quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Roma - Barrio del Trastevere

A escolha de um alojamento no animado bairro de Trastevere não podia ser mais acertada. Não há melhor local na cidade de Roma para passar um serão, sair para jantar e percorrer as ruas, praças e pontes apinhadas de gente bonita e bem-disposta, num ambiente frenético e excitante.

Mal chegamos a esta zona vindos do centro histórico e atravessando a Ponte Sisto, que nos mostra uma paisagem bucólica das águas do rio Tibre (ou Tevere, em italiano) adornadas pela cúpula imponente da Basílica de São Pedro, ali tão perto, entramos num carrossel que nos parece um outro mundo… um mundo de boémia, cheio de juventude, cheio de movimento, com muita vida, e muito acolhedor, e não tem nada daquela onda pesada de alguns locais de animação noturna, que encontramos por esta Europa fora.
O primeiro ponto de concentração massiva surge logo depois da Ponte Sisto, na Piazza di San Calisto, um local que durante a noite se transforma num espaço animadíssimo de concertos para artistas de rua, e que é claramente o centro nevrálgico deste bairro.
Depois é só nos deixarmos perder na teia de ruelas deste bairro, que é também conhecido pelas suas tratorias tradicionais que, nas noites quentes de Verão, se estendem pelas calçadas das ruas e praças, numa oferta variada e apelativa para um jantar tardio.

E ao falar de tratorias chega-me logo a água à boca lembrando aquelas iguarias maravilhosas que sempre encontramos em Itália, nada “engordativas” – não senhor – mas só se vive uma vez, e não se está em Roma todos os dias, por isso vamos lá desfrutar das massas, pizzas e outras relíquias que nos vão sugerindo. 

E fizemos a escolha certa, por recomendação, claro, não iríamos adivinhar, embora a fila de espera já indicasse algo especial – o ristorante Tonnarello – a poucos metros da Piazza Santa Maria in Trastevere, por onde circulam multidões. Experimentámos outras tratorias do bairro, mas foi de longe o Tonnarelo aquele que mais nos encantou… molto buono.

Mas o Trastevere não é só noite, o sol também lá brilha dando a este local uma face totalmente diferente, mas que continua a ser a de um bairro lindíssimo e muito interessante. 

Também durante o dia o bairro é bastante frequentado por jovens, sobretudo por se tratar de uma zona universitária, com a existência de algumas residências de estudantes. Mas também se veem muitos turistas, até porque este bairro tem vindo a constar nos roteiros da cidade, embora não se encontrem aquelas aglomerações de pessoas que saem dos autocarros em grandes grupos, são mais os pequenos grupos de turistas ou mesmo famílias, que chegam ao bairro à procura de uma outra face da cidade de Roma… até para desanuviar de tanta igreja e tanta ruína. 

Tal como à noite a entrada neste bairro pode ser feita pela Ponte Sisto, chegando diretamente à Piazza di San Calisto, bem mais tranquila ao início do dia.


Foi a partir desta praça que chegámos ao nosso alojamento, um dos muito alojamentos locais que se encontram nesta zona. Neste caso, escolhemos um apartamento da Sonder, de ótima qualidade e localizado junto a uma das casas mais típicas que por lá encontramos e que é até usada como imagem de marca deste bairro.
E foi daí que saímos para um percurso que nos iria levar a percorrer alguns dos locais mais interessantes do bairro, seguindo, mais ou menos, o circuito assinalado neste mapa:
Começámos por nos deixar perder pelas ruas apertadas do bairro, encontrando lojas de artesanato e várias esplanadas, de alguns cafés ou das tais tratorias, chegando sempre a uma praceta onde se ergue, invariavelmente, alguma igreja.

Mas o mais característico deste bairro são as cores das casas, a terracota ou o ocre e, muitas vezes, numa mistura interessante com os verdes das trepadeiras que cobrem partes das paredes… muito bonito.


E num local tão bonito como este, a magia instala-se e o ambiente envolve-nos de tal forma, que já nos sentimos como se esta fosse a nossa terra e as raízes italianas fossem as nossas origens… e, se olharmos bem, até já parecemos mesmo italianos genuínos 😊.

Para além da zona baixa do bairro, junto ao rio, existe uma elevação, no topo da qual encontramos uma das fontes importantes da cidade de Roma, a Fontana dell'Acqua Paola.

A subida da encosta vai-nos proporcionando algumas paisagens interessantes, primeiro ainda no bairro, mas, ao atingirmos a zona da fonte, a vista torna-se mais ampla e podemos contemplar uma imagem admirável, que revela um conjunto incrível de torres, abóbadas e fachadas de igrejas, palácios e outros monumentos, que dominam esta parte da cidade, e que nos parece um autêntico museu vivo da arquitetura clássica.


De volta ao centro do Trastevere encontramos mais algumas ruas, idênticas às anteriores, mais calmas durante o dia e completamente eufóricas a partir do pôr-do-sol. Um dos locais de referência deste bairro é a Piazza di Santa Maria in Trastevere, a mais ampla de todas as praças da zona, que fica apinhada de gente quando a noite chega, embora seja um local bem tranquilo ao longo do dia.
Faltava ainda conhecer o lado oposto do Trastevere, na zona em que atravessa o rio Tibre pela Ponte Garibaldi. A aparência desta zona é semelhante à do centro nevrálgico do bairro, embora menos concorrido e animado. 

Chegados ao rio encontramos a Isola Tiberina, uma das referências da cidade de Roma, tanto pela sua história envolta em misticismo, como pela sua beleza. Trata-se de uma pequena ilha de apenas 270 m por 70 m, localizada nas águas do Tibre. Consta nas escrituras que, na antiguidade, cerca do ano 300 a.C., foi erguido nesta ilha um templo dedicado a Esculápio, o Deus grego da medicina. O templo viria a ser destruído durante a Idade Média e, já muito mais tarde, foram encontradas as ruínas, que é coisa que não falta nesta cidade e, nessa mesma zona, foi construída a igreja de San Bartolomeo all'Isola. Foi ainda construído o Hospital Faterbenefratelli em frente à igreja, e são essas as construções que hoje ali encontramos.
Mas existe uma lenda sobre a origem desta ilha, que garante que após a morte de Tarquínio, o Soberbo, que governou a cidade por volta do século V a.C., o povo romano atirou o seu corpo ao rio e terá sido exatamente nesse local, com os detritos que se acumularam em torno do corpo depositado no fundo, que se deu a formação gradual desta ilha. 

E foi devido a esta origem obscura que a Isola Tiberina foi considerada pelos Romanos como um local de mau presságio e, até à construção do Templo de Esculápio, ninguém se aproximava da ilha, que era usada apenas como prisão para criminosos com as maiores penas. 

Hoje em dia a ilha é um ponto turístico quase obrigatório, e constitui um autêntico bilhete postal desta zona da cidade.
No lado oposto torna-se agora visível a bonita imagem da Ponte Sisto, também ela protegida e talvez abençoada, pela cúpula da Basílica de São Pedro, no Vaticano, ali tão próximo.