sexta-feira, 18 de abril de 2025

Estocolmo


Nesta segunda viagem a Estocolmo, em abril de 2025, exatamente 40 anos depois da primeira visita que fiz em 1985, estivemos na cidade durante dois dias completos, chegando de avião e saindo num comboio em direção a Copenhaga, que foi também o início de nosso inter-rail, que nos iria levar a percorrer várias cidades do Norte e Leste europeu.

A cidade de Estocolmo já me tinha impressionado na primeira vez que lá estive, sobretudo pela beleza do conjunto que se forma com as ilhas e penínsulas que resultam de uma costa recortada pelas águas do Báltico e os belíssimos edifícios em cores ocre e terracota, e sempre com os traços distintos das torres pontiagudas das igrejas luteranas da cidade.
Esta cidade tem uma parte mais moderna, que ocupa uma zona continental banhada pelo Mar Báltico, e um centro histórico e outras zonas mais antigas, que ocupam as principais ilhas, que são formadas por um rendilhado de lagos e braços de mar, por onde a cidade se vai espalhando.

A Suécia não aderiu ao Euro e tem ainda uma moeda local, a Coroa Sueca, com um câmbio aproximado de 1 Coroa = 0,09€ (ou seja, cada 100 Coroas são 9€, mas se quisermos fazer a conta de cabeça, é melhor dizer que são 10€, que assim é só tirar um zero). Para evitar andar a trocar dinheiro e à saída termos de o gastar, tentámos pagar tudo com cartão e funcionou lindamente… a menos do facto de ser tudo muitíssimo caro.

O hotel escolhido ficava numa ponta da cidade do lado continental, o que fez aumentar as distâncias dos nossos trajetos pelos vários pontos de interesse da capital sueca, seguindo aproximadamente os quatro percursos assinalados neste mapa:
 


Percurso 1

Iniciámos a nossa caminhada pelo bairro do distrito de Norrmalm, uma zona moderna onde se encontrava o hotel, começando por duas igrejas e entrando depois numa das ruas comerciais mais importantes da cidade.

St Johannes kyrka

O primeiro monumento visitado foi a Igreja de São João, ou St Johannes kyrka, um templo grandioso com capacidade para 900 pessoas, quase como uma catedral e com um interior perfeitamente fantástico.

O edifício tem características típicas da arquitetura neogótica, como torres pontiagudas e arcos ogivais, e foi construído em 1890, em tijolo vermelho e com uma ampla escadaria de granito que nos leva à sua porta principal, que é ladeada pelas figuras dos apóstolos Pedro e Paulo, esculpidos em granito.
No seu interior, aberto às horas das missas e com acesso livre, destacam-se os belíssimos vitrais que adornam as cinco janelas de arco pontiagudo da capela-mor, bem como as outras janelas ao longo da nave principal.

Nos vitrais da janela central do altar, Jesus é visto na cruz, rodeado por Maria e pelo discípulo João, que dá o nome à igreja. As outras janelas mostram os doze apóstolos, agrupados três a três. O conjunto é fantástico, pelos seus tons vivos e pelos vitrais lindíssimos.


Adolf Fredriks Församling

O segundo ponto de paragem é na Paróquia de Adolf Fredrik, uma das mais antigas paróquias de Estocolmo, uma igreja luterana construída em estilo neoclássico e consagrada em 1774, cujo nome é uma homenagem ao rei sueco Adolf Fredrik, que governou o país de 1751 a 1771.
O interior, que é de acesso livre, é bastante sóbrio, embora se destaquem os belos afrescos que decoram o teto da cúpula.
Cá fora, no jardim que rodeia a igreja, encontra-se o túmulo do primeiro-ministro sueco Olof Palme, que foi assassinado em 1986, e cuja sepultura está assinalada com um memorial, onde se encontra também o corpo da sua mulher, que faleceu em 2018.

Olof Palme foi uma figura bastante relevante da social-democracia sueca, um sistema que é, ainda hoje, ou pelo menos deveria ser, uma referência para as democracias ocidentais.

Enquanto primeiro-ministro, Olof Palme teve sempre uma postura fortemente crítica às políticas autoritárias e imperialistas. A sua vida e a sua morte marcaram profundamente a história da Suécia, e até a mim, também me chocou bastante ao saber da sua morte, em fevereiro de 1986, apenas seis meses depois de ter visitado a capital sueca, e ter encontrado tantos sinais com os quais sempre me identifiquei, isto em plena guerra fria, quando os extremismos de parte a parte, mais se empolgavam.

Palme foi assassinado na rua Sveavägen, que passa junto a esta igreja, com um tiro nas costas, enquanto caminhava para casa com a esposa, Lisbet Palme, após uma ida ao cinema. Estava sem guarda-costas, que era algo que fazia frequentemente, valorizando a proximidade com o seu povo.

O assassino nunca foi verdadeiramente condenado, embora tenham prendido um pequeno criminoso em 1989, mas foi depois absolvido em recurso por falta de provas. Só em 2020 a polícia sueca concluiu oficialmente a investigação, nomeando Stig Engström (conhecido como "o homem da Skandia", uma empresa próxima ao local do crime) como o principal suspeito. Porém, Engström já tinha cometido suicídio em 2000, o que impossibilitou a existência de qualquer julgamento.

O memorial e sepultura que encontramos no jardim desta igreja é de uma simplicidade comovente, uma homenagem adequada a um grande homem que foi, sobretudo, um enormíssimo democrata.


Rua Drottninggatan - Zona Comercial

A Drottninggatan, que quer dizer Rua da Rainha, é uma das principais ruas comerciais da cidade, que se encontra repleta de lojas e, na parte mais alta, também alguns restaurantes e cafés, sendo um destino popular tanto para moradores quanto para turistas, em busca de compras ou gastronomia.

Nesta rua pedonal existe uma ampla variedade de lojas, desde grandes marcas internacionais como a H&M ou a Zara, até às boutiques locais e lojas de design sueco.



Konserthuset Stockholm

Fazendo um pequeno desvio, mais ou menos a meio desta rua, encontramos a praça Hötorget, ocupada por umas bancas de venda de fruta, vegetais e artesanato, mas que é dominada pela presença de um edifício azul, o Konserthuset Stockholm

Trata-se da principal sala de concertos da capital sueca, desde que foi inaugurada em 1926, e é marcada pela fachada azul e pelas suas colunas coríntias.
O Konserthuset é também a sede da Real Orquestra Filarmónica de Estocolmo e acolhe anualmente a cerimónia de entrega dos Prémios Nobel de Física, Química, Medicina e Literatura.


