segunda-feira, 17 de abril de 2023

Palácio de Versalhes


No fim do percurso que fizemos durante dois dias ao longo do Vale do Loire, e já que estávamos em maré de châteaux, resolvemos terminar a viagem visitando aquele que é o grande palácio de referência da coroa francesa, o Château de Versalhes.
Nas diversas viagens que fiz a Paris tinha já visitado este palácio por duas vezes e, por isso, desta vez focámo-nos apenas nos imensos jardins que, para mim, são bem mais interessantes do que o próprio château… à exceção da extraordinária Galeria dos Espelhos, que é a única referência do interior do edifício que vou incluir nesta crónica.


O Palácio

Era nesta zona florestal e pantanosa que o jovem príncipe Luís XIII caçava com o seu pai, o rei Henrique IV. Com o príncipe ainda muito jovem, com apenas 9 anos, o rei foi assassinado, e a sua mãe, Maria de Médici, assumiu a regência do trono. Nessa altura, Luís XIII preferiu distanciar-se da mãe e passar mais tempo nesta propriedade. Quando, apenas cinco meses depois, Luis XIII, já com 10 anos, assumiu o reinado de França, já tinha adquirido uma ligação a esta propriedade, dos períodos em que ali tinha estado e das suas caçadas com o pai, que já nem pensava voltar para palácio real em Paris.

Assim, logo que teve maturidade suficiente, neste caso, já com 22 anos, em 1623, ordenou a construção do primeiro grande palácio naqueles terrenos, permitindo assim a mudança da família real do antigo palácio do Louvre (o atual Museu do Louvre) para o palácio de Versalhes… podemos assim considerar que este imenso complexo foi uma criação do rei Luis XIII.
Mas o palácio que foi construído nessa altura, estava muito longe de ser a obra de arquitetura barroca que hoje encontramos, com mais 2.300 aposentos, e enquadrado num terreno de 800 hectares de jardins e florestas.

Depois da morte de Luis XIII, o seu filho foi coroado como Luis XIV com apenas cinco anos, pelo que foi a sua mãe, Ana da Áustria, com toda a influência das cortes, que passou a governar o país e, nessa altura, foi aconselhada a deixar Versalhes e voltar para Paris, o que fez com que o palácio passasse por um período de quase abandono. Só mais tarde, já 20 anos depois, em 1660, o próprio Luis XIV decidiu a realização de trabalhos de recuperação dos edifícios, para que a família real voltasse para Versalhes.

Durante o longo reinado de Luís XIV, e dos reis seguintes, Luís XV e Luís XVI, que já nem eram filhos dos reis anteriores, mas sim netos, utilizaram sempre o Palácio de Versalhes como residência real, e foram sempre realizando obras de aperfeiçoamento, nomeadamente na construção e ampliação sucessiva dos jardins.

Durante a Revolução Francesa, o Palácio de Versalhes foi invadido, e o rei Luís XVI e a sua esposa, Maria Antonieta, foram obrigados a mudar-se para Paris… e todos sabemos o seu triste destino, de cabeça cortada.

Mas com a saída para as Tulherias, a família real ainda haveria de levar grande parte do recheio do Palácio de Versalhes, que começou assim a ser esvaziado. Várias pinturas e objetos de arte passaram para a guarda do Museu do Louvre, incluindo a Mona Lisa e obras valiosas de Ticiano, Rubens e Van Dyck.

Nessa altura, em 1793, ano em que, quer o rei quer a rainha, foram guilhotinados na Place de la Concorde, os revolucionários debateram longamente sobre o destino que Versalhes deveria ter, e muitos queriam o seu completo desmantelamento e a venda dos bens que ainda restavam. No entanto, acabou por ser decretado em julho de 1793 que seria transformado numa escola provincial, uma biblioteca pública e um museu de arte e história natural.

