sexta-feira, 14 de abril de 2023

Saint-Malo


Começámos a nossa visita a esta cidade bretã junto à Plage du Sillon, um extenso areal que começa perto do Casino Barbieri e que se estende por 3 km de areia branca, numa praia imensa, mas com uma aparência ventosa e gelada… curiosamente fez-nos lembrar as imagens das histórias da Anita, ou Martine, aqui em França... alguns saberão de que é que eu estou a falar.
Mas se nos deslocarmos ao longo da marginal e olharmos na direção oposta, já não vamos encontrar o ambiente da Anita na Praia, mas sim a silhueta de uma cidade fortificada, a fazer lembrar um imenso castelo medieval.
Apesar de ser abril e o tempo estar meio invernio, com a maré vazia a praia até parece acolhedora e pacífica. Isso não acontece sempre e este oceano às vezes invade a imensa marginal e carrega sobre os edifícios, por isso vamos encontrar uma paliçada que protege a muralha e que é uma imagem de marca desta praia.

Mas esta cortina de troncos de árvore cravados na areia, concebida para amortecer a energia das ondas que galgam as muralhas da marginal, pouco podem fazer quando o mar está realmente bravo, como aconteceu nesta situação assustadora que ocorreu em 2020.
No início desta praia encontra-se uma pequena ilha onde se ergue a fortaleza icónica desta cidade, o Fort National.
O Forte é um monumento histórico feito em granito que foi mandado construir no ano de 1689 pelo marquês de Vauban, um arquiteto militar francês, e por Siméon Garangeau, um engenheiro militar.
O objetivo desta fortificação era garantir a proteção de Saint-Malo, devido a uma história de insegurança ligada aos saques dos navios corsários. Este passado histórico é comentado durante a visita que pode ser feita a este recinto, mas que só acontece nos períodos de maré baixa, quando uma língua de areia permite o acesso a este monumento.
Entrámos na cidade velha pela zona junto ao Forte National, onde termina a Plage du Sillon, e se ergue o enorme castelo da cidade, o Château de Saint Malo ou Château de la Duchesse Anne.

Saint-Malo tinha sido cedida pelo duque da Bretanha ao rei da França em 1395, mas foi devolvida em 1415 pelo rei francês Carlos VI ao Duque Jean V, seu próprio genro. Pouco depois, em 1424, terá sido iniciada a construção do que viria a ser o futuro castelo, e foi erguida a sua torre principal, chamada de Grande Masmorra, ou Grand Donjon.

O castelo é composto por quatro torreões ligados entre si por muralhas, e no interior eleva-se o edifício mais alto, o Grand Donjon. Do lado de fora só conseguimos observar a silhueta do castelo, com as suas muralhas, os seus torreões e a grande masmorra.

Foi nesta zona do castelo que entrámos na cidade muralhada, seguindo através da Porte Saint-Vincent que nos levou até à Place Chateaubriand.
Esta praça está cheia de restaurantes e aproveitámos para um almoço rápido, onde experimentámos uma das especialidades bretãs, a Galette, que é um crepe salgado tradicional, com massa de trigo confecionada de forma a apresentar uma consistência crocante. A versão mais típica deste prato bretão, que é chamada de gallette complet, é recheada com queijo Ementhal, presunto e ovo, mas encontram-se também outras combinações de recheios.

Depois de um almoço aconchegante, numa altura em que também serviu para nos abrigarmos da chuva, o sol voltou a espreitar e continuámos a visita à cidade muralhada, seguindo pelas próprias muralhas ou descendo até às ruas e passando pelos vários pontos de referência que estão assinalados neste mapa:
 
Ainda na proximidade da praça dos restaurantes encontramos o típico Hotel de Ville, que em França é o edifício da Câmara Municipal e que, neste caso, está completamente integrado nas muralhas.
Umas das principais referências desta cidade são mesmo as próprias muralhas que contornam todo o centro histórico junto ao mar, são as chamadas Les Remparts de Saint-Malo.

