sexta-feira, 14 de abril de 2023

Mont Saint-Michel


Chegámos pela manhã a um imenso parque de estacionamento preparado para os visitantes do Mont Saint-Michel. O parque não é barato, em 2023 pagámos 14€, mas está incluído o acesso aos autocarros que nos levam até ao local da visita, num percurso de pouco mais de 3 km. Ao chegar à zona do parque, e ainda cheios de curiosidade sobre o que nos esperava, já conseguíamos ver ao longe a silhueta inconfundível do conjunto monumental que iriamos visitar.
O autocarro vai ainda parar numa povoação meio artificial, concebida apenas com hotéis e restaurantes, exclusivamente para utilização dos visitantes desta atração turística.

Se quisermos apreciar a imagem do monte ao longo do caminho, podemos sair na paragem que o autocarro faz neste aglomerado, caminhando depois por todo o passadiço que nos conduz ao Mont Saint-Michel, num trajeto de cerca de 2 km. Ainda é uma caminhada significativa, mas acho que valerá a pena, vamos percorrer toda a zona inundável na maré cheia, e vamos apreciando sempre e de forma tranquila uma imagem que já conhecemos como uma referência mística, mas que nos surge aqui, pela primeira vez, como algo real.
Seguimos assim pelo passadiço apreciando uma paisagem que é como um clássico das imagens de França e que aqui nos vai inspirando à medida que nos aproximamos.

O Mont Saint-Michel, onde se desenvolveu uma aldeia medieval, é formado por uma ilha rochosa, no topo da qual foi construída uma magnífica Abadia.

Os registos referem que a sua construção começou em 708 d.C. e que se prolongou por 1300 anos, por várias gerações de operários que trabalharam e sobreviveram, neste local inóspito.

A ideia da construção deste conjunto, da Abadia e da aldeia, surgiu de um delírio do Bispo Aubert de Avranches, que, num dos seus sonhos, terá recebido a visita do Arcanjo Michel. O Arcanjo instruiu-o a construir uma igreja na ilha rochosa situada na foz do rio Couesnon. Dessa vez o Bispo não prestou grande atenção às suas palavras, mas o Arcanjo voltou a visitá-lo, e aí o Bispo já levou o sonho a sério e ordenou o início da construção desta imensa Abadia no alto da ilha rochosa que aqui existia.
A estrutura construída no Mont Saint-Michel representa a hierarquia feudal praticada à época. Deus está no topo da Abadia, depois vem o mosteiro, que acolhe o poder do clero, e logo a seguir encontram-se as casas dos nobres. Já no fundo, em parte já do lado de fora dos muros, estão situadas as casas dos pescadores e dos agricultores.
Este magnífico conjunto foi também uma eficiente instalação militar, pois fica isolado do continente durante os períodos de maré cheia e isso constitui uma forma natural de defesa. O acesso à ilha era feito por rotas perigosas através das areias que cobrem a baía durante a maré baixa, mas, na maré alta, as correntes e as grandes ondas que ali se formam tornavam este local inacessível.

Assim, e apesar das muitas batalhas entre França e Inglaterra que duraram por vários séculos, como no caso da chamada Guerra dos Cem Anos, a verdade é que os vizinhos ingleses nunca conseguiram capturar esta fortificação, quer pela resistência dos exércitos locais quer também pela contribuição do estado do mar que envolve a ilha, sempre que a maré subia e as ondas se tornavam agressivas.

Foi assim que esta ilha e a sua Abadia resistiram a sucessivos cercos e a forte capacidade de defesa contra a Inglaterra que ali foi demonstrada, terá sido uma das fontes de inspiração de Joana D'Arc, a grande heroína da libertação francesa nesta época da Idade-Média.

