A atual capital da Alemanha é a cidade, em todo o mundo, que sofreu uma maior transformação ao longo do último século, evoluindo desde a sua condição de capital alemã e do Terceiro Reich, comandada pelo regime Nacional Socialista de Hitler, até ter sido fragmentada em duas cidades no final da Segunda Guerra Mundial, uma delas funcionando como capital da Alemanha de Leste, ou República Democrática Alemã (RDA), sob o poder soviético, separada por um muro da outra parte da cidade, a Berlim Ocidental, uma cidade da República Federal Alemã (RFA), mas sem o estatuto de capital, que nesse período estava localizada em Bona… até voltar a ser a capital da Alemanha reunificada.
Após a queda do muro, em novembro de 1989, e da reunificação alemã, em outubro de 1990, Berlim passou a ser a capital da nova Alemanha, tendo sido completamente transformada e modernizada, sendo hoje uma cidade atrativa e culturalmente muito rica… mas sem nunca abandonar a memória daquela divisão, que separou todo um povo, recordando a existência deste muro em vários locais que vamos encontrando, transformados em memoriais.
Esta é a terceira visita que faço à capital alemã, a primeira foi no ano 2000, quando ainda dava para ver o estado degradado em que se encontravam os edifícios e monumentos do lado de Leste, quando, naquela altura, tudo parecia um imenso estaleiro de obras. Na segunda visita, em 2008, Berlim já tinha adquirido o charme atual e o estatuto de cidade cultural, de tantos museus que ali se encontram, alguns modernos, mas muitos usando os edifícios históricos da época do Império Austro-húngaro, liderado pela Casa de Habsburgo.
Em abril de 2025, chegámos já de noite, vindos de Hamburgo, à Central Station (Hauptbahnhof), ficámos num hotel ali perto, e reencontrámo-nos com a nossa Martinha, que estava em Praga há três meses em Erasmus, e apanhou um comboio até Berlim para visitarmos a cidade em conjunto.

Foi a partir desta estação, que é hoje um edifício bastante moderno, que fizemos os três percursos para explorarmos a cidade, que se assinalam no próximo mapa.
RDA - Percurso 1
Neste primeiro percurso conhecemos a parte mais a Norte do centro histórico da antiga Berlim-Leste, a zona mais monumental e com mais museus em toda a cidade.
Passando pelas Portas de Brandemburgo, entrámos na grande alameda chamada de Unter den Linden, que nos conduziu ao longo de vários edifícios históricos.
Ópera Estatal de Berlim, Igreja de Santa Hedwig e Neue Wache
Um dos edifícios de referência desta avenida é a Ópera Estatal da cidade, que é a primeira casa de ópera da Alemanha.
O edifício, que é originalmente de 1742, foi construído em estilo barroco, mas ao longo das reformas a que esteve sujeito, nomeadamente após os bombardeamentos na Segunda Guerra Mundial, adquiriu algumas influências neoclássicas que atualmente se manifestam nas fachadas e nos espaços interiores.
A última grande restauração ficou concluída em 2017, melhorando, por exemplo, a acústica do salão principal, que tem uma capacidade para 1.400 espectadores.
Atualmente, esta casa de espetáculos é um símbolo cultural da Alemanha, ligada à tradição da ópera, sendo palco para importantes estreias mundiais e servindo de base a uma das orquestras mais antigas da Europa.

Por detrás do edifício da ópera fica uma igreja com um aspeto singular, a Igreja de Santa Hedwig, ou catedral católica de Berlim, que é também uma das igrejas mais importantes da cidade. A sua imagem foi inspirada no Panteão de Roma, com um formato circular e uma cúpula impressionante.
Foi encomendada pelo rei Frederico II da Prússia no século XVIII como parte da sua política de tolerância religiosa. Foi escolhida como padroeira a Santa Edwiges da Silésia, simbolizando a relação entre a Prússia e os católicos da Silésia.
A construção começou em 1747 e foi concluída em 1773, tendo permanecido quase dois séculos com a arquitetura original. Mas durante a Segunda Guerra Mundial, a igreja foi severamente danificada pelos bombardeamentos dos Aliados, o que obrigou a uma reconstrução completa no ano de 1950, que deu a esta igreja a sua imagem atual, e permitindo também que passasse a ser a catedral da Arquidiocese de Berlim.

Ainda na mesma avenida fica o Neue Wache (ou Nova Guarda), que é um importante memorial da cidade. Originalmente foi construído como um posto da guarda real prussiana, mas hoje é um Memorial dedicado às vítimas da guerra e da tirania, algo tão vasto que pode ser aplicado a tanta coisa, e sobretudo à própria Alemanha… embora tenha sido criado para homenagear os soldados alemães mortos na Primeira Guerra Mundial.
Durante o regime nazi foi usado para cerimónias militares e, mais tarde, durante o poder soviético, com a RDA, tornou-se um memorial antifascista… tanta tirania junta para se poder homenagear. Finalmente, após a reunificação da alemã, em 1990, foi transformado no atual Memorial nacional para todas as vítimas da guerra e da opressão.
No centro do edifício, há uma escultura impactante, de Käthe Kollwitz, com uma mãe e o seu filho morto. A estátua foi colocada sob um óculo no teto, permitindo que a chuva, a neve e o sol atinjam diretamente a obra, simbolizando o sofrimento das vítimas. O local é um espaço de silêncio e contemplação, sem quaisquer ornamentações, reforçando sua função de Memorial.
Ilha dos Museus
No final da Avenida Unter den Linden entramos na chamada Ilha dos Museus, um espaço que faz parte do Património Mundial da UNESCO, onde encontramos um conjunto de edifícios onde funcionam vários museus, uns deles ocupam edifícios clássicos, mas há também alguns prédios mais modernos.
Não tínhamos tempo para visitar cada um destes museus, pelo que percorremos apenas a envolvente destes edifícios, contornando também as margens do rio Spree, e apreciando as bonitas fachadas de alguns deles.
Nesta pequena ilha encontram-se museus para todos os gostos, e começo por dois deles, o Antigo Museu (Altes Museum) e o Novo Museu (Neues Museum), que são dois dos principais museus localizados nesta parte da cidade, ambos com impressionantes coleções de arte e de história.
O Antigo Museu foi construído em 1830 em estilo neoclássico e contém sobretudo peças de arte e artefactos da Grécia Antiga e de Roma, algumas coleções etruscas, e um conjunto de exposições sobre a antiguidade clássica… imagino que seja tudo uma enorme seca.
A fachada do edifício apresenta um conjunto de colunas dóricas, lembrando os templos gregos, e simbolizando a importância da cultura clássica.
O Novo Museu foi inaugurado um pouco mais tarde, em 1855, e foi totalmente destruído na Segunda Guerra, e só foi reaberto em 2009. Segue também o estilo neoclássico, mas mostra algumas intervenções mais modernas, criadas na sua mais recente reconstrução.
Na sua coleção destaca-se a arte egípcia, uma coleção de papiros e uma série de artefactos da pré-história, da Idade do Bronze e Idade do Ferro.
A reconstrução manteve partes das ruínas como memória da destruição da guerra, que podem ser hoje visitadas
Tal como o seu irmão mais velho, não oferece exposições que, para mim, sejam minimamente apelativas e, por isso, e pela habitual falta de tempo, ficámos apenas pela envolvente do exterior destes dois edifícios.

