sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Munique

No início de novembro de 2007 resolvemos fazer um fim-de-semana prolongado na Baviera, visitando alguns locais do Sul da Alemanha e da Áustria. Voámos com a TAP para Munique, onde chegámos ao final da manhã. Como pretendíamos fazer algumas viagens para o Sul do país resolvemos alugar um carro no aeroporto, e foi dessa forma que chegámos à cidade.

A visita a esta cidade seguiu um roteiro que foi passando pelas suas principais atrações assinaladas neste mapa: 
Começámos o nosso percurso a partir da Karlsplatz, uma praça enorme que funciona como portão da cidade velha. Aliás, os edifícios que dominam a praça e que se dispõem em semicírculo, estão ligados ao centro por um portão medieval, que foi preservado até à atualidade.

A praça inclui ainda, no seu centro, um imenso fontanário que é utilizado no Verão como uma espécie de banho público, que os mais jovens usam para se ir refrescando enquanto passam algumas horas ao sol, como quem está na praia (quem não tem praias por perto utiliza o que pode… e eu próprio, não desta vez em novembro, mas há muitos anos atrás, numa visita a esta cidade no mês de agosto, também aproveitei aquelas águas do fontanário para me refrescar).
Em frente à Karlsplatz fica o imponente edifício do Landgericht de Munique, o Tribunal Distrital da cidade que é o maior e mais importante de todos os tribunais da região da Baviera.
Voltando à Karlsplatz e passando pelas portas medievais da cidade entrámos na Newhouser Strasse, uma imensa rua pedonal, ampla e com quase 1 km, ao longo da qual se dispõem lojas, restaurantes e hotéis, tal como alguns dos monumentos mais emblemáticos da cidade.

Um desses monumentos é a Catedral de Munique, localizada na Frauenplatz, a cerca de 500m da Karlsplatz. A catedral de Nossa Senhora Benedita, ou Frauenkirche, é a maior igreja da cidade. É uma igreja católica construída no final do Séc. XV onde funciona a arquidiocese de Munique, que domina toda a paisagem da envolvente, com as suas torres imponentes que são visíveis de quase toda a cidade.

Apesar do estilo gótico, a catedral está construída em tijolo vermelho e tem uma aparência sóbria, sem os ornamentos típicos do gótico. A capela principal desenvolve-se por 109m de comprimento, 40 de largura e 37 de altura. As suas duas torres têm quase 100m de altura e terminam em cúpulas, combinando com o estilo arquitetónico do restante edifício.

Voltando a Neuhauser, chegamos à praça principal da cidade, a Marienplatz, onde fica o monumental edifício Neues Rathaus, que correspondente à atual Câmara Municipal da cidade.

Foi construído no final do século XIX em estilo neogótico. Tem uma área de quase dez mil metros quadrados e tem mais de 400 divisões.
Uma das principais atrações do edifício é o Rathaus-Glockenspiel, um relógio e um carrilhão com figuras animadas.
Demorámo-nos algum tempo na Marienplatz. É o local onde palpita o coração da cidade, as pessoas vão enchendo a praça, os artistas de rua vão provocando alguns aglomerados, aqui e ali, as esplanadas estão cheias, apesar do frio que vai fazendo. Nós próprios deixámo-nos ficar numa dessas esplanadas, saboreando uns crepes com gelado, enquanto apreciávamos o vaivém constante com que esta zona da cidade vai respirando.
Seguimos depois até à Platzl, uma praça com grande concentração de restaurantes, e com uma arquitetura típica da Baviera.

É nesta praça que se localiza uma das mais emblemáticas cervejarias de toda a Baviera, a Hofbräuhaus que, segundo consta, era mesmo a preferida de Adolf Hitler. O edifício remonta ao século XVI, embora tenha sido destruído nos bombardeamentos da segunda guerra mundial, foi depois reconstruído em 1958. Para além da cerveja, que circula em tabuleiros enormes nas canecas de litro, o restaurante serve todo o tipo de pratos bávaros, como o eisbein com chucrute (um joelho de porco cozido, com uma espécie de couve branca avinagrada... horrível).

Já as salsichas, que aqui acompanham com puré de batata, com a minha cerveja alemã favorita, a cerveja de trigo ou weiss beer, são um petisco extraordinário.

Mas só à noite voltaríamos a este local para experimentar algumas dessas iguarias.
Seguimos ainda pelas ruas animadas até ao jardim Hofgarden, onde se localiza o edifício grandioso do Bayerische Staatskanzlei, a Chancelaria do Estado da Baviera ou Governo Regional.

O edifício enquadra-se num dos lados do jardim, com o aspeto semelhante ao dos jardins dos palácios franceses, como o de Versalhes.
Entrámos depois numa das maiores praças da cidade, a Odeonsplatz onde, curiosamente, estava exposto um imenso outdoor publicitando Portugal como destino turístico. O nome da praça resulta de uma antiga sala de concertos, o Odeon que, porém, já não existe no local.
Fizemos ainda mais alguns percursos, já depois do sol ter caído e regressámos ao hotel seguindo um caminho diferente. Mais tarde iríamos voltar à praça Platz para passar o serão e para jantarmos.
Durante a noite, na Hofbräuhaus, a maior cervejaria da cidade, o jantar foi abundante e tipicamente bávaro. Fomos servidos por fräuleins e pastores tiroleses vindos diretamente das montanhas… que entornavam as canecas de cerveja, enquanto se balançavam ao som da orquestra residente que ia entoando música tirolesa… que só se tolera depois do primeiro litro de cerveja.


