quarta-feira, 12 de abril de 2023

Étretat


Na costa Norte francesa banhada pelo Atlântico, já onde se começa a formar o Canal da Mancha, que separa a Europa de Inglaterra, surge a pequena cidade de Étretat.

Trata-se de um local turístico que atrai milhares de visitantes todos os anos devido às majestosas falésias de calcário que a envolvem, e que fazem parte da chamada Côte d'Albâtre, ou Costa do Alabastro, que deve o seu nome aos 140 km de falésias calcárias entre os estuários do Sena e do Somme.

A cidade, que já foi um vilarejo de pescadores, hoje vive exclusivamente do turismo, como destino balneário, mas, sobretudo, pelos muitos turistas que visitam as falésias de Étretat.

Assim, foi exatamente isso que fizemos na nossa visita, começámos a nossa visita pelo lado direito da praia, num pequeno percurso, mas íngreme, subindo por uma escadaria panorâmica ao longo da colina, desde a praia até à Falaise d'Amont.

Esta falésia chegou a ser chamada de Falaise du Blanc-Trait (que significa Linha-Branca), por causa da brancura do giz visível do mar, mesmo a grandes distâncias.

O escritor Guy de Maupassant, no seu livro Une Vie, compara a silhueta deste rochedo à imagem de um elefante mergulhando a tromba no mar. Está tudo lá: o tronco, a cabeça e as orelhas, os membros anteriores e posteriores e até a cadeira do marajá nas suas costas!
É do alto deste penhasco, que se ergue do lado direito da praia, que temos acesso a uma das vistas mais interessantes sobre a baía de Étretat.
Encontramos também, no alto desta falésia, a Capela de Notre Dame de la Garde, uma pequena igreja neogótica do final do século XIX, feita de pedra e com um telhado de ardósia, construída em dedicação à Santíssima Virgem para que garantisse a proteção aos marinheiros deste lugar.

Ainda do alto desta falésia, é bem agradável fazer um pequeno percurso pelos trilhos que se formam em toda a envolvente, que nos vai permitir observar mais de perto a grande Falésia d’Amont, que cai sobre o mar.
Ainda do topo desta encosta, mas regressando de novo à zona da capela, podemos também observar a própria Cidade de Étretat, com as suas casas, a sua praia e a imensa baía, ladeada pela falésia branca, a marca inquestionável desta região.

O próximo percurso, já na manhã seguinte, levou-nos a passear pela cidade, apreciando algumas das construções medievais nas ruas mais antigas, como é o caso do hotel onde escolhemos ficar… uma verdadeira casa de enxaimel, por dentro e por fora.
    
Mas as próprias ruas da cidade, vão revelando um conjunto de bonitas casas com fachadas históricas, ou feitas em madeira ou em tijolo à vista.


Mas o que mais importa nesta pequena cidade não são propriamente as suas casas medievais, mas sim as falésias de cor esbranquiçada que ficam dos dois lados da praia principal.

Voltámos assim à praia e ao seu grande passadiço pedonal, onde podíamos, de novo, apreciar as arribas que se erguem do mar de cada um dos lados.

Não é uma praia apetecível segundo os nossos padrões, nem sequer tem areia, é coberta de calhau, mas não deixa de ter os seus encantos, e até alguma história que importa recordar. Por exemplo, era nesse antigo vilarejo de pescadores que eram cultivadas as ostras mais desejadas de toda a França. Eram trazidas a esta baía em barcos, para aqui crescerem em viveiros e, mais tarde, eram transportadas por jumentos e cavalos até Paris… e algumas delas acabavam nas mesas da realeza e foram mesmo comidas pela rainha Maria Antonieta, imagine-se!

Seguimos depois para a grande falésia do lado Sul, percorrendo os trilhos assinalados neste mapa, onde se representam também todas as principais falésias por onde iríamos passar:
 
Do lado esquerdo da praia toda a parte superior das falésias está ocupada por um imenso campo de golf, o que faz com que o verde se torne na cor dominante desta envolvente… como é bem percetível nesta imagem da Falaise d'Aval e do rochedo que fica em frente, a Aiguille d'Etretat que nos surpreendem pela completa verticalidade até ao mar, com uma beleza rara e quase selvagem.

A Falaise d'Aval, também conhecida por Porte d'Aval, é formada por uma imensa arcada de pedra, que foi escavada pelas ondas que batiam na ponta da falésia.

Quanto à Aiguille d'Etretat, de 51 metros de altura, é testemunha do passado geológico das falésias de Étretat, tendo-se tornado famosa e com grande reputação internacional, ao inspirar escritores e pintores… por exemplo; conforme narrado no romance de Maurice Leblanc - L'Aiguille Creuse, este rochedo será oco e terá albergado o tesouro dos Reis de França, que seria descoberto mais tarde por Arsène Lupin; ou o quadro impressionista do nosso conhecido Claude Monet, cuja casa visitámos nesta viagem, e que foi pintado de muito perto do lugar onde nos encontramos.


Fazendo sucessivas e demoradas paragens, para apreciar estas paisagens de tirar o fôlego, mas continuando a pé pelos trilhos que vamos encontrando, vamos observando novas imagens destas falésias, sempre bonitas, devido à cor esbranquiçada pelo calcário que as forma.

Torna-se agora visível a Falésia La Manneporte, localizada do lado oposto ao da Porte d'Aval, no final da praia de Plage El Karivis, este rochedo apresenta um novo arco.

Do lado seguinte, depois de termos atravessado a própria Falaise La Manneporte, temos acesso a uma panorâmica distinta da mesma falésia.
Faltava ainda chegar a este lado Sul das falésias de Étretat onde fica a chamada Pointe de la Courtine. Mais um rochedo esbranquiçado que fica enquadrado neste conjunto geológico e que conseguimos observar do alto dos penhascos por onde andávamos.

No regresso até à cidade podemos seguir pela trilha panorâmica da Falaise d'Aval, e usufruir, pela última vez, de mais algumas paisagens fantásticas que este complexo oferece.

Terminámos assim a nossa visita a este lugar tão bonito, em torno das suas falésias formadas debaixo de água há muitos milhões de anos, através de depósitos de organismos marinhos calcários de cor clara e de esqueletos de organismos siliciosos, que, entretanto, emergiram à superfície formando este conjunto extraordinário.

Iriamos agora continuar a nossa viagem para tentar conhece outros destinos da Normandia.


Carlos Prestes