O Museu de Pergamón é mais um onde se expõem coleções de artefactos arqueológicos da antiguidade, especialmente do Médio Oriente, Grécia e Roma.
Tem algumas atrações principais, como o Altar de Pérgamo, uma estrutura do século II a.C., originalmente construída na cidade de Pérgamo (atual Turquia), com um friso esculpido representando a luta dos Deuses contra os gigantes. Tem também o Portão do Mercado de Mileto, uma imponente construção romana do século II d.C., e o Portão de Ishtar e a Via Processional da Babilónia, um dos destaques do museu, pois esta porta era uma das entradas monumentais da antiga Babilónia, decorada com tijolos esmaltados azuis e imagens de leões e dragões… ou seja, trata-se de um dos mais importantes museus de todo o mundo sobre estas temáticas.
Quanto ao edifício, é bastante atraente, com dois blocos ornamentados com colunas, que lhes dão o aspeto de templos gregos… mas atualmente encontram-se em fase de conclusão as obras de reabilitação e ampliação, que lhe vão conferir um aspeto mais arrojado, combinando as fachadas clássicas do edifício original, com uma arquitetura mais moderna da zona ampliada.

No topo Norte da ilha, posiciona-se o Museu Bode, talvez o edifício mais bonito de todos os que encontramos na Ilha dos Museus.
A imagem deste edifício, quando visto da ponte de Ebertsbrücke, permite um enquadramento bastante interessante com a paisagem do rio em torno do museu, e com a antena de telecomunicações ao fundo.
O museu foi inaugurado em 1904 e, originalmente, era chamado de Kaiser Friedrich Museum, em homenagem ao imperador alemão Frederico III. Em 1956, foi renomeado para Museu Bode em homenagem ao historiador de arte Wilhelm von Bode, que foi um dos principais responsáveis pela sua coleção e organização.
O prédio tem uma aparência palaciana que se destaca pela cúpula, além de servir de elo de ligação das duas pontes que conectam a Ilha dos Museus à cidade.
Em termos de coleções e exposições, este museu guarda alguns preciosismos da escultura europeia, com peças que vão desde a Idade Média até o século XVIII, incluindo algumas referências de escultores como Donatello ou Bernini.

No caminho pelas margens do rio em torno da ilha, encontramos uma instalação artística, formada por um conjunto de esculturas, e que é chamada de Three Girls and a Boy.
Estas estátuas feitas em bronze, foram criadas pelo escultor alemão Wilfried Fitzenreiter entre 1977 e 1979, e representam três jovens mulheres e um rapaz, sentados de forma relaxada à beira do rio Spree.

A sua localização, em frente da Catedral de Berlim, dá um ótimo enquadramento paisagístico, o que faz com que esta obra seja bastante fotografada pelos muitos turistas que por lá passam.

Voltando à ilha, vamos agora até ao Alte Nationalgalerie, a Antiga Galeria Nacional, que é um dos principais museus de arte da cidade.
O edifício apresenta os traços de uma imponente arquitetura neoclássica, lembrando um templo grego, e a sua coleção representa sobretudo a arte do século XIX, recheada de pinturas e esculturas dessa época.
O espólio deste museu inclui diversas obras do Romantismo, do Impressionismo, Simbolismo e Realismo, de alguns artistas de referência desta altura, de que destaco os impressionistas, como os franceses Edouard Manet ou Claude Monet.

Na parte mais a Sul da ilha vamos ainda encontrar um novo complexo museológico, o chamado Museu Humboldt Forum. Mais um belíssimo edifício, que é um dos mais importantes centros culturais da cidade e constitui um espaço dinâmico que busca refletir sobre a herança cultural da humanidade.
O edifício é uma reconstrução moderna do antigo Palácio de Berlim, combinando fachadas barrocas históricas com elementos contemporâneos.
No seu interior encontram-se coleções dos museus estatais de Berlim, incluindo artefactos etnográficos e arqueológicos de diversas partes do mundo, e a temática exposta, que é sobre a história da globalização, enfatiza a combinação de culturas. Mais um estilo muito específico de arte que terá certamente os seus adeptos.

Berliner Dom – Catedral de Berlim
Ainda na ilha dos museus falta falar do seu principal monumento, e que é justamente aquele que não é propriamente um museu.
Trata-se da Berliner Dom, a principal igreja da cidade e a sua catedral protestante, pertencente à Igreja Evangélica na Alemanha, uma união de igrejas luteranas.
Embora tenha o título de "catedral", esta nunca foi sede de um bispo católico, pelo que aquela designação será abusiva. A igreja foi projetada em estilo neobarroco e a sua construção decorreu entre os anos de 1894 e 1905, durante o reinado do imperador Guilherme II, que a mandou construir.
A sua principal marca é claramente a enorme cúpula central verde, que é também uma das imagens de referência da capital alemã.
O interior desta igreja tem uma decoração riquíssima, com altares esculpidos, mosaicos e um impressionante órgão Sauer. Encontra-se também a cripta dos Hohenzollern, a antiga família real prussiana, cujos membros ali estão sepultados.
A catedral é visitável, quer para visitas turísticas quer para cultos religiosos, e há também a possibilidade de se subir a escada de 270 degraus até ao topo da cúpula, para desfrutar da vista panorâmica… mas os ingressos para entrarmos na igreja são pagos.
Como toda a cidade, a Berliner Dom foi severamente danificada durante a Segunda Guerra Mundial, pelo que foi restaurada ao longo da segunda metade do século XX, e hoje é um monumento em bom estado de conservação e dos mais belos edifícios históricos de Berlim.