Terminámos a noite passando por ruas inesperadamente movimentadas e parando, aqui ou ali, para mais uma bebida que ajudasse a aquecer aquela noite fria.


No dia seguinte, resolvemos ir até ao imenso Parque Olímpico, onde foram realizados os jogos de 1972, para visitarmos o conjunto de infraestruturas desportivas ainda operacionais.

Desde a minha primeira visita a Munique, em 1984, que fiquei impressionado com a arquitetura daquele complexo desportivo, que, nessa altura, era algo completamente vanguardista. Mas o curioso é que, nesta visita em 2007, 23 anos depois, aquele local continua a respirar modernidade e a constituir um marco incrível da arquitetura. Acrescento ainda o facto de, desde 84, ter tido já a oportunidade de visitar outros complexos olímpicos, muito mais recentes, e nenhum deles me ter impressionado tanto como este, embora construído há várias décadas.

Chegados à zona do parque somos logo agarrados pela beleza do complexo, dominado pelas imensas coberturas translúcidas, fazendo lembrar tendas de circo com grossos cabos de aço de suspensão.
A disposição das várias infraestruturas desportivas entre si, perfeitamente integradas num espaço dominado por zonas verdes e lagos, faz com que, no conjunto, a paisagem seja espantosa e, ainda hoje, completamente futurista.
Além do estádio e dos vários pavilhões, a paisagem é também caracterizada pela existência da enorme torre de telecomunicações, onde funciona um restaurante panorâmico, mas também pelo complexo da BMW, de onde se destaca o edifício principal, que se encontra perfeitamente integrado no conjunto de infraestruturas do parque olímpico.

Mas a visita a este parque não nos pode deixar alheios à história que ali foi vivida. No dia 5 de setembro de 1972, uma brigada terrorista palestiniana, auto-denominada como “Setembro Negro” entrou na aldeia olímpica e sequestrou onze atletas israelitas. As forças policiais alemãs tentaram uma operação para libertar os reféns num aeroporto perto de Munique, para onde foram conduzidos pelos sequestradores, contudo, a polícia veio a demonstrar uma total falta de preparação para lidar com uma situação extrema como esta, tendo mobilizado uma equipa sem capacidade para responder aos terroristas, o que acabou por levar à morte de todos os atletas sequestrados.

Este triste acontecimento, o mais negro de toda a história dos Jogos Olímpicos, com a morte de 11 atletas, ficou conhecido como o “Massacre de Munique”. Mais tarde, a Mossad, os serviços secretos israelitas, numa operação conhecida como “Ira de Deus”, desencadeou uma caça ao homem por todo o mundo, tendo vindo a eliminar, um por um, todos os cabecilhas responsáveis por este ataque, declarando-se de forma definitiva, uma guerra sem tréguas entre estes dois povos, judeus e palestinianos, que lutam há anos pelo mesmo pedaço de terra. 

Subindo ao alto de uma das colinas que se formam no complexo conseguimos contemplar todo o Parque Olímpico. O silêncio era dominante e aquele era um dia cinzento, tornando a paisagem ainda mais grave. As imagens daquele local melancólico e a sugestão de uma página de história tão negra, que ali foi vivida, tornava aquele monumento e aquela visão quase arrepiantes. 

Tantos anos depois, do acontecimento e também das minhas anteriores visitas a este local, em 1984 e em 1999, e a emoção ainda se faz sentir. É um espaço que nos toca e, definitivamente, é ainda um dos principais pontos de interesse da cidade de Munique.

No último dia, já a caminho do aeroporto, fizemos ainda um pequeno desvio ao lado da autoestrada, para espreitar o novíssimo parque desportivo, inaugurado uma ano antes, para o campeonato do mundo de futebol de 2006, o Alianze Stadium, o estádio que passou a albergar o principal clube de futebol alemão, o Bayern de Munique.
Não visitámos o interior do estádio, observámos apenas a sua imagem exterior, também ela futurista, tal como a do seu vizinho mais velho, o Estádio Olímpico.

De cada vez que visitamos a cidade de Munique justifica, quase sempre, complementarmos esta visita com outras duas viagens, a dois destinos relativamente próximos e bastante interessantes. Um deles é a bonita cidade austríaca de Salzburg, e o outro, é a zona Sul da Baviera onde se encontram os belos castelos do rei Ludwig II, o chamado Rei Louco. 

E foi isso que fizemos nesta viagem a Munique, tornámos um destino, já de si bastante interessante, numa das mais bonitas cidades alemãs, numa viagem perfeitamente extraordinária, incluindo uma panorâmica global desta belíssima zona dos Alpes do antigo Tirol.


Carlos Prestes
Novembro de 2007