Sergel's Square

Quase no fim da Rua Drottninggatan entramos num espaço amplo onde fica a Praça de Sergel, uma das praças mais icónicas do centro de Estocolmo, funcionando como um verdadeiro ponto de encontro, e constituindo o coração urbano da capital sueca.

A praça está rodeada por edifícios modernos, lojas, escritórios e alguns pontos de acesso a importantes redes de transporte público.

Foi construída nas décadas de 1950 e 60, e é ainda hoje visível o seu design, que era moderno naquela época, e que resultou de um projeto de renovação do centro de Estocolmo. A praça tem um formato peculiar, dividida em dois níveis, um espaço pedonal com um piso de mosaico preto e branco em padrões geométricos, formando triângulos, e um nível por onde passa uma via rodoviária, a avenida Klarabergsgatan.

Ao centro da praça ergue-se um imenso Obelisco, chamado de Kristallvertikalaccent (que significa Acento Vertical de Cristal), que é a estrutura que mais se destaca neste espaço. Este obelisco de vidro foi criado pelo escultor sueco Edvin Öhrström e inaugurado em 1974, e é uma importante obra de arte moderna. Tem 37,5 metros de altura e é composto por cerca de 60 mil peças de vidro, colocadas de forma a criar um efeito visual interessante. Durante a noite, o obelisco é iluminado por dentro, emitindo uma luz suave, em tons verdes, e destaca-se no cenário urbano da praça.


Klara Kyrka

A cerca de 200 metros desta praça entramos num jardim onde se ergue mais uma igreja, a Igreja de Santa Clara. É uma das mais antigas e emblemáticas igrejas protestantes (Luterana) da capital sueca e apresenta uma arquitetura imponente e uma história bastante rica, e é mais um dos pontos de referência espiritual e cultural de Estocolmo.

Foi construída originalmente em 1280, como parte de um convento da ordem das Clarissas, de onde vem o nome "Klara". O convento foi fechado durante a Reforma Protestante no século XVI, e o prédio original foi demolido.

O atual edifício foi construído no final do século XVI e é marcado pelo seu estilo gótico, com arcos pontiagudos e pináculos, e pela cor vermelha dos tijolos que revestem as fachadas.

Mas aquilo que mais se destaca nesta igreja é a sua torre, com 116 metros de altura, coroada por uma agulha de cobre.

Ao redor do edifício há um pequeno jardim, que também funciona como cemitério, contendo alguns túmulos de personalidades importantes.


Estação Central de Estocolmo

Ao nos aproximarmos do mar encontramos a Estação Central da cidade de Estocolmo, que constitui um dos centros de transporte mais importantes do país, onde se conectam diversas linhas de comboio, Metro e autocarro… e foi ali que, dois dias depois, começámos o nosso inter-rail em versão 2025.

O edifício da estação tem uma arquitetura neoclássica e foi inaugurado em 1871. Ao longo dos anos, passou por várias reformas para preservar uma estação sempre moderna e funcional. A arquitetura do edifício combina elementos clássicos com alguma modernidade, com destaque para o seu grande hall de entrada, que tem um teto abobadado imponente.


Waterfront Building

O Waterfront Building de Estocolmo, situado nas traseiras da Estação Central, constitui um marco inovador na paisagem urbana da cidade, com as suas fachadas modernistas viradas para o mar.

Este edifício, que combina vários espaços de escritórios, um centro de congressos e o hotel Radisson Blu Waterfront, foi projetado pelo renomado gabinete de arquitetura White Arkitekter, e o seu design futurista utiliza grandes superfícies de vidro, permitindo a entrada da luz natural.

O edifício foi concebido com a preocupação de ser sustentável, com foco na eficiência energética e utilizando tecnologias capazes de minimizar as emissões de carbono.

Este espaço tornou-se numa referência contemporânea de Estocolmo, contrastando com a arquitetura tradicional da cidade, servindo de exemplo de como a arquitetura moderna se pode integrar harmoniosamente com o ambiente histórico e natural de uma cidade


Conselho Municipal de Estocolmo

O edifício do Conselho Municipal é um dos mais marcantes de Estocolmo, muitas vezes visível nas fotos que mostram a silhueta da cidade, destacando-se como um dos principais edifícios que emergem junto às margens dos lagos.
A sua construção foi concluída em 1923, num estilo que combina o neoclássico com influências da arquitetura medieval e do romantismo sueco, e é um exemplo notável da arquitetura pública local.

O edifício destaca-se pela sua grande torre de 106 metros, com um globo dourado no topo, e também pelas fachadas em tons do tijolo vermelho, que são visíveis em detalhe a partir do pátio interior, que é de acesso livre.
Este conjunto alberga o chamado Conselho Municipal, algo equivalente a uma Câmara Municipal, mas com poderes mais alargados, em áreas como a educação, a saúde, os transportes e o planeamento urbano. Este órgão é composto por 101 membros eleitos diretamente pelos cidadãos de Estocolmo durante as eleições municipais, que ocorrem a cada quatro anos.

A passagem para o jardim que ocupa a faixa junto ao mar é também de acesso livre, e permite desfrutar das belíssimas paisagens que dali podem ser alcançadas, quer da fachada principal do próprio edifício, quer, sobretudo, do enquadramento das imagens das várias estátuas que ali se encontram, com as paisagens envolventes.


Esta fantástica torre sobre a cidade seria um ótimo miradouro para podemos contemplar a capital sueca, mas como se trata de um edifício institucional e não de um monumento turístico, a única maneira de o podermos visitar será através de visitas guiadas que a própria Câmara Municipal organiza diariamente.

Mas não sendo fácil observar a cidade a partir da torre do Conselho Municipal de Estocolmo, vamos, pelo menos, poder observar o edifício a partir de vários locais da cidade e assim apreciar as bonitas fachadas que são uma das marcas arquitetónicas da capital da Suécia.


Percurso 2 - Cidade Velha

Neste percurso, entrámos na ilha de Gamla Stan, onde fica o centro histórico da cidade, começando por atravessar a ponte de Vasabron onde encontramos dois dos palácios desta ilha.


