 peças feitas de porcelana de Meissen, o que o torna na maior pintura de porcelana do mundo.

Estão ali retratados neste imenso painel, que cobre toda a fachada exterior do edifício do Stallhof, os 35 marqueses, duques e reis da família Wettin, que ali são mostrados todos juntos ao longo dos 102 metros de comprimento desta imagem.

Vale a pena demorarmo-nos a observar esta obra, chamada A Procissão dos Príncipes, que vamos encontrar uma infinidade de detalhes sempre interessantes.


Neumarkt

A Neumarkt é uma das praças mais famosas e históricas da cidade, localizada no coração do centro antigo (o Altstadt). É especialmente conhecida por ser o local onde fica a Frauenkirche, a icónica igreja barroca do centro da cidade.

A praça proporciona uma bela imagem sobre a arquitetura barroca e renascentista dos edifícios históricos que preenchem o seu contorno, os quais foram reconstruídos no pós-guerra, no seu estilo original.

A atmosfera no local é animada, com a existência de muitos cafés, restaurantes e lojas, e sempre com eventos culturais de rua, e é também um dos principais pontos de encontro na cidade, para turistas e moradores.


Frauenkirche

Na praça Neumarkt salienta-se a imensa igreja Frauenkirche famosa pela sua grandiosa cúpula.

Foi concluída em 1743 em estilo barroco, e é uma das igrejas luteranas mais famosas da Alemanha, sobretudo pela sua enorme cúpula de pedra, conhecida como a "Campânula de Pedra" (Steinerne Glocke), que é um marco desta cidade, com a sua cruz no topo que foi doada pelo Reino Unido, num gesto de reconciliação.
No interior encontram-se afrescos muito bonitos, um impressionante altar barroco e um órgão que foi reconstruído, mas que é bastante semelhante ao original de Gottfried Silbermann.

Mas o mais interessante é mesmo o exterior da Frauenkirche, que constitui uma marca inconfundível e uma das mais importantes referências desta cidade alemã, e é também um dos seus pontos turísticos mais visitados… visto como um símbolo da esperança e unidade europeia.
No final da Segunda Guerra Mundial, a Frauenkirche foi completamente destruída pelos bombardeiros aliados, e as suas ruínas permaneceram como um memorial de guerra até à reunificação da Alemanha.

Após a queda do Muro de Berlim foi feito um grande esforço de reconstrução usando tecnologias modernas e as peças originais recuperadas dos escombros, e a igreja foi fielmente reconstruída e reconsagrada em 2005, e hoje simboliza a reconciliação e a paz.


Palácio da Cultura

Já no caminho de volta até à estação passámos ainda pelo Kulturpalast, o Palácio da Cultura da cidade de Dresden, um edifício de 1969 que serviu como um importante centro cultural da antiga Alemanha Oriental (RDA).

A sua arquitetura é em estilo modernista, seguindo a tendência de outros países socialistas, numa imagem perfeitamente datada, com linhas retas e fachadas envidraçadas.

Já recentemente, em 2017, foi feita uma grande reforma para preparar o edifício para as funções de Palácio da Cultura, e hoje é um dos mais importantes centros culturais da cidade, acolhendo a Orquestra Filarmónica de Dresden, uma biblioteca central e diversos espaços para eventos culturais.
O elemento decorativo mais relevante fica numa das fachadas e é e um mural monumental chamado “Der Weg der Roten Fahne” (O Caminho da Bandeira Vermelha), que retrata a história do movimento operário socialista, cheio de foices e martelos, bem à imagem dos movimentos comunistas, mas que hoje é apenas uma lembrança.


A gastronomia alemã

Nas cidades alemãs que percorremos nesta altura do inter-rail estávamos na época dos espargos, que já tinha encontrado noutras visitas a outras cidades, como em Frankfurt e em Hanover. E assim, nesta época pudemos usufruir de uma oferta diferenciada da gastronomia alemã, que, normalmente, não passa das salsichas, do joelho de porco ou dos panados, a que chamam schnitzel.

Mas nesta altura tudo é acompanhado por uns excelentes espargos brancos, gordos e carnudos, que são apenas cozidos e acompanhados por molho holandês… uma maravilha que merece uma referência nesta crónica, para deixar um aviso a quem vá à Alemanha na Primavera.

Faltava agora voltar à estação, onde iriamos apanhar um comboio para Praga, deixando para trás uma sensação de grande empatia para com esta cidade encantadora e os seus habitantes...  encontrámos um autêntico museu a céu aberto e um tremendo exemplo de resiliência e capacidade de luta.

Desde o martírio sofrido no fim da guerra, as décadas de um socialismo que lhes foi imposto, até à reunificação que levou à modernização da cidade, mas sempre com um total respeito pela sua história e pelo seu património cultural e artístico de séculos, que hoje encontramos totalmente recuperado, numa missão que orgulhará certamente os seus habitantes, e nos deixa a nós comovidos, ao testemunharmos a coragem deste povo.


Abril de 2025
Carlos Prestes



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