Estátua de São Jorge e Igreja de São Nicolau
Saímos agora da Ilha dos Museus e atravessámos o rio até à praça Propststraße, no bairro histórico de Nikolaiviertel, uma área que preserva o charme medieval da cidade, com ruas estreitas e edifícios históricos restaurados, e onde se encontra uma imponente estátua de São Jorge, o Matador de Dragões.
A Estátua de São Jorge e o Dragão é uma impressionante escultura em bronze criada em 1853 pelo escultor August Kiss, e que retrata São Jorge no momento em que vai cravar a sua lança sobre o dragão, que faz um último ataque desesperado contra o cavalo. A escultura destaca-se pelo nível de detalhe e pela representação realista do cavaleiro e do animal.
Nas proximidades, encontra-se a Igreja de São Nicolau (Nikolaikirche), o edifício mais antigo de Berlim, construído entre 1220 e 1230. Esta igreja funciona atualmente como museu que narra a sua própria história e a de Berlim, além de ser também utilizada para concertos de música clássica.
A igreja é notável pelas suas torres gémeas e pela mistura de estilos arquitetónicos, resultante das diversas reformas ao longo dos séculos.

Berlin Innenstadt Park
Neste imenso parque da cidade encontramos várias referências. Desde logo a parte central deste recinto é ocupada pelo chamado Marx-Engels Forum, onde são exibidas as estátuas dos dois pensadores alemães, criadores da ideologia socialista.
Karl Marx (1818–1883) foi um filósofo, economista, historiador e teórico político alemão, conhecido pela sua crítica ao capitalismo e pelo desenvolvimento do pensamento socialista e comunista, sobretudo através da sua obra mais famosa, O Capital (publicado em 1867).
Friedrich Engels (1820–1895) foi também um filósofo, sociólogo, historiador e teórico político alemão, conhecido principalmente pela sua parceria com Karl Marx no desenvolvimento do socialismo científico. Engels coescreveu com Marx O Manifesto Comunista (1848) e contribuiu significativamente para a criação de O Capital.
Neste parque, os pais das teorias do socialismo encontram-se lado a lado, com ar de poucos amigos, exibindo as suas barbas e bigodes farfalhudos (o Marx é o que está sentado).

Mais à frente surge um imenso edifício vermelho, onde funciona a atual Câmara Municipal, o Rotes Rathaus. Este Edifício Vermelho, que é a tradução literal do seu nome em alemão, é um dos marcos históricos da cidade, e o mais importante símbolo histórico da administração pública de Berlim.
Foi a sede da administração local antes da Segunda Guerra Mundial, e adquiriu, desde logo, o seu nome de Edifício Vermelho, devido à cor das suas fachadas, construídas com tijolos avermelhados.
Durante a divisão da cidade, o prédio ficou na Berlim Leste e serviu como sede do governo da RDA (República Democrática Alemã), mas depois da reunificação da Alemanha em 1991, voltou a ser a sede da Câmara Municipal da Berlim unificada.

Ainda no parque Innenstadt fica a Igreja de Santa Maria de Berlim, ou Marienkirche, um dos edifícios religiosos mais antigos da cidade, reportando a uma data incerta, algures no início do século XIII.
Originalmente tratava-se de um templo católico, mas foi depois convertida numa igreja protestante. A sua imagem resulta do tijolo vermelho da sua base e do seu telhado, e da belíssima torre, em tons amarelados e com uma cúpula de cobre, formando um bonito edifício.
No interior destaca-se o afresco "Dança da Morte", de Totentanz, uma obra medieval que retrata a mortalidade humana de forma marcante. Além disso, destacam-se também a pia batismal e o impressionante órgão de tubos.

No final deste parque, junto à Alexanderplatz, ergue-se a imensa torre de comunicações, a Berliner Fernsehturm.
A Torre de TV de Berlim é uma das marcas mais notáveis da cidade. Esta torre foi construída entre 1965 e 1969 pela antiga República Democrática Alemã (RDA) como símbolo do poder socialista, elevando-se até aos 368 metros de altura, o que lhe dá o estatuto de estrutura mais alta da Alemanha e uma das mais altas da Europa.
Quem quiser subir, pode atingir a plataforma de observação a 203 metros de altura, oferecendo uma vista panorâmica completa sobre Berlim, e onde existe o restaurante giratório Sphere, que completa uma volta a cada 30 minutos… e onde já tive o privilégio de almoçar.

Alexanderplatz
Esta é uma das praças mais famosas da cidade de Berlim, e um dos principais pontos de encontro, pois confluem ali todas as linhas de transporte públicos da cidade.
É conhecida pelos berlinenses como "Alex", e tem sido, ao longo da sua história, um importante centro comercial e social, tanto na época da RDA, quanto nos dias atuais.

A praça tem desde construções com influência da arquitetura socialista, até a shoppings mais modernos, como o Alexa Shopping Center.
A proximidade com a torre Fernsehturm é bastante marcante para esta praça, mas há ainda outras atrações relevantes, como a Fonte da Amizade entre os Povos, uma fonte construída durante o período da Alemanha Oriental; ou o Relógio Mundial (Weltzeituhr), que mostra os fusos horários de diversas cidades do mundo e serve como ponto de encontro popular.

RDA - Percurso 2
Terminando este eixo principal da antiga Berlim-Leste, vamos agora explorar outras zonas mais periféricas da ex-capital da RDA, que também são interessantes, começando por mais alguns edifícios históricos.
Parochialkirche, Altes Rathaus
A Igreja de São Paroquial (ou Parochialkirche) é uma igreja do século XVII, construída em estilo barroco no reinado de Frederico I da Prússia. Está localizada no bairro Prenzlauer Berg, uma região charmosa e histórica de Berlim.
A sua fachada é bastante interessante e o interior muito bonito e em ótimo estado de conservação, depois das reformas sofridas após a Segunda Guerra Mundial.
Atualmente, além de ser utilizada para celebrações religiosas, esta igreja serve também como local para concertos de música clássica e outros eventos culturais.

A antiga Câmara Municipal de Berlim, conhecida em alemão como Altes Rathaus, é um edifício histórico que serviu como sede da administração municipal da cidade. Foi construído no final do século XIX e é um exemplo da arquitetura neoclássica.
O edifício foi uma das construções mais importantes da cidade no início do século XX e, atualmente, está a ser usado como edifício do Senado, continuando a ser um marco importante na paisagem urbana de Berlim.