Atualmente, este complexo inclui uma imensa quantidade de edifícios, com tudo o que se possa imaginar, muito para além do palácio. Desde logo, além do palácio principal, existem o edifício da Ópera, o Palácio Trianon e a Aldeia de Maria Antonieta, mas depois há também um sem número de espaços relevantes, com grandes salões, capelas, bibliotecas e muitos quartos, um para cada rei e cada rainha que por lá passaram.

Mas, apesar disso, o palácio acaba por ser um edifício algo discreto, quando observamos as suas fachadas, tanto do lado da cidade, por onde entramos, como no lado dos jardins… apesar de ser um palácio bonito, não tem a beleza e o charme de outros châteaux do renascimento que visitámos no Vale do Loire.

Em relação ao seu interior, como já referi, foi há muitos anos que o visitei e, como não sou grande fã das decorações das casas reais (e já estou a repetir isto demasiadas vezes), nem fixei bem as imagens do que lá encontrei, a menos de um único espaço, a Galeria dos Espelhos… esse sim, era algo extraordinário.


A Galeria dos Espelhos

Mais do que uma residência para o rei da França, o Château de Versalhes servia principalmente para ostentar a autoridade, sobretudo de Luís XIV e dos seus sucessores. E o espaço mais determinante para essa ostentação é uma das salas do palácio, a chamada Galeria dos Espelhos, antes conhecida como a Grande Galeria, que representa o culminar de uma política de prestígio, impressionando, pelo seu esplendor, aqueles que visitavam Versalhes… numa espécie de feira de vaidades, muito habitual na coroa francesa, com os seus châteaux.

Mas a memória que tenho da visita que fiz a esta sala do palácio, faz-me recordar que se trata de um lugar mágico e impressionante, exibindo um design verdadeiramente revolucionário para o século XVII e com uma beleza que vai perdurando ao longo dos séculos.

A Galeria dos Espelhos é um espaço fantástico, pela sua dimensão e pela forma como está decorado, com pinturas, lustres, esculturas e recortes em talha dourada, e também, claro, pelo conjunto de espelhos que ali encontramos. E há ainda a importância da luminosidade, obtida pela grande amplitude dos vãos das suas janelas, que permitem uma entrada de luz durante o dia, que é um dos elementos-chave para a beleza deste espaço.
A Galeria dos Espelhos tem vindo a ser restaurada regularmente, e nunca perdeu a sua imponência e o seu brilho, continuando a impressionar e a maravilhar as centenas de milhares de visitantes que por ali passam todos os anos.

Os números relativos a este salão são impressionantes… com uma área total de 750 m², é iluminado pela luz do dia que atravessa as 17 janelas enormes, permitindo realçar os diversos elementos dourados, as esculturas e as pinturas, sobretudo os imensos painéis de afrescos que cobrem o teto abobadado, com um total de 1000 m², criados pelo atelier de Charles Le Brun, um pintor francês do século XVII.

A parede em frente à das janelas está preenchida com 357 espelhos, unidos em 21 conjuntos de espelhos, dispostos entre si num reticulado de hastes em bronze, e formando um arco superior… numa métrica que dispõe cada arco de espelho, em frente a uma janela.



Os jardins do Palácio

Os jardins do Palácio de Versalhes foram o resultado da ambição de Luís XIV, que iniciou a sua conceção quando era ainda um jovem rei, tendo contribuído para a criação deste parque maravilhoso, que se tornou uma referência mundial desde o século XVII.

Estes jardins foram concebidos por André Le Nôtre, um simples jardineiro sem formação específica, que desenhou os vários espaços, parques e bosques, que estão integrados na imensa propriedade de Versalhes onde o seu palácio principal constitui o grande elemento de referência. As suas criações foram realizadas ao longo de mais de 25 anos, durante os quais foram feitas sucessivas ampliações e melhoramentos, num conjunto que constitui a obra de um verdadeiro génio.
Voltando à nossa visita, o acesso aos jardins até costumava ser gratuito, mas, atualmente, são pagos entre abril e outubro, com a justificação de que são dias de Espetáculos Noturnos de Fontes ou Jardins Musicais, e tivemos que pagar 12€, mesmo não tendo ficado até à noite, quando esses espetáculos de luz terão acontecido… outra informação importante é que o palácio está fechado às segundas-feiras.

