Situado na zona Noroeste de Paris, o bairro de La Défense é um dos distritos de negócios mais importantes de toda a Europa, uma espécie da City de Londres ou da Wallstreet nova-iorquina.
O bairro foi inaugurado nos anos 80 com uma imagem completamente diferente do resto da cidade de Paris. Ao contrário dos edifícios clássicos que encontramos por toda a cidade, aqui respira-se modernidade, ou pelo menos respirava-se, na época em que o bairro surgiu, porque, entretanto, já passaram mais de 30 anos.
Mas os edifícios imponentes que ali encontramos, e que pertencem às empresas mais importantes, tanto de França, como a nível mundial, continuam a ter, ainda hoje, um aspeto moderno ou mesmo futurista, que é bastante interessante… mas toda esta zona é sobretudo dominada pela presença da imponente obra do Grande Arco de La Défense.
A chegada a este bairro faz-se de metropolitano, saindo na estação da Esplanade de La Défense, e depois limitamo-nos a percorrer em linha reta até à zona do Arco, onde encontraremos outra estação de Metro para regressar à cidade… não tem nada que enganar, por isso até dispenso o habitual mapa.
A zona por onde começámos, também chamada de Esplanade du Général de Gaulle, que é, na verdade, um terraço ou uma alameda pedonal ajardinada, onde se destaca a existência de 450 plátanos dispostos em duas filas, que deixam entre elas o passeio pedonal que percorre quase toda esta zona ao longo dos jardins que ali se formam.
Mas ainda antes de entrarmos nessa zona da Esplanade de La Défense, encontramos um espelho de água quadrado, com 50 m de lado, de onde emergem vários elementos decorativos, formando um conjunto que é chamado de “Bassin Takis”, do escultor grego, Panayotis Vassilakis, mais conhecido como Takis.
O conjunto artístico é considerado como uma obra enigmática e em movimento, devido ao efeito dos chamados Signaux, ou sinais, um conjunto de 49 luzes multicoloridas, montadas sobre uma espécie de espirais com alturas entre os 3 metros e meio e os 9 metros, que balançam com o vento, criando um efeito de movimento e formando um conjunto de sinais de luzes coloridas, piscando e balançando num estranho ballet.
Deste local registam-se ainda as imagens dos dois principais arcos da cidade, de um lado o Arc de Triomphe e, do lado oposto, o grande Arche de la Défense, ambos prodigiosamente alinhados sobre o mesmo eixo que nasce no vértice da pirâmide do Louvre.
Este local visita-se enquanto caminhamos pelo passeio pedonal que ali se materializa e, nesse percurso, vamos sendo acompanhados pelas imagens dos edifícios que nos envolvem, mas também por algumas obras de arte que nos vão surgindo, como é o caso das duas imensas chaminés de ventilação que ali encontramos, transformadas em obras artísticas.
Uma delas, o Les Trois Arbres, trata-se de uma obra do artista francês Guy-Rachel Grataloup, é criada através do revestimento da torre de ventilação usando mosaico cerâmico decorativo, com desenhos que representam os ramos das árvores. As dimensões são impressionantes, pela envergadura da chaminé de ventilação, atingindo os 28,50 metros de altura. Os padrões, as estruturas e as cores deste revestimento, são combinados para oferecer diferentes perceções da obra e até mesmo diferentes significados… mas se conseguem ou não, cada um dirá o que achou.
A outra torre chama-se Le Moretti (longs tubes de couleur) e constitui mais uma forma criativa de revestir a chaminé de ventilação, neste caso usando 672 tubos de fibra de vidro de 2 a 30 centímetros de diâmetro, coloridos com 19 cores diferentes, e que, em conjunto, cobrem toda a superfície da chaminé. Esta obra do artista Raymond Moretti é ainda mais alta do que a anterior, atingindo os 32 metros da torre de ventilação, e utiliza cerca de 22 quilómetros de tubos coloridos, permitindo um efeito visual interessante.
Voltando à grande alameda pedonal que atravessa toda esta zona, vamos encontrando um conjunto de espaços ajardinados, que nos parecem dispostos de forma casual, mas estamos enganados, trata-se de um projeto de um paisagista de referência, o americano Dan Kiley, que desenhou todos estes jardins que ocupam o coração do bairro empresarial de La Défense.
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Enquanto nos vamos aproximando do Arco vamos encontrando novas representações decorativas ou artísticas que fazem deste local uma espécie de um museu a céu aberto, com mais de sessenta obras de arte contemporânea.
A atração seguinte é a Fontaine d'Agam, uma criação do artista israelita Yaacov Agam, um antigo aluno da principal escola europeia de arte moderna, a Bauhaus.
A Fonte Monumental de Agam inclui um espelho de água de grande dimensão, em que o fundo está decorado por painéis com 86 tonalidades distintas, feitas em pasta de vidro esmaltado veneziano. A Fonte, propriamente dita, é composta por um sistema de jatos e de pulverização de água que permite um jogo de efeitos decorativos, que à noite são ainda embelezados com uma combinação de luzes coloridas.
