Para quem esteja a fazer uma viagem ao longo do Vale do Loire, a cidade de Tours é o local ideal para se pernoitar, por estar mais ou menos no centro de gravidade dos principais castelos da zona, mas também por ser uma cidade que vale a pena ser visitada.
Assim, resolvemos chegar à cidade a meio da tarde e aproveitámos o resto do dia para fazer uma caminhada pelas ruas e praças mais importantes, seguindo o percurso assinalado no próximo mapa, e terminando numa das esplanadas da cidade velha, que estão sempre animadas e cheias de gente.
Começámos a visita à cidade partindo do hotel, que ficava mesmo junto à estação ferroviária, a Gare de Tours, com a sua fachada monumental, em frente da qual se estende o Jardin Léonard de Vinci e, logo depois, surge o edifício moderno do centro de congressos, que é chamado de Le Vinci-Palais des Congrès de Tours e que é uma enorme sala de espetáculos.
Continuando depois pelo Boulevard Heurteloup chegamos a uma das praças mais monumentais da cidade, a Place Jean Jaurès, onde se encontra o Tribunal Judiciaire de Tours, o principal tribunal da cidade.
E logo ao lado do tribunal encontra-se aquele que talvez seja o edifício mais bonito da cidade, o Hôtel de Ville de Tours.
O edifício da Câmara Municipal foi construído entre 1896 e 1904 e é um verdadeiro palácio municipal, um manifesto à glória dos valores da República.
A fachada tem uma decoração extraordinária, com destaque para várias esculturas com figuras humanas. O edifício estava fechado, mas sabe-se que o interior é também magnífico, com as salas cerimoniais e uma escadaria monumental, decoradas com pinturas e esculturas.
No trajeto seguinte fomos pela Rue Nationale, uma rua comprida que percorre quase 1 km em linha reta até ao rio, com bastantes lojas de ambos os lados, e que é atravessada pelo Tram da cidade.
Mais à frente virámos à direita na Rue de la Scellerie e encontrámos a Grand Théâtre - Opéra de Tours, a grande sala de espetáculos da cidade para ópera e bailado.
Continuando pela mesma rua, dirigimo-nos até à Catedral de Tours, ou Cathédrale Saint-Gatien.
A atual catedral sucede a três outras igrejas e a sua construção prolongou-se entre os anos 1160 e 1547, sendo atualmente um monumento classificado como património arquitetónico de França, tanto pela sua história riquíssima como pelo conjunto de vitrais que se encontram nas fachadas do edifício.
A primeira igreja ali construída foi palco da coroação de São Martinho como bispo de Tours e do chamado “milagre do globo de fogo”, quando São Martinho era apenas um jovem soldado romano que ofereceu o seu manto a um mendigo e, mais tarde, esse mendigo haveria de se revelar num sonho, como sendo o próprio Jesus. Depois disso São Martinho seguiu o caminho da igreja, rezava e pregava a fé católica por terras francesas, e veio mesmo a ser bispo desta cidade... e após a sua morte foi beatificado e considerado Santo.
Nos anos seguintes à morte de São Martinho, no ano de 316, esta igreja chegou a ser um dos mais famosos centros de peregrinação do Ocidente, para visita do túmulo do Santo.
Mais tarde os restos mortais de São Martinho foram saqueados, embora tenham sido depois recuperados e transladados para uma outra igreja da cidade, a Basilique Saint-Martin de Tours, construída no século XIX exatamente para guardar e homenagear as relíquias do Santo.
Quanto ao edifício da Catedral, o corpo da nave central foi construído entre os séculos XIV e XV e reflete a evolução do estilo arquitetónico entre o chamado gótico radiante até ao gótico extravagante… mas a mim isso diz-me muito pouco, o que realmente me tocou foi a beleza extraordinária das fachadas desta igreja, com destaque para esta fachada principal lindíssima, uma autêntica obra de arte.
O interior da igreja oferece um conjunto riquíssimo de vitrais medievais dos séculos XIII, XIV e XV, e outros bem mais modernos, dos séculos XIX e XX. Mas nem são só os vitrais, toda a arquitetura interior da catedral é fantástica e merece ser visitada com tempo, para que possam ser apreciados devidamente todos os pormenores.
Encontramos também nesta catedral uma obra-prima da Renascença francesa, que corresponde ao túmulo dos filhos de Carlos VIII e Ana da Bretanha, Charles e Charles-Orland, que morreram muito jovens.
Saindo da catedral dirigimo-nos na direção do rio Loire e, um pouco mais à frente, encontramos um pequeno castelo rodeado por um jardim, o Château de Tours.
