quarta-feira, 12 de abril de 2023

Honfleur e Trouville-Sur-Mer


Honfleur

Vindos da parte Norte da região da Normandia passámos junto à cidade de Le Havre, que não quisemos visitar, pois, por aquilo que tínhamos visto, parecia-nos uma cidade industrial e sem o requinte de outros lugares desta zona. Assim, passámos ao lado de Le Havre e atravessámos o imenso estuário do rio Sena através da fantástica Ponte da Normandia, uma construção moderna e enorme… algo que nos entusiasma, talvez por deformação profissional, e que não quis deixar de registar.
Do lado oposto do rio dirigimo-nos para perto da costa e fomos visitar Honfleur, uma pequena e bonita cidade, banhada por bacias e canais que são alimentados pelas águas do Sena, formando um porto de recreio rodeado de casas pitorescas, num conjunto perfeitamente encantador, que serviu de cenário e inspiração a muitos pintores… como é o caso da figura mais ilustre da Normandia, que nos tem vindo a acompanhar nesta viagem, Claude Monet, que entre várias obras criadas nesta região de Honfleur, fez este quadro do porto, que parece ser ainda de um período pré-impressionista.
Atualmente, ao chegamos a este mesmo porto, o cenário é ainda encantador e poderia continuar a inspirar artistas, como nos inspirou a nós durante esta visita.


O pequeno Porto Velho, ou Vieux Bassin, construído a partir do estuário do Sena durante o século XVII, está cheio de barcos de recreio e é rodeado por esplanadas bastante apetecíveis, sobretudo em dias de sol, como este.

O charme do Vieux Bassin resulta das suas casas geminadas pitorescas, que séculos atrás eram propriedade das famílias locais mais abastadas.

Foi exatamente pelo Porto do Vieux Bassin que começámos o nosso passeio pelo vilarejo, mas procurámos logo por um dos restaurantes locais, para aproveitarmos as esplanadas com vista sobre o porto, onde iriamos tomar um copo de vinho e experimentar uma das especialidades locais, os moules frites (mexilhões com batata frita)… e por ali ficámos demoradamente, aproveitando aquele momento tão apetecível.

Só mais tarde resolvemos deixar a esplanada e voltar a explorar a cidade. Para além do Vieux Bassin, iríamos percorrer aquele que é bairro mais antigo desta cidade, localizado no lado Leste do Porto, com os seus prédios dos séculos XVI e XVII, que quase nos levam a uma viagem no tempo, passando pela Église de Sainte-Etienne, e percorrendo as ruas estreitas junto aos Graniers à Sel (depósitos de sal) e à antiga prisão de Honfleur.


Trata-se de um pequeno bairro e, rapidamente, já estávamos de volta ao Porto Velho, passando agora junto à Place de l'Hôtel de Ville, com o edifício monumental da Câmara Municipal e, logo em frente, encontramos um outro edifício notável, o La Lieutenance, que acolhe atualmente um centro de interpretação da arquitetura e do património marítimo.

Mas o que realmente nos atrai em Honfleur não são os edifícios históricos, mas, sobretudo, o enquadramento do Porto com as suas casas pitorescas, e foi por aí que nos mantivemos a maior parte do tempo, apreciando sempre o a paisagem magnífica que nos é oferecida.
Depois de mais algum tempo apreciando o charme e o encanto envolvente do Vieux Bassin, seguimos então para centro mais povoado da cidade, que fica a Oeste do Porto, onde atravessámos algumas ruas estreias com as típicas casas de enxaimel ou de tijolo.
      

Até que chegámos a uma praça grande rodeada por casas de enxaimel, onde decorre um mercado de rua e onde se ergue a maior igreja da cidade, a Église Sainte Catherine. Foi também nesta praça que encontrámos uma torre do relógio com uma imagem peculiar, com traços evidentes do período medieval.



E voltámos de novo até ao porto para contemplar uma última imagem de despedida deste local tão bonito. Honfleur é um destino para ser explorado com calma, onde a principal atividade será simplesmente passear sem qualquer stress ou parar para degustar algumas das especialidades locais. Por isso, recomendo uma nova paragem noutra esplanada, para mais um copo de vinho branco ou rosé, muito fresquinho, que acompanhará, desta vez, uma das especialidades desta região, as ostras.

O próximo destino era agora a zona balnear de Trouville-Sur-Mer.


Trouville-Sur-Mer

Chegando a Trouville-Sur-Mer estacionámos perto de um dos edifícios de referência deste local, o Casino Barrière, um monumento que revela na perfeição as influências originais da Belle Époque.
Trouville-Sur-Mer é uma estância balnear que faz parte da cidade de Deauville, e que deve uma parte da sua reputação ao encanto do seu porto de pesca. Começámos justamente por apreciar essa zona do porto, onde ancoram alguns barcos de pescadores, revelando paisagens bonitas do próprio cais do porto, ou quando se observa do lado oposto, enquadrado com a silhueta do Casino.

Junto ao porto de pesca encontra-se o típico Marché aux Poissons, construído em 1935. O mercado do peixe é um lugar emblemático e um dos destaques deste lugar, e o que lhe dá fama de ter uma excelente gastronomia, que resulta, naturalmente, da abundância dos produtos do mar, que ali são uma especialidade. Poderemos comprar no mercado algumas dessas iguarias, ou talvez seja mais fácil tentarmos experimentá-las num dos muitos restaurantes na envolvente do porto, alguns deles ocupando os edifícios clássicos que se encontram nesta zona.


