Neste dia fizemos um novo trajeto pela Bretanha, saindo de manhã da capital, a cidade de Rennes, e visitando três das atrações desta região.
O mapa seguinte mostra o percurso realizado de carro, num total de 140 km, e identifica também os locais que visitámos a pé nas paragens efetuadas.
Josselin
A primeira paragem aconteceu a cerca de 80 km de Rennes, na pequena aldeia de Josselin, que é conhecida pela sua principal atração, o Château de Josselin, que conseguimos contemplar a partir da margem oposta do rio Oust, que mostra uma imagem bastante bonita.
Este castelo pertence há mais de 500 anos à família Rohan e, mesmo nas duas ocasiões em que foi demolido, os proprietários conseguiram reerguê-lo após cada um desses eventos.
A história do Chateau de Josselin atravessa vários séculos desde que começou a ser construído em 1173. Dois séculos depois, em 1370, o castelo foi significativamente reforçado com a construção de várias torres defensivas e também com a ampliação das habitações.
Em 1488 ocorreu o primeiro evento que levou à sua destruição, quando o castelo foi retirado ao seu dono, João II de Rohan, e foi parcialmente demolido por ordem do duque da Bretanha, François II, apenas porque a família Rohan, apoiava os franceses.
Mas, no final do século XV, o castelo haveria de ser reconstruído, de novo pela família Rohan, desta vez com a criação de uma grande ala para uso residencial, executada em estilo renascentista.
No século XVII, a família Rohan mudou-se de Josselin devido às guerras religiosas que ocorriam em França, quando Henrique II de Rohan liderou os protestantes contra o rei. Como resultado deste envolvimento, o Cardeal Richelieu, figura destacada da coroa francesa... e personagem do nosso conhecido Dartacão, ordenou a destruição de uma parte substancial do castelo e, dessa vez, a torre de menagem e três das nove torres do castelo foram destruídas, embora a parte renascentista tenha sido poupada.
Durante os 200 anos seguintes, o castelo de Josselin caiu no abandono, piorando o seu estado de conservação. Nesse período foi ainda usado como prisão, o que ainda agravou mais a sua condição.
Só mais tarde, em 1835, por ordem do então Duque de Rohan, voltaram a ser feitas novas obras de reconstrução e renovação, obras essas que continuaram durante quase um século, até à sua reabertura no ano de 1930.
Toda esta história de altos e baixos durante vários séculos, faz com que o castelo apresente atualmente os vestígios daquilo que sobrou das suas origens, mostrando ainda hoje as diferenças entre os períodos e os estilos de construção, que são visíveis consoante o lado de onde se olha para o castelo… com torres fortificadas voltadas para o rio e uma fachada decorativa voltada para a zona interior, junto ao imenso jardim francês que envolve este lado do castelo.
Ao nos afastarmos do curso do rio, subindo na direção da aldeia, encontramos um centro histórico muito pequenino, mas bonito, onde se destacam as típicas casas medievais em enxaimel.
Um dos lugares com maior concentração destas típicas casas da Idade Média é a Place Notre Dame, que nos parece corresponder ao centro de Josselin.
Mas esta praça não tem só casas antigas com ripas de madeira e, pelo próprio nome, ainda antes de lá chegarmos, já tínhamos percebido que seria ali que se encontrava a maior igreja da aldeia e, na verdade, é logo ao lado da Place Notre Dame que encontramos a Basilique Notre Dame du Roncier.
Esta igreja, que é como uma catedral, destaca-se pela sua grandeza e pela sua imensa torre sineira, que contrasta com o centro da aldeia que é tão pequeno.
No interior, a Basílica esconde alguns tesouros, como estátuas, um grande órgão e uns magníficos vitrais.
Um outro monumento com relevância nesta aldeia é o Mairie de Josselin, um edifício clássico onde funciona a Câmara Municipal.
Logo em frente deste edifício fica a Rue des Vierges, mais uma rua pitoresca, talvez seja mesmo a rua mais bonita de toda a aldeia, com várias casas em enxaimel pintadas de cores vivas.
