A capital da Bretanha revela por todo o seu Centro Histórico os traços bem evidentes da antiga cidade medieval que ali existiu, e mostra a evolução que ocorreu durante vários séculos, e que transformou Rennes na cidade monumental que hoje encontramos.
Ao percorrermos o coração desta cidade encontramos várias ruas com paralelepípedos e com muitas casas coloridas em enxaimel, aqui chamadas de maison à pans de bois ou maison à colombages, uma referência da arquitetura tradicional da Idade Média que é aqui bastante visível, e são estas casas que fazem deste centro histórico um lugar mais interessante.
No percurso que fizemos pela cidade fomos encontrando as referências medievais lado a lado com os edifícios monumentais mais recentes. E é desta mistura que a cidade se forma, e foi esta combinação entre o mais antigo e o mais recente, que fomos encontrando enquanto percorríamos os trajetos que aqui se assinalam:
Começámos pela Place de la Republique, junto a um dos canais que atravessa a cidade, onde se encontra um parque de estacionamento que pode servir de base para quem venha de carro, embora tenhamos preferido deixar o carro no hotel, que não era muito longe do centro.
Nessa zona, ao longo do canal La Vilaine, encontramos o imenso edifício clássico do Museu de Belas Artes. Para quem gosta de visitar museus, este será um lugar a não perder, pois apresenta uma coleção rica e muito eclética, com obras da cultura bretã, e outro tipo de obras que vão desde a antiguidade egípcia até à atualidade.
Possui também uma exposição permanente com grande importância regional, chama-se “Bretagne est univers”, e apresenta vários registos da história desta região, com a exposição de mais de 2.300 objetos, ou uma sequência de vídeos sobre a mesma temática.
Apesar do interesse que este museu aparenta ter, não incluímos a visita ao seu interior nos nossos planos de viagem, na verdade, preferimos sempre despender o nosso tempo a conhecer a palpitação das cidades em vez de nos fecharmos num museu, a menos que se trate de um museu imperdível, mas este não seria o caso… por isso limitámo-nos a apreciar as bonitas fachadas do edifício.
Ao nos afastarmos um pouco do canal chegamos junto à Igreja de Saint-Germain. Esta igreja resulta da evolução de uma igreja primitiva do século XII, tendo sido reconstruída a partir da década de 1450, no chamado estilo gótico extravagante.
Depois de séculos de história com várias guerras que destruíram parcialmente esta cidade, a igreja de Saint-Germain preserva ainda os seus imensos vitrais, que são os mais antigos da cidade de Rennes.
Saindo da praça Saint-Germain, onde fica esta igreja, em direção a Oeste, vamos chegar à Place Pasteur, onde existe um conjunto monumental associado ao Palais Saint-Georges, que além do próprio palácio inclui ainda o edifício das piscinas e os jardins do palácio.
Neste local, já no exterior das antigas muralhas da cidade, existia uma abadia beneditina que foi fundada no século XI pelo duque Alain III. O palácio só foi construído mais tarde, já no século XVII, sob a liderança de Magdeleine de la Fayette, e hoje é um edifício público com alguns serviços da cidade. Juntamente com o palácio foi também construído um bonito jardim francês que realça a arquitetura deste local.
Ao lado do palácio ergue-se uma outra obra do mesmo conjunto, trata-se da Piscina de Saint-Georges, um monumento emblemático construído em 1926, com uma fachada que é claramente Art Déco e com uma decoração interior que utiliza o mosaico como principal revestimento.
Este edifício foi feito para dotar a cidade de uma piscina para tratamentos termais e para a prática desportiva, mas mais recentemente ganhou o estatuto de monumento histórico e foi classificado como tal no ano de 2016. Podemos apreciar o edifício do lado de fora, ou entrar para visitar a piscina, ou poderíamos até ir lá nadar, aproveitando uma envolvente que nos levaria a um ambiente de época que só conhecemos do cinema… mas ficámo-nos só pelo exterior, neste caso, confesso, com alguma pena.
Continuando o nosso percurso passámos depois junto de um dos edifícios públicos mais importantes de Rennes, o Parlamento da Bretanha. Trata-se de uma importante construção que faz parte do património da cidade, e foi projetado por Salomon de Brosse, o mesmo arquiteto que fez o Palácio do Luxemburgo de Paris.
Durante vários séculos eram realizadas neste edifício as reuniões parlamentares da Bretanha, até que a Revolução Francesa pôs fim a essa prática. Mais tarde, em 1994, o edifício foi totalmente destruído por um incêndio, sendo em seguida completamente restaurado e, atualmente, acolhe o Tribunal de Apelação de Rennes.
A próxima paragem aconteceu na Place du Champ Jacquet, uma simpática praça triangular com um conjunto de casas em enxaimel bem conservadas.
Bem no centro da praça vamos encontrar uma estátua de Jean Leperdit, membro do comité de segurança daquela época. A função deste personagem do século XVIII era entregar as listas de pessoas que iriam para a prisão ou que eram condenados à pena de morte.
Mas nem sempre foi assim que funcionou e a estátua que encontramos nesta praça representa o ato de rebeldia em que Jean Leperdit terá recebido uma lista do governo com os condenados e a rasgou por não concordar com ela. Após esse episódio ele veio a tornar-se politicamente interventivo e, mais tarde, chegou mesmo a ser eleito presidente da Câmara de Rennes, cargo que desempenhou ao longo da década de 1790.
Seguindo depois pela rua com o nome desta figura local, a Rue Leperdit, chegamos à Place Sainte-Anne. Localizada ao Norte do centro histórico, esta praça é um dos corações palpitantes da vida de Rennes, e um dos lugares favoritos para jovens, estudantes e turistas, que escolhem este local para um passeio ou uma bebida ao ar livre. A praça forma um conjunto bastante bonito com as suas esplanadas e, sobretudo, com as casas medievais em enxaimel, que são a sua marca inconfundível.
