Saímos de Parma para ir dormir a La Spezia, na costa do Mediterrânio, num percurso de cerca de 130km em autoestrada, atravessando o Parque Nacional dell'Appennino, na cordilheira dos montes Apeninos, que percorrem longitudinalmente toda a Itália.
A cidade de La Spezia vai servir de base para visitar as Cinque Terre, um conjunto de aldeias classificadas como património mundial.

Às aldeias principais das Cinque Terre acrescentámos uma outra, também ela incluída na classificação de aldeias património, trata-se de Portovedere. Localizada a Sul da costa da Ligúria, a apenas 13 km da cidade de La Spezia, uma distância que percorremos de carro, logo pela manhã, porque iria ser um dia muito longo.
Portovedere:
É uma das típicas aldeias da Ligúria, com as suas casas pitorescas com fachadas pintadas a cores pastel, contrastando, entre si, de forma muito característica. Enquanto percorremos a Via Calata Doria, a marginal junto ao porto, vamos apreciando a beleza do conjunto de casas que forma a aldeia, que nos delicia, de tão pitoresca que é.
Ao continuarmos o nosso passeio pela marginal, ao longo de toda a aldeia, acabamos por atingir o Promontorio dell'Arpaia, formado por um rochedo, sobre o qual, se ergue a Chiesa San Pietro.
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Voltando à aldeia focámo-nos agora no castelo, cujas muralhas contornam a parte posterior das casas no alto da montanha, onde surge também uma torre de igreja... formando um conjunto bastante bonito, entre a montanha e o mar, com as casas coloridas em evidência.
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Depois da visita a Portovedere, que demorou um par de horas, voltámos a La Spezia e seguimos então até à zona das Cinque Terre e, para tal, vou recomendar duas alternativas.
A alternativa que escolhi não é aquela que recomendo. E o que fiz foi percorrer de carro um caminho sinuoso entre montanhas, até à aldeia de Monterrosso. Depois deixámos o carro num estacionamento que existe junto à praia e visitámos as restantes aldeias de comboio.
Ou então, pode ser escolhida a alternativa que mais recomendo e que consiste em deixar o carro na estação de La Spezia e sair de comboio numa viagem de cerca de 10 min até chegarmos às primeiras aldeias das Cinque Terre.
Em qualquer dos casos podemos adquirir um bilhete, uma espécie de passe, que permita sair e voltar a entrar no comboio. No caso de ficarmos a dormir na cidade de La Spezia, ainda podemos voltar a algumas aldeias durante a noite, porém, conta-me quem já lá esteve ao serão, que não se encontra grande animação e, pior ainda, as aldeias não estão sequer devidamente iluminadas, e o resultado pode ser uma certa desilusão.
De qualquer forma, vindo de La Spezia ou de Monterrosso, o comboio atingirá a estação de Riomaggiore em menos de 10 minutos e foi exatamente nessa estação que fizemos a nossa primeira paragem.

Riomaggiori:
É uma das aldeias mais bonitas com as suas casas pintadas com as cores típicas da região, quase amontoadas entre si e dispostas sobre as encostas de um vale muito inclinado que se encaminha para o mar, que aqui é de um azul forte e brilhante.
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Para além de ser uma atração turística muito procurada, a aldeia é também conhecida pelo vinho que é produzido nas vinhas que se dispõem ao longo das encostas. São visíveis em alguns locais destas aldeias, pósteres ou fotos que mostram a vinha plantada em socalcos nas encostas íngremes, bem como o processo da vindima, feito de forma totalmente artesanal, com recurso a uma espécie de funiculares improvisados para transportar os cestos das uvas. O vinho é um branco seco, não é soberbo mas é muito razoável.
A rua principal de Riomaggiore é a Via Colombo, onde se encontra o principal comércio da aldeia, atualmente direcionado para o consumo turístico, com restaurantes, bares e lojas.
Apesar desta e das restantes aldeias serem atravessadas por uma linha de comboio, a maior parte dos trechos dessa linha são em túnel e quase não interferem na paisagem. Aqui, o comboio só sai do túnel mesmo na estação, que fica sobre um viaduto com vãos em arco, por onde passam as ruelas da aldeia em direção ao mar.