São muros altos e largos que percorrem toda a cidade ao longo das suas casas, passando por torreões e por algumas portas, onde se encontram escadarias por onde é possível descer ou subir.


Sobre estas muralhas, que percorrem todo o contorno da cidade velha numa extensão de cerca de dois quilómetros, podemos fazer uma caminhada enquanto vamos observando as bonitas imagens que nos vão sendo oferecidas.

Do lado continental, são visíveis as bassins artificiais que são usadas como marinas, mas as melhores paisagens são indiscutivelmente aquelas que nos mostram o mar, com vistas sobre as praias e as ilhas de Saint-Malo.

Ao longo das muralhas vamos encontrando algumas estruturas e edificações notáveis, como é o caso do chamado Bastion de la Hollande, ou Fortaleza Holandesa, uma plataforma fortificada por onde passámos no nosso percurso ao longo das muralhas.

Esta parte da fortaleza foi feita no século XVII para proteção face aos ataques a que a cidade estava sujeita, e foi destruída e reconstruída várias vezes ao longo da sua história, mas ainda se ergue orgulhosamente, sobranceira à cidade e ao mar, e oferecendo, ainda hoje, uma vista deslumbrante sobre a baía… mostrando a Plage de Bon-Secours, com a enorme piscine d'eau de mer, e as duas ilhas logo em frente, a Grand-Bé e a Petit-Bé.

Já do outro lado da baía dá ainda para observar a zona balnear que fica em frente, em torno da cidade de Dinard, que é um dos lugares interessantes da Bretanha que não conseguimos visitar.

Na parte final da muralha do lado do mar ergue-se o Torreão de Bidouane, sob o qual se encontra um passadiço que avança pelo mar, o chamado Môle des Noires.

Este passadiço permite-nos caminhar até ao seu extremo onde está um pequeno farol, e de onde pudemos apreciar as belíssimas imagens panorâmicas da silhueta da cidade velha.

Depois de apreciarmos demoradamente este extraordinário skyline de Saint-Malo, entrámos no centro da cidade velha através da Porte de Dinan e seguimos pela Rue Broussais até à Catedral de Saint-Vincent.

Desde há vários séculos que na torre desta catedral, todas as noites às 22h, são tocadas as badaladas do toque de recolher. Trata-se de uma tradição que vem das épocas em que este sinal assinalava mesmo o fecho dos portões da cidade muralhada, como forma de proteção.
A arquitetura da Catedral de Saint-Vincent testemunha a história e carrega a marca de todas as épocas pelas quais passou, sabendo-se que foi construída ao longo de mais de sete séculos.

Inicialmente, a catedral era apenas uma simples igreja monástica, até que em 1146 se transformou numa catedral. Mas só entre os séculos XV e XVIII é que foram feitas as obras que transformaram este monumento na igreja que hoje encontramos.

Já a torre sineira, bombardeada pelos alemães em 1944, foi reformada recentemente, em 1972, o que faz desta catedral o monumento mais antigo e, simultaneamente, o mais moderno desta cidade.
No interior encontramos uns bonitos vitrais, como aliás é comum nas mais importantes igrejas das cidades francesas.

Depois da visita à catedral continuámos mais algum tempo pelas ruas do centro histórico, como a Rue Porcon de la Barbinais e a Rue Jacques Cartier, com algumas zonas muito animadas, cheias de lojas e restaurantes, com as suas esplanadas a começarem a ficar preenchidas.

Desta vez, e para terminarmos em beleza a nossa visita a esta belíssima cidade, quisemos experimentar uma guloseima que é uma especialidade local. 
Chama-se Kouign Amann e é um ninho de massa laminada estaladiça que foi previamente pincelada várias vezes com manteiga e embebida numa calda açucarada, e depois levada ao forno… uma autêntica bomba calórica altamente enjoativa, ou seja, excelente!

Continuámos a descer a região da Bretanha, desta vez num curto percurso de cerca de 30 km até à pequena cidade de Dinan, que seria o próximo local de visita.