Palácios Bonde e Riddarhuset

Ao atravessarmos a ponte de Vasabron surge um primeiro edifício clássico, o Palácio Bonde, onde funciona o Tribunal Supremo da Suécia.
À sua direita, encontámos o Palácio Riddarhuset, um edifício mais distinto, construído em estilo barroco holandês, famoso pela sua fachada ornamentada e pelos detalhes sofisticados, incluindo os telhados de cobre e um belíssimo conjunto de janelas.

Durante os séculos XVII e XVIII, o Riddarhuset foi utilizado como sede das reuniões da nobreza do parlamento sueco, sendo ainda hoje propriedade da associação da nobreza sueca, mas é utilizado apenas para eventos culturais.

No jardim, junto à fachada principal do palácio, fica a estátua de Axel Oxenstierna, um nobre e estadista sueco do século XVII.



Riddarholmskyrkan

Optámos por virar à direita e entrar na pequena ilha de Riddarholmen, que está colada à ilha maior de Gamla Stan. Aqui encontramos a Riddarholmskyrkan, ou Igreja de Ridarholm, mas não a podemos visitar, pois só abre ao público entre maio e setembro.

O edifício é bastante bonito, construído em tijolo vermelho, preservando algumas das características arquitetónicas medievais, com destaque para a sua imensa torre, adicionada à igreja bastante mais tarde, já no século XIX.
Trata-se de um dos monumentos mais bonitos e mais icónicos da cidade. A igreja foi originalmente construída no final do século XIII como um mosteiro franciscano, mas, após a Reforma Protestante, no século XVI, o mosteiro foi fechado e a igreja tornou-se numa espécie de panteão, passando a guardar as sepulturas das figuras mais ilustres da suécia, incluindo as da família real sueca.
A dimensão da torre e o formato da sua agulha, concebido numa estrutura rendilhada de aço trabalhado, faz com que esta igreja seja visível e identificada de vários pontos de Estocolmo, e seja vista como um dos símbolos mais percetíveis da cidade.


Mariaberget e Ivar Lo's park

Resolvemos depois fazer um trajeto mais longo, através de um passadiço pedonal que acompanha um viaduto ferroviário, e nos conduz até à margem Norte da ilha de Södermalm, onde se forma uma encosta ocupada pelo bonito bairro histórico de Mariaberget, que vamos observando enquanto caminhamos vindos da Gamla Stan.
O bairro de Mariaberget é visitado por muitos turistas que procuram as vistas deslumbrantes sobre o lago Mälaren, um dos braços de mar do Báltico, e a ilha do Gamla stan, onde se salienta a imagem da torre da Riddarholmskyrkan.

Nessa zona encontra-se um longo passadiço onde pudemos caminhar, apreciando sempre as paisagens da cidade que dali são visíveis, quer na direção do lago Mälaren quer sobre a cidade velha, que ocupa a ilha do Gamla stan.

Junto ao passadiço há também um espaço ajardinado, o Parque Ivar Lo, um local tranquilo, perfeito para relaxar e fazer piqueniques, e que é mais um dos pontos de observação sobre as belas paisagens que são oferecidas a partir desta encosta da ilha de Södermalm.


Fotografiska Museet Stockholm

No regresso à cidade velha, atravessámos a ponte de Slussbron, onde se pode ver à distância o edifício do Museu de Fotografia da cidade e, a quem sobre algum tempo, até poderá tentar visitá-lo, pagando um ingresso de 12€ por adulto… a nós acabou por não sobrar esse tempo.

Limitámo-nos a observar o edifício do Fotografiska Museet, que é uma bonita obra de arquitetura, com as suas fachadas em tijolo vermelho, combinando alguns elementos da art nouveau... localizado sobre as margens do Báltico, numa zona próxima do cais onde fica o terminal dos grandes navios de cruzeiro.
O museu da fotografia é um espaço onde se concentram trabalhos de vários fotógrafos de prestígio mundial, não só de artistas suecos, e tem uma vastíssima coleção permanente.

Além da exposição, o museu oferece uma verdadeira viagem pelo mundo da fotografia, com alguns trabalhos mais antigos e também com a exposição de vários equipamentos clássicos, com destaque para a Hasselblad, a conhecida marca sueca… embora tenha também uma loja onde são vendidas câmaras de última geração.


Rua Västerlånggatan e Igreja Alemã de Estocolmo

Ao entrarmos na cidade velha, o bairro Gamla Stan, somos conduzidos para a sua principal rua pedonal, a Rua Västerlånggatan., uma das mais antigas e emblemáticas ruas de Estocolmo. A sua origem remonta à Idade Média, e o seu nome significa "rua longa do Oeste", porque em tempos seguia paralela ao lado ocidental da antiga muralha da cidade.

Hoje é uma via estreita, com piso em paralelepípedos, que atravessa todo o Gamla Stan de Norte a Sul, desde a praça Järntorget até à zona próximo do Parlamento e do Palácio Real.

Ao longo do percurso que fizemos repetidas vezes pela Västerlånggatan, encontrámos vários edifícios históricos, muitos deles datados dos séculos XVII e XVIII, mas aquilo que mais se destaca nesta rua é a imensa variedade de lojas, cafés, restaurantes e quiosques de souvenires, e também o seu ambiente pitoresco e medieval, sempre com uma presença massiva de turistas, o que faz desta rua um dos pontos turísticos mais procurados da cidade.

Na extremidade Sul desta rua, conseguimos encontrar a entrada meio-disfarçada na rua Mårten Trotzigs Gränd, a mais estreita ruela de Estocolmo, com uma largura de apenas 90 centímetros. Esta pequena rua liga a uma zona mais elevada que fica nas traseiras dos prédios da Västerlånggatan, pelo que, grande parte do seu trajeto é feito através de uma escada apertada, que é composta por 36 degraus de pedra. O nome utilizado para esta ruela homenageia Mårten Trotzig, um importante comerciante e proprietário de terras desta região, que viveu no século XVII.
Pouco depois de nos deixarmos vaguear pelo emaranhado de ruelas do centro histórico, vamos encontrar um dos principais monumentos que ali se ergue, e que está até meio ofuscado pelos edifícios que o rodeiam. Trata-se da Sta Gertrud Tyska kyrkan, a Igreja Alemã de Estocolmo, construída no século XVI no local onde existia uma pequena capela dedicada a Santa Gertrudes, padroeira dos viajantes.

Durante os séculos XVII e XVIII, Estocolmo tinha uma grande população de comerciantes e artesãos alemães, que usavam a igreja como um local de culto, fazendo sucessivas reformas e ampliações do edifício, até ser finalizada em 1878, com a construção da sua torre.