East Side Gallery, Uber Arena e Oberbaumbrücke
Continuámos agora num trajeto mais longo sempre ao longo do rio, recomendo até que se chame um Uber para fazer este troço, que não é suficientemente interessante para se justificar esta caminhada... mas nós fomos a pé, e arrependemo-nos.
A paragem seguinte é numa galeria de arte a céu aberto e muito especial, a East Side Gallery. Trata-se de uma das atrações mais icónicas de Berlim, pois utiliza um troço do próprio Muro de Berlim, que foi transformado num imenso mural com diversas apresentações artísticas, que ocupam a face do lado de Leste.
Está localizado no bairro de Friedrichshain, junto ao rio Spree, com cerca de 1,3 km de extensão, sendo o maior segmento contínuo do muro que ainda se encontra de pé.
Após a queda do Muro de Berlim em 1989, vários artistas de todo o mundo foram convidados a pintar murais na parte Leste do muro, transformando-o num símbolo de liberdade e de paz, celebrando o processo da reunificação alemã.
Em 1990, a East Side Gallery foi oficialmente inaugurada como um Memorial e, desde então, têm vindo a nascer naquelas paredes, autênticas obras de arte, que podemos apreciar, enquanto vamos testemunhando os vestígios de uma separação criminosa, imposta pelas políticas radicais dos governantes de Leste.
Muitas das pinturas que ali se encontram, homenageiam aqueles que tentaram saltar o muro, fugindo para o outro lado, muitos deles, tendo ali perdido a vida.
Ao longos destes 1.300 metros de muro, encontram-se mais de 100 pinturas, entre as quais alguns murais mais famosos, como o "Test the Best", de Birgit Kinder, que mostra um Trabant, carro da Alemanha Oriental, atravessando simbolicamente o muro.

Outras das pinturas mais interessantes são “As cabeças dos desenhos animados de Thierry Noir”, do artista francês Thierry Noir, que é famoso por ser a primeira pessoa a pintar no Muro de Berlim, ainda nos anos 80, pintando ilegalmente do lado Ocidental do Muro.

Estas curiosas pinturas, que já tínhamos encontrado na anterior visita, estavam um bocado mal tratadas, mas voltámos agora a encontrá-las, já devidamente recuperadas e em muito bom estado… já os turistas ocasionais apanhados na fotografia, estão cada vez em pior estado de conservação!
E há ainda o mais famoso de todos os murais, "O Beijo Fraternal", de Dmitri Vrubel, que retrata o famoso beijo entre Leonid Brezhnev e Erich Honecker, os governantes da União Soviética e da RDA.
Termino com um mural muito particular, pois representa um outro muro, de que sempre gostei muito em pequeno, o The Wall, dos Pink Floyd, que aqui surge reproduzido através de uma imagem da capa do álbum, como que fazendo parte do próprio Muro de Berlim.

Logo depois desta galeria de arte passámos junto a um importante pavilhão multiusos, que é hoje chamado de Arena Uber, mas que, na visita que aqui fiz anteriormente, tinha o nome de Arena O2 World… como se mostra nesta foto tirada em 2008.
Voltámos a atravessar o rio, desta vez passando pela Oberbaumbrücke, uma ponte muito especial, construída em estilo neogótico, com duas torres centrais dominantes, formando um dos cartões-postais da cidade.
A ponte original foi construída em 1724, mas era apenas uma simples travessia de madeira. Foi reconstruída mais tarde, em 1896, em estilo neogótico e com tijolos vermelhos e as tais duas torres.
Durante a divisão de Berlim, a Oberbaumbrücke marcava a fronteira entre Berlim Oriental e Ocidental e era fechada para o tráfego de pedestres e veículos.
Após a queda do Muro de Berlim em 1989, a ponte foi restaurada e reaberta como um importante símbolo da reunificação alemã.

O próximo percurso, até ao Museu Judaico, é bastante longo (cerca de 4 km) e pouco interessante, pelo que, mais uma vez, sugiro que seja feito usando algum transporte público, neste caso há a linha U3, uma linha de metro, e também se pode apanhar um Uber.
Museu Judaico de Berlim
O Jüdisches Museum Berlin é um dos museus mais importantes da Alemanha e o maior museu judaico da Europa. Explora a história e a cultura judaica na Alemanha, com foco especial no Holocausto e nas relações judaico-alemãs ao longo dos séculos.
Já o visitámos por duas vezes e posso testemunhar que se trata de um espaço impressionante e muito comovente.
O museu é composto por dois prédios, uma construção antiga em estilo barroco, onde se encontram a entrada, as exposições temporárias e um restaurante, e uma construção de arquitetura moderna, onde se encontram as exposições permanentes.
O novo edifício foi inaugurado em 2001, projetado pelo arquiteto Daniel Libeskind, e a sua arquitetura é marcada por um design angular, simbolizando a fragmentação da história judaica na Alemanha. A história dos judeus, a sua perseguição e o próprio holocausto serviram de inspiração para Daniel Libeskind, um filho de judeus sobreviventes dos campos de concentração, desenhar este espaço. Em planta, o prédio tem uma forma em zigue-zague que, para muitos, lembra uma estrela de Davi despedaçada.
Ao longo do museu vamos atravessando várias zonas impressionantes, criando uma onda de comoção que não consigo descrever a esta distância.
Um dos alinhamentos que vamos percorrendo é chamado de Eixo da Continuidade, onde encontramos uma escadaria alta com vigas de betão que se cruzam entre si, dando acesso aos andares superiores.
Outra instalação simbólica do museu é o Jardim do Exílio, composta por 49 pilares de betão formando um reticulado de corredores com inclinações que criam uma sensação de desorientação e desconforto, enquanto os percorremos.
A exposição permanente cobre dois mil anos de história judaica na Alemanha, desde a Idade Média até os tempos atuais.
Há corredores lineares que se estendem verticalmente do subsolo até ao andar mais alto, que são chamados de “Void”, por serem espaços vazios com paredes nuas de betão, e com uma iluminação minimalista que forma um V no topo. Pretende-se que estes Voids nos tragam uma sensação de vazio e desespero, reproduzindo as sensações que foram deixadas pela destruição da vida de milhões de judeus na Europa.

