domingo, 9 de abril de 2023

Percurso 6 – Le Marrais


Situado no coração histórico de Paris, o Le Marais (que em português quer dizer o pântano) era uma zona pantanosa antes se tornar num dos bairros mais cosmopolitas e modernos da cidade.

Depois da construção da Praça Royale, que atualmente é designada por Place des Vosges, esta zona começou a atrair as classes mais altas da sociedade, que construíram residências e palacetes onde se foram instalando. Hoje em dia ainda é possível ver estes antigos edifícios que mantêm a mesma beleza original, alguns deles foram até transformados em museus, como a Casa de Victor Hugo ou o Museu Picasso.

O bairro é agora uma zona agradável e tranquila, que é também um exemplo de integração, onde vivem ou trabalham em conjunto várias comunidades distintas, para além de ser também considerado como o bairro gay da cidade.

A visita ao Le Marrais começa pela Place de la Bastille, onde chegamos de Metro. É a partir desta praça, uma das referências da cidade, pela sua história, que seguimos depois pelas ruas do bairro, percorrendo os caminhos assinalados neste mapa:
 
Era na Place de la Bastille que se encontrava a fortaleza da Bastilha, a antiga a prisão do estado francês, que foi tomada no dia 14 de julho de 1789 e destruída pela população revoltada. Este acontecimento, conhecido como a “Tomada da Bastilha” marcou o início da Revolução Francesa.

Este lugar tem um grande significado na história de França e, embora não existam grandes vestígios da antiga fortaleza, encontramos bem ao centro da praça a chamada Colonne de Juillet (ou Coluna de Julho), que foi construída mais tarde, em 1840, para comemorar a queda da monarquia. No topo desta coluna encontra-se uma escultura dourada, o Génio da Liberdade, que é mais conhecida como o "Anjo da Bastilha".
Uma outra figura importante da mesma praça é a Opéra Bastille, concebida pelo arquiteto Carlos Ott, e inaugurada para o bicentenário da Revolução Francesa, em 14 de julho de 1989. Trata-se de mais uma obra construída como parte dos grandes projetos do governo François Mitterrand, onde se incluíram também a Pirâmide do Louvre ou o Arco de La Defense, e que levaram a críticas ferozes, de quem o acusava de ter um complexo faraónico. O tempo passou e hoje as obras existem como se sempre tivessem feito parte daqueles lugares.

A Opéra Bastille é atualmente uma sala de referência para as temporadas do teatro lírico internacional, e é uma das duas salas que formam, em conjunto, a chamada Opéra National de Paris, que inclui também a outra grande sala de espetáculos da cidade, a Ópera Garnier.
A Norte da Place de La Bastille, encontra-se o Boulevard Richard Lenoir, um espaço arborizado que é frequentemente animado por um grande mercado de rua que ocupa todo o separador central.
Do outro lado, a Sul da praça, encontramos também a marina de L'Arsenal, com os seus pontões com pequenos barcos, e com jardins nas marginais ao longo de todo o Canal Saint-Martin, até à sua ligação ao Sena.
Entrámos depois na zona que é conhecida como o coração do Le Marais, que fica localizada entre o Museu Pompidou e a Praça da Bastilha, e que é atualmente considerada como Património Histórico pela UNESCO, devido aos seus bonitos edifícios históricos.

Em tempos, esta parte da cidade era frequentada pela aristocracia parisiense, mas hoje, embora se mantenham ainda as grandes mansões, esta zona transformou-se num bairro boémio e muito agitado, que mistura galerias de arte com hotéis, bares e restaurantes.

O ambiente é bastante moderno, com grandes influências artísticas, acolhendo muita gente, numa imensa diversidade cultural, e com uma presença visível da comunidade gay, não só da cidade, mas também de muitos turistas.

Mas apesar da modernidade que se respira neste bairro, a sua praça principal, a Place des Vosges, não é propriamente um exemplo da arquitetura moderna, exibindo um conjunto de edifícios com uma imagem clássica, num estilo muito peculiar, dominado pela cor do tijolo das suas fachadas. São estes edifícios, num total de 36, todos com a cor avermelhada dos tijolos, que se dispõem ao longo da periferia de um quadrado imperfeito (com 127 x 140 metros), formando a bonita Place des Vosges, o lugar mais importante do Marrais.
A praça foi inaugurada em 1612 para celebrar o casamento de Luís XIII com Ana da Áustria, e é mesmo a mais antiga praça, alguma vez planificada, de toda a cidade de Paris. Antes desta data as praças e ruas eram simplesmente materializadas no terreno, enquanto esta haveria de ser a primeira a surgir a partir dos planos de um projetista... mas diga-se que nem foi um desenho muito elaborado, nem um simples quadrado conseguiram fazer… nada disso, é só conversa minha, e a praça é lindiíssima.