A igreja combina elementos góticos e barrocos e tem um interior bastante rico, com os seus vitrais coloridos… mas encontrámos, nas duas vezes que por lá passámos, algum tipo de celebração que deveria ser só para habitués, e estava uma fräulein alemã, que nos impediu de entrar na igreja.

Apesar da torre ser bastante alta, atingindo os 96 metros, a igreja está tão espremida entre as casas do bairro, que mal conseguimos observar a sua imagem… a menos que nos afastemos bastante, até conseguirmos ver uma panorâmica da silhueta do centro histórico, e aí já se torna bem visível a imponência desta torre.



St. George & The Dragon Statue e Iron Boy

Ainda nas ruas típicas do centro histórico encontram-se duas estátuas que são referências na cidade de Estocolmo.

Uma delas representa a estátua de São Jorge e o Dragão, cujo original, de madeira, foi colocado na Praça de Stortorget em 1489. Entretanto, em 1912, a estátua original foi levada para a Catedral de São Nicolau e foi substituída por uma réplica de bronze, que ali se encontra até agora.

A escultura, que mostra São Jorge montado num cavalo e perfurando o dragão com a sua lança, foi encomendada pelo regente sueco da época, Sten Sture, numa alegoria em que São Jorge representa o próprio Sten Sture, enquanto o dragão simboliza a ameaça dinamarquesa.
Numa outra praça, ali bem perto, encontramos uma pequena estátua de um menino feito de ferro, o Järnpojken, ou "O Menino que Olha para a Lua".

Foi feita em 1967 pelo artista Liss Eriksson, e tem apenas 15 cm de altura, mostrando um menino sentado, com as mãos nos joelhos, a olhar para o céu.

Apesar de seu tamanho minúsculo, o Iron Boy é muito popular entre os turistas e constitui um ponto de paragem obrigatório para quem visita a cidade velha.

As pessoas costumam deixar moedas ou pequenos presentes ao redor da estátua e, no Inverno, é comum os visitantes colocarem gorros, cachecóis ou pequenos cobertores sobre o menino para o proteger… porém, chegámos a encontrar uma panóplia de oferendas, grande parte deixadas por turistas asiáticos, o que transformava este local numa autêntica palhaçada, felizmente alguém terá a preocupação de remover toda a tralha que ali deixam e, por vezes, temos a sorte de encontrar esta pequena estátua desimpedida, deixando o menino sossegado, para que ele possa olhar para a sua Lua.


Ruas medievais do centro histórico e Praça Stortorget

No coração da Cidade Velha fomos surpreendidos pela traça das suas ruas e praças, de aspeto medieval, e com as casas pintadas nas cores quentes de ocre ou terracota, fazendo até lembrar algumas aldeias italianas… o que nos fez questionar se, afinal, os temíveis Vikings não seriam antes umas criaturas sensíveis, capazes de apreciar o conforto de uma cidade marcada pelas tonalidades quentes e acolhedoras das suas casas.

E são várias as ruas do centro, todas empedradas e com casas coloridas, que nos fazem sentir como se estivéssemos noutros recantos de um qualquer país europeu, e jamais no coração de uma das capitais nórdicas.
        

Mas o ponto nevrálgico deste centro histórico e aquele que é mais marcante na imagem de uma Estocolmo medieval, é a praça pública mais antiga da cidade, a Stortorget, com as suas belíssimas casas coloridas e bem preservadas, nos tons de laranja, amarelo e verde.
A Praça Stortorget é um exemplo notável da arquitetura urbana medieval do Norte da Europa, rodeada por edifícios estreitos e coloridos dos séculos XVII e XVIII, com janelas simétricas e telhados inclinados.

Historicamente, a Stortorget foi o centro político e comercial de Estocolmo, palco de mercados, celebrações e eventos trágicos, como o Massacre de Estocolmo de 1520, quando dezenas de nobres suecos foram executados por ordem do rei dinamarquês Cristiano II.

Hoje, a praça mantém seu valor simbólico e cultural, atraindo turistas e locais que procuram vivenciar a atmosfera única da Estocolmo medieval, preservada com notável cuidado e respeito pelo passado.

Mas apesar de tanta história e tanta riqueza, aquilo que mais se distingue nesta praça, será sempre o conjunto arquitetónico formado pelas suas casas, e que é responsável pelo ambiente pitoresco e histórico que ali se respira.


Nobel Prize Museum

Mas esta traça tem ainda um outro edifício bastante importante para a cidade e até para o mundo. Trata-se do edifício da antiga Bolsa de Estocolmo (Börshuset), construído em estilo neoclássico no ano de 1776, e que, atualmente, é a sede da Academia Sueca, responsável pela atribuição dos Prémios Nobel e é também utilizado como o Nobel Prize Museum.

A presença deste edifício contrasta com as construções residenciais e comerciais mais antigas que cercam a praça, refletindo a evolução arquitetónica da cidade ao longo dos séculos.
O Museu do Prémio Nobel, onde se pode descobrir a importância e a origem destes prémios, contém uma série de exposições sobre os laureados, e serve também de sede da Academia Sueca, a instituição responsável por escolher os vencedores anuais dos Prémios Nobel.

O famoso inventor Alfred Nobel, que nasceu em Estocolmo em 1833, teve uma carreira em que se destacou como um dos mais inovadores engenheiros no campo do armamento… cuja invenção mais famosa foi a dinamite. Ao constatar do mal que poderia ter causado à humanidade ao inventar este explosivo, Alfred Nobel decidiu mudar o seu testamento e dedicar toda a sua fortuna a uma sociedade que premiasse todos os anos as pessoas que desenvolvessem benefícios para o mundo no âmbito da Física, Literatura, Química, Medicina e também da Paz e da Economia. E foi assim que nasceram os Prémios Nobel, que são ainda hoje, os mais importantes e conceituados prémios, em todo o mundo.
O Museu Nobel cobre toda a história destes prémios, desde a vida do seu criador Alfred Nobel, até os objetos pessoais de alguns dos vencedores mais destacados, e identifica todos os laureados desde que estes prémios são atribuídos.
Na coleção são exibidos itens que terão um valor incalculável para a humanidade, como as ferramentas de Marie Curie, uma das primeiras amostras de penicilina de Fleming ou uma réplica do testamento de Alfred Nobel, onde revela a decisão de criar a sociedade para atribuição destes prémios… mas a visita ao museu foi uma enorme desilusão.