Se tivéssemos mais tempo poderíamos visitar o castelo e os seus jardins, mas tínhamos outros planos, não só para este dia, mas também para esta viagem, que iria incluir outros castelos mais grandiosos.
Seguimos então um pouco mais de 50 quilómetros até à próxima paragem na cidade de Vannes.
Vannes
A cidade de Vannes está localizada junto ao Golfo de Morbihan, ao Sul da Bretanha, no estuário do rio Marle, e foi fortificada ainda nos tempos dos romanos, tendo-se desenvolvido dentro das suas muralhas durante toda a idade-média, e só depois do século XVII, a cidade foi crescendo para fora do perímetro amuralhado.
Uma das características que valorizava esta pequena cidade bretã era o facto de ter sido durante muitos anos o local da residência dos duques da Bretanha e, por isso, ter desenvolvido o seu centro histórico com muitas casas bonitas dos tempos medievais, feitas em enxaimel, das quais podemos encontrar ainda quase 200 exemplares.
Começámos a visita a esta cidade entrando por um dos seus portões, neste caso escolhemos a Porte de la Prison, que fica do lado Norte da cidade velha, junto a umas das casas de enxaimel que nos vão acompanhando por toda a nossa visita.
No interior das muralhas vamos encontrando a tal arquitetura de traça medieval que forma um conjunto bastante interessante, e vamo-nos dirigindo para alguns dos pontos mais importantes da cidade, começando pela sua principal igreja, a Catedral de Saint-Pierre.
Esta catedral foi construída em estilo gótico sobre os restos de uma antiga catedral românica. É aqui que se encontra, desde 1419, o túmulo do santo padroeiro da cidade, São Vicente Ferrier, o que faz desta igreja um local de peregrinação a caminho de Tro Breiz que, na Idade Média, celebrava os Sete Santos Fundadores da Bretanha.
Depois da visita ao interior da catedral continuámos o percurso pela cidade velha, decorada em cada recanto pelas belíssimas casas de enxaimel, que formam autênticos cartões-postais.
A cidade tem cerca de 170 casas em enxaimel, uma grande parte ao redor da Catedral e na Place Henri IV, mas, no século XV, chegaram a existir mais de 900 destas casas coloridas.
Numa destas casas em enxaimel encontra-se o casal mais famoso da cidade, que é chamado de Vannes e sa femme. Na esquina da Rue du Bienheureux-Pierre-René-Rogue com a Rue Noé, surgem no cunhal de uma das casas, os bustos esculpidos em granito e pintados com as figuras de dois personagens sorridentes, um homem e uma mulher, que representam um casal de bon vivants que parecem convidar os clientes a entrar no restaurante que fica no rés-do-chão. Estas figuras são conhecidas como o Sr. Vannes e a sua esposa.
Não é nada de especial, mas a verdade é que todos quantos visitam esta cidade acabam sempre por passar por esta esquina e tirar uma foto do simpático casal.
Uma outra zona interessante desta cidade fica nas proximidades do mercado local, o Halles des Lices, que, apesar de se poder traduzir literalmente como mercado dos piolhos, tem um outro significado, representando um terreno onde eram feitos antigos torneios. E será mais por este significado do que pela referência aos piolhos que este nome se usa frequentemente nesta zona francesa para designar os mercados da cidade… como acontece no grande mercado da capital da Bretanha, a cidade de Rennes.
Na Place de Lices vamos encontrar, para além do mercado, também um conjunto de casas com uma arquitetura do mesmo estilo medieval.
Descendo esta praça iremos atravessar o portão das muralhas que fica do lado Sul, a Porte Saint Vincent, e chegamos a um cais que funciona como marina, e que ocupa o espelho de água do estuário do Rio La Marle.
Esta zona de marina é bastante interessante e revela um ambiente completamente diferente da cidade velha. Neste local parece que estamos numa zona balnear, e vamos encontrar uma longa alameda pedonal, a Promenade de la Rabine, que acompanha uma marina cheia de barcos de recreio, numa extensão de cerca de um quilómetro, ao longo da pequena albufeira que se forma pela existência de uma represa a jusante. Em toda a envolvente desta marina o ambiente é caracterizado pela presença de velejadores que ali acoram as suas embarcações para saírem em visita à cidade.