Em frente ao canal que alberga o porto de pesca, fica todo o complexo de marinas de recreio de Deauville, as chamadas Bassin des Yachts. Nos dois lados da ponte levadiça que está no acesso ao Quai de l'Impératrice Eugénie, encontram-se uns edifícios novos, onde existe um belíssimo restaurante e onde se erguem duas torres que fazem lembrar dois faróis, uma delas serve como casa das máquinas para a elevação da ponte e a outra é visitável pelo público, permitindo observar uma vista panorâmica de toda a envolvente.
Continuámos a percorrer as ruas desta zona do porto de pesca, como o Boulevard Fernand Moureaux ou a rua Vitor Hugo, onde, além dos muitos restaurantes que ali encontrámos, existem também alguns edifícios notáveis pela sua fantástica arquitetura, como é o caso do edifício da Câmara Municipal, que em França é chamado de Hotel de Ville.

Este charmoso local atrai muitos turistas, sobretudo franceses, durante a época balnear… o que não foi o caso da nossa visita, que aconteceu em abril. Mas, no verão, as praias vão estar cheias e as ruas, e os cafés e restaurantes, ficarão completamente preenchidos, quer de dia quer à noite… e foi pena não termos tido oportunidade de apreciar esta vila quando está em pleno, que seria certamente muito mais interessante.

De qualquer forma, não deixámos de visitar a imensa praia de Trouville-Sur-Mer, mesmo sabendo que a iriamos encontrar praticamente deserta. Saímos então da zona do porto e seguimos na direção da praia, que não deixa de ser a principal atração deste local, passando de novo junto ao Casino Barrière, e voltámos a ter a oportunidade de apreciar os seus traços característicos da Belle Époque, agora do lado da sua fachada principal.
Chegando à praia encontrámos um extenso areal, a Grande Plage de Trouville, que até é de areia branca, mas com algum cascalho à mistura. Já se sabe que não contava encontrar uma praia apetecível numa zona destas do Norte de França, em que, para além da qualidade duvidosa das areias, é também fustigada pelos ventos do Canal da Mancha, e imagino só a temperatura da água… estas praias da Normandia são muito melhores para desembarques militares do que para ir a banhos.
Ainda assim, e por falta de melhor, os franceses aproveitam aquilo que têm e, no Verão, esta praia estará cheia de gente em busca de banhos de sol e de mar.

Mas a praia tem outros encantos, desde logo todo o conjunto de edifícios notáveis que ocupam a linha marginal, e o imenso o calçadão de pranchas que já existe desde 1867, o que faz dele o primeiro passadiço da costa da Normandia, e que é chamado de Promenade des Planches ou Promenade Savignac, em homenagem a Raymond Savignac, um dos pintores que escolheu este local para viver e pintar.
Caminhámos estão ao longo deste passadiço de madeira enquanto íamos apreciando as casas de luxo que ali se encontram, com um aspeto imponente, mas, algumas delas, mantendo a arquitetura pitoresca desta zona da Normandia, com as fachadas em enxaimel ou em tijolos, a fazer lembrar a idade-média.

O encanto e autenticidade deste conjunto formado por um extenso areal, com o mar ao fundo, e todo um alinhamento de casas apalaçadas que mantêm a imagem típica de uma Normandia clássica, tem sido, ao longo dos anos, uma fonte inesgotável de inspiração para muitos artistas.

Encontram-se caminhos tranquilos com pequenos recantos e paisagens bucólicas que levaram alguns pintores a retratá-las, mas também alguns escritores a escreverem sobre este local.

É o caso de Marguerite Duras, que gostava de ser chamada de Marguerite Duras de Trouville, disse ela, depois de descobrir esta aldeia marítima aos 17 anos e de se ter apaixonado imediatamente por ela, o que a levou a comprar uma casa onde se refugiava sempre que queria fugir de Paris, e onde terá escrito grande parte da sua obra. Atualmente encontramos uma imensa escadaria que liga a praia à Rue Général Leclerc, a rua dos edifícios da marginal, e que é chamada de Escalier Marguerite Duras.

E quanto aos pintores, e ao seu trabalho em torno de Trouville-Sur-Mer, vou escolher de novo o impressionista Claude Monet, que nos tem acompanhado nestes últimos dias… perante a mesma paisagem que apreciámos junto ao calçadão, Monet imortalizou a imagem captada em mais uma das suas obras.


Terminámos, quase como começámos, ainda a referência aos impressionistas que sempre me fascinaram e que, nestes locais cheios de charme e encanto, sempre encontraram fontes de inspiração para a sua arte.


Este percurso, saindo de manhã de Étretat e percorrendo, durante o dia, Honfleur e Trouville-Sur-Mer, está representado no mapa seguinte, onde se assinalam os trajetos feitos de carro, mas também as caminhadas feitas na visita a estes dois locais da costa da Normandia:
 

O destino seguinte seria agora o conjunto de praias do desembarque dos aliados, durante a Segunda Guerra Mundial.