Na verdade, e mesmo acompanhando a visita com uma APP do áudio-guia do museu, mal se conseguem identificar os objetos expostos, por estarem muito mal catalogados. É algo que poderia ser altamente impressionante e motivador para cada um dos visitantes, torna-se apenas numa caça ao tesouro, onde tentamos encontrar alguns objetos cujos premiados consigamos reconhecer.

Foi assim que descobrimos alguns adereços que, relativamente aos laureados a que pertenciam, são apenas acessórios… como os óculos de José Saramago e de Gabriel Garcia Márquez, ou o cachimbo de Pablo Neruda.
     
De qualquer forma, quem estiver realmente interessado nestes prémios, terá de explorar outros lugares, pois não são aqui que estes prémios são entregues, mas noutros sítios e um deles, o da paz, até é na Noruega, em Oslo. Os restantes prémios são entregues no Konserthuset, a sala azul por onde passámos esta manhã, e o banquete anual com os vencedores e o júri ocorre no Conselho Municipal de Estocolmo, a Câmara Municipal, onde também já estivemos hoje.


Catedral de São Nicolau

Esta é a primeira igreja de Estocolmo, a Catedral de São Nicolau, popularmente conhecida como "grande igreja", que em sueco significa Storkyrkan. Trata-se de um templo Protestante, pertencente à Igreja da Suécia, que é uma igreja Luterana. Originalmente, a catedral era católica quando foi construída no século XIII, mas tornou-se protestante durante a Reforma Protestante, no século XVI, quando a Suécia adotou oficialmente o luteranismo.

Esta igreja foi mencionada, pela primeira vez nos escritos históricos no ano 1279 e, desde então, tem acompanhado os principais eventos histórico da cidade, como a celebração de coroações e casamentos reais. Graças à sua localização, na Praça do Palácio (Slottsbacken), a poucos metros do Palácio Real, a Storkyrkan tem vindo a ser a igreja mais visitada pela monarquia sueca.

A Catedral de São Nicolau guarda a famosa escultura medieval de madeira de São Jorge e o dragão, o original da estátua que vimos há pouco, e que simboliza a vitória da Suécia sobre a Dinamarca. Além disso, dentro da catedral está ainda a pintura mais antiga de Estocolmo, chamada Vädersolstavlan, que representa um fenómeno astronómico peculiar da Idade-Média.
Em frente à Catedral, na Praça do Palácio, encontra-se a estátua equestre do Rei Gustavo II Adolfo.


Yttre borggården e Palácio Real de Estocolmo

O Yttre Borggården é o Pátio Externo do Palácio Real, que está localizado dentro do complexo do palácio, no seu lado Oeste. Este pátio ocupa uma área significativa do layout do palácio real, formando um espaço em ferradura que enquadra a fachada ocidental do edifício.
O pátio é usado para fins cerimoniais e eventos públicos, como é o caso da cerimónia do render da guarda, que atrai muitos visitantes… mas não é coisa a que eu ache grande piada.
O Palácio Real de Estocolmo, ou Kungliga Slottet, foi construído no final do século XVIII, no local onde existiam os restos de um antigo castelo medieval que foi arrasado pelas chamas. O estilo do palácio atual é o barroco italiano e contém mais de 600 quartos, que fazem dele uma das maiores residências reais de toda a Europa.

Encontra-se à entrada da Cidade Velha e a poucos metros do Parlamento da Suécia. Embora hoje em dia não seja a residência oficial da monarquia, o rei da Suécia trabalha no Palácio Real e mantém aí os escritórios da Corte.

Os apartamentos reais ocupam a maior parte das instalações do palácio e representam o luxo e a decoração ostentosa da monarquia sueca. Há ainda o imenso salão de banquetes, que é uma das maiores e mais elegantes divisões do edifício e onde continuam a celebrar-se os banquetes das bodas reais.

Além disso o Palácio tem ainda um Biblioteca com cerca de 100.000 livros, a Capela Real, o Salão do Estado e uma série de museus, entre os quais, o chamado Tesouro, onde se expõem as joias mais valiosas da monarquia sueca.

Tudo isso e muito mais, pode ser apreciado por quem queira fazer a visita ao palácio, pelo preço de cerca de 17€.

Quem queria apenas apreciar as fachadas do palácio, pode rodear este monumento por todos os lados, ou também observá-lo a partir da Ilha de Djurgården, de onde se consegue a vista mais interessante.


Parlamento da Suécia

À saída da envolvente do palácio vamos chegar ao edifício monumental do Parlamento da Suécia, construído em 1905, e que ocupa a totalidade da pequena ilha de Helgeandsholmen, localizada entre a cidade velha e a parte continental da cidade.

O empreendimento contém sete edifícios governamentais, sendo a sua principal imagem de marca, a parte da fachada com forma circular, que ocupa uma das extremidades do complexo, e um portal que liga esta ilha à Rua Drottninggatan.


O edifício do Parlamento contém vários elementos, como a sala plenária, que é o centro da democracia sueca, onde se debatem e se decidem as medidas de gestão do país, mas inclui também uma grande e bonita escadaria de mármore, que serve de acesso para o rei e outras visitas mais importantes. 

Neste complexo existe ainda uma rede de túneis subterrâneos, em que um dos quais é conhecido como "pista de corridas", porque os deputados correm por lá de cada vez que soa o sinal de votação.

A única maneira de visitar o Parlamento da Suécia é participar nas visitas guiadas organizadas pelo próprio Parlamento, o que faz com que seja visitado por mais de 100.000 pessoas por ano, tornando-se numa das principais atrações turísticas de Estocolmo.

Do lado oposto à extremidade circular surge uma imensa fachada junto ao jardim do complexo, que é também uma referência deste conjunto.



Percurso 3

No nosso segundo dia em Estocolmo começamos ainda na parte moderna da cidade, seguindo depois até à Ilha de Skeppsholmen e terminando o dia na chamada ilha dos museus, a ilha de Djurgården.



Östermalms Food Hall

Começámos pelo mercado gastronómico Östermalms Saluhall, um belo edifício histórico que foi fundado em 1888, com as suas fachadas em tijolo.