Num destes corredores encontra-se o trabalho do artista israelita Menashe Kadishman, o chamado “Shalechet” ou “Folhas Caídas”… um espaço coberto por 10 mil rostos feitos de aço, todos diferentes, sobre o quais podemos andar, o que provoca um barulho que nos faz sentir ruídos que pertendem representar os gritos e lamentações emitidos pelas pessoas vitimas do terror nos campos de concentração, ali simbolizadas por aquelas faces que representam a dor e o desespero dos seres humanos… este foi o setor do museu que mais nos impressionou, tocando-nos de uma forma comovente, sobretudo em 2008, também pelo efeito surpresa.
Nas muitas fotografias que o museu expõe, selecionei uma imagem icónica a preto e branco que mostra uma mulher numa banheira. Esta mulher, é a fotógrafa Lee Miller, uma renomada correspondente de guerra. A imagem foi registada pelo fotógrafo David E. Scherman, que era seu colega e parceiro durante as coberturas da Segunda Guerra Mundial… mas, neste caso, mais importante do que a modelo era a própria banheira, por se tratar da banheira de Hitler, pouco depois da sua fuga daquele apartamento de Munique, já numa fase final da guerra, em abril de 1945.
Nesta foto, Lee Miller quis ser fotografada enquanto se lavava na banheira do ditador, com as suas botas empoeiradas, colocadas ao lado, ainda sujas dos campos de concentração onde tinham estado durante o dia e nos quais encontraram um autêntico inferno, com milhares de cadáveres de prisioneiros judeus.
Uma foto de Hitler está colocada estrategicamente à beira da banheira, compondo uma poderosa imagem simbólica de vitória e reviravolta histórica, que a fotógrafa quis perpetuar nesta foto.
O Museu Judaico de Berlim não serve apenas para preservar a memória do passado, desempenha também um papel fundamental na educação sobre o Holocausto e na luta contra o antissemitismo, promovendo o diálogo sobre identidade, discriminação e tolerância… algo tão essencial na atualidade. Pena que, hoje em dia, seja o próprio governo de Israel a perder a memória, e a infringir um outro tipo de genocídio, dizimando a população maioritariamente inocente da Palestina.
Checkpoint Charlie
O Checkpoint Charlie foi um dos pontos de passagem mais importantes entre Berlim Oriental e Berlim Ocidental, durante a Guerra Fria. Está localizado no bairro de Friedrichstraße, e serviu como fronteira entre os setores soviético e americano, resultantes da divisão da cidade no pós-guerra.
O local tornou-se um símbolo da divisão entre as duas Alemanhas, especialmente após a construção do Muro de Berlim em 1961, quando este lugar passou a ser o ponto de controlo, na linha de divisão entre as duas cidades, mas que representava também a divisão entre os dois blocos políticos dominantes durante toda a Guerra Fria, especialmente após um confronto entre tanques americanos e soviéticos, que ocorreu no ano de 1961.
Por este ponto de passagem, muitas pessoas tentaram escapar da Alemanha Oriental, algumas delas com sucesso, mas outras falharam tragicamente.
Atualmente, o Checkpoint Charlie é uma atração turística muito popular, mantendo uma réplica da antiga guarita, mas também um museu, o Mauermuseum, que documenta a história do muro, das tentativas de fuga e de todo o contexto da Guerra Fria.
No trajeto seguinte vamos encontrar um bairro residencial com uma arquitetura diferenciada, e mais uma das praças monumentais da cidade.
Quartier Schützenstraße e Gendarmenmarkt
O Quartier Schützenstraße é um complexo de edifícios projetado pelo renomado arquiteto italiano Aldo Rossi na década de 1990, e que é conhecido pelo seu design pós-moderno, inspirado nos estilos clássicos europeus, com fachadas que combinam as cores vivas com algumas formas geométricas menos comuns.
Pouco depois chegámos à Praça Gendarmenmarkt, que é um dos lugares mais ricos em Berlim, devido à belíssima arquitetura dos edifícios clássicos que ali se encontram.
Além de ser um ponto de encontro de turistas e habitantes locais, e espaço para artistas de rua e até para alguns concertos que ali são organizados, a Gendarmenmarkt destaca-se sobretudo pelos seus edifícios.
A Neue Kirche, ou Nova Igreja, apesar de ser bastante antiga, de 1708, é também conhecida como Deutscher Dom (ou Catedral Alemã), neste caso, uma catedral Protestante.
Foi construída em estilo barroco e reformada no final do século XVIII, tendo sido acrescentada uma cúpula em 1785, que é a sua principal imagem de referência.
Atualmente já não funciona como igreja, mas sim como museu, contendo uma exposição permanente sobre a história do sistema democrático na Alemanha, chamada "Caminho da Democracia".
Um outro monumento desta praça é a Französischer Dom, ou Catedral Francesa. Este edifício é semelhante ao da Catedral Alemã, fazendo parte de um conjunto, com um dos edifícios em cada extremidade da praça.
Atualmente a Französischer Dom não é uma catedral no sentido religioso, mas sim um edifício histórico, construído em 1705, como igreja da comunidade francesa protestante calvinista, que fugiram da perseguição a que foram sujeitos em França.
Tal como a sua irmã gémea, também lhe foi acrescentada uma cúpula no ano de 1785, dando aos dois edifícios uma aparência monumental e grandiosa.
Ainda abriga uma pequena igreja reformada, mas a maior parte do edifício funciona como o museu dedicado à história dos refugiados protestantes franceses na Alemanha, que são chamados de huguenotes.

No centro da praça encontra-se mais um edifício extraordinário, o Konzerthaus Berlin, uma famosa casa de concertos. Este edifício histórico, que foi inaugurado em 1821, e é uma das principais casas de música clássica da cidade, oferece uma vasta programação de concertos e outros eventos musicais.
O Konzerthaus é conhecido pela sua acústica de alta qualidade, mas também pela sua arquitetura impressionante, que combina elementos clássicos e modernos. Além disso, serve de sede para a Orquestra Konzerthausorchester Berlin, uma das mais importantes orquestras da cidade.
O prédio original foi completamente destruído durante a Segunda Guerra Mundial, mas foi reconstruído na década de 1980 e reaberto em 1984, mas, atualmente, parece que o querem reconstruir de novo, pelas obras profundas que ali estão a decorrer… por isso, escolhi uma das minhas fotos mais antigas, de uma das visitas anteriores.

Terminámos aqui este percurso, mas ficámos ainda nesta zona para jantarmos num restaurante que nos tinha sido referenciado e que é um bom exemplo da gastronomia alemã, o Maximilians Berlin, que oferece comida bávara, de que gostamos muito… venham então as salsichas, os eisbeins, acompanhados por umas Weizenbiers e, nesta época, havia também os espargos brancos, que são uma delícia.
RFA - Percurso 3
Neste percurso explorámos a antiga cidade de Berlim Ocidental, começando pela zona dos edifícios governamentais.
Chancelaria Federal, Edifício Paul Loebe e White Crosses
A Chancelaria Federal é o escritório do Chanceler Alemão, o chefe de governo do país. Trata-se de um prédio moderno e com um design inovador, com grandes janelas de vidro, dando uma imagem de transparência, que quer ser alargada à própria forma de governação, funcionando também como símbolo do renascimento da Alemanha após a reunificação.
Podemos sempre aceder a toda a área ao redor da Chancelaria, que é aberto ao público, mas o prédio, em si, não é acessível para visitas sem autorização. No entanto, é possível participar em visitas guiadas a outros edifícios do governo, como o Reichstag, o parlamento alemão, ou apenas ver a Chancelaria de perto.
Um outro prédio deste complexo governamental é o Edifício Paul Löbe, feito em homenagem a Paul Löbe, um importante político do início do século XX, que foi presidente do Bundestag e ajudou a reformar o parlamento.
É um dos edifícios mais importantes do complexo e serve como um centro administrativo do parlamento alemão.