Mas, na altura em que visitámos este local, o mar estava calmo e a maré estava baixa, pelo que não havia sinais de perigo vindos do oceano.
Esta ilha foi ainda usada como prisão no século XVIII, durante a Revolução Francesa, quando quase não existiam monges neste local. Foram aqui enclausurados muitos prisioneiros políticos de alto nível da revolução, mas um conjunto de pessoas influentes fizeram campanha para salvar o tesouro arquitetónico formado por esta Abadia e a sua envolvente, e a prisão acabou por ser fechada em 1863.

O Monte Saint-Michel está listado como Património Mundial da UNESCO desde 1979 e, atualmente, é sobretudo um destino turístico, embora ainda seja considerado como um importante local de peregrinação, mas já sem a importância de outros tempos.

Foi a partir do século X que os peregrinos começaram a rumar a este local, chegando à Abadia através de rotas sobre as areias na maré baixa, mas, por vezes, eram apanhados pela subida das águas e eram engolidos pelas ondas.

Ainda chegou a existir uma ponte de maré, mas também não era completamente segura, quando o mar se apresentava mais bravo. Só mais recentemente foi construído a atual passerelle que facilita o acesso e que inclui um grande troço em ponte, afastando o caminho do nível das águas, mesmo nas marés vivas.
Ao chegarmos à ilha torna-se visível, ainda cá de fora, a existência de uma aldeia medieval e, logo que atravessamos o portão de acesso, este ambiente medieval torna-se evidente ao longo da rua de entrada, a La Grande Rue.
Trata-se da principal rua desta aldeia, que atravessa muralhas e pontes levadiças, e é aquela que nos vai conduzir em toda a subida até à Abadia, sempre pelo meio de edifícios com uma traça medieval bem marcada… embora, atualmente, esteja tudo preparado para a receção aos turistas e nada do que encontramos seja verdadeiramente genuíno.
    
Logo na zona de entrada podemos subir às muralhas e fazer um percurso na parte superior de cada muralha onde conseguimos observar as ruas em baixo e as paisagens em toda a envolvente.

Voltando depois à La Grande Rue, vamos encontrando cada vez mais lojas de souvenires, restaurantes e até alguns hotéis de charme, todos seguindo a temática medieval.

    
Ao continuarmos a subir o panorama da aldeia não muda muito, são os mesmos tipos de ruas com os mesmos tipos de casas e as mesmas lojas.

Entre alguns pormenores interessantes, encontra-se o Beco do Guet, ou "Ruelle des cuckolds", em português seria Ruela dos Cornos, que é a menor rua da aldeia, tão estreita que os animais não conseguiriam passar ali com os seus chifres, daí o nome da rua.
     
Ao longo da subida vamos sempre seguindo a silhueta da imponente da Abadia que se ergue no topo do rochedo.
A partir de uma certa altura só poderemos continuar pagando o ingresso, que era de 11€ por pessoa e que permite visitar algumas partes da Abadia, como a grande nave da igreja.
Depois desta visita descemos toda a montanha e regressámos de novo até ao passadiço onde iríamos apanhar o autocarro de volta ao estacionamento.

Fazendo um breve balanço da visita ao Mont Saint-Michel tenho de concluir que foi um pouco aquém das minhas expectativas. O conjunto é muito bonito e impressionante, mas a imagem não é novidade para ninguém, já todos vimos dezenas de fotos deste lugar e, por vezes, está até envolvido num misticismo que, sinceramente, não consegui encontrar.

A beleza deste local é inquestionável, mas falta-lhe alguma coisa que nos cative, é apenas um bilhete postal e um spot turístico muito frequentado, mas falta-lhe alma e falta magia… e era disso que eu estava à espera.

De qualquer maneira, antes de entrar no autocarro para fazer o caminho de regresso, não quis deixar passar uma última oportunidade de contemplar a fantástica imagem deste rochedo e da sua Abadia… para mais tarde recordar.

E terminámos assim com esta imagem de referência, não só a nossa visita a este local mas também a visita que fizemos nestes dias ao longo da região da Normandia.