O edifício foi recentemente restaurado, preservando estrutura clássica e adicionando alguns toques modernos, transformando-o num espaço interessante para quem aprecia a gastronomia, mas também a cultura local, em torno de um ambiente vibrante e muito apelativo.
O mercado, que funciona no interior, é uma mega delicatessen composta por várias bancas onde são vendidas as melhores seleções de alimentos frescos e de especialidades suecas, e inclui também diversos restaurantes e cafés, onde podemos degustar alguns pratos locais e internacionais.

A comida é mesmo muito apelativa, com algumas tapas à base de especialidades do Báltico, com salmão ou arenque, e algum marisco, com misturas e temperos típicos da Escandinávia… mas a preços, também eles típicos destes países do Norte da Europa e, por isso, quase inacessíveis às nossas bolsas, do tipo, 20€ por cada pequena porção e, em relação a certas bebidas, como um vinho branco que é tão apropriado, nem se fala.
De qualquer forma, este mercado é mesmo muito interessante, quer o espaço quer a comida que ali é vendida e, por isso, valerá a pena experimentar uma das especialidades locais, para ficarmos por lá algum tempo em frente a um balcão, apreciando toda a dinâmica deste lugar. 


Hedvig Eleonora Church

Muito próximo do mercado de Östermalms fica a Igreja Hedvig Eleonora, um edifício algo diferenciado da maioria das igrejas locais. Foi inaugurada em 1737 e o seu nome é uma homenagem a Hedvig Eleonora, rainha da Suécia no século XVII e mãe do rei Carlos XI.

A igreja é conhecida pela sua arquitetura barroca e, sobretudo, pela sua cúpula, que lhe dá a tal imagem diferenciada.
Nesta zona encontramos a rua Nybrogatan, um nome significa “Rua da Ponte Nova”, em referência a uma antiga ponte junto à baía onde termina a rua, e que já nem existe.

A rua tem cerca de 1 km de extensão e é predominantemente residencial, mas tem vindo a ter muita presença de lojas, escritórios, cafés e restaurantes ao longo dos últimos anos


Kungsträdgården, Saint Jacob's Church e Ópera Real Sueca

O próximo local de paragem foi no imenso Jardim do Rei, ou Kungsträdgården, cujo nome reflete a sua origem histórica como um jardim real. É um dos parques mais antigos da cidade e serve como um ponto de encontro, com áreas verdes, cafés, eventos culturais e, no Inverno, uma pista de patinagem no gelo.

Nesta altura, em abril, encontrámos algumas árvores completamente floridas, são as chamadas cerejeiras japonesas, que aqui se chamam cerejeiras de jardim… temos uma em Azeitão, que fica completamente florida na Primavera, mas cerejas, nem vê-las. De qualquer forma, o jardim estava de tal maneira coberto pelas flores destas árvores, que parecia que tinha acabado de nevar.
Nas imediações deste jardim encontra-se a Igreja de Saint Jacob, uma das mais importantes igrejas protestantes (luteranas) da cidade.

A sua construção começou no final do século XVI, mas só foi concluída em 1643, e é dedicada a São Tiago Maior (ou São Jacob), o santo padroeiro dos viajantes e peregrinos (e o mesmo de Santiago de Compostela).

A igreja apresenta uma mistura de estilos arquitetónicos, principalmente o renascentista e o barroco, mas destaca-se sobretudo pelas suas fachadas vermelhas e pela sua torre com uma cúpula abobadada, que não se assemelha às torres pontiagudas, mais comuns nas igrejas locais.
Logo depois da Igreja de Saint Jacob, ocupando a rua marginal e com a sua fachada principal virada para a imensa praça central de Norrmalm, fica a Ópera Real Sueca, ou Kungliga Operan.
Trata-se da principal casa de ópera da Suécia e uma das instituições culturais mais prestigiadas do país. Foi fundada em 1773 pelo rei Gustavo III, um grande entusiasta das artes e da música e, desde então, tem sido um centro de ópera, ballet e música clássica, com produções que combinam tradição e inovação.

O edifício original foi demolido no século XIX e o atual teatro foi inaugurado em 1898, com uma arquitetura grandiosa em estilo neoclássico, e com uma capacidade para cerca de 1.200 espectadores.

Mas a história desta ópera leva-nos para além da sua componente artística, estando ligada a um evento trágico, muito marcante na história da Suécia. Foi ali que ocorreu o assassinato do Rei Gustavo III, no ano de 1792, durante um baile de máscaras… o que veio a inspirar Giuseppe Verdi para criar a sua ópera Un ballo in maschera.

Além de podermos assistir a uma das apresentações nesta sala de espetáculos, há também hipótese de participarmos numa visita guiada para um conhecimento mais detalhado da história deste edifício e do seu interior.


Nationalmuseum

Continuando nesta zona monumental da cidade, dirigimo-nos até à Ilha de Skeppsholmen, mas antes vamos ainda encontrar mais um importante museu da cidade, o Nationalmuseum, ou Museu Nacional de Arte.

Trata-se do principal museu de arte e design da Suécia, e está localizado neste imponente edifício de 1866, construído em estilo renascentista.
Depois das obras de renovação o museu reabriu em 2018, apresentando uma disposição mais interativa e com uma iluminação que destaca a beleza das obras ali expostas.

No seu interior encontramos uma vasta coleção de obras de arte, esculturas e também de objetos de design, contendo uma das maiores coleções de arte da Escandinávia, e inclui também obras de alguns artistas internacionais, como Rembrandt, Rubens, Goya e Renoir.

Como na Suécia a arte é vista como serviço público, a entrada no museu é gratuita para muitas exposições, tornando-o um destino cultural acessível para turistas e moradores.


Ponte de Skeppsholm e Ilha de Skeppsholmen

Logo depois do museu entramos na Ponte Skeppsholmsbron que liga a zona continental à Ilha de Skeppsholmen.

É uma ponte constituída por arcos metálicos, num total de 165 metros, com uma faixa rodoviária e dois passadiços pedonais.
Em ambos os corrimões da ponte encontram-se duas réplicas da famosa coroa dourada sueca (a chamada Gyllene Kronan), que é um símbolo popular da monarquia da Suécia. É um dos locais mais fotografados da cidade, especialmente com a vista do Gamla Stan (a cidade antiga) ao fundo.
Ao entramos na Ilha de Skeppsholmen vamos encontrar algumas atrações importantes desta cidade, e encontramos também um barco que é uma das marcas da cidade, o chamado af Chapman, um famoso veleiro histórico.