Junto ao rio, na zona deste edifício, vamos encontrar mais um símbolo da cidade, que é quase um Memorial, chamado de White Crosses (ou Cruzes Brancas), mas que poderemos encontrar também noutros locais da cidade.
Originalmente, este símbolo estava associado à memória dos mártires que lutaram contra o poder nazi, durante a Segunda Guerra Mundial. Mas o seu significado pode variar dependendo do contexto e do local específico em Berlim onde estas cruzes aparecem.
Assim, podemos ter alguns destes símbolos, como neste caso, na margem do rio e junto aos edifícios governamentais, que homenageiam os mártires da luta contra o poder soviético, muitos deles abatidos enquanto tentavam fugir do lado Oriental da cidade, mas podem também representar outras lutas, estas mais recentes, servindo, por exemplo, para chamar a atenção para questões contemporâneas de direitos humanos.
Palácio do Reichstag
O principal edifício desta zona governamental é o Palácio do Reichstag, o edifício histórico da sede do Parlamento alemão, que foi inaugurado em 1894 com o objetivo de ser o centro do governo do Império da Alemanha.
O edifício é famoso pela sua imponente arquitetura e por ter sido palco de momentos significativos da história alemã. Em 1933, o Reichstag foi incendiado, num evento que ajudou a consolidar o poder de Adolf Hitler e do seu regime nazi. Durante a Segunda Guerra Mundial, o edifício foi gravemente danificado, obrigando a uma reconstrução quase integral.
Após a reunificação da Alemanha, em 1990, o edifício foi restaurado e modernizado. A reforma foi projetada pelo arquiteto britânico Sir Norman Foster, e a nova cúpula de vidro que foi adicionada, tornou-se num símbolo da transparência e da democracia, valores importantes quando foi formado o parlamento da Alemanha reunificada.
Porta de Brandemburgo
A Brandenburger Tor, ou Porta de Brandemburgo, fica no coração de Berlim, na Pariser Platz, no final da famosa avenida Unter den Linden, e é um dos monumentos mais importantes da capital alemã.
Foi construída entre 1788 e 1791, durante o reinado de Frederico Guilherme II da Prússia, projetada pelo arquiteto Carl Gotthard Langhans e inspirada na arquitetura da Grécia Antiga, especialmente na Acrópole de Atenas.
No topo do pórtico que forma esta porta, encontra-se a chamada a Quadriga, a escultura de uma carruagem puxada por quatro cavalos, conduzida pela Deusa Vitória.
Este monumento é o símbolo da divisão e posterior reunificação das duas alemanhas, estando localizado na área de fronteira entre as duas Berlim’s, numa zona de isolamento conhecida como "linha da morte". Assim, e embora tivesse ficado do lado Leste do muro, este monumento ficou isolado, tanto pelo lado Ocidental quanto pelo Oriental, não podendo ser atravessado por ninguém, e só voltou a ser aberto após a queda do muro, tornando-se num símbolo da reunificação alemã.

O monumento tem 26 metros de altura e 65 de largura, e contém 12 colunas dóricas (seis de cada lado), e é um ponto de encontro e um dos principais locais turísticos da cidade.
Tem sido usado como espaço de celebração coletiva e de manifestações cívicas, culturais e políticas, e de eventos importantes, como festas de Ano-Novo, concertos ao ar livre e comemorações nacionais, por exemplo, as vitórias da seleção alemã… reforçando o papel deste monumento como coração simbólico da cidade.
Foi também ali que Roger Waters apresentou o histórico espetáculo “The Wall - Live in Berlin”, no dia em 21 de julho de 1990, poucos meses após a queda do Muro de Berlim. O evento reuniu cerca de 350 mil pessoas no local e foi transmitido para milhões ao redor do mundo. Ao longo do espetáculo, enquanto se reproduzia o álbum The Wall (Pink Floyd - 1979), ia sendo erguido em pleno palco um enorme muro, com 25 m por 160 m, que foi separando os artistas do público, até ser destruído num final apoteótico, simbolizando a queda das barreiras que, por décadas, haviam separado a cidade.

Atualmente, a Porta de Brandemburgo é um dos maiores símbolos de identidade e orgulho para os habitantes de Berlim. Mais do que um monumento histórico, representa a superação de um passado de divisão e opressão, tornando-se um marco da liberdade e da reunificação alemã.
Além disso, a presença deste monumento como um portão que liga as duas cidades anteriormente divididas, transmite um sentimento de continuidade histórica: aquilo que já foi um limite intransponível entre as duas Alemanhas é hoje um lugar aberto, democrático e de convivência, lembrando constantemente aos habitantes de Berlim o valor da unidade, da paz e da liberdade… e todo esse simbolismo fica mais percetível se apreciarmos este monumento durante a noite, quando se torna ainda mais bonito.
Parque Tiergarten
Do lado Ocidental do muro entramos no Parque Tiergarten, também conhecido por Großer Tiergarten (em que Großer significa Grande), é o maior e mais famoso parque de Berlim.
Originalmente, no século XVI, este parque era uma reserva de caça para a nobreza da chamada Brandemburgo. No século XVIII, o rei Frederico, o Grande, transformou este espaço num parque público. Durante a Segunda Guerra Mundial, sofreu grandes danos e foi parcialmente desmatado, pelo que teve de ser completamente restaurado no pós-guerra.
Ao longo deste parque vamos encontrando vários pontos de referência, começando pela própria Porta de Brandemburgo, localizado no extremo leste do parque, mas também a Coluna da Vitória, o Palácio de Bellevue, residência oficial do presidente da Alemanha, ou o Memorial aos Soldados Soviéticos e o Memorial aos Judeus Assassinados da Europa.
Começámos pelo Soviet War Memorial, um Memorial de Guerra Soviético, que serve para homenagear os soldados do Exército Vermelho que morreram durante a Batalha de Berlim, em 1945… e cerca de 2.000 soldados soviéticos estão mesmo enterrados neste local.
O Memorial foi construído em mármore que foi retirado da Chancelaria de Hitler, e exibe um tanque T-34 e um canhão, símbolos da vitória soviética. Conta ainda com uma estátua dum soldado soviético de 8 metros de altura.

Em pleno parque do Tiergarten encontramos ainda a Torre do Carillon, um dos maiores carrilhões autónomos do mundo.
A Torre do Carrilhão (ou Berliner Carillon), atinge uma altura de cerca de 42 metros e é constituído por um conjunto de 68 sinos, pesando um total de 48 toneladas. A construção foi finalizada em 1987, na parte Ocidental da cidade, ainda antes da queda do muro, como parte das comemorações dos 750 anos de Berlim
O carrilhão toca automaticamente em horários programados, mas também há apresentações ao vivo feitas por um carrilhonista e, quando está a ser tocado, o som deste carrilhão pode ser ouvido a uma grande distância ao longo de todo o parque.

