segunda-feira, 17 de abril de 2023

Château de Chambord


No próximo percurso vamo-nos afastar ligeiramente do Rio Loire, numa direção que nos leva até ao Castelo de Chambord, o maior de todos os châteaux desta região francesa, seguindo o trajeto assinalado no mesmo mapa que tem sido usado como referência para esta visita ao Vale do Loire.
 
Chegar ao Château de Chambord nesta altura foi uma tremenda desilusão, pois toda a beleza das suas fachadas estava ofuscada pela existência de torres de andaimes, devido a obras de reabilitação que estavam em curso. Não querendo estragar a imagem real deste palácio, usando as fotos atuais, que revelam mais um estaleiro de uma obra do que um magnífico château, optei por utilizar nesta crónica outras fotos do exterior do palácio, que representam uma época anterior ao início das obras… mas deixo aqui apenas duas das fotos das fachadas, tiradas durante esta visita, para que se perceba a frustração que se sente à chegada a Chambord.

Mas apesar da frustração pelo estado das fachadas, ao visitarmos Chambord vamos perceber a grandiosidade deste imenso complexo, desde o momento em que cruzamos o muro circundante de 32km de extensão e entramos no domínio desta herdade gigantesca, que percebemos estar num lugar especial.
E é especial tanto pela riqueza histórica que ali foi vivida, como pela grandiosidade e genialidade deste magnífico palácio… que é o resultado de uma sublime arquitetura imaginada pelo rei Francisco I, seguindo a inspiração das ideias do mestre Leonardo da Vinci.


Só uma nota prévia para enquadrar as principais figuras que estiveram na base da criação deste castelo. Sobre Francisco I, o rei François Ier de França, era o pai de Henri II, o mesmo rei que foi casado com Catarina de Medici enquanto mantinha Diane de Poitiers como amante, de quem já falei na crónica sobre o Château de Chenonceau. Além disso, Francisco I veio a casar-se em 1530 com a nossa Rainha Dona Leonor, que foi casada com D. Manuel I, rei de Portugal e dos Algarves, de quem ficou viúva em 1521 (o que fez com que D. Leonor tivesse sido Rainha de Portugal e de França). 

Sobre o outro nome de referência, um tal Leonardo da Vinci, nem me atrevo a dizer absolutamente nada…

         

Voltando à visita ao castelo, depois de comprarmos os bilhetes de acesso por 16 € cada adulto, vamos percorrer toda a residência real e também podemos traçar o nosso próprio percurso pela herdade, se tivermos tempo para isso, passando pelas vinhas de Ormetrou, pelas hortas, pelos estábulos ou pelos imensos jardins, que ficam em frente às duas fachadas principais, onde podemos fazer um passeio pela Avenue du Roi e pelos muitos outros trilhos que fazem parte do chamado Grand Promenade, que será sempre uma experiência inesquecível.

O palácio tem 500 anos de história, tendo sido iniciada a sua execução no ano de 1519, quando Francisco I, ainda um jovem rei, o mandou construir. É uma obra arquitetónica monumental que o rei gostava de mostrar aos soberanos e embaixadores como símbolo do seu poder, tanto pelos seus interiores majestosos, como pela beleza das suas fachadas principais, das mais preciosas obras de arte da arquitetura mundial que podem ser encontradas… sobretudo se pensarmos que se trata de uma criação do século XVI.

A planta do castelo é desenhada em torno de um eixo central, a famosa escadaria de dupla volta, que foi inspirada nos planos de Leonardo da Vinci, uma espiral ascendente que nos conduz desde o primeiro andar até aos terraços, onde culmina a chamada Torre das Lanternas.

         
Já uns séculos mais tarde, foram feitas várias obras de desenvolvimento dos espaços interiores e de decoração, e nessa altura o palácio passou a ser de novo bastante utilizado pela família real e pelos seus convidados. E é o resultado dessa decoração que encontramos ainda hoje, a menos dos móveis e quadros que foram vendidos, quando o castelo foi saqueado durante a Revolução Francesa. 