A presença do af Chapman faz-me viajar no tempo ao reencontrá-lo ao fim de 40 anos, quando visitei a cidade pela primeira vez. Na altura foi algo fascinante para um viajante, como eu, que procurava os albergues da juventude para pernoitar, ao encontrar o af Chapman, um famoso veleiro histórico que funcionava exatamente como albergue, já desde esses tempos remotos da década de 80. Está ancorado na ilha de Skeppsholmen e oferece uma vista privilegiada para o centro histórico, mas é também uma marca incontornável da paisagem da cidade de Estocolmo, sobretudo quando o observamos da cidade velha, ou Gamla Stan.
Nesta ilha existem ainda alguns museus, como o Museu do Brinquedo, um espaço encantador dedicado ao mundo dos brinquedos, mas o mais importante será o Moderna Museet, ou Museu de Arte Moderna, que é um dos principais museus da Suécia e uma referência na arte moderna e contemporânea, com obras de grandes mestres, como Pablo Picasso, Salvador Dalí, Henri Matisse ou Andy Warhol.


Apesar da existência de múltiplos museus ao longo de toda a cidade, como se pode imaginar, não dará para visitar todos eles, nem pouco mais ou menos, precisávamos de uma semana inteira, mas só temos dois dias completos e ficará inevitavelmente muita coisa por ver.



Percurso 4

No próximo trajeto vamos seguindo por uma rua junto ao mar, o que, nesta cidade, oferece sempre bonitas imagens das ilhas e penínsulas que se encontram na envolvente.

Neste caso, vamos pela Rua Nybrokajen que nos conduz à Rua Strandvägen, uma bonita marginal e, mais à frente, vamos atravessar a Ponte Djurgårdsbron, que nos levará à Ilha de Djurgården, uma ilha que é um imenso parque cheia de atrações.


Teatro Dramático Real

Mas no final da Rua pela Nybrokajen entrámos em mais um jardim, o Berzelii Park, e encontrámos o edifício do Teatro Dramático Real, a principal casa de teatro da Suécia. O atual edifício foi inaugurado em 1908 e é um excelente exemplo de arquitetura no estilo art nouveau.

Esta sala é conhecida pelas produções teatrais de alta qualidade, apresentando tanto peças clássicas como contemporâneas, e tem ainda uma forte ligação a nomes importantes da cultura sueca, como o realizador de cinema Ingmar Bergman, que trabalhou bastante neste espaço.
Ao percorrermos depois a Rua Strandvägen, a tal bonita marginal que começa junto ao porto e nos conduz depois até à Ponte Djurgårdsbron, vamos apreciando a paisagem criada pelos belíssimos edifícios localizados à beira-mar, que são visíveis sobretudo a partir da própria ilha de Djurgården. 

Esta avenida surpreende-nos também pela presença dos Stockholm Tram's, uns elétricos que são bem diferentes dos habituais tram's e muito mais parecidos com os nossos elétricos de Lisboa, só que, em vez de amarelos, estes são azuis... mas ajudam a embelezar ainda mais esta rua marginal por onde caminhámos até chegar à ilha de Djurgården.



Museu Nórdico

Assim que entramos na ilha surge o imenso edifício do Museu Nórdico. A coleção deste museu é bastante extensa, mas o tema não me é particularmente apelativo, muito focada no estilo de vida e na herança cultural dos países nórdicos do século XVI em diante, exibindo trajes tradicionais, tecidos, móveis e artefactos (uma espécie de IKEA da antiguidade).

O museu está instalado num belo edifício, que constitui um exemplo icónico da arquitetura sueca, e é um destino popular para turistas e moradores locais, proporcionando uma visão profunda sobre a história e a cultura da escandinávica.


Museu do Vasa

Por detrás deste museu encontra-se um outro, este bem mais concorrido. Trata-se do Museu do Vasa, um espaço que mostra um navio de guerra Viking do século XVII, chamado de Vasa, que afundou logo na sua viagem inaugural em 1628 e foi resgatado do fundo do mar mais de 300 anos depois, em 1961.

Entretanto o navio foi completamente reconstruído e recuperado, tendo sido transformado num museu que enaltece o orgulho à marinha sueca, apesar de ter afundado depois de navegar apenas pouco mais de um quilómetro, devido a problemas de design e estabilidade… assim sendo, não se percebe bem qual a razão do orgulho.

Este museu é bastante visitado, mas está-se mesmo a ver que não é um tema que eu aprecie muito, por isso, passámos ao lado e apreciámos apenas a envolvente da paisagem, com a silhueta do barco.


Gröna Lund

No outro lado da ilha fica o Gröna Lund, um parque de diversões onde não queríamos entrar e que até conseguimos observar melhor quando estávamos na Ilha de Djurgården.

Trata-se do parque de diversões mais antigo da Suécia, inaugurado em 1883, e é conhecido por algumas atrações emocionantes, desde as montanhas-russas e as torres radicais, até às atrações familiares e infantis. Tudo coisas que apreciamos, mas desta vez não estaria no contexto certo, e ficámo-nos apenas pelas imagens à distância.


Skansen

Na ilha de Djurgården existe um outro parque, este ocupa grande parte da ilha e é uma espécie de museu a céu aberto, que contém também um jardim zoológico com animais desta zona da Escandinávia e do Mar Báltico.

Foi fundado em 1891 e é o museu ao ar livre mais antigo do mundo e um dos pontos turísticos mais populares do país… para quem gosta do género.

O objetivo principal do parque Skansen é preservar e mostrar a história da cultura sueca, com destaque para a vida rural e as tradições ao longo dos séculos. Assim, encontram-se por lá mais de 150 edifícios históricos originais, que foram desmontados de diferentes partes da Suécia e reconstruídos neste local, e que servem de palco para a representação da vida nos vilarejos suecos em diferentes períodos, desde o século XVIII até o início do século XX, com muitas referências às antigas profissões de artesãos com as suas técnicas tradicionais, como o sopro do vidro, a marcenaria e a tecelagem… confesso, que são tudo coisas pelas quais não tenho particular interesse.

Quanto à parte de jardim zoológico nórdico, é composta por espaços onde se encontram alguns animais desta região, como ursos, lobos, alces e renas. E há também um espaço de aquário e um centro de ciência, dedicados às espécies que habitam o Mar Báltico.

Há depois vários eventos e celebrações de tradições suecas, como o Midsommar (o Solstício de Verão), ou os Mercados de Natal.