Como a aldeia se desenvolve nas encostas de um vale muito íngreme todas as ruas vão convergindo para a rua central, que passa sob a estação e desce até ao mar, numa pequena praia de calhau preto com uma rampa para apoio na entrada e saída das embarcações de pesca.
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É um daqueles locais que nos faz apetecer ficar ali parados, apenas a contemplar a paisagem, e existem vários pontos onde conseguimos uma vista privilegiada para essa reflexão.
Um mar imenso de um azul brilhante a beijar a aldeia numa pequena enseada, formando um conjunto que é quase comovente.
E a própria aldeia, que é uma terrinha de pescadores, chega a fazer-nos lembrar alguns filmes italianos, como o “Il Postino” (O carteiro de Pablo Neruda), que não foi ali rodado (aliás foi rodado numa aldeia muito menos bonita, na Sicília), mas o ambiente de aldeia piscatória está lá e é bem evidente.
Toda esta pureza e este enquadramento estético poderão, no entanto, ser perturbados se as condições atmosféricas não ajudarem, porque num dia cinzento a beleza daquele lugar perde-se completamente. Por isso diria que a escolha certa para esta viagem seria no Verão, quando as condições metrológicas serão, provavelmente, mais favoráveis. No entanto, nessa altura estaremos em plena época alta e o local estará, talvez insuportavelmente, cheio de turistas, ao contrário do que aconteceu na nossa estadia na Primavera de 2012, quando nem existiam assim tantos turistas e o local estava encantador.
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Para seguirmos até à próxima aldeia resolvemos dispensar o comboio e fizemos o percurso a pé seguindo pela Via dell'Amore, um trilho estreito, com cerca de 1 km, esculpido na encosta, e que nos leva num trajeto sobre o mar até à aldeia de Manarola, com paisagens magníficas.
É considerado como o caminho do amor porque os casais apaixonados têm vindo a escolher aquele local, de paisagens românticas e sublimes, para celebrar e reforçar as suas relações amorosas, fazendo declarações de amor ou mesmo pedidos de casamento. Outros prendem um cadeado ao corrimão que percorre todo o trilho e que, supostamente, se irá manter firme, e com ele, aquela paixão será reforçada.
Mas o mais comum e não menos intenso será o casal celebrar o seu amor de forma introspetiva e no final guardar apenas uma fotografia, para mais tarde recordar.
Chamo aqui a atenção para o facto deste caminho ter sido fechado ao público devido a um aluimento de terras no final do ano de 2012, alguns meses depois da nossa visita. Reabriu de novo em 2015, mas apenas num pequeno trecho, mas voltou a ser interditado, desta vez prevendo-se que a reabertura só ocorra em abril de 2019... ou seja, é melhor confirmar previamente se este caminho estará ou não transitável.
Manarola:
No final do trilho chegámos à aldeia de Manarola, a segunda do Parco Nazionale delle Cinque Terre (e quem for de comboio irá sair numa estação que fica bem no centro desta bonita aldeia).
No final do trilho chegámos à aldeia de Manarola, a segunda do Parco Nazionale delle Cinque Terre (e quem for de comboio irá sair numa estação que fica bem no centro desta bonita aldeia).
É uma das aldeias mais pequenas, mas não deixa de ser uma das mais bonitas, com as casas, sempre naquelas cores pastel desta região, a amontoarem-se sobre um rochedo que cai abruptamente onde o mar desenha uma lagoa que é também o seu porto de pesca.
Tal como Riomaggiori, também Manarola tem vivido da vinha e da pesca, mas atualmente é sobretudo uma aldeia turística.
Corniglia:
A partir de Manarola a aldeia seguinte será Corniglia, mas esta é a única das cinco aldeias que não tem acesso direto por comboio. Embora, no mapa ferroviário, a linha passe muito próxima da aldeia... mas, na verdade, enquanto Corniglia fica no alto de uma montanha rochosa, o comboio cruza essa mesma montanha através de um túnel, quase ao nível do mar.
Mas existem duas formas de se visitar Corniglia. Uma delas será continuar até à próxima paragem de comboio, já na aldeia de Vernazza, e daí apanhar um autocarro que faz o percurso de cerca de 6 km até ao alto da encosta, para, assim, poder visitar a aldeia de Corniglia. No final da visita deverá depois fazer o trajeto inverso.