Pouco depois chegámos a mais uma atração deste parque, a Casa das Culturas do Mundo, que se trata de um dos mais importantes centros culturais de Berlim, focado na arte contemporânea e no intercâmbio entre diferentes culturas.
Este espaço promove exposições, performances, concertos, palestras e filmes, abordando temas globais como colonialismo, tecnologia, sustentabilidade e mudanças sociais.
O edifício foi inaugurado em 1957 como parte da Exposição Internacional, e é conhecido pelo icónico telhado curvo, que é apelidado pelos berlinenses de “ostra preguiçosa”.
Ao fazermos o próximo percurso junto ao rio chegamos perto do Palácio de Bellevue, que é atualmente a residência oficial do Presidente da Alemanha.
Foi construído em 1786 como residência de verão do Príncipe Augusto Fernando da Prússia e só recentemente, e já depois da reunificação, 1994, tornou-se na sede oficial da presidência alemã.
O nome Bellevue significa “bela vista”, referindo-se à localização privilegiada à beira do rio Spree. Não é aberto ao público regularmente, mas pode ser visitado em ocasiões especiais. Na sua fachada principal podemos observar se a bandeira presidencial está hasteada, o que indicará que o presidente estará presente no local.
Atravessámos ainda o interior do Parque Tiergarten, explorando os belíssimos espaços verdes que nos vão surgindo, encontrando depois a longa avenida que o atravessa, e uma imensa rotunda, que é designada por Großer Stern, onde se ergue a Siegessäule, ou Coluna da Vitória.
A Coluna da Vitória é um monumento que comemora as vitórias militares da Prússia no século XIX, especialmente contra a Dinamarca (1864), a Áustria (1866) e a França (1871).
No seu topo de 67 metros de altura está a estátua dourada de Viktoria, a Deusa da Vitória, conhecida pelos berlinenses como "Goldelse". É possível subir os 285 degraus até o topo para desfrutar da vista panorâmica sobre esta parte da cidade.
Igreja Memorial do Kaiser Wilhelm e Swissotel Berlin
A Igreja Memorial do Kaiser Wilhelm e o antigo Swissotel Berlin são dois marcos importantes da região de Charlottenburg, em Berlim.
A Igreja é um dos monumentos mais simbólicos da cidade, foi construída no final do século XIX em homenagem ao Kaiser Wilhelm I e foi severamente danificada durante a Segunda Guerra Mundial.
Em vez de ser completamente restaurada, as ruínas da torre original foram preservadas como um Memorial contra a guerra, tendo sido construída ao seu lado, uma outra igreja com um design moderno, conhecida pelos seus vitrais azuis.

Hoje, a Igreja Memorial do Kaiser Wilhelm é mais do que um espaço religioso, mas sim um marco urbano e um símbolo de memória coletiva. Representa tanto a dor da destruição causada pela guerra quanto a capacidade de reconstrução e de esperança, que marcaram Berlim no pós-guerra.
O interior da nova igreja da Kaiser-Wilhelm-Gedächtniskirche, construída entre 1959 e 1963 pelo arquiteto Egon Eiermann, é um espaço impressionante pelos milhares de pequenos vitrais azuis, que revestem as paredes em forma de favos, feitos em betão. Esses vitrais produzem uma luz azul profunda que envolve todo o ambiente, transmitindo calma e espiritualidade.
No centro, acima do altar, destaca-se a imponente figura dourada de Cristo, com os braços abertos, obra do escultor Karl Hemmeter. A imagem, iluminada pelo fundo azul, simboliza a esperança e a presença divina que acolhe os fiéis.
Esta sala é usada como espaço principal de culto e oração. Em contraste com a torre antiga, deixada em ruínas como Memorial de guerra, a nave moderna representa reconstrução, vida e esperança, e juntas, as duas partes da igreja, criam um poderoso diálogo entre memória do passado e visão de futuro.
No vestíbulo da torre antiga, atualmente convertido em sala Memorial, encontram-se os baixos-relevos em arenito criados por Stefan Kaehne, representando figuras humanas em cenas simbólicas, como guerra e paz.
Voltando à imagem do monumento, durante o período de divisão das duas alemanhas, este era o principal símbolo do lado da RFA, a República Federal Alemã, já que a grande maioria dos monumentos grandiosos da cidade tinham ficado do lado da RDA, gerido pelo governo comunista com o apoio dos soviéticos.
A famosa avenida Kurfürstendamm, que ali encontramos, é uma das principais ruas comerciais da cidade, e que era um local de concentração do luxo Ocidental, exatamente para demonstrar a diferença de nível face à paupérrima cidade do lado de Leste. Mas nesta avenida sempre se ergueu a ruína da torre da Igreja do Kaiser Wilhelm, como testemunho de uma guerra impiedosa para milhões de pessoas, mas também para a própria cidade… e atualmente a mesma torre continua a assinalar a memória de uma história pungente, que esta cidade não quer deixar cair no esquecimento.
Ainda na avenida Kurfürstendamm encontra-se também o Swissotel Berlin, um hotel de luxo que era conhecido pelo design moderno e pelo serviço de alta qualidade, e que constituía mais uma marca de um nível elevado que os alemães do lado Ocidental queriam ostentar. No entanto este hotel fechou em 2018, sendo atualmente um triste prédio abandonado, salvo apenas por algumas lojas que ocupam o piso térreo… felizmente já existem novos projetos em desenvolvimento, justificando-se algo relevante para a cidade, pois a localização continua a ser uma das mais prestigiadas de Berlim.
Urban Nation
A próxima caminhada pelas avenidas modernas desta zona leva-nos até ao Urban Nation, um museu e uma plataforma de arte urbana, que foi fundado em 2017. Este museu, cujo nome completo é Urban Nation Museum for Urban Contemporary Art, dedica-se à arte de rua, aos graffitis e a outras expressões contemporâneas ligadas à cultura urbana.
Neste espaço apresentam-se exposições rotativas de artistas renomados e emergentes do cenário internacional, além de promoverem projetos comunitários e murais ao ar livre em diversas partes da cidade… e aqui encontrámos, por exemplo, um trabalho do nosso Vhils, um extraordinário artista em qualquer parte do mundo.
O museu funciona num edifício de esquina na avenida Bülowstraße, cujas fachadas vão sendo também elas decoradas, com diversas intervenções artísticas, que vão mudando ao longo do tempo… e junto aqui a imagem que lá encontrei em abril de 2025, embora já tenha visto na net muitas outras decorações desta mesma fachada.
Seguindo a mesma temática desta galeria, existem outras fachadas no bairro que se apresentam decoradas com arte urbana, como é o caso deste prédio que fica ali bem próximo.
Nova Galeria Nacional, Kammermusiksaal e Filarmónica de Berlim
Um pouco depois desta zona chegámos a uma área de grande riqueza cultural, com um museu e duas salas de espetáculos, todas com um aspeto moderno e vanguardista.
A Nova Galeria Nacional de Berlim (Neue Nationalgalerie) é um dos museus mais importantes da Alemanha dedicado à arte do século XX. Foi projetada pelo famoso arquiteto Ludwig Mies van der Rohe e foi inaugurada em 1968, constituindo um marco determinante no panorama cultural da cidade, quer pela sua arquitetura quer pela coleção de arte que ali é exibida.
O edifício é uma referência da arquitetura modernista, com um design minimalista e elegante. Possui uma estrutura de vidro e aço, com um grande teto plano que parece flutuar sobre o espaço.
O conceito aberto e transparente reflete a ideia de liberdade e fluidez no espaço de exposições, onde se encontra uma coleção impressionante de arte do século XX, com um foco especial no Expressionismo Alemão, Bauhaus, Cubismo e Surrealismo, incluindo obras de Picasso, Paul Klee, Kirchner, Kandinsky e Joan Miró, entre outros.