Ao entrarmos na zona dos jardins, chegamos a um imenso terraço junto ao palácio, de onde seguimos para as principais áreas deste parque.

A primeira área onde nos detivemos algum tempo é chamada de Orangery, formada por vários conjuntos de espaços relvados com desenhos feitos do recorte da relva, e que termina num lago enorme chamado de Pièce d'Eau des Suisses.

Mas esta parte do jardim serve apenas de aperitivo às restantes áreas que vamos encontrar, começando pela própria plataforma onde se ergue o Château de Versailles, os chamados Terraços do Palácio.
A imensa área de terraços que ficam junto às fachadas do palácio viradas para o jardim, são divididos em três parcelas de lagos e jardins, o Parterre d'Eau, ao centro, o Parterre du Midi, ao Sul, e o Parterre du Nord. A atração mais importante deste conjunto de terraços é formada pelos dois lagos centrais onde encontramos diversas esculturas de figuras míticas, que permitem um belíssimo enquadramento com a fachada do palácio.

Ao sairmos deste terraço começamos por descer uma enorme escadaria de mármore, as Escaliers de Latone, e chegamos à fonte com o mesmo nome. Mais à frente temos o grande terreiro relvado que é a imagem de marca destes jardins, com os bosques nos espaços laterais e o Grande Canal do Parque ao fundo.
A Fonte de Latona é uma das obras mais famosas do jardim, com um conjunto de estátuas de mármore esculpidas pelos irmãos Marsy em 1670, retratando Latona e os seus filhos, uma figura da mitologia romana, que deu nome à fonte e ao lago. O espelho de água e o jardim que envolvem a fonte, foram projetados originalmente por André Le Nôtre, e estão em ótimo estado, pois foram submetidos a obras de restauro recentes.
Imaginando quando o rei saía do palácio e descia as Escaliers de Latone, contemplava a extraordinária paisagem do imenso relvado que se abria à sua frente, ladeado pelos alinhamentos de árvores que delimitam os bosques que se desenvolvem de ambos os lados, e o Grande Canal ao fundo… tudo seria perfeitamente harmonioso.
O Grande Canal do Palácio de Versalhes é, sem dúvida, uma das mais famosas criações de André Le Nôtre, o ilustre jardineiro que procurava a conceção de ambientes com uma harmonia visual perfeita, e que, claramente, conseguiu criar essa perfeição visual neste conjunto, que evolui desde o palácio até ao canal.
O Grande Canal dispõe de outros dois canais menores, e perpendiculares ao canal principal, formando uma imensa cruz, num conjunto que ocupa 23 hectares. 

Na extremidade do canal transversal do lado direito chegamos a um dos grandes palácios deste complexo, o Grand Trianon e, nas imediações, encontramos também o Petit Trianon.

O rei Luís XIV quis construir um pequeno palácio de mármore rosa e dotá-lo com um conjunto de jardins maravilhosos, que pudesse constituir um refúgio privado dentro do complexo de Versalhes. Foi assim que foi criado este conjunto, com o palácio Grand Trianon e os seus jardins.
Ainda na envolvente dos jardins do Grand Trianon encontramos um outro palácio, também rodeado por um belo jardim, o chamado Petit Trianon. Este pequeno palácio foi originalmente erguido a pedido de Madame de Pompadour, a favorita do rei Luís XIV, que quis criar um espaço charmoso onde pudesse “divertir o rei”.