O Castelo de Tours foi um monumento particular e é hoje um edifício público, que funciona como sala de exposições, oferecendo uma programação diversificada que abrange vários campos artísticos, como pintura, fotografia, escultura e arte contemporânea.
De seguida viramos pela Rue Colbert, uma rua cheia de restaurantes, passando depois pela Abbaye de Saint-Julien, uma pequena igreja onde nem entrámos, limitámo-nos apenas a apreciar as suas fachadas, que nem são particularmente bonitas.
Voltando de novo na direção do rio Loire, chegámos à sua ponte mais antiga, a Pont Wilson. A ponte original foi construída no final do século XVIII e está classificada como monumento histórico, sendo composta por 15 arcos que cruzam o rio num total de 434 m de comprimento.
Esta ponte é também chamada de “ponte de pedra” e é determinante na história da própria cidade, sobretudo devido a uma série de catástrofes que ocorreram desde a sua construção e que provocaram o seu colapso parcial, impedindo a travessia do rio para acesso à cidade.
Mas a última dessas catástrofes aconteceu já muito perto dos nossos dias, quando a ponte desabou no ano de 1978, arrastando uma viatura com o seu motorista para a corrente do rio, num acontecimento que marcaria profundamente a história da cidade e a forma como os seus habitantes tiveram de viver a partir dessa altura, e até à sua reconstrução em 1982.
Saímos depois desta zona do rio e entrámos na cidade velha, seguindo diretamente para visitar a Basilique Saint-Martin de Tours.
Percorrendo as ruas de paralelepípedos da cidade velha, cheias de lojas e restaurantes, e ao lado das antigas casas feitas em enxaimel, encontra-se a Basílica de São Martinho – dedicada ao mesmo São Martinho que foi Bispo da Catedral da cidade e que foi depois transformado em Santo… e é ainda o mesmo que conhecemos das comemorações do dia 11 de novembro, dos magustos com castanhas assadas e água-pé, ou vinho leve, e é também o do Verão de São Martinho, quando faz sol naqueles dias de novembro. Só não é o meu Santo favorito, porque a sua data não está consagrada com um feriado nacional, de resto só nos traz coisas boas.
Os restos mortais do Santo estiveram vários séculos na Catedral de Tours, até serem saqueados, tendo-se perdido a noção do seu paradeiro. Só em 1860 é que as relíquias de São Martinho foram redescobertas e, só depois disso, ainda no final do século XIX, é que esta Basílica foi construída para homenagear o Santo e preservar as suas ossadas e o seu espólio.
O edifício da Basílica é bastante bonito, num formato típico da arquitetura bizantina, contendo uma grande abóboda central, a fazer lembrar as igrejas turcas.
No pátio do portão principal de acesso à Basílica existe uma estátua que representa São Martinho no episódio que é chamado de “milagre do globo de fogo”, no qual ele dá o seu manto a um mendigo, que depois, afinal era Jesus… e que levou a que ele fosse beatificado.
Já no interior da Basílica encontramos um espaço muito simples, sem grandes luxos, num estilo que é claramente bizantino.
Na cripta que ocupa o espaço por debaixo do altar, estão guardadas as relíquias e as ossadas de São Martinho, numa zona escura e bafienta, que serve de ponto de romagem aos devotos do Santo… um lugar desagradável e tão pouco acolhedor, que certamente que o próprio Santo não o aprovaria, já que se trata do Santo dos magustos e dos dias de sol.
Já de novo cá fora, na envolvente da Basílica, entramos na Place Châteauneuf onde se tornam visíveis as silhuetas da própria Basílica e de uma outra igreja, a Collégiale Saint Martin, com a sua torre, chamada de Torre Carlos Magno.
A cidade velha de Tours, o Vieux Tours, constituída por uma parte do seu bairro medieval original, mantém ainda devidamente preservado uma grande parte do seu património histórico, que foi recentemente submetido a um processo de renovação, recuperando as antigas casas de enxaimel dos séculos XII a XV.
A Place Plumereau é o local mais típico da cidade, com várias casas de enxaimel e repleta de esplanadas de restaurantes, bares e gelatarias.
Depois de mais um passeio pelas ruas animadas da cidade velha terminámos o serão jantando numa das esplanadas da Place Plumereau, com uma oferta imensa de restaurantes.
No passeio final até ao hotel, já à noite, pudemos rever alguns dos locais mais interessantes da cidade, terminando onde começámos, junto à Gare ferroviária, onde ficava o hotel… amanhã iriamos ter mais uma série de castelos e palácios para explorar.
Carlos Prestes
Voltar à página do Vale do Loire e Palácio de Versalhes