A Filarmónica de Berlim (Berliner Philharmoniker) é uma das orquestras mais importantes em todo o mundo, conhecida por sua excelência musical e inovação.
A sua sede inclui dois espaços principais: Grande Sala de Concertos (Großer Saal) - Um dos auditórios mais famosos do mundo, com uma acústica excecional; e a Kammermusiksaal - Uma sala menor, projetada especialmente para concertos de música de câmara, oferecendo uma experiência mais íntima e envolvente.
A Orquestra Filarmónica de Berlim foi fundada em 1882 e teve grandes maestros ao longo da história, como é o caso do enormíssimo Herbert von Karajan.
O conjunto que forma este complexo de edifícios apresenta um design inovador, tanto no interior, com um formato e uma série de detalhes concebidos para otimizar a acústica das salas de espetáculo, mas também no exterior, com um revestimento dourado que se destaca na paisagem urbana da cidade.
Potsdamer Platz e Mall of Berlin
A zona da filarmónica fica perto da Potsdamer Platz, uma praça cheia de edifícios modernos, junto a um imenso centro comercial.
Esta zona é uma das áreas mais vibrantes de Berlim, conhecida pela sua arquitetura moderna, mas também pela sua importância histórica. Antes da Segunda Guerra Mundial, era um dos cruzamentos mais movimentados da Europa, mas mais tarde, durante a Guerra Fria, a área ficou praticamente abandonada, pois foi atravessada pelo Muro de Berlim e pelas faixas de proteção, que acompanhavam o muro de ambos os lados.
Após a reunificação da Alemanha a praça foi alvo de um dos maiores projetos de reconstrução urbana da Europa, que contou com a participação de arquitetos de renome como Renzo Piano e Helmut Jahn. Hoje a Potsdamer Platz é um símbolo da modernidade de Berlim, reunindo arranha-céus, hotéis, centros comerciais, cinemas, teatros e restaurantes. A praça representa, ao mesmo tempo, a memória da destruição e divisão do passado e a força da cidade na sua capacidade de se reinventar.
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Neste conjunto que envolve a Potsdamer Platz, para além dos arranha-céus que são a imagem da praça, encontram-se ainda alguns edifícios de referência; como o Teatro Berlinale Palast, uma sala onde se apresentam as temporadas de musicais, e que é também o principal spot do Festival Internacional de Cinema de Berlim; e o Mall of Berlin, um dos maiores shoppings da cidade.
Niederkirchnerstraße
A paragem seguinte é feita em mais uma das zonas da cidade onde podemos encontrar troços do antigo muro. Neste caso, fica na rua Niederkirchnerstraße, que é famosa pela sua importância histórica durante o período da Segunda Guerra Mundial e depois na Guerra Fria.
Nesta rua, e nos vários edifícios e vestígios que ainda ali existem, são retratados alguns factos históricos importantes desta cidade: o próprio Muro de Berlim, que materializava a divisão da Alemanha, e servia de fronteira entre Berlim Oriental e Berlim Ocidental; e o edifício onde ficava a sede da Gestapo e das SS, durante o regime Nazi, que era um dos centros de repressão do Terceiro Reich e é hoje o Memorial chamado de "Topografia do Terror", que documenta os crimes nazis e o funcionamento das instituições de repressão.
Ao longo do muro existe uma parte desta instalação chamada de Topografia do Terror, onde estão expostas várias imagens e referências perturbadoras do regime sob o poder de Adolf Hitler.
Escolhendo apenas um dos exemplos ali expostos, mostro aqui um desfile militar junto à Porta de Brandemburgo, durante o período do Terceiro Reich. Trata-se de uma cena típica das grandes demonstrações de poder organizadas pelo regime de Hitler nos anos 1930 e 1940, marcadas por marchas noturnas, tochas, saudações nazis e bandeiras com cruzes suásticas.
Memorial aos Judeus Mortos da Europa
Terminamos este dia num dos mais impressionantes espaços da cidade de Berlim, o Memorial do Holocausto, que é também conhecido como Memorial aos Judeus Mortos na Europa.
Situado perto da Porta de Brandemburgo e do antigo local do bunker de Hitler, este imenso espaço, que é dedicado às vítimas judaicas do Holocausto, dá-nos uma visão comovente da história.
Foi projetado pelo arquiteto Peter Eisenman e inaugurado a 10 de maio de 2005, cobrindo uma área imensa de 19.000 m² e contendo 2.711 blocos de betão, com diferentes alturas, representando sepulturas, e formando, entre si, um imenso labirinto.

A ideia era criar uma sensação de desorientação e opressão, refletindo a experiência de insegurança e medo vivida pelos judeus perseguidos e, ao mesmo tempo, fazer-nos sentir a todos nós, ao visitarmos este espaço, a experiência de nos encontramos num enorme cemitério, embora não possua inscrições ou explicações nos blocos, permitindo que cada visitante tenha a sua própria interpretação emocional ao percorrê-lo… e deixando-se necessariamente emocionar.
Terminámos aqui esta visita à cidade de Berlim, uma das cidades europeias mais ricas, quer pela sua história importantíssima em dois períodos fundamentais do século XX, quer pela arquitetura, que combina o clássico com o ultra-moderno, e quer também pela cultura, que é aqui disponibilizada em muitos museus e salas de espetáculos… e há ainda a vivência vibrante de uma população cosmopolita, de habitantes e turistas, que fazem desta cidade, uma das mais marcantes em todo o mundo.
Mas tenho também de referir que, desta vez, Berlim não me deslumbrou tanto com tinha acontecido na anterior visita, sabe-se lá porquê, talvez porque a expetativa estivesse muito alta, mas a verdade é que, desta vez, a cidade não me arrebatou da mesma forma.