Regressando da marina no sentido inverso fizemos um percurso pelo exterior da cidade amuralhada, seguindo sempre ao longo do Rio Marle, que aqui corre num estreito curso de água que atravessa uma bonita zona de jardins encostada às muralhas.
Nesta altura fomos forçados a fazer uma pausa, que aproveitámos para almoçar, mas foi sobretudo para esperamos até que uma intensa chuvada passasse… às vezes a chuva teima em nos acompanhar, mas depois desta paragem o sol abriu e voltámos de novo à zona com jardins e com muralhas.
Ainda antes de percorrermos esta parte onde as muralhas ganham uma particular beleza pela proximidade dos jardins, parámos junto ao Château de l'Hermine. Trata-se de um palácio privado do final do século XVIII, que se encontra integrado nas muralhas e em frente a um imenso jardim francês, por onde passa o Marle.
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Continuámos então junto ao rio observando o jardim e as muralhas, as chamadas Remparts de Vannes, que mantêm ainda uma parte das antigas fortificações com os seus portões e as suas torres.
Uma primeira cerca foi erguida pelos romanos no século III, mas foi no final do século XIV, sob o reinado de D. João IV, que as muralhas foram consolidadas e ampliadas para proteger a população.
Mais tarde, Luís XIV não se preocupou em preservar o património arquitetónico da cidade e mandou retirar uma parte das muralhas para vender as pedras e financiar as suas guerras.
Felizmente, algumas torres e baluartes sobreviveram, como é o caso da Torre Calmont que tem todas as características de um portão medieval para a passagem de carros e de peões.
E, atualmente, o conjunto de muralhas e jardins junto ao curso de água do rio Marle, é indiscutivelmente um dos locais mais bonitos da cidade de Vannes, e foi por aqui, contemplando estas paisagens, que finalizámos a nossa visita à cidade.
Ainda no caminho de retorno até ao centro da cidade voltámos a observar a Catedral de Saint-Pierre, que agora se apresentava com mais luz e mais cor, pois o sol já brilhava por detrás das nuvens… e não resisti a mais uma fotografia.
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Voltámos à estrada e fizemos agora os 30 km que nos separavam do próximo destino, o site arqueológico chamado de Les Alignements de Carnac.
Alinhamentos de Carnac
A maioria das pessoas já ouviu falar de Stonehenge em Inglaterra, onde pedras gigantescas alcançam o céu e rochas imensas estão empoleiradas, umas em cima das outras… nós próprios já lá estivemos e pudemos testemunhar a importância daquele local. Mas tal como naquele site de menires megalíticos, também aqui em Carnac, será necessário fazer o trabalho de casa para obter alguns conhecimentos básicos, antes de visitar o local… e foi o que fizemos.
Menos conhecidos do que os seus vizinhos ingleses, os Alinhamentos de Carnac constituem a maior coleção de menires megalíticos do mundo, num extenso campo irregular com montes de pedras de vários tamanhos e dispostas segundo diferentes geometrias, que os arqueólogos tentam justificar ao longo de muitos anos de estudo.
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O site megalítico de Carnac inclui um complexo composto por 3000 pedras dispostas em pé e espalhadas por 100 hectares. Segundo os arqueólogos, as pedras são do período neolítico e estão no local desde o ano 3500 aC. Ao contrário de outros sítios megalíticos, onde as rochas foram trazidas de grandes distâncias, o que constitui um imenso mistério, as pedras de Carnac têm uma origem mais verossímil, foram cortadas do granito do próprio local e erguidas pelos povos pré-celtas da região da atual Bretanha.
Mas o mais notável neste site de Carnac são alguns alinhamentos extraordinários, longas filas de linhas paralelas de pedras na vertical, que só revelam o seu real impacto quando observados do ar, ou vistos com o auxílio de um drone. Quem observa ao nível do terreno não terá a mesma perceção, mas ainda consegue ver a grandeza destas filas imensas de pedras.