Quando a fonte está inativa, as formas e cores do espelho de água tornam-se bastante bonitas e permitem um enquadramento fantástico, neste caso com o reflexo do grande Arco de La Défense.
Falemos agora um pouco dos edifícios da La Defénse. O início da execução deste bairro já vai a caminho dos quarenta anos, mas percebe-se que a construção de novos edifícios não tem parado, o que faz com o conjunto de torres que rodeia a praça principal que vamos percorrendo, continua ainda a ter uma aparência global de grande modernidade e até algo futurista.
A imagem de marca são as grandes torres envidraçadas que estão por todo o lado, algumas bastante bonitas… e uma delas está acompanhada pela escultura de um grande dedo polegar, uma obra do artista César Baldaccini, que é conhecida como o Polegar de César.
Chegados à parte final deste imenso terraço, já junto ao Arco, podemos apreciar o conjunto de edifícios por onde acabámos de passar, sendo alguns deles os mais antigos do bairro, como acontece com aquela cobertura com um formato estranho do atual Centre Commercial CNIT, que à época da inauguração do bairro era chamado de shopping Quatre Temps, que ostentou o título de maior shopping da Europa durante vários anos.
Nesta zona que envolve o Arche de la Défense encontramos várias obras artísticas, das quais vou fazer aqui algumas referências.
Começando por uma obra bastante relevante, a "Sculpture La Défense de Paris", uma estátua de bronze feita a partir da escultura do francês Louis-Ernest Barrias, um artista do século XIX, em homenagem aos mortos franceses do Cerco de Paris entre 1870-1871, durante a Guerra Franco-Prussiana. Esta estátua teve várias localizações até ter sido colocada na posição atual, perto do Arco.
Perto desta obra surge o fantástico "Deux Personnages Fantastiques", que representa as silhuetas de dois personagens criados por Joan Mirò, no estilo inconfundível do mestre catalão. A escultura parece moldada em barro, mas é feita com resina de poliéster, e pintada com as cores vivas de azul e vermelho, que lhe dão protagonismo naquela zona da praça.
Em frente da obra de Mirò encontra-se a "Araignée Rouge", a Aranha Vermelha feita pelo escultor Alexander Calder, que é uma peça de aço com 75 toneladas para uma altura de 15 metros, pintada num vermelho que a faz sobressair. A escultura foi instalada em Paris em 1976, ano da morte do artista, funcionando atualmente como uma poderosa homenagem ao seu autor.
Termino com a obra principal deste bairro, o Arche de la Défense, também conhecido como o Grande Arco da Fraternidade. Foi inaugurado no ano de 1989, é formado por um enorme cubo oco com 110 metros de altura, que constitui uma tremenda obra-prima da arquitetura e da engenharia. Feito de betão armado e forrado a granito cinzento-claro, e com os paramentos laterais forrados com placas de vidro.
O Grande Arco foi concebido na sequência de um concurso de arquitetura realizado em 1982, por decisão do presidente François Mitterrand como parte de seu plano “Grandes Obras de Paris”, que também levou a construir a pirâmide do Louvre. O vencedor da competição foi o arquiteto dinamarquês Johan Otto von Spreckelsen, que fez uma parceria com o engenheiro Erik Reitzel, que teve de tornar exequível uma ideia passada para um rascunho… é o habitual, os engenheiros ficam sempre com o mais difícil, mas raramente com a fama (talvez esteja a ser um bocadinho parcial... ).
Assim que foram conhecidos os primeiros drafts do projeto, a solução foi logo aclamada, mas, ao longo da conceção final as coisas haveriam de se tornar mais complicadas. Em 1986, após três anos de sessões em tribunal, Spreckelsen abandonou o projeto litigiosamente, tendo convencido os juízes que a pureza e perspetiva do seu projeto, tinham vindo a sofrer várias modificações que lhe foram impostas. No entanto, está registado que a construção executada segue ainda o mesmo efeito e os mesmos detalhes concebidos originalmente pelo arquiteto Spreckelsen, que nunca chegaria a ver a sua grande obra acabada, pois faleceu no ano de 1987, dois anos antes da inauguração.
É possível visitar o Arco e subir pelo elevador panorâmico até aos 110 metros de altura, e contemplar a cidade de Paris... mas nunca o fiz, acho que nunca calhou. De qualquer forma, existem outros locais ao longo de toda a alameda entre o Arco e a Esplanada de La Defense, onde será possível admirar a vista panorâmica, quer do próprio Arco quer do primeiro trecho do chamado Eixo Histórico, que liga com o Arco do Triunfo, a avenida Champs-Élysées, o Obelisco de Luxor na Place de la Concorde, os Jardins das Tulherias e a Pirâmide do Louvre.