Este edifício foi inaugurado em 1669, mas foi muitos anos depois, já na segunda metade do século XVIII, que haveria de acontecer o boom da utilização deste espaço, quando o rei Luís XVI o ofereceu à sua esposa, a icónica Maria Antonieta.

A jovem rainha mandou reformar aquele espaço, e foi ela que mandou plantar um jardim de estilo inglês, em vez das antigas estufas que ali existiam. Era aqui que ela se refugiava para escapar à pompa e à etiqueta da corte, uma atividade bem difícil para uma rainha que era ainda uma miúda.
Voltando aos jardins principais, e ao início do Grande Canal encontrámos um espaço vazio, onde deveria estar a imensa Fonte de Apollo.

Ao fim de vários séculos da sua existência nos jardins de Versalhes, os elementos que constituem esta fonte foram transportados para uma oficina onde serão recuperados profundamente, para reaparecerem novinhos em folha para os Jogos Olímpicos de Paris, que terão lugar em 2024.

A Fonte Apollo é um dos 55 elementos aquáticos do Palácio de Versalhes que pertencem ao Património Mundial da UNESCO.

A fonte é formada pelo chamado Char du Soleil, um conjunto de esculturas com a carruagem de Apollo que emerge da água, puxada por quatro cavalos, tudo feito em chumbo dourado, e criado em 1671 por Jean-Baptiste Tuby, um escultor francês, sob um desenho de Charles Le Brun (o mesmo pintor da galeria dos espelhos)… e inspirada na lenda do Deus Sol, o emblema e cognome do rei Luis XIV.

Como a fonte não estava lá, vou-me socorrer das fotos que tirei anteriormente, nas visitas que fiz a Versalhes… uma delas foi tirada em novembro, quando os vermelhos e acastanhados outonais dão a este local uma imagem muito peculiar.

Nas horas seguintes haveríamos de percorrer livremente toda esta zona de jardins e bosques, com longas alamedas e diversos lagos, ou bassins.

Dentro destes imensos bosques vamos encontrar vários lugares extraordinários, dos quais deixo aqui algumas imagens, neste caso, retratam a Bassin de Flore, o Bosquet des bains d'Apollon e a Bassin du Miroir, esta com um jogo de jactos de água com música de fundo, que, mais tarde, no tal show noturno das fontes, será acompanhado por um jogo de luzes.


Para terminarmos a nossa visita aos jardins de Versalhes, seguimos pelo lado Norte do complexo, onde encontrámos a Bassin de Neptune, um dos grandes espelhos de água deste jardim, que fica na base da Allée d'Eau, a alameda que sobe até à Bassin de la Pyramide, já junto ao Palácio, onde fica a Opéra Royal de Versalhes.

Esta piscina, que foi inaugurada mais tarde, já pelo rei Luís XV, conta com 99 efeitos de jactos de água e um conjunto de estátuas onde se inclui a figura do Deus dos mares.

Logo junto à Bassin de Neptune encontra-se uma outra piscina importante, a Bassin du Dragon, que representa um dos episódios de uma lenda mítica, onde um dragão é morto com uma flecha atirada pelo jovem Apolo.


Terminámos aqui, não só a visita ao Palácio de Versalhes, mas também, a viagem que fizemos pela zona Noroeste de França, incluindo as regiões da Normandia, da Bretanha e por todo o Vale do Loire, terminando neste extraordinário château, aqui em Versalhes.


Carlos Prestes


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Château de Chambord


No próximo percurso vamo-nos afastar ligeiramente do Rio Loire, numa direção que nos leva até ao Castelo de Chambord, o maior de todos os châteaux desta região francesa, seguindo o trajeto assinalado no mesmo mapa que tem sido usado como referência para esta visita ao Vale do Loire.
 