A praça tem uma imagem muito evidente do seu passado, na Idade Média, mas ao longo dos séculos foi sofrendo várias alterações, principalmente quando, já no início do século XX, se procedeu à demolição de alguns dos edifícios da envolvente para a construção de uma nova igreja, a Basilique Notre-Dame de Bonne Nouvelle.
A basílica destaca-se pela altura da sua cobertura, em forma de cruz, mas é ainda um monumento inacabado, cuja construção durou quase 20 anos, tendo sido interrompida devido às obras do metropolitano nas imediações, aguardando-se ainda pela sua conclusão. Apesar disso, o seu interior é bastante bonito, sobretudo pelos seus vitrais, muito comuns nas igrejas desta zona de França.
As típicas casas de enxaimel dispõem-se por vários locais da cidade, não só nas praças do Centro Histórico por onde já passámos, mas também noutras ruas da cidade, como é o caso da Rue Saint-Michel, por onde continuámos no trajeto seguinte até à praça do mercado.
A Place des Lices é uma das praças mais populares da cidade desde a época medieval, quando esta praça era um lugar fechado onde se disputavam torneios de cavalaria.
Atualmente a praça serve de palco ao mercado que acontece aos sábados pela manhã, que é considerado como um dos mais bonitos e um dos maiores mercados da França. É chamado de Marché de la Place des Lices e conta com mais de 300 produtores locais e uma grande diversidade de produtos, incluindo queijos, legumes, frutas, peixes e crustáceos e artesanato típico da Bretanha, além do belo mercado de flores, que é a principal referência deste lugar.
Apesar de termos ali estado numa manhã, não era um sábado, e o mercado encontrava-se fechado… foi pena.
Na proximidade desta praça encontram-se algumas das atrações da cidade, como as Portes Mordelaises, que faziam parte das antigas muralhas de Rennes. No século XV esta era a principal porta de entrada na cidade e desempenhava um papel importante, era por este portão que os duques, duquesas e bispos faziam as suas entradas triunfais na cidade, sob os aplausos da multidão.
Com uma arquitetura militar medieval, as Portes Mordelaises são um símbolo importante da cidade de Rennes, pois a independência da Bretanha foi jurada nesse mesmo local. Vale a pena dar uma espreitadela à volta para ver de perto os detalhes dessas portas emblemáticas e encontrar também os vestígios arqueológicos romanos que ali se encontram.
Logo ali muito perto, ergue-se a Catedral Saint-Pierre, uma igreja de estilo gótico que foi construída entre 1780 e 1844 e é a mais importante de toda a cidade.
Junto a esta Catedral, que fica encaixada nas ruas apertadas da cidade-velha, temos alguma dificuldade em conseguir apreciar a sua silhueta completa, com as duas torres que chegam quase aos 50 metros de altura, e que até podem ser vistas de longe com mais facilidade.
Esta igreja está intimamente ligada à história dos duques da Bretanha, que ali foram coroados. O edifício atravessou vários séculos e sofreu inúmeros danos e algumas mudanças de estilo, tanto na arquitetura exterior como na decoração interior. No princípio do século XX, em 1906, esta catedral foi classificada como monumento histórico, mas, depois disso, ainda se verificaram alguns danos decorrentes do período de ocupação nazi e da posterior libertação pelas forças aliadas.
No interior da igreja podemos admirar os seus vitrais majestosos, o altar romano, as pinturas que decoram o belíssimo teto abobadado e um extraordinário órgão do século XIX.
O caminho seguinte levou-nos até Place de Saint-Sauveur, onde encontramos uma igreja com o mesmo nome, a Basilique Saint-Sauveur.
Um pouco depois, chegámos à Place de la Mairie, a praça principal da cidade, onde encontrámos o edifício da Câmara Municipal, o chamado Hotel de Ville, como são conhecidas as Câmaras Municipais nas cidades francesas. Este edifício foi construído em 1720 e é composto por três monumentos ligados por uma torre de relógio.
Logo em frente encontra-se a belíssima Ópera Rennes, com a sua arquitetura neoclássica, e a particularidade de ser um pequeno edifício, é mesmo uma das mais pequenas óperas francesas.
Para conhecer o interior do prédio pode-se reservar entradas para assistir a uma ópera ou então aproveitar a programação aberta ao público, que é oferecida algumas vezes por ano.
Nesta praça estamos de novo próximos do local onde começámos a nossa caminhada às primeiras horas da manhã, junto à Place de la Republique e ao Canal La Vilaine.
De seguida vamos ainda passar pela Chapelle Saint-Yves, uma pequena capela que foi renovada no século XV para ser utilizada como um hospital, antes de ser convertida numa loja de ferragens já no século XIX.
Um pouco depois, chegámos de novo às margens do canal e à Place Maréchal Foch, em memória ao Marechal francês, herói da Primeira Guerra.
Terminámos aqui esta visita à capital da Bretanha, uma cidade que não nos fascinou, em parte porque não é extraordinariamente bonita, mas também porque estava um dia muito cinzento e meio chuvoso e isso torna sempre as cidades mais feias e menos animadas… talvez tenha sido isso. Mas parece-me que Rennes ficará sempre aquém de nos poder maravilhar, não tem a imponência de uma grande cidade, nem é suficiente acolhedora como as vilas mais pitorescas que já encontrámos nesta viagem pelo Norte de França. Não deixa de ser um local de paragem obrigatória, até por ser a capital da Bretanha, mas fica-se por aí.