Não será um lugar imperdível e, por isso, não o visitámos, mas quem gosta deste estilo de espaços, será agradável para todas as idades, com atrações para famílias e turistas curiosos… que não é o nosso caso.


Abba - The Museum

Mas aquilo que melhor diferenciou os suecos ao longo da sua história, para além da Volvo e, mais recentemente, do IKEA, é uma banda meio-foleira, que faturou milhões durante décadas, e ainda hoje continua a faturar. Falo dos ABBA, que nunca foi uma banda que eu apreciasse muito, sempre achei uma coisa um bocado pirosa, mas, mais recentemente, com o aparecimento do musical e depois do filme Mamma Mia, até passei a aceitar esta onda de um pop dançável dos anos 70 e 80, transformado em vários hits dos anos 2000… e já deixou de ser assim tão foleiro, até porque o próprio adjetivo também se deixou de utilizar.

Mas em 2025, e depois de ter feito as pazes com a banda sueca, já me fazia todo o sentido visitar o Abba - The Museum, como quem revisita a história da nossa própria geração, e não dos séculos passados, como é o caso da maioria dos museus desta cidade.

Por isso, ao programar esta viagem e sem saber quais os museus que iria conseguir visitar, ficou claro para mim, que este museu sobre a história dos Abba era justamente aquele que não gostaria de perder… até perceber que as entradas custavam 34€, ou apenas 30€ se tivessem sido compradas previamente online. Um autêntico roubo para ver uns adereços e uns bonecos de cera. Se quiserem um conselho, entrem apenas na loja, que também tem vários adereços dedicados à banda, e vão ouvindo nas colunas aos altos berros os seus principais êxitos.

Abba - The Museum é um museu interativo totalmente dedicado ao lendário grupo pop sueco e não deixa de ser muito popular, apesar do preço. Oferece uma experiência imersiva que permite aos visitantes explorar a história, a música e o impacto desta banda, apresentando uma variedade de exibições, incluindo figurinos, instrumentos e itens pessoais pertencentes aos seus membros: Agnetha Fältskog (a loira), Anni-Frid Lyngstad (a ruiva), Björn Ulvaeus e Benny Andersson (os dois choninhas).

Os visitantes podem aprender um pouco mais sobre a história da ascensão à fama desta banda, mas também aproveitar as exibições multimídia do museu, incluindo recursos interativos que reproduzem os ABBA dos seus tempos áureos, usando tecnologia de realidade virtual… quem se fique pela loja pode comprar vários tipos de souvenires que estão ali disponíveis, nem que seja um simples porta-chaves ou um hímen para o frigorifico, dizendo, por exemplo: Thank You for the Music.


À saída da ilha encontramos a Blå Porten, ou Porta Azul, uma das entradas mais emblemáticas do parque de Djurgården. O portão é formado por um arco ornamentado, adornado com cervos dourados e o brasão real sueco, e forma assim uma entrada cerimonial.

Os cervos dourados no topo das colunas fazem referência ao nome “Djurgården”, que significa literalmente “o jardim dos animais”, abrindo caminho a um espaço que foi, originalmente, um parque de caça real.

Ao atravessarmos este portão, que se encontra aberto, vamos poder explorar uma imensa zona verde banhada pelas águas dos braços do Mar Báltico, que contornam a cidade.


Oscarskyrkan

Para finalizar o dia, depois de atravessarmos a ponte e sairmos da ilha, passámos ainda pela Igreja de Oscar, uma igreja luterana inaugurada em 1903 e que é um exemplo notável da arquitetura neogótica… não estava aberta e ficámo-nos pela bela fachada, e foi esta a última atração que visitámos na cidade Estocolmo antes de acabarmos a primeira etapa da nossa viagem, que nos iria levar a conhecer uma boa parte da Europa do Norte e de Leste.
Tínhamos ainda um final de tarde disponível e resolvemos permanecer na parte mais bonita e interessante da cidade, a ilha de Gamla Stan, onde fica o centro histórico.


Só mais algumas informações práticas sobre esta cidade:

Onde jantar

Ainda mais tarde haveríamos de voltar a sair para jantar, e aí, ou voltamos ao centro histórico, o Gamla Stan, onde existe uma grande oferta de restaurantes, ou voltamos às ruas Drottninggatan ou Kungsgatan, que constituem a principal zona comercial e de restaurantes da parte mais moderna da cidade.

Há ainda a hipótese de se experimentar um dos restaurantes que ficam no Östermalms Food Hall, o mercado gastronómico que visitámos, e que é famoso pela sua arquitetura e a sua atmosfera, mas sobretudo pela qualidade da comida… embora muito caro.

Transporte Público

Ao chegarmos de novo à zona continental da cidade, faltava agora, como sempre, regressar ao hotel e, para tal, ou continuamos a caminhar, tal como fizemos durante todo o dia, ou então usamos um dos meios de transporte público da cidade.

Nesse caso, podemos optar entre o Metro subterrâneo, ou o Tram, um elétrico rápido de superfície. O Metro tem a particularidade de conter algumas estações com uma decoração particularmente bonita a T-Centralen, a Kungsträdgarden, a Rådhuset e a Thorildsplan.
   
Ainda falando de transportes públicos, para irmos até ao aeroporto, temos um comboio ultrarrápido disponível, onde pagamos 23€ por trajeto para cada pessoa, cujo bilhete pode ser comprado online.


Terminamos assim a nossa visita à capital sueca, uma cidade que me tinha encantado na primeira visita, pela sua beleza, mas também por ter uma marca nórdica muito evidente. Atualmente as cidades aproximam-se muito umas das outras, muito cosmopolitas, com as mesmas lojas, os mesmos tipos de restaurantes, e sempre com uma imensidão de turistas, e isso descaracteriza-as um pouco e ficam todas muito parecias. Apenas se diferenciam pelos edifícios, pelas ruas e praças, e pelo espaços que ocupam, e aqui, com a geografia é prodigiosa, com as ilhas e penínsulas, parecendo que a cidade foi abraçada pelos braços do mar que a envolvem.

Em resumo, continua a ser uma cidade extremamente bonita, mas já não é a estrela módica que eu tinha conhecido, marcada por uma população muito diferentes de nós, todos lourinhos e muito branquinhos, e nada disso é hoje tão evidente... é bom esta globalização e uniformização dos espaços e das pessoas, mas senti a falta daquela onda marcadamente escandinava. 


Abril de 2025
Carlos Prestes