A outra hipótese, será descer na estação de Corniglia e fazer uma longa caminhada, sempre a subir até chegar à aldeia, passando pela Scalinata Lardarina, uma escadaria icónica, difícil de subir, mas o esforço vai valer a pena, pelas paisagens que se vão contemplando ao longo do caminho.

Corniglia é talvez a aldeia menos interessante das cinco e, por isso, a maioria dos visitantes acabam por nem ir lá, devido a toda a logística que é necessária ou ao grande esforço da caminhada sempre a subir. De qualquer forma, a aldeia não deixa de ser interessante, sobretudo quando a observamos à distância, e aldeia nos aparece mostrando algumas imagens bastante bonitas.
Vernazza:
Mais tarde, vindos de Corniglia ou vindos de Manarola, o destino seguinte será a aldeia de Vernazza, mais uma das Cinque Terre. Uma aldeia com uma arquitetura mais rica que as demais, incluindo alguns monumentos, como o edifício da Comune di Vernazza, o Castello Doria di Vernazza, junto ao mar, e a Chiesa di Santa Margherita di Antiochia, junto à baía que serve de praia e porto, de recreio e de pesca.
As ruas não passam de pequenas ruelas ou becos que nos levam numa escalada até à parte superior da aldeia de onde conseguimos contemplar uma bonita imagem da baía.
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Monterrosso:
Faltava apenas a aldeia de Monterrosso ou Monterrosso al Mare, a última das Cinque Terre e a única que que tem uma praia, embora com areia escura e calhau, mas é uma praia apetecível pela água de um azul vivo e com uma boa temperatura, como em todo o Mediterrâneo.
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A estação ferroviária fica mesmo junto à praia que se desenvolve ao longo de uma baía com cerca de 400 m. No contorno da praia existe um calçadão pedonal, a Via Fegina, que é um espaço bastante agradável para caminhadas, com esplanadas e gelatarias. Percorre toda a baía e leva-nos por um túnel pedonal que atravessa o penhasco, que separa a praia da aldeia.
Já do outro lado, ao chegarmos à aldeia, encontramos uma outra baía, também bastante bonita, e uma outra praia, menor que a anterior, com cerca de 200 m.
Entrámos depois nas ruelas da aldeia com casas coloridas, como nas aldeias vizinhas, mas não tão bonitas. Encontrámos aí a igreja católica que é o único monumento da terra, a Chiesa di San Giovanni Battista.
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Voltámos necessariamente à primeira baía, onde se apanha o comboio para La Spezia ou o carro que havíamos estacionado logo a seguir à praia no início desta viagem às Cinque Terre.
Falta-me ainda falar da gastronomia local e, porque estamos na Ligúria, será incontornável experimentarmos o molho de Pesto, originário desta região de Itália, um preparado com manjericão, pinhões, queijo e alho.
Assim, na paragem que fizemos para almoço, numa das esplanadas que estas aldeias oferecem, experimentámos justamente um prato típico da região, o Trofie al Pesto. Pode ser considerado o prato mais clássico da Ligúria, por ser feito com o pesto local e com trofie, um tipo de massa que é também da região, bastante bom mas com um aspeto um pouco duvidoso, mais parecem umas “minhocas” brancas.
Mas o conjunto é excelente, sobretudo porque o acompanhámos com um branco seco (muito fresquinho) feito das uvas de vinhas plantadas nas encostas da Ligúria.

Terminámos uma viagem de um único dia à região das Cinque Terre, que pode ser suficiente desde que o dia seja bem esticado, começando bem cedo e terminando já tarde, o que facilita se for numa época de dias longos, na Primavera ou no Verão.
O local é uma preciosidade e deixa-nos encantados. Pode ficar uma sensação de que poderíamos demorar mais tempo mas, na realidade, para além de percorrermos as ruas e desfrutarmos das paisagens, não há muito mais que possa ser feito... a não ser parar nalguma esplanada para almoçar ou tomar uma bebida. Mas tudo isso cabe tranquilamente dentro de um só dia... e será certamente um dia inesquecível, como foi este dia.
Já ao pôr-do-sol fizemos ainda o trajeto até à Riviera Italiana e fomos ficar à cidade de Rapallo.