Chegar ao Château de Chambord nesta altura foi uma tremenda desilusão, pois toda a beleza das suas fachadas estava ofuscada pela existência de torres de andaimes, devido a obras de reabilitação que estavam em curso. Não querendo estragar a imagem real deste palácio, usando as fotos atuais, que revelam mais um estaleiro de uma obra do que um magnífico château, optei por utilizar nesta crónica outras fotos do exterior do palácio, que representam uma época anterior ao início das obras… mas deixo aqui apenas duas das fotos das fachadas, tiradas durante esta visita, para que se perceba a frustração que se sente à chegada a Chambord.

Mas apesar da frustração pelo estado das fachadas, ao visitarmos Chambord vamos perceber a grandiosidade deste imenso complexo, desde o momento em que cruzamos o muro circundante de 32km de extensão e entramos no domínio desta herdade gigantesca, que percebemos estar num lugar especial.
E é especial tanto pela riqueza histórica que ali foi vivida, como pela grandiosidade e genialidade deste magnífico palácio… que é o resultado de uma sublime arquitetura imaginada pelo rei Francisco I, seguindo a inspiração das ideias do mestre Leonardo da Vinci.


Só uma nota prévia para enquadrar as principais figuras que estiveram na base da criação deste castelo. Sobre Francisco I, o rei François Ier de França, era o pai de Henri II, o mesmo rei que foi casado com Catarina de Medici enquanto mantinha Diane de Poitiers como amante, de quem já falei na crónica sobre o Château de Chenonceau. Além disso, Francisco I veio a casar-se em 1530 com a nossa Rainha Dona Leonor, que foi casada com D. Manuel I, rei de Portugal e dos Algarves, de quem ficou viúva em 1521 (o que fez com que D. Leonor tivesse sido Rainha de Portugal e de França). 

Sobre o outro nome de referência, um tal Leonardo da Vinci, nem me atrevo a dizer absolutamente nada…

         

Voltando à visita ao castelo, depois de comprarmos os bilhetes de acesso por 16 € cada adulto, vamos percorrer toda a residência real e também podemos traçar o nosso próprio percurso pela herdade, se tivermos tempo para isso, passando pelas vinhas de Ormetrou, pelas hortas, pelos estábulos ou pelos imensos jardins, que ficam em frente às duas fachadas principais, onde podemos fazer um passeio pela Avenue du Roi e pelos muitos outros trilhos que fazem parte do chamado Grand Promenade, que será sempre uma experiência inesquecível.

O palácio tem 500 anos de história, tendo sido iniciada a sua execução no ano de 1519, quando Francisco I, ainda um jovem rei, o mandou construir. É uma obra arquitetónica monumental que o rei gostava de mostrar aos soberanos e embaixadores como símbolo do seu poder, tanto pelos seus interiores majestosos, como pela beleza das suas fachadas principais, das mais preciosas obras de arte da arquitetura mundial que podem ser encontradas… sobretudo se pensarmos que se trata de uma criação do século XVI.

A planta do castelo é desenhada em torno de um eixo central, a famosa escadaria de dupla volta, que foi inspirada nos planos de Leonardo da Vinci, uma espiral ascendente que nos conduz desde o primeiro andar até aos terraços, onde culmina a chamada Torre das Lanternas.

         
Já uns séculos mais tarde, foram feitas várias obras de desenvolvimento dos espaços interiores e de decoração, e nessa altura o palácio passou a ser de novo bastante utilizado pela família real e pelos seus convidados. E é o resultado dessa decoração que encontramos ainda hoje, a menos dos móveis e quadros que foram vendidos, quando o castelo foi saqueado durante a Revolução Francesa. 

Tal como já tenho referido noutras crónicas, não sou um grande apreciador das decorações reais, com camas, tapeçarias e reposteiros, apesar de tudo, aprecio mais os quadros e estatuetas que decoram as salas e quartos. De qualquer forma, selecionei algumas imagens do interior deste palácio que aqui vou deixar, começando exatamente com alguns exemplos de obras de arte, onde se inclui o quadro que representa a imagem do Rei Francisco I, o criador de Chambord.