No jardim que ali se forma, encontramos vários conjuntos de árvores, quatro fontes e, bem ao centro, uma estátua equestre de Luís XIII. 
Mas a sua principal atração serão os quatro espaços relvados que atraem os visitantes, quer sejam moradores ou turistas, que ocupam a relva para banhos de sol, piqueniques ou apenas para ali permanecerem aproveitando o dia.

Os edifícios nesta praça parecem-nos quase todos iguais, mas, na verdade, existem alguns que são mais notáveis do que os restantes. São os casos dos dois hotéis, que ocupam os edifícios centrais de maior envergadura, num lado o hotel Coulanges e, do lado oposto, o hotel Le Pavillon de la Reine.
         
Ainda um outro destaque na praça é o desenho sob o qual se dispõem todos espaços ajardinados e até as próprias fontes, tudo seguindo uma simetria milimétrica… os tais planos a que me referia, afinal não era só um quadrado mal feito.
Mas há ainda um outro edifício de referência, trata-se da casa de Victor Hugo, à qual será possível fazer uma visita para se conhecer um pouco mais sobre este escritor francês do século XIX, autor de algumas obras inesquecíveis, como os Os Miseráveis ou O Corcunda de Notre Dame.

A casa está perfeitamente decorada e mobiliada e poderá ser visitada, sabendo-se que o acesso às coleções do museu é gratuito, só as exposições temporárias serão pagas.
       
Saindo a Place des Vosges deixamo-nos vaguear pelo bairro do Marais, aproveitando o ambiente quase frenético que se vive nas ruas, sobretudo aos finais de tarde, com muita gente entrando e saindo de porta em porta, e aproveitando a imensa oferta de restaurantes, cafés e bares, dos mais tradicionais aos mais modernos.

Continuando pelas ruas do Marrais, vamos encontrando alguns edifícios mais sóbrios do bairro, mas encontramos também uma das igrejas católicas desta zona parisiense, a Paroisse Saint-Paul Saint-Louis.
No percurso seguinte vamo-nos dirigindo até às margens do Sena, podendo escolher o trajeto que entendermos. De qualquer forma deveremos fazer um pequeno desvio para passar próximo do Mémorial de la Shoah, que é o museu do Holocausto na cidade de Paris.

Não precisamos de entrar neste memorial, até porque as memórias sobre atrocidades praticadas durante o holocausto podem ser altamente perturbadoras, e haverá sempre quem não se sinta à vontade para fazer essa visita. Mas, do lado de fora, encontramos o "Le Mur des Justes", que é de acesso livre e se estende ao longo da rua que contorna o Memorial, e que é composto por uma espécie de um mural onde se inscrevem os nomes de mais de três mil e 900 homens e mulheres que, com risco da própria vida, contribuíram para o resgate de judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Essas pessoas receberam o título de “Juste parmi les Nations” (Justo entre as nações), que é concedido pelo Museu Memorial Yad Vashem de Jerusalém desde 1963… até o momento, mais de 24 mil pessoas em todo o mundo receberam essa distinção.

Percorrendo depois o caminho marginal, aqui designado como o Quai de l'Hôtel de Ville, podemos ainda fazer mais um pequeno desvio, desta vez para apreciarmos a bonita fachada da Église Saint-Gervais, que fica imediatamente por trás do edifício da Câmara Municipal da cidade, que se ergue na Place de l’Hôtel de Ville.

Esta igreja é pouco conhecida face a uma oferta tão rica por toda a cidade, mas é uma das bonitas igrejas de Paris, sobretudo pelos seus notáveis ​​vitrais renascentistas.
         
Haveria muito para dizer sobre esta igreja se nos quiséssemos deter na análise da arte sacra que ali se encontra exposta, mas talvez não seja a forma certa de tentar conhecer a cidade, entrando num detalhe tão apurado. Prefiro mencionar um triste acontecimento histórico ali vivido, quando, em 1918, no decurso da Primeira Guerra Mundial, um projétil alemão caiu durante o serviço da Sexta-Feira Santa, e matou quase 100 pessoas.
Voltando à margem do rio, vamos encontrando algumas bonitas paisagens, como esta onde que mostra o estreito que separa as duas ilhas que emergem nesta zona do Rio Sena, entre a Île Saint-Louis e a Île de la Cité.
Foi assim que chegámos ao fim deste percurso em que percorremos o bairro do Le Marrais. Não sendo um bairro indispensável nesta cidade, não deixo de recomendar que o mesmo seja incluído em qualquer visita a Paris, pois ali encontraremos os traços de uma vivência muito especial, que constitui uma nova face da cidade e das pessoas que a frequentam. Ali, o importante não são os testemunhos históricos que este bairro possa revelar, são sobretudo os sinais de uma nova cidade, ainda ocupando um espaço clássico, mas revelando uma mentalidade moderna que representa já a proximidade daquilo que será esta cidade nos tempos futuros.