Tal como já tenho referido noutras crónicas, não sou um grande apreciador das decorações reais, com camas, tapeçarias e reposteiros, apesar de tudo, aprecio mais os quadros e estatuetas que decoram as salas e quartos. De qualquer forma, selecionei algumas imagens do interior deste palácio que aqui vou deixar, começando exatamente com alguns exemplos de obras de arte, onde se inclui o quadro que representa a imagem do Rei Francisco I, o criador de Chambord.


Quanto aos quartos, salas e até a grande cozinha do palácio, por onde vamos passando ao longo da nossa visita, deixo também aqui algumas imagens representativas.



Este palácio teve sempre um problema que o tornava pouco acolhedor, pois era extremamente frio e muito difícil de se conseguir aquecer, apesar das muitas lareiras que se encontram em quase todos os cómodos. Esta condição sempre afastou os proprietários de permanências mais prolongadas, tanto as famílias reais como os outros donos que por aqui passaram.

Assim, Chambord conheceu alguns períodos de quase abandono e, num desses períodos, Napoleão Bonaparte acabou por doá-lo ao Marechal Berthier, antigo Ministro da Guerra, em agradecimento pelos seus serviços. Berthier morreu seis anos depois e a sua viúva rapidamente pediu permissão para vender esta imensa residência, que, na altura, já se encontrava em más condições.

O complexo de Chambord foi assim recuperado pela coroa francesa e, em 1821, foi oferecido ao duque de Bordéus, neto do rei Carlos X, que passou a ter o título de Conde de Chambord. Os acontecimentos políticos levaram-no ao exílio o que não lhe permitiu viver no seu castelo, e a propriedade foi administrada por um mordomo, que teve um papel bastante importante ao empreender grandes campanhas de restauração… e foi isso que veio a possibilitar que, mais tarde, o castelo fosse aberto ao público.

Além do interior do edifício, que foi sofrendo várias intervenções, quer de renovação quer de decoração, e das fachadas principais, que são o principal rosto do palácio, existem vários pátios interiores entre as diversas alas do castelo, que têm também uma arquitetura bastante interessante, com destaque para as escadarias em caracol, que se inspiram na escada principal, a tal que seguia os planos de Leonardo da Vinci para uma espiral ascendente.
Já no século XX, desde 1930, o castelo e o parque voltaram a ser propriedade do estado e, durante a Segunda Guerra Mundial, Chambord foi usado como refúgio e proteção de obras de arte.

Numa das salas do castelo, encontramos a reprodução dos esconderijos de peças de arte que funcionaram no castelo, e é apresentado um vídeo explicativo de como eram ali guardados os quadros, para que os nazis não os encontrassem.

Em 1939, após a evacuação dos principais museus de Paris, incluindo o Louvre, milhares de obras de arte foram enviadas em comboios para alguns castelos e abadias no Oeste francês, incluindo Chambord. Assim, este castelo, na altura fechado ao público, serviu para esconder milhares de obras de arte, a maioria de coleções públicas francesas, para protegê-las dos bombardeios e da ganância dos nazis. Chambord tornou-se o maior dos 83 depósitos utilizados para guardar obras de arte durante o conflito, onde se incluíam algumas obras icónicas, como a Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, ou La Liberté guidant le peuple, de Delacroix, ambas do Louvre. Graças aos zelosos curadores e funcionários do património, muitos dos tesouros nacionais franceses passaram ilesos pela guerra, e Chambord teve um papel determinante nesse processo.

De toda a longa história que está associada a este castelo, este período em que foram escondidas e protegidas obras de arte, foi o que mais me tocou, quando este espaço deixou de ser uma montra de vaidades para as sucessivas famílias, reais e não só, que por aqui desfilaram, e passou a desempenhar uma função realmente benéfica, não só para os franceses, mas para toda a humanidade.

Mas, para além das muitas obras de arte que ali foram preservadas e impedidas de chegar às mãos dos nazis, este castelo preserva também a mais rica de todas a preciosidades… que é a extraordinária arquitetura das suas magníficas fachadas que nos deixam completamente encantados.

Terminámos aqui a nossa viagem pelo Vale do Loire, iriamos agora visitar o palácio de Versalhes, já a caminho de Paris e fora da rota deste rio, sabendo que se trata de um dos palácios mais importantes da história da coroa francesa.


Carlos Prestes


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