Quanto aos quartos, salas e até a grande cozinha do palácio, por onde vamos passando ao longo da nossa visita, deixo também aqui algumas imagens representativas.



Este palácio teve sempre um problema que o tornava pouco acolhedor, pois era extremamente frio e muito difícil de se conseguir aquecer, apesar das muitas lareiras que se encontram em quase todos os cómodos. Esta condição sempre afastou os proprietários de permanências mais prolongadas, tanto as famílias reais como os outros donos que por aqui passaram.

Assim, Chambord conheceu alguns períodos de quase abandono e, num desses períodos, Napoleão Bonaparte acabou por doá-lo ao Marechal Berthier, antigo Ministro da Guerra, em agradecimento pelos seus serviços. Berthier morreu seis anos depois e a sua viúva rapidamente pediu permissão para vender esta imensa residência, que, na altura, já se encontrava em más condições.

O complexo de Chambord foi assim recuperado pela coroa francesa e, em 1821, foi oferecido ao duque de Bordéus, neto do rei Carlos X, que passou a ter o título de Conde de Chambord. Os acontecimentos políticos levaram-no ao exílio o que não lhe permitiu viver no seu castelo, e a propriedade foi administrada por um mordomo, que teve um papel bastante importante ao empreender grandes campanhas de restauração… e foi isso que veio a possibilitar que, mais tarde, o castelo fosse aberto ao público.

Além do interior do edifício, que foi sofrendo várias intervenções, quer de renovação quer de decoração, e das fachadas principais, que são o principal rosto do palácio, existem vários pátios interiores entre as diversas alas do castelo, que têm também uma arquitetura bastante interessante, com destaque para as escadarias em caracol, que se inspiram na escada principal, a tal que seguia os planos de Leonardo da Vinci para uma espiral ascendente.
Já no século XX, desde 1930, o castelo e o parque voltaram a ser propriedade do estado e, durante a Segunda Guerra Mundial, Chambord foi usado como refúgio e proteção de obras de arte.

Numa das salas do castelo, encontramos a reprodução dos esconderijos de peças de arte que funcionaram no castelo, e é apresentado um vídeo explicativo de como eram ali guardados os quadros, para que os nazis não os encontrassem.

Em 1939, após a evacuação dos principais museus de Paris, incluindo o Louvre, milhares de obras de arte foram enviadas em comboios para alguns castelos e abadias no Oeste francês, incluindo Chambord. Assim, este castelo, na altura fechado ao público, serviu para esconder milhares de obras de arte, a maioria de coleções públicas francesas, para protegê-las dos bombardeios e da ganância dos nazis. Chambord tornou-se o maior dos 83 depósitos utilizados para guardar obras de arte durante o conflito, onde se incluíam algumas obras icónicas, como a Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, ou La Liberté guidant le peuple, de Delacroix, ambas do Louvre. Graças aos zelosos curadores e funcionários do património, muitos dos tesouros nacionais franceses passaram ilesos pela guerra, e Chambord teve um papel determinante nesse processo.

De toda a longa história que está associada a este castelo, este período em que foram escondidas e protegidas obras de arte, foi o que mais me tocou, quando este espaço deixou de ser uma montra de vaidades para as sucessivas famílias, reais e não só, que por aqui desfilaram, e passou a desempenhar uma função realmente benéfica, não só para os franceses, mas para toda a humanidade.

Mas, para além das muitas obras de arte que ali foram preservadas e impedidas de chegar às mãos dos nazis, este castelo preserva também a mais rica de todas a preciosidades… que é a extraordinária arquitetura das suas magníficas fachadas que nos deixam completamente encantados.

Terminámos aqui a nossa viagem pelo Vale do Loire, iriamos agora visitar o palácio de Versalhes, já a caminho de Paris e fora da rota deste rio, sabendo que se trata de um dos palácios mais importantes da história da coroa francesa.


Carlos Prestes


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