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Mas voltando ao início da nossa visita a Carnac, quando chegamos, encontramos uma região balnear que, durante o Verão, estará cheia de banhistas que procuram as praias desta região, como é o caso da Grande Plage de Carnac. Mas em pleno abril as praias estão vazias e, embora se sinta a onda balnear, nesta altura a principal atração é mesmo o site arqueológico, que até é acessível gratuitamente de outubro a março, e só durante a temporada alta, de abril a setembro, é que as visitas são pagas e com acompanhamento de guias.
Em abril ainda não era verão, mas já tivemos de pagar… e foi assim a nossa visita, começámos no Centre des Monuments Nationaux, uma espécie de centro interpretativo e museu que apresenta uma retrospetiva arqueológica da zona e também um espólio proveniente das numerosas sepulturas megalíticas da região.
Depois disso fizemos a nossa visita seguindo num minibus aberto, que nos levou ao longo dos locais mais importantes deste complexo, enquanto nos era relatada a história e as teorias associadas a cada parte deste site.
Apesar da história contada ir identificando diferentes locais e com diferentes significados, a mim pareceu-me tudo mais ou menos igual… basicamente pedras, embora conseguisse distinguir as chamadas antas, antigas sepulturas que conhecemos desde a escola primária.
Tirando essas campas megalíticas o resto eram apenas conjuntos de pedras que são aqui associados a três grupos de alinhamentos. O de Kermario, composto de 10 linhas representando um total de 982 menires, e que será o mais bonito e conhecido dos grupos. O de Menec que compreende 11 linhas e 1100 menires alinhados ao longo de 1,2 km. Por fim o alinhamento de Kerlescan, totalizando 540 menires repartidos por 13 linhas; na sua extremidade encontra-se um cromeleque de 39 menires, bem como um grande menir, chamado de "Gigante do Manio", com 6,5 m de altura.
Sinceramente, não consegui distinguir as fotos que tirei em cada uma destas zonas, e sei que não passámos perto do tal menir gigante, por isso deixo aqui algumas fotos de forma aleatória e sem grande contexto.
A origem deste site é ainda um mistério para a comunidade de arqueólogos, que concordam com o facto do espaço representar um esforço de organização notável daquelas civilizações, mas hesitam em propor uma interpretação mais definitiva, embora pareça evidente que estas pedras estarão associadas a celebrações religiosas e ao culto dos mortos.
Mas as Pedras de Carnac podem também ter funcionado como um conjunto de marcadores astronómicos, indicando as estações do ano e orientando os agricultores a semear e a apanhar as suas colheitas.
Mas apesar de tantas ligações transcendentais, não consegui captar qualquer tipo de mística ou ligação enigmática… só pedras e não mais que pedras por todo o lado, foi tudo quanto vi.
Algumas lendas explicam a existência dos alinhamentos de Carnac, sendo a teoria mais recente, e que é compartilhada no centro de visitantes, a que explica que quando os povos neolíticos se começaram a tornar mais sedentários, foram depositando pedras, criando assim recintos sagrados.
Uma outra história, mais romântica, mas menos provável, conta que, quando um exército romano invadiu estes terrenos, o mago Merlin, nosso conhecido das lendas de Excalibur, terá transformado todos os soldados em pedra, que por ali ficaram até aos dias de hoje.
Saindo deste complexo megalítico podíamos ainda ter visitado algumas das típicas praias desta zona da Bretanha, antes de seguirmos depois até Nantes, já fora da Bretanha, onde iriamos jantar e dormir. Mas, tal como já tinha referido ao longos destas crónicas, não explorámos devidamente esta zona da costa bretã, talvez porque nos terá faltado mais um dia para essas visitas, ou talvez tenhamos tomado essa opção, pois estamos bastante bem servidos aqui em Portugal de praias e zonas costeiras, sempre bem mais bonitas do que as do Norte de França.